Um trabalho exemplar com moradores de rua

Por Guilherme Rodrigues Simões, jornalista

Imagem: Pixabay

Acompanhamos diariamente notícias revoltantes e desanimadoras na mídia, principalmente por conta de nossos políticos, ora envolvidos em ‘desvios financeiros’, ora responsáveis por declarações e medidas inoportunas.

O jornalismo cumpre o seu papel, ao apurar o que está errado e defender o interesse público. O erro da mídia, a meu ver, está em ceder pouco espaço a notícias boas, construtivas, capazes de trazer esperanças de um mundo melhor. Boas iniciativas também ‘vendem jornal’, repercutem e podem educar a população. Cabe ao jornalismo rever suas estratégias nesse sentido.

Nesta semana, o Padre Júlio Lancellotti, que auxilia moradores de rua há 35 anos em São Paulo, concedeu uma produtiva entrevista ao programa “Papo de Segunda” da GNT. Nela, comentou sobre o seu trabalho com a população carente, inclusive neste tempo de pandemia. O depoimento sincero rendeu comoção e muitos elogios nas redes sociais. 

Questionado sobre como devemos agir quando algum morador de rua pede ajuda, Padre Lancellotti responde: “Dê a ele uma palavra de ânimo, um sorriso, pergunte o seu nome. Já será o suficiente. Não tenha medo. Eles são seres humanos, também erram e falham. Há mais perigo e gente roubando no Congresso Nacional do que numa esquina”.

Entre 2015 e 2019, a população de rua cresceu 53 % em São Paulo, saltando para 24 mil, segundo um Censo realizado pela prefeitura em janeiro. O número ainda pode ser bem maior.

Nos últimos dias, Lancellotti iniciou uma campanha por contra própria e abrigou famílias em um hotel, com as diárias pagas.

Outro ‘movimento de humanização’ exemplar na cidade é o “SP Invisível”. A iniciativa nasceu em 2014 e hoje conta com mais de 100 mil seguidores em sua página no Instagram e quase 400 mil no Facebook. O projeto relata histórias de vida de pessoas em situação de rua e promove ações solidárias. 

“São Paulo é uma cidade onde ninguém se olha. Por isso, as pessoas não enxergam o ser humano que existe dentro da população de rua. ‘SP Invisível’ deseja abrir os olhos das pessoas para que todos possam perceber o outro e se conectar cada vez mais.”

(Trecho da apresentação do projeto, divulgada no site spinvisivel.org)

Durante a semana, repercutiu na imprensa uma infeliz declaração da primeira-dama do estado de São Paulo, Bia Doria. Segunda ela, “morar na rua hoje é um atrativo, pois a pessoa gosta de ficar nela".

Ao ‘SP Invisível’, Álvaro, morador de rua, resumiu muito bem a situação de um desabrigado:

"Não é que a rua é atrativa, é que o que a prefeitura e o governo oferecem são piores do que o que tem na rua. Com o colchão que tem nos albergues é melhor estender a manta e dormir no chão. No albergue a gente come salsicha e nas marmitas dos projetos têm feijoada, macarrão, só coisa boa. Meu nome é Álvaro. Sabe o que rolou comigo ontem? Pedi acolhimento para tomar banho e jantar. Cheguei no local e o encaminhamento que me deram não funcionava. Eu e mais um monte de gente ficamos na porta. Fora que cara, banheiro que cabem seis pessoas, mas cem delas usando. Café ralo e pão duro. De novo, não é que na rua tem atrativos, é que nos serviços da prefeitura não dá para ficar!"

Pena a declaração dele não ter repercutido com a mesma intensidade.

A ‘Folha de S.Paulo’ tem uma seção denominada “Dias Melhores”, dedicada a divulgar ações positivas pelo mundo.

Em março, o jornal ‘O GLOBO’ lançou uma seção com boas notícias do coronavírus, registrando avanços na ciência e iniciativas solidárias durante a pandemia.

Mas também como outro exemplo, há um veículo muito animador, sonoticiaboa.com.br, com o seguinte propósito: “Aqui não é notícia quem mata, mas quem salva. Não quem rouba, mas quem é honesto. Não quem agride, mas aquele que faz boas ações. Não noticiamos tragédias, só casos com final feliz. Em vez de preconceito, contamos histórias de superação”. O espaço é para quem gosta de notícias boas e deseja disseminar informação positiva para o mundo, espalhar bons exemplos, felicidade e esperança. Você, inclusive, também pode enviar sua pauta para o site.

A entrevista completa com o padre Júlio Lancellotti está no canal do GNT no Youtube.

Vale conferir!