Natural da Armênia, que na época pertencia
ao antigo Império Russo Czarista. O ano de seu nascimento é incerto, algo em
torno de 1860, 1880 ou, ainda, 1866 ou 1872, como defendem alguns de seus
discípulos. Sua morte completou 60 anos, em 2009.
Gurdjieff é alguém
que apareceu num dado momento histórico para difundir o Ensinamento Primordial. Esse ensinamento, que aparece em diferentes
momentos da história da Humanidade, sempre existiu, mas assumindo diferentes
formas. Apareceu sob a forma de budismo, hinduísmo, taoísmo, islamismo,
cristianismo, judaísmo, além de ter feito parte da tradição egípcia, grega etc.
Entende-se, pois, que existe um ensinamento único do qual Gurdjieff é o maior representante. Ele é, portanto, o representante
de uma tradição primordial que
existiu muito antes das tradições judaica e grega.
UMA REFLEXÃO SOBRE OS SÁBIOS ENSINAMENTOS DE GURDJIEFF
“O
CONHECIMENTO essencial não dá boa audiência. Daí a civilização permanecer
ainda tão desolada...”
Tom Simões
AQUI eu sintetizo o ‘Comentário
sobre possível significado do termo Karnak’, com base no livro All and Everything (Tudo e Tudo), de autoria de Gurdjieff.
Os irmãos Paulo A.S. Raful e Lauro de A.S. Raful são os autores do Comentário, publicado na Revista SER, número 14,
http://www.ogrupo.org.br/RevistaSer.asp?ser=14
A revista é editada pela Escola Gurdjieff São Paulo – Um Novo Ser Faz Bem, http://www.ogrupo.org.br/
Paulo e Lauro prestam uma homenagem a Gurdjieff que, na visão deles, revolucionou a vida espiritual do Ocidente, deixando um legado de valor incomensurável e que se revela sempre atual, sempre impactante.
Pode-se dizer que o significado
simbólico da palavra Karnak é o da transmutação do
material em espiritual. Para aqueles que desenvolvem um trabalho interior
sério, haverá um refinamento do nível ordinário da consciência, conduzindo-a a
uma crescente ampliação, elevando-a dessa forma a um patamar muito superior ao
do nível comum da Humanidade.
Há ainda o significado de curvar-se,
de submeter-se, de buscar a humildade. A partir da experiência meditativa,
pode-se dizer que é a entrega de nossa ‘persona
social’ ao silêncio, à paz e ao contentamento, manifestações essas ligadas
aos planos superiores do nosso Ser. Simbolicamente,
fica claro que a atitude Karnak pode adquirir o sentido de um
casamento, de união entre nossas duas naturezas.
“SÓ
aquele que puder zelar pelo bem dos outros merecerá seu próprio bem.”
G. I. Gurdjieff
Revista SER
“SOMOS um grupo de pessoas em busca de melhor perceber, sentir e
compreender o Divino, o Universo e o Homem.
Nossa busca é orientada pelo Ensinamento de G. I. Gurdjieff.
O que fazemos já recebeu muitos nomes: Trabalho Interior, Busca da Verdade, Quarto Caminho, Busca de um Sentido Mais Profundo, Evolução da Consciência, Cristianismo Esotérico e Despertar do Eu Real, dentre outros.
Desenvolvemos e participamos de diferentes atividades destinadas a transformar o próprio Ser. Com isso, cada um e todos juntos acabam contribuindo para um bem maior.
Somos todos instruídos e orientados por Paulo e Lauro Raful, que foram iniciados desde jovens pelo Dr. Michel Conge, discípulo direto de G. I. Gurdjieff.
Nossa busca é orientada pelo Ensinamento de G. I. Gurdjieff.
O que fazemos já recebeu muitos nomes: Trabalho Interior, Busca da Verdade, Quarto Caminho, Busca de um Sentido Mais Profundo, Evolução da Consciência, Cristianismo Esotérico e Despertar do Eu Real, dentre outros.
Desenvolvemos e participamos de diferentes atividades destinadas a transformar o próprio Ser. Com isso, cada um e todos juntos acabam contribuindo para um bem maior.
