Trata-se da súmula de artigo publicado em 2015 no El País, jornal diário espanhol, cuja íntegra está disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2015/12/16/ciencia/1450280276_883678.html#?rel=mas
Tom Simões, 7 de agosto de 2022
Além da educação, até mesmo os genes podem condicionar a orientação ideológica, escreve Ignacio Morgado Bernal, catedrático de Psicobiologia no Instituto de Neurociência e da Faculdade de Psicologia da Universidade Autônoma de Barcelona.
Segundo Bernal, o lugar de nascimento, a classe social, a família e o ambiente em que crescemos, os professores e os amigos que temos, as experiências vividas - tudo isso, ou seja, tudo o que faz parte da educação recebida, é o que muitos cidadãos podem alegar, com razão, ante a pergunta sobre o que nos faz ser de esquerda ou direita. “Uma resposta que também serviria para questões mais gerais, como ‘por que somos bons ou maus’, ou questões mais prosaicas, do tipo ‘por que torcemos para o Corinthians ou o Flamengo’. Certamente, o cérebro humano é um órgão de plasticidade anatômica e fisiológica, e poucas coisas têm mais força que a educação para mudá-lo e modulá-lo”.
Em 2007, uma equipe de pesquisadores das universidades de Nova York e Califórnia realizou um trabalho experimental, publicado na prestigiosa revista Nature Neuroscience. O grupo mostrou, através de potenciais elétricos evocados e imagens de ressonância magnética funcional, que em situações de conflito as pessoas politicamente liberais apresentam mais atividade que as politicamente conservadoras, acrescenta Ignacio Bernal.
Desse modo, os pesquisadores concluíram que, frente às situações novas que requerem modificação dos comportamentos habituais, os liberais têm mais sensibilidade neurocognitiva que os conservadores, cita o autor. Também deduziram que a menor sensibilidade neurocognitiva dos conservadores em tais situações poderia explicar seu comportamento mais sistemático e persistente.
“Há anos a ciência estuda se os genes podem influenciar as atitudes das pessoas em questões como o aborto, a imigração, a pena de morte ou o pacifismo. Porém, todos os estudos até então realizados exigem réplicas e confirmação, pois são ainda escassos e parciais, mas se aceitamos que fatores como a atividade cerebral, os hormônios, os neurotransmissores e outras substâncias biológicas podem condicionar nossa orientação ideológica, temos de nos perguntar quem determina então as diferenças individuais quanto a esses fatores, e isso nos leva diretamente aos genes, ou seja, à herança biológica recebida de nossos pais, como possível condicionante ideológico”, conclui Bernal.
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