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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

“Um dos maiores consolos desta vida é a amizade; e um dos consolos da amizade é ter a quem confiar um segredo”


        Imagem: https://meninadeluzz.wordpress.com/2018/06/29/uma-conversa-sobre-confiar-no-outro/

 

Tom Simões, jornalista, Santos (Brasil), 22 de novembro de 2024

 

Existe a máxima: “Os grandes amigos, a gente conta nos dedos de uma mão”. É verdade. Na velhice, dá-se conta dessa ideia. A meu ver, amigos extraordinários, diria ‘eternos’ ao longo da vida, nem chegam a cinco. Sim, são muitos os amigos leais, também lembrados. Porém, o tempo nos afasta, por não mais frequentarmos os mesmos locais.  E também porque, passados muitos anos – como cada pessoa é única e se desenvolve da sua maneira -, pode a reciprocidade não ser mais a mesma, por conta de novos interesses e objetivos diferentes.

É lembrar o poeta Vinicus de Moraes: “Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”. Porque a chama tem um princípio e um fim. Assim, ficava expresso o desejo do poeta de aproveitar ao máximo o amor ou uma convivência, enquanto existir.

Um dos ‘cinco dedos da mão’, mesmo quando muda de cidade, de país, nunca é esquecido. É lembrar do amigo e se emocionar. Num reencontro, é como se nenhum tempo tivesse passado, por se manterem eternamente presentes um na vida do outro.   

A gente sempre tem alguém em quem possa confiar. Poucas pessoas usufruem tal oportunidade, é verdade, por serem fechadas, tímidas, desconfiadas ou, principalmente, pelo sentimento de insegurança causado por medo do ridículo ou julgamento do outro. Ainda assim, há quem tenha o dom de se aproximar de alguém disposto a conquistar sua confiança. Nesse sentido, prevalece algo essencial: a empatia. Ter empatia significa saber escutar e fazer o possível para compreender o estado emocional e necessidades do outro. Ter empatia é estar presente na interação, com atenção e interesse, compreendendo sentimentos e necessidades. É perceber emoções, experiências e visões de mundo do outro, diferentes das nossas.  

 


Joaquim Nabuco, 1849-1910: político, diplomata, historiador, jurista, orador e jornalista brasileiro.

 

Grande parte do que faz a vida valer a pena é a sensação de bem-estar interior e realização, sendo os relacionamentos de boa qualidade uma das mais poderosas fontes desses sentimentos, escreve o jornalista científico Daniel Goleman, em seu livro ‘Inteligência social – a ciência revolucionária das relações humanas’. Goleman é também autor do best-seller ‘Inteligência emocional’.

“O contágio emocional significa que uma parte considerável dos nossos estados de ânimo depende das interações que temos com as outras pessoas. Em certo sentido, os relacionamentos que reverberam em nossa vida são como vitaminas emocionais, dando-nos sustento nos momentos difíceis e proporcionando nossa nutrição diária”, cita o autor.

Para Goleman, os relacionamentos gratificantes são o aspecto mais universalmente consensual de uma vida boa. “Embora os detalhes específicos variem de uma cultura para outra, todas as pessoas em toda parte consideram as conexões afetuosas com os outros o aspecto essencial da existência humana ideal”.

“Um dos maiores consolos desta vida é a amizade; e um dos consolos da amizade é ter a quem confiar um segredo. No entanto, os amigos não são um par, como os esposos; cada um, genericamente falando, tem mais de um”, escreve o poeta e filósofo italiano Alessandro Manzoni, 1785-1873.

Ser leal a alguém significa poder confiar plenamente um no outro. A lealdade está relacionada a um valor interno. Atende a um propósito e é espontânea. Protege e defende o outro, mesmo sem concordar com eventuais atitudes.

Referindo-me aos amigos eternizados, é difícil ainda assim um se abrir com o outro, revelando um grande silêncio nunca extravasado. É uma pena duas pessoas tão sincronizadas não se sentirem seguras uma com a outra, numa oportunidade rara de convivência.

O que significa ser íntimo de alguém?

Pode ser entendido como uma característica especial numa relação entre duas pessoas, sejam elas amantes, familiares ou amigos. É possível conviver intensamente com alguém, mas sem intimidade, como numa relação com o pai e irmãos. Intimidade, no sentido de privacidade, é fazer parte da vida de alguém, mas com disposição de se abrir plenamente, para que ambos se sintam confortáveis. À medida que um amigo se liberta nesse sentido, o outro pode corresponder, numa troca mútua, revelando problemas emocionais e comportamentais que impedem viver uma vida desejada.

Porque ser sincero e fiel com um amigo de alma é, antes de mais nada, estar confiante de si mesmo em relação a seus próprios desejos, objetivos e sentimentos.

Porque uma relação entre duas almas exige uma lealdade que vai para além dos sentimentos ou opiniões passageiras entre um e o outro, uma fidelidade que vai para além de objetivos ou aparências temporárias. Exige verdade e confiança, “oferecendo-nos, em troca, um lugar no qual não temos de nos esconder”, como alguém citou.

Portanto, construir e manter laços de confiança é essencial para o nosso bem-estar emocional, psicológico e até físico. A cada reencontro oportuno entre duas almas, cada qual se sente sempre melhor para si próprio e suas circunstâncias.  A conexão vai além do nível superficial, solidificada na empatia e compreensão mútua. Uma vida influenciando outra.

"Tu te tornas eternamente responsável pelo que cativas. Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, pois cada pessoa é única, e nenhuma substitui outra. Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, mas não vai só, nem nos deixa sós. Leva um pouco de nós mesmos, deixa um pouco de si mesmo. Há os que levam muito; mas não há os que não levam nada. Há os que deixam muito; mas não há os que não deixam nada. Esta é a maior responsabilidade de nossa vida e a prova evidente que duas almas não se encontram ao acaso”.

  * Trecho do livro: O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry

 

Uma amizade verdadeira é sentida logo no início de um relacionamento, quando aquele conhecido começa a ganhar espaço e consideração em nossa vida. Essa é a prova de um encontro que acontece na hora certa, porque não dizer ‘providencial’, que vem bem a propósito. A providência divina é um termo teológico que se refere a um poder supremo ou alguma divindade sobre eventos. Não raramente, eu associo alguns acontecimentos pessoais a essa ideia, diametralmente oposta à do acaso. Costuma-se dizer então, popularmente: “Qualquer semelhança é mera coincidência”.

Como é triste viver aqui sem confiar em ninguém. Quando não temos confiança, sentimos medo, insegurança e incerteza. Isso impede o desenvolvimento do nosso pleno potencial.

 

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2 comentários:

  1. Quanto mais experientes ficamos, mais fortemente sentimos a verdadeira amizade.

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