Somos todos instruídos e orientados por Paulo e Lauro Raful, que foram iniciados desde jovens pelo Dr. Michel Conge, discípulo direto de G. I. Gurdjieff.
Quem é Gurdjieff
DESDE cedo, Gurdjieff distinguiu-se das outras
crianças na escola por conta de seu questionamento insaciável. Ele procurava orientação
de pessoas mais velhas entre as várias
escolas da região. Lia vorazmente
e, em tenra idade, deixou seu lar em busca de pessoas mais sábias ou irmandades
com chaves para o conhecimento, que tinha se tornado uma necessidade para a
sua vida.
|
|
Durante vinte anos,
até 1909, Gurdjieff esteve viajando,
preparando-se adequadamente, dirigido e influenciado pelo que chamava o Círculo Interior da Humanidade - os
portadores do conhecimento que buscava. Durante esse tempo tomou consciência
da sua missão: chamar a Humanidade
para descobrir o verdadeiro significado da existência.
“DESDE criança tenho a sensação de
que algo falta em mim. Sinto que existe outra vida além da vida comum. Uma
vida que me chama. Mas como me abrir a ela? Esta pergunta não me deixa em
paz. E assim tornei-me um cão faminto, perseguindo uma resposta.”
“NA VÉSPERA de domingos e feriados,
como nós, crianças, tínhamos o direito de não nos levantar cedo no dia
seguinte, meu pai costumava contar-nos uma história, quer sobre os grandes
povos da Antiguidade, quer sobre homens notáveis, quer sobre Deus, sobre a
natureza ou sobre toda espécie de maravilhas misteriosas. E terminava sempre
com algum conto de ‘As Mil e Uma Noites’.”
|
G.
I. Gurdjieff escreveu sua obra ‘All and Everything’ de uma forma
bastante rara, encontrada apenas nas Grandes
Escrituras da Humanidade, em
linguagem simbólica somada ao que alguns chamam de ‘linguagem crepuscular’, ou seja, uma linguagem cujo sentido está
muito além do aparente.
Nas palavras que cria, esse sábio
encobre significados e ensinamentos enriquecedores para os que buscam, de fato,
compreender o seu próprio Ser.
O propósito aqui é estimular o leitor
a transcender seu pensar linear, quase automático, limitado pelos condicionamentos
da sociedade, para alçar voo na direção de um pensar mais vasto e superior.
O relato a seguir
baseia-se em trechos de entrevista de Paulo
Raful à Revista Ser :
O QUE parece
fundamental quando falamos em Gurdjieff é
sublinhar que sua figura parece muito misteriosa se analisada sob o ponto de
vista comum. Mas, se percebida de forma mais ampla, fica claro que o sábio Gurdjieff surgiu num dado momento
histórico para trazer o Ensinamento Primordial,
ou seja, o pensamento que está na essência de todas as grandes religiões.
Gurdjieff é uma figura
enorme, não no sentido que as enciclopédias citam pessoas. Elas o classificam
como um filósofo russo, mas, na verdade,
Gurdjieff foi ‘um mensageiro do alto’, ou seja, com um nível
muito elevado de consciência. Isso não é
difícil compreender se fizermos uma analogia entre o estado de consciência do
ser humano e da vida animal. É nessa linha de analogia que podemos esclarecer o
leitor sobre o que pode diferenciar o estado de consciência superior do estado
de consciência de um filósofo, ou de um cientista, ou de alguém em ‘topo de
carreira’ no sentido comum.
Não fica tão difícil perceber que Gurdjieff tem o nível de consciência dos
mensageiros. Entendam bem que não o estou comparando a figuras supremas
como Jesus Cristo, Buda ou Maomé. Mas, com certeza, o seu nível de consciência pode ser
considerado num plano muito elevado. O que caracteriza todos os ‘mensageiros do
alto’ é a influência ilimitada que exercem sobre a Humanidade. Sob o ponto de
vista mais objetivo, podemos ver a sua influência em vários autores das áreas
de ciência, filosofia e psicologia, por exemplo, principalmente na Europa e Estados
Unidos.
