Muitos sofrem calados, por
vergonha e medo do estigma de não corresponderem ao ideal de ser ‘um homem de
verdade’. Espera-se que eles sempre estejam dispostos, mas essa não é a
realidade.
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Fonte: Mirian Goldenberg, antropóloga e professora da
Universidade Federal do Rio, autora de ‘A Bela Velhice’. Folha de S.Paulo,
4/2/2020
“RECEBI tantas mensagens dos leitores comentando a coluna ‘O sexo das mulheres mais
velhas’, que sou obrigada a voltar ao assunto, especialmente para
retratar as angústias masculinas. Seguem
três mensagens que recebi:
‘Muitas vezes estou exausto, só quero dormir, mas minha mulher
não entende. Ela me xinga de velho broxa, ou me acusa de estar tendo um caso
com uma periguete. Até os 50, transávamos duas, três vezes por semana. Mas
agora, com 60, no máximo duas por mês. É uma transa mais por obrigação, só para
bater o ponto. Vejo o mesmo acontecendo com alguns amigos. Uma falta de tesão
total. Mas eles têm vergonha de aceitar que estão broxas.’
‘Fui educado para transar o tempo todo, para acreditar que o
macho de verdade é o garanhão, o galinha, que não perde qualquer oportunidade.
Todo mundo cobra uma alta performance sexual dos homens: as mulheres, os amigos
e especialmente nós mesmos. É muita pressão. É difícil admitir que estou velho,
que prefiro dormir um pouco mais em vez de transar.’
‘Você tocou em um assunto tabu: a possibilidade de ser feliz sem
sexo. Se isso é polêmico para as mulheres, imagina para os homens. Mas vou te
dizer uma coisa: sou feliz com a minha mulher, somos casados há mais de cinco
décadas, e nem lembro mais quando foi a nossa última noite de amor. A maioria
dos meus amigos discorda de mim. Não entendem porque não tomo Viagra. Mas eu
não tenho vergonha de confessar para você: os homens também podem ser felizes
sem sexo.’
O tom das mensagens foi semelhante: eles se sentem cobrados para
terem um comportamento sexual ativo durante toda a vida, inclusive em momentos
de doença, exaustão e estresse. E, diferentemente das mulheres, muitos sofrem
calados, por vergonha e medo do estigma de não corresponderem ao ideal de ser
‘um homem de verdade’.
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