PESQUISANDO, reuni algumas reflexões importantes sobre as
crenças inflexíveis, de ambas ‘supostas’ verdades, que ora assolam nosso país.
“O país está mais interessado por
política, o que é bom. Mas, quando o interesse vira fanatismo, o objetivo se
perde. Viver em democracia é ceder, fazer compromissos, selar acordos – e,
principalmente, dialogar”, escreve Joel
Pinheiro da Fonseca, na revista ‘Época’.
“O mundo inteiro está cheio de conclusões. Uma
pessoa é cristã, outra é hindu, outra é jainista, outra é budista – é por isso
que falta verdade. Uma pessoa religiosa não pode ser cristã, hindu ou budista;
uma pessoa religiosa pode ser apenas um inquiridor sincero. Ela pergunta e
permanece aberta, sem tirar nenhuma conclusão. Seu barco está vazio”, lembra Osho, filósofo indiano, em sua obra ‘O Barco Vazio’. Para ele, a primeira
coisa a ser entendida é que só amigos podem discutir a vida. Sempre que uma discussão se torna
antagônica, quando uma discussão se torna um debate, o diálogo está rompido. A
vida não pode ser discutida dessa maneira. Apenas os amigos podem discutir,
porque, nesse caso, a discussão não é um debate, é um diálogo.
Como se lê na obra de Yuval Noah Harari, escritor israelense, ‘21 Lições para o Século 21’, “O mundo está ficando cada vez mais
complexo, e as pessoas não se dão conta de quão ignorantes são. Pessoas
raramente contemplam sua ignorância, porque se fecham numa câmara de eco com amigos
que pensam como eles e com feeds de
notícias que se autoconfirmam, fazendo com que suas crenças sejam
constantemente reiteradas e raramente desafiadas. É improvável que oferecer às
pessoas mais informações melhore a situação. A maior parte de nossas opiniões é
formada por pensamento comunitário e não em racionalidade individual, e
adotamos essas opiniões por lealdade ao grupo. A maioria das pessoas não gosta
de dados demais, e certamente não gosta de se sentir idiota. O poder do
pensamento de grupo é tão penetrante que é difícil se livrar dele mesmo quando
parece ser bastante arbitrário.”
O fanatismo pode levar a pessoa a cometer ações
insensatas, muitas vezes criminosas. Os fanáticos são normalmente pessoas
marginalizadas, pois se comportam de maneira distinta dos que são mais
moderados em suas atitudes, embora qualquer um esteja sujeito a desenvolver
sentimentos dessa natureza.
Na verdade, mesmo alguns homens-bombas, que se suicidam por uma causa
política ou religiosa, no dia-a-dia são, no mais das vezes, pessoas comuns. Nos
atos terroristas, aliás, encontramos elementos de devoção fanática aliados a
uma inteligência acima da média, neste caso utilizada para o mal, embora esses
militantes pretendam estar lutando contra as trevas, salvando o mundo.
Os fanáticos são geralmente prisioneiros de suas
obsessões, sejam elas um Deus, um líder político, uma causa utópica ou uma fé
inquestionável. Essas visões de mundo são quase sempre de natureza irracional,
e as pessoas que alimentam crenças desse teor acham realmente que estão
imbuídas de uma missão messiânica, que devem salvar as pessoas do Mal ou da
desordem mundial.
Fanatismo é o estado
psicológico de fervor excessivo, irracional e persistente por qualquer coisa ou
tema, historicamente associado a motivações de natureza religiosa ou política.
É um zelo obsessivo que pode levar a extremos de intolerância. Trata-se de uma
adesão cega a um sistema ou doutrina: dedicação excessiva a alguém ou algo,
paixão...
O fanático acredita na supremacia de suas ideias,
crenças ou cultura, muitas vezes querendo sumariamente impô-las. Ele é incapaz
de realizar um julgamento crítico sensato da realidade.
A pessoa não quer pensar, nem quer ser induzida a fazê-lo.
Ela crê e defende sua crença como um leão e acredita e despreza aqueles que
dela não compartilham, ofendendo-os não raramente.