Um dos propósitos do surgimento de um mensageiro do alto é formar
indivíduos despertos que se elevam na escala da consciência, a fim de
beneficiar a Humanidade como um todo. Alguns mensageiros, ainda em vida,
conseguem afetar pouca gente de forma direta. O próprio Jesus Cristo afetou poucas
pessoas; já Moisés influenciou um número maior de pessoas.
Saúde: como
conquistá-la e mantê-la
A
QUESTÃO da saúde, ao se considerar o que a experiência
interior traz, não fica tão complicada. Para abordar o assunto, temos que
voltar sempre a algo que é considerado o ‘Ensinamento
básico’, não só da escola
gurdjieffiana, mas da tradição
primordial. Ele aparece em todo mundo, só que de maneira bem acobertada,
sob diferentes formas. Mas o que todos os ensinamentos ligados à tradição
primordial trazem é que a composição do homem é sempre tripartite: o homem é composto do seu físico, do seu
processo pensante e do seu processo emocional. No seu ventre localiza-se o
processo vital; no seu cérebro, o processo pensante e, no seu peito, o processo
emocional. Podemos dizer, pois, que saúde significa não desperdiçar essas três
energias básicas, que se interligam. Essa
é uma definição essencial de saúde. É claro que não se pretende negar a importância
de toda a pesquisa médica e científica sobre as doenças. Respeitando-se todas
as descobertas da ciência, o princípio essencial para compreender bem o que
significa manter-se saudável é de que somos compostos basicamente de um corpo
físico e da energia que o move. Podemos comparar-nos a um fio elétrico: o fio
em si corresponde ao nosso corpo físico; e a energia elétrica, à nossa energia
vital. Isso de maneira simples. A medicina e a observação direta nos mostram
que uma pessoa estressada emocionalmente tem mais propensão a uma série de
doenças. Esse é um dos exemplos; não é o único. Isso não se dá apenas no plano
emocional. Assim, é possível uma pessoa muito preocupada passar a desenvolver
problemas estomacais. Outro exemplo pouco citado, que ocorre com o sexo
masculino, é o de homens que comprometem a sua vitalidade por excesso de
atividade sexual. Há ainda o caso de pessoas que podem comprometer o seu
organismo com o excesso de atividades esportivas. Mas tem atleta que vive até
os noventa anos. Mas como ele vive? Como estão suas articulações?
A maneira como cada um administra sua
energia varia de indivíduo a indivíduo: uns gastam mais energia mental; outros,
mais energia emocional; e outros, mais energia vital. Gurdjieff deixou também como legado uma série de instruções para
equilibrarmos harmonicamente os três processos.
“NENHUM sistema ou escola pode fazer pelo
ser humano o trabalho que ele tem de fazer por si mesmo.”
G.I.Gurdjieff
Um exemplo prático de equilíbrio é o
da pessoa que nasce com muito vigor e, por isso, tem uma atividade física
intensa. Como consequência, o seu organismo começa a pedir muito alimento,
muito mais do que o da média das pessoas. Com o tempo essa pessoa, engordando
mais que o necessário, pode ficar com diabetes e dormir mal, por comer muito
antes de se deitar. O seu organismo fica então desequilibrado. A pessoa precisa
prestar atenção nessa sua condição.
É nesse sentido que o trabalho
interior propicia ao indivíduo a noção da justa medida. A partir do momento que
percebe o seu desconforto, ele pode passar a se controlar. Um dia ele come
muito em uma única refeição. Depois pode passar dois ou três dias comendo
menos, equilibrando naturalmente o seu organismo. Quando a gente não se
alimenta por ansiedade, o organismo mostra a justa medida.
O fator emocional é um desconhecido. O
problema é que não damos atenção a ele. Ele não faz parte dos currículos escolares.
Portanto, o desprezamos. E isso tudo é muito delicado, por ser a área emocional
que faz a liga entre os seres humanos. Uma liga parte das ideias, mas se não
houver um sentimento, uma emoção calorosa entre as pessoas, elas se encontram e
vão embora.
