quinta-feira, 29 de novembro de 2018

“DEUS É PARA TODOS”


Swami Kriyananda, 1926 (Romênia) – 2013 (Itália), aborda uma das mensagens transmitidas pelo iogue e filósofo indiano Paramahansa Yogananda (1893-1952), do qual era discípulo direto.






Há aqui ensinamentos enriquecedores para os que buscam, de fato, compreender o seu próprio Ser. O intuito é estimular o leitor a transcender o pensar linear, quase automático, limitado pelos condicionamentos, para alçar voo na direção de um pensar mais vasto e mais elevado.

Esta obra é uma percepção expandida ao alcance de todos sobre a ciência da religião, a natureza da bem-aventurança, o conceito de felicidade e o refinamento das percepções.




Livros Recomendados

TENHO este hábito. Sintetizar livros que leio, compartilhando trechos de alguns deles com meus seguidores. Esta síntese é uma simples ideia desta obra de Swami Kriyananda, que li em 2010. Quem se identificar com o conteúdo deve ler o livro. Há muito mais a ser explorado sobre o tema. Vai aqui também a sugestão de um presente útil a alguém que valorize a leitura.

Tom Simões







Conheça algumas ideias memoráveis desta obra:




UM SER humano não é a roupa que veste, e sim a pessoa viva que está dentro da roupa.



AS PESSOAS se distanciam de Deus quando pensam Nele em termos abstratos. Talvez imaginem que sua crença irá ‘salvá-las’, mas o que poderia ser a salvação sem o amor? Definições teológicas não oferecem conforto ao coração. Parecem cadeiras de antiquário, colocadas no recinto para serem vistas, e não para sentarmos nelas! Ou melhor, lembram porcelanas preciosas, guardadas na segurança dos armários, porém raramente usadas. As pessoas se lembram de Deus durante os períodos de sofrimento – mas afora estes, em que momento? Na dor, elas podem tirá-Lo do armário, espaná-Lo e examiná-Lo com mais atenção. Normalmente, porém, consideram-se bastante bem sem Ele, enquanto, exaustas, testa franzida de ansiedade, arrastam-se de crise em crise.




A DIVERSIDADE das crenças entre as religiões do mundo é inevitável, e, de fato, desejável, pois as expressões de Deus não são singulares. Não há dois blocos de neve exatamente iguais: nem dois olhos, nem duas vozes, nem duas impressões digitais. A espantosa variedade do universo deveria inspirar as pessoas a terem uma apreciação maior umas pelas outras, sem julgar ninguém.




CADA religião verdadeira – hinduísmo, budismo, judaísmo, cristianismo, islamismo – não é, de fato, um mero fenômeno cultural. Cada uma se dedica ao cumprimento da vontade divina, que consiste sempre em elevar a consciência humana.




AS VERDADES universais são as mesmas em toda parte. A religião não é um mero ornamento da civilização: trata-se de uma necessidade fundamental de todos os seres humanos. Corretamente entendida, a verdadeira religião oferece imparcialmente esperança e inspiração. Suas formas variam com diferentes culturas e diferentes condicionamentos sociais, mas seu propósito é sempre elevar a consciência humana. A verdade jamais endossa uma única cultura com exclusividade. Os que procuram sinceramente a verdade veem sua compreensão ir se tornando cada vez mais refinada.




OS GRANDES mestres nunca se opuseram aos ensinamentos uns dos outros. Afinal de contas, a verdade é universal e eterna. Ela nunca se altera. As descobertas científicas, aceitadas por muitos como finais, perdem a ‘finalidade’ a cada tantos anos, quando fatos novos surgem à luz. Os mestres, em contraste, perceberam a verdade eterna e para sempre imutável. É isso o que eles, cuja missão é corrigir os mal-entendidos do público em relação à verdade, declaram em cada época e cada religião. Em sua habitual inquietação, os seres humanos sentem-se atraídos pela complexidade e são refratários à simplicidade divina, enfeitando as melodias puras da alma com variações gratificantes ao ego.




