Na modernidade, o indivíduo escolhe como deseja viver sua
religiosidade, sem necessidade de se ligar a uma seita. É o indivíduo que constrói
sua própria lógica.
ESTE texto tem como base
a palestra do teólogo e escritor Ed René
Kivitz, ‘A espiritualidade inconsistente e o mercado de Deus’, ministrada no
Café Filosófico da TV Cultura de São
Paulo.
A religião cobra caro de
seu fiel. O fiel é um ser infantilizado, que se torna vulnerável à manipulação.
Deus é puro amor, não pede nada em troca. Com Ele, não é possível fazer
barganha. A troca inviabiliza minha convivência com a Divindade. A relação
idolátrica desfigura-me como ser humano, com ela perco minha autonomia. A
crença escraviza, ao mexer com nossa culpa, nosso pecado, nosso medo, nossa
ignorância...
Em vez de estar à disposição do Divino, o crente imagina que a Divindade está à sua disposição. O crente recorre a Deus porque é um covarde, porque não assume a sua vida. Deus se fez homem para o que o homem se fizesse Deus. Cada um se torna o Deus que merece. Algo reza que ‘o coração fica mais leve quando Deus faz morada’. É o ‘Deus Interior’ que reside em cada um, que precisa ser alimentado para se manifestar. A religiosidade não tem relação com o lugar para onde se vai, ao morrer, mas com o que a pessoa faz da sua existência. Cada um de nós escolhe como deseja viver sua religiosidade.
Deus é um acontecimento. Como cita 1
João 4:4: “porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo”. Se
você está em silêncio, aberto, amoroso para com o seu próprio ser, consciente,
Ele vai acontecer, dita a sabedoria indiana. “A qualquer momento, quando você
estiver na sintonia certa com a existência, isso vai acontecer.” Santo
Agostinho traz essa ideia: “Tu estavas dentro de mim. Tarde te amei, ó beleza
tão antiga e tão nova... E eu fora...”
Abandonar todas as ideologias ajuda-nos a ficar devidamente atentos. Deus não é uma pessoa, nem uma imagem... Deus é uma experiência. Ele não precisa de conceitos para ser presenciado. E uma vez que estejamos em sintonia com Divindade, isso sim é felicidade, que leva à experiência da solitude e da plenitude. Eu me sinto pleno, total, inteiro e completo.
Na modernidade, o
indivíduo escolhe sua concepção religiosa, de forma própria. Ele escolhe em que
crer. Esse é o ‘livre-pensador’. Ele tem o pensamento livre. O livre pensamento
é o ponto de vista, filosófico ou não, que sustenta que os
fenômenos e todas as coisas devem ser formados a partir da ciência e da lógica, e não devem ser influenciados por nenhuma tradição, autoridade ou dogma. O ser humano passa a ser um sacerdote de si mesmo. Há luz
suficiente no Universo para eu seguir meu caminho sozinho, na busca de valores
e sabedoria.
Na modernidade, o
religioso compete com o psicólogo, com o filósofo... O indivíduo constrói sua
própria lógica. ‘Eu sou o dono da minha construção para o futuro.’
Tudo isso me faz pensar na observação de Michel Foucault, 1926-1984, filósofo francês e historiador das
ideias: “Espiritualidade não é religiosidade. É uma forma de transcender a
própria experiência por meio de um trabalho ético sobre si mesmo. Ao trazer a
espiritualidade para o campo da política, seria possível sonhar com outro
mundo, sem as formas de governo que nos oprimem”.
A Humanidade clama por
esse verdadeiro sentimento de alma. O Deus que existe em mim, adormecido,
aguarda o Seu despertar!
***
Excelente, em minha
opinião!
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