Em geral, a gente observa a conversa
das pessoas em nossa volta. E é incrível como a emoção está presente em tudo o que
falam, tentando se expressar... Dizem: “fulano
me fez isso, fez aquilo, aconteceu isso ou deixou de acontecer...” Mas
existe normalmente uma elaboração mental em cima de tudo o que falam. Isso
parece um absurdo!
É curioso notar que a parte
emocional, a mais inconsciente de nossas partes, é a que predomina. Mas não é
reconhecida, porque as pessoas têm enorme dificuldade para expressar suas
emoções. Mas a emoção é uma das coisas que mais importa para as pessoas, é ela
que as une. Se alguém alimenta uma raiva de sua pessoa, mesmo que concorde com
você intelectualmente, arranja uma forma de agredi-la ou contrariá-la. Isso
mostra como a emoção é preponderante. Ao contrário, quando você gosta de alguém,
acaba relevando seus deslizes, mesmo quando essa pessoa está errada. Portanto,
para simplificar, não é possível um florescimento integral do ser sem um
florescimento emocional.
Vale ilustrar: o interesse por
determinados programas televisivos traduz a necessidade que as pessoas têm de
viver emoções. Filmes e programações mais intelectuais, por exemplo, não dão
boa audiência.
O consumismo
QUANDO uma pessoa está contente, está bem na
própria pele, ela necessita de menos coisas que as outras.
HÁ um desequilíbrio com as pessoas. Quando atingem um
patamar melhor em termos financeiros, elas passam a querer consumir cada vez
mais. A sociedade passa a produzir bens de consumo cada vez mais e cria novas
formas de fazer o dinheiro render, sem prever racionalmente o futuro.
Observa-se esse processo acelerando-se há mais de cem anos. O próprio René Guénon já dizia: “Herdamos o reino da quantidade”. Guénon, 1886-1951, foi um intelectual
francês do século XX tido como inclassificável. Sua influente obra pode ser
classificada em três vertentes: a exposição da metafísica tradicional, a
crítica ao materialismo e individualismo do mundo moderno e a explicação do
simbolismo tradicional das diversas civilizações tradicionais.
É preciso ter mais, mais e mais, porque há
uma pressão enorme em se adquirir coisas. O
que acontece, então? Extrai-se uma quantidade maior de matéria-prima do planeta
para se produzir mais bens de consumo. As pessoas tornam-se consumidoras cada
vez mais vorazes, e isso cria uma angústia. Fala-se muito na emissão de gazes
poluentes, mas as pessoas emissoras de angústia também poluem. Elas passam o
dia correndo atrás do prejuízo. Isso é muito preocupante. Há 30 ou 40 anos,
quando tínhamos um problema de saúde procurávamos um médico na ‘Santa Casa’ e
ali resolvíamos o problema. Hoje é preciso ter um plano de saúde. Há uma
pressão cada vez maior sobre o indivíduo para adquirir coisas. Isso provoca
nervosismo, muita angústia e infelicidade, levando-o a querer sempre mais para
tentar compensar a sua infelicidade. É essa a essência do problema.
O que estou querendo dizer com isso?
Que a origem dessa crise reside no estado de consciência das pessoas. E isso é
fácil perceber: quando uma pessoa está contente, está bem consigo mesma, ela
necessita de menos coisas que os outros. Não deixa de se alimentar, não perde o
senso artístico, não perde o seu bom gosto, mas é menos voraz. Essa voracidade é
um problema de consciência. Quem não desenvolve um trabalho interior não
percebe que a causa da crise é uma insatisfação generalizada.
E como eu me defendo disso?
EU
ME defendo saindo desse estado de
insatisfação, procurando, ao contrário, experimentar o estado de serenidade. Se
faço isso, já crio uma proteção em torno de mim. Depois, a parte prática de
lidar com a crise pode ser resolvida a partir dessa paz interior. Nessa
condição, amplio minha mente e melhoro minha disposição física. Mas o
diagnóstico fundamental é exatamente esse. Esse desequilíbrio da Humanidade não
começou agora, já se manifestava em 1929. É delicado prever o rumo dessa
insatisfação daqui a 10, 20 ou 30 anos.