Devemos estar sempre alertas, policiando emoções, para que
não nos deixemos envolver por sentimentos de intolerância e não coloquemos nossas
paixões no lugar da razão. Não podemos ficar tão obcecados por ‘verdades
pessoais’, que não possamos dar ouvidos à razão. Se isto acontecer, mais cedo
ou mais tarde, passeamos perigosamente pela seara do fanatismo, que nos
empobrece como pessoas. Ser fanático é ser antagônico à liberdade do outro de
ver o mundo por olhos diferentes.
Na religião, por exemplo, as pessoas não só
acreditam que suas crenças são as únicas válidas, como também perseguem e
castigam quem não acredita no mesmo que elas.
No artigo ‘Fanatismo existe e deve ser reconhecido como
tal’, publicado na revista ‘Veja’,
José Alexandre Crippa avalia o que diferencia
uma pessoa fanática: “Talvez a recusa ... em acreditar nos mais
claros argumentos críticos ou provas diante de fatos consumados, recusando
firmemente obter conclusões de suas próprias experiências ou observações do
real – simplesmente negando sua existência e seguindo a opinião do grupo. O
fanático acredita (tanto) na supremacia de suas ideias, crenças ou cultura, ...
querendo sumariamente impô-las”.
Assim, prossegue Crippa, a própria crença na
infalibilidade de sua doutrina ou no seu líder ajuda-lhe a negar as suas
contradições e desprazeres da realidade. “De certa forma, o fanático encontra-se em
uma posição narcísica projetando
no líder ou objeto de culto a
perfeição que idealiza para si. Projeta seu egocentrismo naqueles que pensam
diferente os seus próprios defeitos negados – não sendo incomum rotular os
outros de autoritários, preconceituosos e… fanáticos!”
na
A incapacidade de compreender opiniões diferentes é uma ameaça à
democracia, mas existe uma forma de combater isso? “A liberdade deve ser sempre a maior possível,
mas isso significa colocar certos limites para garantir os direitos e a
integridade de outros”, afirma Ricardo Bins di Napoli, professor de filosofia da Universidade
Federal de Santa Maria e especialista em temas ligados à ética política. “Para
que isso seja possível, é necessário construir uma cultura de tolerância que
passe por todos os elementos que compõem uma sociedade. É a capacidade de se
abster de intervir na opinião de outra pessoa, mesmo que a desaprove e tenha o
poder para calá-la, cerceá-la ou até prendê-la”, diz o professor.
“A
aceitação de valores diferentes é um exercício de autocrítica. Ela cria as condições necessárias para construir um diálogo
positivo para o desenvolvimento de uma sociedade sem rachaduras, na qual a
palavra ‘respeito’ não seja apenas uma estampa de camiseta. Afinal, qual seria
a graça do futebol se o rival fosse extinto? Conflitos nos fazem questionar e evoluir. Antes de xingar a mãe dos
desafetos, talvez seja melhor iniciar um diálogo capaz de conter o maior número
possível de opiniões. E isso inclui adicionar novamente aquele amigo excluído
do seu Facebook. Mais amor e menos
ódio, por favor!”, mencionam Nathan
Fernandes e Thiago Tanji em
artigo na revista ‘Época’.
Há
ainda algo citado por Yuval Noah Harari,
em outra obra de sua autoria, ‘Homo Deus
– Uma breve história do amanhã’, que
leio atualmente e creio encaixar-se nessa história toda de elevar humanos à
condição de deuses: “Se você começa com um ideal defeituoso, só vai perceber
seus defeitos quando o ideal estiver prestes a se realizar”.
Complementarmente,
Monja Coen faz a gente pensar:
“Porque eu estou aprendendo. Eu não sei ainda. Eu posso ser melhor. A pessoa que acha que sabe tudo não deixa nenhuma
novidade entrar. Ela está lotada. Numa xícara cheia não cabe mais nada...”
***
Muito pertinaz com o momento político q vive o Brasil. No qual não se escuta a opinião do outro e se coloca tudo em dois pólos, sem se pensar q várias nuances podem existir entre um extremo e o outro. 👏👏👏
ResponderExcluir