Mulheres e homens mais velhos têm liberdade para escolher novos prazeres e projetos de vida
·
Mirian Goldenberg, antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio, é autora de
"A Bela Velhice". Folha de
S.Paulo, 1º de outubro de 2020
Apenas excepcionalmente eu insiro artigo
de outros autores. Só quando me identifico bastante com o texto e julgo
importante compartilhá-lo com o leitor que me acompanha. Tom
Simões
COM o título “Velho não quer trepar e
usar drogas, quer ser dono de casa”, matéria do Uol - repercutindo uma
declaração dada no programa "Saia Justa", do canal GNT - mostrou que
Rita Lee descobriu novos prazeres na velhice.
Aos 72 anos, ela disse que “trepou a vida inteira” e que agora tem vontade de ler mais, aprender coisas novas, pintar. Passou a gostar de lavar louça, arrumar a cama e outras tarefas “fantásticas”. “E hoje estou aqui, velha e dona de casa”, já que “fazer sexo e usar drogas” não lhe interessam mais.
A roqueira mais famosa do Brasil, que revolucionou comportamentos no século passado, não é a única que se aposentou do sexo.
Na minha pesquisa sobre envelhecimento e felicidade, muitos homens e mulheres confessam que o sexo deixou de ser uma prioridade em suas vidas e que descobriram novos prazeres na velhice. Ser “dono de casa” é um deles, principalmente para os homens que passaram a maior parte da vida mergulhados no trabalho.
Quando se aposentam, além de buscarem um novo propósito que dê significado às suas vidas, querem ter mais tempo com a família, esposa, filhos e netos. Muitos estão descobrindo que gostam de cozinhar, e aprenderam a lavar louça, passar aspirador e outras atividades domésticas.
Já as mulheres querem ter mais tempo com as amigas, fazer cursos, ir ao cinema e teatro, viajar, passear, rir e conversar. Querem ter tempo para cuidar de si, pois passaram a vida inteira cuidando dos outros. Mais velhas, descobrem que o tempo é um bem precioso e buscam aproveitar a liberdade tardiamente conquistada.
Há uma inversão interessante. Quando envelhecem, muitos homens ganham o mundo do afeto, da família e da casa, que não puderam usufruir antes pois se dedicaram integralmente ao trabalho. As mulheres ganham o mundo da liberdade e da amizade, que não puderam aproveitar quando mais jovens já que priorizaram o cuidado da família e da casa.
Apesar das perdas inevitáveis, eles demonstram que existem ganhos importantes com o envelhecimento. Sentem-se mais livres para escolher como usar o tempo com atividades e projetos que consideram mais significativos. O lema deles poderia ser: “Eu não preciso mais, mas eu quero!”
Por que tanta dificuldade para aceitar que “velho não quer trepar” ou, melhor, que nem todos querem? Será que é porque não conseguimos enxergar outros aprendizados e propósitos tão ou mais gratificantes do que o sexo?
***
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Para comentar mais facilmente, ao clicar em “Comentar como – Selecionar Perfil”, selecione NOME/URL. Após fazer a seleção, digite seu NOME e, em URL (preenchimento opcional), coloque o endereço do seu site.