Uma crise também tem um lado
positivo, não tem? Faz as pessoas se questionarem sobre o rumo de sua vida.
Quando está dando tudo certo, ganhando-se bem, consumindo à vontade, viajando, raramente
as pessoas se questionam. Muitas delas, quando se deparam com uma crise
financeira, indagam a si mesmas: “Meu
Deus, para onde está indo a minha vida?” Será que existe a possibilidade de
um maior número de pessoas iniciar uma busca espiritual por conta da uma crise
pessoal? Mas elas procuram algo superior apenas nos momentos de uma dificuldade
financeira, amorosa... Quando resolvem o
problema, somem! A busca interior implica em iniciativa própria. Ninguém é levado
a isso por acaso ou influência de outro, sem despertar a sua consciência.
“SE
VOCÊ ajuda os outros, você será ajudado, talvez amanhã, talvez em cem anos,
mas você será ajudado. A Natureza tem de pagar o débito. É uma lei matemática,
e toda a vida é matemática.”
G.I.Gurdjieff
As pessoas não só não se aproximam
para desenvolver o seu lado espiritual, como não querem aprender a ciência de viver,
que não é propriamente espiritual. A ciência de viver pertence ao plano do
mental, do emocional e do físico. Mas nem nesses planos floresce o seu
interesse. Isso porque o indivíduo comum desconhece o sentido da autotransformação
para ficar mais competente e lidar melhor com a vida. Não lhe ocorre dedicar-se
também a outra coisa que não seja ganhar dinheiro.
As pessoas não têm o espírito do
artista de circo, por exemplo, que dá um duro danado para desenvolver sua
habilidade como malabarista, para andar na corda bamba, para fazer seus números
de acrobacia...
PODEMOS dizer que tudo que
o homem faz é arte.
TODA forma de
expressão do ser humano é arte. Desde a mais remota antiguidade, desde a
pré-história, quando as habilidades do homem e os instrumentos eram ainda muito
primitivos, o homem já fazia arte. O que pintava nas paredes das cavernas... Não
só o que pintava. Toda expressão do ser humano, seja através de uma pintura, um
objeto utilitário ou um instrumento de trabalho, é uma obra de arte. Como
estamos acostumados a coexistir naturalmente com tudo o que existe à nossa
volta, não percebemos que tudo teve de ser pensado, sentido e produzido. Tudo o
que o homem projeta é uma obra de arte. Os animais também produzem arte
instintivamente, como um ninho, por exemplo, mas sem noção do sentido artístico
da sua obra.
O ninho de um pássaro não é uma obra
de arte? Não, não é uma obra de arte, porque é a Natureza, no pássaro, que faz
o ninho. Logo, não há um sentimento envolvido na tarefa, nem uma intenção, nem
um projeto por trás disso tudo. O que caracteriza a obra de arte é a intenção
que está por trás dela. Costumamos mistificar a ideia do artista por entendermos
que só pode ser considerado artista aquele que faz, por exemplo, um desenho
maravilhoso. Não! Um engenheiro que constrói um prédio não está fazendo uma
obra de arte? É claro que sim! Precisamos nos acostumar a entender a obra de
arte no sentido mais amplo da expressão, pois fica muito interessante pensar na
arte dessa forma.
A arte é toda forma de expressão do
ser humano. Uma arma é uma obra de arte? Sim! O problema está na utilização que
se faz dela. Se alguém inventa uma bomba, está criando uma obra de arte. Agora,
o destino da bomba, sim, é um problema. Todo poema é uma obra de arte, mas um
texto ruim também o é. Pode ser uma obra de arte que fracassou, mas é uma obra
de arte.
O ser humano é sempre um canal de
expressão. O canal de expressão de um pensamento, uma ideia e/ou uma emoção. Cria
algo através desses três centros funcionais. E ele pode se preparar para servir como um instrumento
melhor, mais refinado, mais receptível, para que ideias de qualidade cheguem ao
mundo, ideias que podem aprimorar a Humanidade, facilitar a vida de todos neste
planeta.