DIANTE das decisões sobre qual o caminho a seguir, normalmente deveríamos seguir qualquer um que traga interiorização, a partir do ponto onde nós próprios nos encontremos.





NAS FORMAS inferiores de vida, cuja aspiração mais alta é evitar a dor física e vivenciar o prazer físico, a bem-aventurança encontra-se extremamente velada. O homem se diferencia pelo fato de sua aspiração ser mais deliberada e mais pessoal. Com a percepção relativamente refinada, ele percebe também que normalmente as sensações físicas duram pouco, e que as oscilações emocionais que acompanham o prazer e a dor são temporárias, como o balanço das ondas no oceano. Portanto, ele intui algo mais permanente que o prazer, e busca a felicidade. Ele também procura evitar o sofrimento mental – a perda do emprego, por exemplo, ou da boa reputação – e suporta deliberadamente até mesmo a dor física, para alcançar objetivos de longo prazo. Com um grau mais alto de refinamento da percepção, ele procura evitar sentimentos, pensamentos e ações que possam impedi-lo de concretizar a eterna bem-aventurança. Pois ele descobriu que a fonte de todos os sofrimentos se localiza no fato de sua atenção ter sido desviada de sua própria realidade.




A FELICIDADE surge de dentro do ser. Ela não depende das condições externas. Assim, nada exterior a nós mesmos pode definir ou qualificar nossa felicidade, exceto se lhe permitirmos fazê-lo. Constatada esta verdade inalterável, a felicidade torna-se nossa propriedade permanente.





À MEDIDA que o homem aumenta seu refinamento, ele procurar evitar sofrimento mental e encontrar felicidade num estado mental elevado. 





ALGUÉM que tenha nascido num ambiente de criminalidade e morrido numa guerra de gangues antes dos vinte anos de idade provavelmente não teve a oportunidade, nem o incentivo, de absorver as lições mais elevadas da vida.




AS PESSOAS que vemos à nossa volta, quiçá todos os dias, vivem obviamente em diversos níveis de desenvolvimento. Às vezes, lançar um simples olhar em suas expressões nos permite notar que nem todas são igualmente sábias.
Uma existência única pode não bastar para absorver sequer uma das lições fundamentais da vida, quais sejam, por exemplo, a recompensa maior da bondade, que supera a insensibilidade, e a da generosidade, que supera o egoísmo. Tampouco é suficiente uma única existência para alguém se livrar de apenas um dos maus hábitos renitentes, como o alcoolismo ou a dependência de drogas. Hábitos renitentes lançam raízes profundas na mente subconsciente. Eles se esgueiram despercebidos pelas cavernas subterrâneas da memória, recortadas pelos túneis de antigas autocomplacências, mágoas e frustrações pendentes.




MAS EU gosto de ser uma ‘ostra feliz’! Que importa se não faço nada, além de ficar abrindo e fechando minha concha e engolindo minúsculos organismos? Que importa se não sou realmente nem um pouquinho feliz, e em nada encontro algum prazer especial? Estou acomodada, estou cômoda, e não passo de uma ostra. Não me peça que eu seja mais do que isso!




ENTRE religião formal e espiritualidade individual existe esta diferença: a espiritualidade não inspira a menor necessidade de convencer alguém. Aquele que segue o caminho interior sente apenas um desejo de amar a Deus cada vez mais profundamente. Ele dá amor espiritual gratuitamente a quem quer que o aceite. As zombarias conspurcariam essa devoção honesta. Mas uma vez alcançada a bem-aventurança, parece um privilégio doar em proveito da elevação alheia tudo o que temos e somos. A religião formal ajuda a elevar a humanidade acima do nível dos animais, e inspira as pessoas a incluírem em suas vidas algo mais nobre que a pura satisfação dos instintos.




OS SERES humanos são raios da infinita luz de Deus. Quanto tempo – de fato, quantas existências! – levou cada ser humano para alcançar seu atual estado de compreensão! E como foi árdua a escalada! Abraçar um destino mais alto corresponde ao interesse de cada um.




