A escolha, obrigatória, seria entre duas pessoas com as quais não
tenho afinidade
Tom Simões
Imagem: www.comabrisadamontanha.blogspot.com/2011/10/pico-montanha-mais-alta-de-portugal.html
HÁ uma lei no Universo conhecida como ‘Lei
de Afinidade’. A afinidade entre duas pessoas pode se
transformar em um amor fraternal, aquele que é gerado entre irmãos. É uma
tendência a combinar-se! Em geral, somos determinadamente afins a poucas pessoas. Na própria família, nem sempre somos necessariamente
afins com todos que a integram.
Quem não
convive com pessoas inoportunas? Inventei um método para aplicar entre duas
pessoas que a gente chega a evitar no dia a dia ou em algumas situações, sem
ser deselegante; daquelas com as quais convive-se superficialmente. Pessoas críticas
inconsequentes, ou chatas, reclamonas (essas
então, ao vê-las de longe, viro na primeira esquina), materialistas, egocêntricas,
irônicas, mal-humoradas, agressivas, mexeriqueiras..., com uma e outra
indesejável limitação.
A brincadeira consiste em
eu ser obrigado a escolher uma entre duas pessoas difíceis para percorrer longa
trilha numa montanha difícil de subir, com ponto pra lá de íngreme. Ou escolho
ou morro. Eita!
Há várias trilhas
convidativas pelo Brasil afora. No caso, a caminhada acontece num lugar
incrível, em que rola acampar e percorrer paisagens variadas com diversidade de
fauna e flora. O circuito dura de dois a três ou mais dias, ao gosto dos aventureiros.
As duas pessoas difíceis dispõem de condicionamento físico satisfatório para a
longa caminhada e, o que é fundamental nesta história toda, ambas têm vocação e
interesse por esse tipo de aventura.
Aplico então o método
maluco: escolher a companhia menos indesejável entre essas duas pessoas. Caro leitor,
não raramente eu repriso tal ficção. Chego a me divertir em pensá-la. Daí
imaginar, secretamente, durante uma conversa com pessoas difíceis de desvencilhar-me:
“Qual delas eu escolheria para o desafio
de percorrer uma longa trilha montanhesca?” A pergunta vem precedida de: “Trata-se de um caso de vida ou morte. Ou
escolho uma delas ou morro”. Daí não me restar outra alternativa. Risos...
A narrativa é de caráter
fictício, é claro, mas pensando bem... É válida a uma boa reflexão! Um ou outro
leitor pode identificar-se com tal maluquice. Nessa imaginação toda, há de se pensar que, entre duas
pessoas problemáticas, ser possível escolher a um pouco menos difícil.
Moral da história: No meu caso, movido sempre pelo propósito e
disposição para agregar bons valores humanos ao outro, o companheiro da trilha montanhesca
funcionaria como um desafio! Não tenho dúvida. Na mochila da viagem certamente
não faltaria espaço para eu levar meu grande aliado, ‘o silêncio’... O silêncio incomoda o outro; pode levá-lo
à autorreflexão. Quem sabe!
Uma longa caminhada é
propícia ao encantamento, reflexão e consequente paz interior. Por se tratar de
um percurso sem possibilidade de desistência, conforme definido no projeto imaginário,
os dois montanhistas obrigam-se, oxalá, a se suportar e se superar
continuamente. Então, com as muitas pedras ao longo do caminho e subidas
íngremes, não há como, de alguma forma, não agregar valor um ao outro numa rara
oportunidade como essa, ora encantadora e desafiadora, ora sujeita a porções de
sofrimento inevitável.
Eis que chega-se ao
destino. Ao final da subida, sob uma grossa chuva, os dois se abraçam forte e
emocionadamente, festejando. Na viagem, estávamos unidos a um propósito comum:
atingir o cume da montanha. E a vida colocou-nos à prova, em exercícios de
silêncio, tolerância, superação, compensação... Eu e ele já não somos mais os
mesmos! Um agregou valor ao outro. Como as águas do rio, que se renovam a todo
tempo...
Mas nem por isso necessariamente
inicia-se ali uma verdadeira amizade. Ou quem sabe? É que amizade é sinônimo de
afinidade, que brota espontaneamente, desde o primeiro momento do
relacionamento. A afinidade é uma sintonia de conjunções da mente, do instinto
e do sentimento que estabelece um vínculo, uma complementação. Mas nada impede
o indivíduo de mudar sua própria natureza; despertando, num contínuo processo
de superação e transformação.
No projeto fictício, a
vida proporcionou ao indivíduo problemático a oportunidade de conviver com uma
boa pessoa, que lhe trouxe ensinamentos
primordiais aplicáveis. Surgia ali uma oportunidade para ele sentir-se
inspirado a melhorar algo em sua vida.
· Revisão: Márcia Navarro Cipólli
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