QUEM cria mesmo é o Criador de todas as coisas.
Mas podemos preparar-nos para captar a Sua criação.
Por isso, antigamente, os homens de
conhecimento não assinavam as obras de arte que produziam. Não fazia sentido
assinar uma obra da qual eles eram apenas instrumentos de realização.
Em geral, tem muito ego envolvido na
autoria de uma obra de arte, mas é preciso entender o que está além. O nosso
mundo precisa de criadores, mas é preciso saber que as ideias não são nossas,
elas chegam até nós. Não podemos nos apropriar delas. Quanto mais inteligente
for o ser humano, inteligente no sentido amplo da palavra, menos autor de
alguma coisa ele pode se julgar.
Quanto mais inteligente e mais
capacitado, o homem estará habilitado para a expressão de algo. Isso em
qualquer campo! Mesmo na área da publicidade! O homem não precisa ser apenas a
expressão do mundo interior. Por exemplo, alguém que trabalha no mundo da
propaganda e precisa fazer um bom trabalho, pode se abrir e ficar à espera de
uma boa ideia. De repente, surge a ideia certa para aquele projeto. Essa ideia
veio de onde? Veio de um ideário que existe por aí...
A ideia vem do mesmo lugar do
pensamento. Do mesmo lugar de onde se originam os pensamentos. Isso é tão
verdadeiro que vê-se surgir ideias iguais nas artes e ciências em diferentes
lugares ao mesmo tempo, ideias que não existiam antes. É como se algumas
antenas captassem essas ideias. Muitas vezes tem-se a sensação de que níveis
superiores de inteligência estão enviando alguma ideia que, naquele momento,
tem um sentido para a Humanidade.
Há exemplos evidentes, como Leonardo da Vinci. Ele criou uma série
de objetos que só se tornaram viáveis para a Humanidade trezentos ou quatrocentos
anos depois, como o helicóptero e o paraquedas, por exemplo.
Há variações nas diferentes formas de
arte. Há arte no homem expressando sua subjetividade. Há também a questão do
talento, cada pessoa nasce com determinado talento para determinada expressão.
Quanto mais a pessoa tem consciência
do seu Eu profundo, que está ligado a
esse mundo da inteligência superior, melhor ela se expressa. Há vezes que a
pessoa tem contato com o mundo superior mas não possui o instrumento necessário
para se manifestar concretamente. Ela então vai passar o que captou através de suas
ideias e palavras. Pode até mesmo existir alguém que tenha contato com esse mundo
profundo, mas não tenha o dom da palavra; neste caso pode tratar-se de um puro
contemplador. Essa pessoa irradiará a qualidade de ser através da sua linguagem
corporal.
O que significa a ‘arte objetiva’?
GURDJIEFF cunhou a expressão ‘arte objetiva’.
A arte
objetiva foi muito idealizada por pessoas que tentavam compreender o
trabalho interior. Esse fato transformou a arte em algo extremamente distante
das pessoas comuns. O que seria, então, a arte objetiva? Seria a arte que
tenta passar, através de muitas formas, a possibilidade que o homem tem de
evoluir internamente. Isso é arte objetiva. É, portanto uma arte voltada para o
crescimento interior do ser humano. Ela mostra que podemos crescer como seres
humanos, não no sentido de nos tornarmos uma pessoa melhorzinha, como ensinam livros
de autoajuda, mas de podermos passar de um ser humano comum para um ser humano
de alta qualidade. Essa alta qualidade aparece quando o homem se volta para o
seu centro, para o seu verdadeiro Eu,
para o seu Eu real. Então a arte objetiva é algo que lembra a
nossa conexão com o Divino. Ela está a serviço dessa lembrança. Por outro
lado, podemos dizer que toda arte produzida pelo ser humano que não busca
entrar em contato com a sua profundidade interior é subjetiva. Por quê? Porque ela vai expressar apenas seus traumas ou
alegrias momentâneas, sua depressão, seu furor, o amor ou desamor que está
vivendo naquele momento, e assim por diante. E tudo isso é subjetivo.
