quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

E POR FALAR EM BANHO FRIO...

A dopamina pode aumentar gradual e progressivamente durante o banho gelado e permanecer elevada por uma hora depois do seu término


 

Tom Simões, jornalista, Santos (Brasil), 29 de janeiro de 2025

 

Durante a maior parte da história humana, as pessoas se banharam em água fria. Só os que viviam perto de uma fonte natural quente podiam, regularmente, desfrutar um banho quente.

Como escreve Anna Lembke (professora de Psiquiatria e Medicina de Adicção na Escola de Medicina da Universidade Stanford), em seu livro ‘Nação Dopamina’, que eu leio atualmente, “os antigos gregos desenvolveram um sistema de aquecimento para banhos públicos, mas continuaram a defender o uso de água fria para tratar diversas enfermidades. Na década de 1920, um fazendeiro alemão chamado Vincenz Priessnitz incentivou o uso da água gelada para curar todo tipo de problemas físicos e psicológicos. Chegou a ponto de transformar sua casa em um sanatório para tratamento com água gelada”.

Todos nós experienciamos alguma versão de dor dando lugar ao prazer. Existe um custo ao medicar todo tipo de sofrimento humano, mas existe um caminho alternativo que pode funcionar ainda melhor: aceitar o sofrimento. Lembke conta que atletas de alta resistência afirmam que a água gelada acelera a recuperação muscular.

“A dopamina pode aumentar gradual e progressivamente durante o banho gelado e permanecer elevada por uma hora depois do seu término. Estudos que examinaram os efeitos cerebrais da imersão em água gelada em humanos e animais mostram elevações semelhantes em neurotransmissores de monoaminas (dopamina, norepinefrina, serotonina), os mesmos neurotransmissores que regulam o prazer, a motivação, o humor, o apetite, o sono e a prontidão”, escreve Lembke.

Para ela, todos nós experienciamos alguma versão de dor dando lugar ao prazer. “Talvez, como Sócrates, você tenha notado uma melhora de humor depois de um período doente, ou sentido uma euforia de corredor, depois de se exercitar, ou tido inexplicável prazer num filme de terror. Assim como a dor é o preço que pagamos pelo prazer, o prazer também é nossa recompensa pela dor”.

O exemplo de um ex-usuário de cocaína

Depois de largar a cocaína, o difícil para Michael, cliente da doutora Lembke, foi imaginar o que fazer a seguir. Após largar, ele foi tomado por todas as emoções negativas que andara mascarando com drogas. Quando não estava se sentindo triste, zangado e envergonhado, não sentia nada de nada, o que, possivelmente, era pior. Então, ele se deparou com algo que lhe deu esperança.

“Na primeira vez que aconteceu, foi por acaso – ele contou à doutora. Eu vinha praticando aulas de tênis de manhã bem cedinho, uma maneira de me distrair nos primeiros dias de abstinência. Mas uma hora depois da prática e da chuveirada, eu ainda ficava suando. Comentei com meu professor de tênis, e ele sugeriu tentar uma chuveirada fria. Foi um pouco dolorosa, mas apenas por alguns segundos, até meu corpo se acostumar. Quando saí, me senti surpreendentemente bem, como se tivesse tomado uma boa xícara de café”, revela Michael.

Com o tempo, ele percebeu que quanto mais dor sentia com o choque inicial da água fria, maior a euforia depois.

Mas é preciso tomar certo cuidado com o banho frio, para que ele não cause uma queda brusca da temperatura corporal, levando à hipotermia (queda significativa e potencialmente perigosa na temperatura do corpo; é quando a temperatura do corpo se encontra abaixo dos 35°C). A sugestão então é iniciar o banho com água morna e ir controlando aos poucos, até chegar à temperatura fria.

 

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