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quarta-feira, 31 de julho de 2024

Como não amar os Jogos Olímpicos?

Um dos grandes baratos da competição é o espírito esportivo dos atletas, que são levados aos seus limites físicos e mentais durante as disputas, mas não perdem a concentração (e a naturalidade) mesmo diante de erros e imprevistos; o esporte tem muito a nos ensinar. 




Guilherme Simões, jornalista esportivo, 29 de julho de 2024

A única parte ruim das Olimpíadas é ela ter uma data para acabar. O maior evento esportivo do mundo reúne os principais atletas do planeta em um mesmo período e nos deixa completamente aficionados por esportes aleatórios - muitos deles desconhecidos do grande público. No último domingo (28) pela manhã, o Brasil conquistou três medalhas em um intervalo de apenas 21 minutos - duas no judô e uma no Skate Street. Talvez a inteligência artificial consiga acompanhar todas as modalidades de maneira simultânea, mas nós, humanos, fracassamos completamente na missão. 

O espírito esportivo prevalece na maioria das competições. Ao conquistar a medalha de bronze no judô, a brasileira Larissa Pimenta, visivelmente emocionada, caiu em lágrimas e parecia não acreditar no resultado histórico. A rival italiana, derrotada na luta, parabenizou Larissa com um abraço e demonstrou enorme carinho pela companheira de profissão, reconhecendo a sua façanha. No Skate e na Ginástica Artística, modalidades em que o Brasil costuma ser forte, é interessante acompanhar as expressões de felicidade dos atletas, que parecem se divertir enquanto competem. E olha que a pressão envolvida é absurda, surreal, com provas disputadas em alto nível técnico e pontuações sendo decididas nos detalhes. Também é comum os/as skatistas vibrarem com as manobras dos seus concorrentes.

É bem verdade que as Olimpíadas despertam igualmente tudo aquilo que há de pior no ser humano. Às vezes, torcemos para skatistas caírem, se a queda favorecer algum brasileiro na disputa; e ficamos revoltados com o protagonismo dos japoneses nas mais diversas modalidades - até no futebol eles (elas) ganharam da gente! Já não basta o monopólio dos asiáticos no Judô, no Skate e no Tênis de Mesa?!

As Olimpíadas são mágicas. Durante duas semanas, viramos especialistas em Esgrima, Badminton, Boxe e Canoagem, entre outros esportes, mesmo sem entender exatamente todas as regras e os critérios de avaliação. Na luta da judoca Rafaela Silva valendo vaga na final, por exemplo, os comentaristas foram unânimes em reconhecer o erro do árbitro ao não punir a atleta sul-coreana por falta de competitividade em determinado momento. Também fiquei indignado! Já não chegam as lambanças da arbitragem no futebol? (No final de semana, o VAR conseguiu levar incríveis NOVE MINUTOS para validar o gol do Santos contra o CRB, mas não vou abordar o assunto aqui para não estragar o clima olímpico).  

Os Jogos de Paris ainda nos reservam muitas emoções até o dia 11 de agosto. Até lá, teremos o fenomenal Isaquias Queiroz competindo na canoagem, podendo virar o maior medalhista olímpico do nosso país; a polivalente Rebeca Andrade na Ginástica, finalista em vários aparelhos; o carismático Alison dos Santos nos 400 metros com barreiras... O mais legal, no entanto, é quando conhecemos as histórias de vida e de superação dos atletas. O Brasil poderia ser uma potência olímpica se investisse mais no esporte, na formação e na captação de jovens talentos.

Hugo Calderano, o principal nome brasileiro do tênis de mesa, e um dos candidatos ao pódio em Paris, treina na Europa há mais de dez anos - ou seja, ele precisou sair do Brasil para aprimorar o seu estilo de jogo. Nem todos os jovens têm a mesma oportunidade. A judoca Rafaela Silva, por sua vez, medalhista de ouro nos jogos de 2016, foi revelada em um projeto social idealizado por Flávio Canto em uma comunidade do Rio de Janeiro. Iniciativas assim deveriam ser constantes.

O Brasil alcançou a sua melhor participação olímpica em Tóquio 2020, quando obteve 21 medalhas no total (7 ouros, 6 pratas e 8 bronzes), terminando na 12ª colocação no quadro de medalhas. Mas, sinceramente, superar ou não o recorde de conquistas fica em segundo plano. O melhor mesmo das Olimpíadas é poder zapear os canais em busca de esportes que a gente não conhece e mesmo assim bancar o entendido, o especialista - e poder, acima de tudo, aplaudir os atletas por suas atuações individuais e coletivas.

Como não se emocionar, por exemplo, com a vitória brasileira no Rugby feminino? O confronto contra Fiji foi decidido no último lance, com uma dose de imponderável, e manteve o Brasil na disputa pelo nono lugar. Parece pouco, mas é muito para um esporte tão desvalorizado no país. As histórias olímpicas são riquíssimas.

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