A arte objetiva diz: ‘Sim, você pode se transformar’! E dá
indicações para prestarmos mais atenção ao nosso ser. Mesmo contando uma piada,
podemos passar uma qualidade vinda de outro mundo, de uma inteligência superior
que pode ser acessada pelo ser humano.
A ARTE objetiva tem um propósito por trás dela, o
de passar a ideia de que podemos nos transformar. A arte objetiva mostra que
podemos entrar em contato com nosso Eu Real, com um mental e um sentimento superior.
Algo que transcende o criador, o artista.
Isso não significa que ele está completamente ‘desidentificado’ do seu ego, mas que está fazendo um esforço
para esvaziar-se interiormente para servir a uma qualidade superior de
inteligência. Se preferir, pode chamar essa inteligência de Divino ou Princípio Universal Superior, mas o que importa é saber que temos
de servir a essa qualidade com conhecimento de causa. Então, a obra de arte vai
refletir as nossas transformações, as nossas conquistas. Isso é arte objetiva.
É importante salientar que o que
chamamos de Divino é a possibilidade que
existe dentro de cada um, em nossa profundidade, senão a ideia fica muito
abstrata. A arte objetiva deve servir ao reconhecimento da verdadeira natureza
do ser humano, do que é essencial à existência. A verdadeira arte objetiva
lembra-me que ‘Eu Sou’. Ela me faz compreender
que não sou as minhas neuroses, as minhas raivas, os meus medos, as minhas
pequenas alegrias, os meus filhos, a minha mulher, os meus negócios, nem este
corpo fadado a perecer um dia. Ela pode dizer que não sou nada disso. A arte
que se vê atualmente não mostra isso. A verdadeira arte objetiva pode tocar as
pessoas em sua profundidade, trazendo-lhe um sentimento de nostalgia da sua
verdadeira natureza, do Eu Sou.
Botticelli,
Nascita Di Venere, Nascimento de Vênus
Quantas pessoas já não olharam para o
Botticelli e sentiram isso. Tanto é
que ele é endeusado como artista. Muitos dos grandes artistas da Renascença
tiveram contato com diferentes escolas do trabalho interior. Por isso, são
cultuados até hoje! Tornaram-se imortais, como Leonardo da Vinci também.
Leonardo da Vinci, Mona Lisa
EM QUE medida o artista beneficia o seu próprio
ser ao transmitir o conhecimento do Divino? E como ele pode treinar-se para
sair um pouco do seu mundo pessoal, do mundo do seu ego, e atingir camadas mais
refinadas do seu ser?
Em primeiro lugar, o artista precisa
desenvolver um trabalho profundo sobre si mesmo. Ele tem de estar buscando
entrar em contato com seu Eu real, ou
seja, sair de sua subjetividade e entrar em contato com essa inteligência, essa
emanação divina, que é o Eu real. No
interior do ser humano, o Eu real é o
representante dos níveis mais profundos do Universo. Se o artista não busca
isso, ele não vai se beneficiar tanto. Quanto mais consciente for a sua
transmissão, mais ele se beneficia, pois vai crescer em autoconhecimento, em
amor em relação às outras pessoas. Amar é olhar para o outro, é considerar o
outro.
GERALMENTE queremos que o outro nos considere,
portanto, queremos ser amados e não amar.
Há na atualidade um desvio
generalizado entre os artistas, principalmente os que ficam famosos e ganham
muito dinheiro. Com a globalização, a fama percorre rapidamente o mundo
inteiro. Por isso a fama sobe à cabeça do artista, e o talento ou contribuição -
que um dia foram autênticos - desaparecem.
