Um dos
grandes baratos da competição é o espírito esportivo dos atletas, que são
levados aos seus limites físicos e mentais durante as disputas, mas não perdem a
concentração (e a naturalidade) mesmo diante de erros e imprevistos; o esporte
tem muito a nos ensinar.
A única parte ruim das Olimpíadas é ela ter uma data para acabar. O maior evento esportivo do mundo reúne os principais atletas do planeta em um mesmo período e nos deixa completamente aficionados por esportes aleatórios - muitos deles desconhecidos do grande público. No último domingo (28) pela manhã, o Brasil conquistou três medalhas em um intervalo de apenas 21 minutos - duas no judô e uma no Skate Street. Talvez a inteligência artificial consiga acompanhar todas as modalidades de maneira simultânea, mas nós, humanos, fracassamos completamente na missão.
O espírito esportivo prevalece na maioria das competições. Ao conquistar a medalha de bronze no judô, a brasileira Larissa Pimenta, visivelmente emocionada, caiu em lágrimas e parecia não acreditar no resultado histórico. A rival italiana, derrotada na luta, parabenizou Larissa com um abraço e demonstrou enorme carinho pela companheira de profissão, reconhecendo a sua façanha. No Skate e na Ginástica Artística, modalidades em que o Brasil costuma ser forte, é interessante acompanhar as expressões de felicidade dos atletas, que parecem se divertir enquanto competem. E olha que a pressão envolvida é absurda, surreal, com provas disputadas em alto nível técnico e pontuações sendo decididas nos detalhes. Também é comum os/as skatistas vibrarem com as manobras dos seus concorrentes.
É bem
verdade que as Olimpíadas despertam igualmente tudo aquilo que há de pior
no ser humano. Às vezes, torcemos para skatistas caírem, se a queda favorecer
algum brasileiro na disputa; e ficamos revoltados com o protagonismo dos
japoneses nas mais diversas modalidades - até no futebol eles (elas) ganharam
da gente! Já não basta o monopólio dos asiáticos no Judô, no Skate e no Tênis
de Mesa?!
As Olimpíadas
são mágicas. Durante duas semanas, viramos especialistas em Esgrima, Badminton,
Boxe e Canoagem, entre outros esportes, mesmo sem entender exatamente todas as
regras e os critérios de avaliação. Na luta da judoca Rafaela Silva valendo
vaga na final, por exemplo, os comentaristas foram unânimes em reconhecer o
erro do árbitro ao não punir a atleta sul-coreana por falta de competitividade
em determinado momento. Também fiquei indignado! Já não chegam as lambanças da
arbitragem no futebol? (No final de semana, o VAR conseguiu levar
incríveis NOVE MINUTOS para validar o gol do Santos contra o CRB, mas não vou
abordar o assunto aqui para não estragar o clima olímpico).
Os Jogos de
Paris ainda nos reservam muitas emoções até o dia 11 de agosto. Até lá, teremos
o fenomenal Isaquias Queiroz competindo na canoagem, podendo virar o maior
medalhista olímpico do nosso país; a polivalente Rebeca Andrade na
Ginástica, finalista em vários aparelhos; o carismático Alison dos
Santos nos 400 metros com barreiras... O mais legal, no entanto, é quando
conhecemos as histórias de vida e de superação dos atletas. O Brasil
poderia ser uma potência olímpica se investisse mais no esporte, na formação e
na captação de jovens talentos.
Hugo
Calderano, o principal nome brasileiro do tênis de mesa, e um dos candidatos ao
pódio em Paris, treina na Europa há mais de dez anos - ou seja, ele precisou
sair do Brasil para aprimorar o seu estilo de jogo. Nem todos os jovens têm a
mesma oportunidade. A judoca Rafaela Silva, por sua vez, medalhista de ouro nos
jogos de 2016, foi revelada em um projeto social idealizado por Flávio Canto em
uma comunidade do Rio de Janeiro. Iniciativas assim deveriam ser
constantes.
O Brasil
alcançou a sua melhor participação olímpica em Tóquio 2020, quando obteve 21
medalhas no total (7 ouros, 6 pratas e 8 bronzes), terminando na 12ª colocação
no quadro de medalhas. Mas, sinceramente, superar ou não o recorde de
conquistas fica em segundo plano. O melhor mesmo das Olimpíadas é poder zapear
os canais em busca de esportes que a gente não conhece e mesmo assim bancar o
entendido, o especialista - e poder, acima de tudo, aplaudir os atletas por
suas atuações individuais e coletivas.
Como não se
emocionar, por exemplo, com a vitória brasileira no Rugby feminino? O confronto
contra Fiji foi decidido no último lance, com uma dose de imponderável, e
manteve o Brasil na disputa pelo nono lugar. Parece pouco, mas é muito para um
esporte tão desvalorizado no país. As histórias olímpicas são riquíssimas.
***
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Para comentar mais facilmente, ao clicar em “Comentar como – Selecionar Perfil”, selecione NOME/URL. Após fazer a seleção, digite seu NOME e, em URL (preenchimento opcional), coloque o endereço do seu site.