O Eu
real não depende de nada; ele não nasce, não morre, permanece. O artista tem de
se colocar de lado, o que não é difícil quando ele está em contato com a sua
profundidade. Assim como o peixe nadando no mar não se pergunta onde está o
mar, não percebemos que estamos dentro do nosso Eu real. Acreditamos que somos pequenos. Quando entramos em contato
com o Eu real, o Eu menor dá passagem, vai para o lugar dele. Ele tem de saber que é
importante, mas é pequeno. E não há nenhum demérito nisso, porque todos nós
somos pequenos, não somos nada, da mesma forma que o homem mais famoso do mundo
também não é nada.
Seria o centro emocional o principal
afetado pela obra de arte? E as outras partes de nosso ser, como são afetadas?
Na verdade, a profundidade é que é afetada.
É evidente que uma obra de arte dita ‘objetiva’ deve tocar o emocional e o
mental superior.
A obra de arte que provoca uma
espécie de ‘awe’ ─ um espanto, um respeito a Deus, um assombro sem
palavras ─ está tocando nossa profundidade, mas, em seguida, entra o nosso
mental corriqueiro e tenta dar nome àquela impressão: ‘Oh! Que coisa linda, que coisa bem feita! Qual é o nome do artista?’ Isso
tudo é posterior ao awe, que significa assombro, respeito,
reverência, admiração. As pessoas que apreciam a arte verdadeira são tocadas
não só no seu sentimento, mas também no corpo como um todo, pois aumentam a sua
vitalidade. Elas saem amando mais! Algumas chegam com sentimentos negativos e
saem com o coração mais leve, com o mental mais lúcido e criativo, e o corpo
mais vigoroso, devido ao florescimento de energias mais puras do organismo.
Portanto, não é apenas o centro emocional que é afetado.
Na atualidade, informações que
transmitem o conhecimento do Divino estão
sendo difundidas pelo mundo inteiro, através da Internet. Há muitas delas, que se potencializam cada vez mais. A rede
social é um recurso oportuno e fundamental para espalhar as ideias do conhecimento.
É um recurso que ajuda a semear práticas do trabalho interior. Há hoje um acervo
enorme sobre a área do conhecimento interior. É muito gratificante saber que
podemos difundir ideias que ajudam o ser humano a entrar em contato com seu Eu real. Na verdade, quando uma única
pessoa é tocada por essas ideias, já ficamos felizes. O Eu Real deseja apresentar-se ao mundo. Não é preciso forçar nada,
mas temos de ficar cada vez mais hábeis em espalhar as boas ideias. Sabemos que
a quantidade não é a coisa mais importante, o mais importante é o desejo de
despertar as pessoas no sentido transcendental da existência.
A ideia de arte é muito mais ampla do
que imaginamos. Cada fração de segundo da nossa vida é uma obra de arte. Estar
vivo é a grande arte! Temos então de nos tornar suficientemente cristalinos
para fazer de nossa vida uma obra de arte.
O grande drama do ser humano é que
ele está sempre desejando ser alguma coisa que está lá no futuro. Na verdade, o
momento presente é uma obra de arte. Cada ser humano é uma obra de arte
completa, do princípio ao fim. Só que raramente pensamos dessa forma. Esse fato
nos torna conscientes de que estamos dentro de uma obra de arte completa, o
nosso corpo, criada por uma inteligência superior, pelo Grande Artífice. A nossa tarefa, portanto, é preparar os nossos
centros para que obedeçam ao Eu
profundo. Ele sim é o suprassumo das obras de arte! É essa a fórmula? Sim, é
essa a fórmula para a criação da Grande Obra de Arte!
“QUAL
é a sua arte? Qual é o seu talento? Se ainda não descobriu, se ainda não
percebeu-se interiormente, desperte neste sentido. Atente para o seu Eu profundo. É ele quem transmite a sua conexão com a Divindade.”
Tom Simões
***
Escola Gurdjieff São
Paulo
Rua Augusta, nº 2327, Edifício 1
São Paulo - SP
Telefone: (11) 3864-1670
São Paulo - SP
Telefone: (11) 3864-1670
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Para comentar mais facilmente, ao clicar em “Comentar como – Selecionar Perfil”, selecione NOME/URL. Após fazer a seleção, digite seu NOME e, em URL (preenchimento opcional), coloque o endereço do seu site.