NÃO TENHA esperanças de que a sabedoria lhe chegue só por conta da idade avançada: há muitos velhos caducos, com um sorriso vazio diante do jogo da vida, do qual não participam mais. A sabedoria só nos vem de uma vida vivida em constante vigilância, para descobrir quais atividades nos levam de fato à felicidade, e quais só nos prometem a felicidade, mas, no final, nos trazem desilusão e tristeza. Na verdade, a única virtude demonstrada pela velhice é a capacidade de ter, até o presente, evitado morrer!




A ALEGRIA interior brilha intensamente nos olhos daqueles que vivem segundo elevados ideais. A alma é o espírito individualizado; em nossa verdadeira natureza, portanto, nós somos bem-aventurança. Nossos egos são manifestações daquela bem-aventurança. Entretanto, porque a atenção do ego está voltada para o exterior, ele frequentemente não vivencia mais que lampejos de bem-aventurança.







A Boa Companhia

EM TODOS os níveis de refinamento, o desenvolvimento também pode ser inspirado pela boa companhia. Essa influência é até mais importante que o sofrimento. As pessoas podem ser ajudadas em seu caminho rumo à maturidade espiritual ao se rodearem de influências enaltecedoras. É especialmente útil prestar serviços a pessoas mais altamente evoluídas em termos espirituais.

Quanto mais clara se torna a consciência do indivíduo, mais rápida se torna sua evolução psicológica. A boa companhia estimula tal evolução; ela contrabalança as chicotadas da dor e do sofrimento, que conduzem uma pessoa a maiores níveis de compreensão. Caso se encontre no meio de pessoas pacíficas e harmoniosas, a pessoa pode ser inspirada a reconhecer que a felicidade existe nela mesma e não precisa ser buscada somente em circunstâncias externas.

A companhia que buscamos exerce uma forte influência nas imagens de felicidade que formamos na mente. Se todos os nossos conhecidos consideram o objetivo da vida possuir uma gorda conta bancária, não será fácil tirar da cabeça essa forma-pensamento, ainda que nosso próprio desejo seja adotar um ideal mais expansivo. Se, por outro lado, as pessoas que nos cercam estão generosamente interessadas no bem-estar alheio, qualquer tentação de nossa parte em buscar somente a própria felicidade provavelmente se dissipará como a névoa matinal ao sol.

No desenvolvimento até a maturidade, o indivíduo sente um progressivo desejo de alcançar a verdadeira compreensão. Enfim, consciente da gravidade e da frequência de seus erros, apesar do esforço aplicado – já que a ilusão é muito sutil -, ele começa a ansiar pela orientação de alguém que tenha, pessoalmente, alcançado a sabedoria. Terá muita sorte se lograr ser conduzido a tal pessoa. Se, além disso, aquela pessoa consentir em empreender a tarefa hercúlea de guiá-lo para fora do labirinto da ilusão, ele conseguirá, depois de grandes esforços de sua própria parte, alcançar finalmente a liberdade. Sem semelhante orientação, o caminho é infinitamente tortuoso e constantemente frustrante.

Só pode assumir a tarefa de guiar outros para longe da ilusão aquele que tenha alcançado, ele próprio, aquela perfeita liberdade. No sentido mais alto, é a própria Bem-aventurança Consciente que envia tais almas libertas para servir de guia a outros indivíduos, profundamente sinceros em sua busca espiritual, e ansiosos por trocar sua acanhada identidade egocêntrica por uma infinita.







ASSIM, a maturidade é finalmente alcançada. Por um lado, o ego é empurrado para frente; por outro, ele é atraído para cima. A boa companhia magnetiza; e também as boas ações. O sofrimento, ao contrário, torna o indivíduo refratário ao comportamento que o fez sofrer.



O DESTINO de cada um é também a consequência de suas próprias ações do passado. No entanto, podemos mudar em boa parte o destino desencadeado por essas ações, ao elevar nosso nível atual de consciência.





  

Sobre a Morte

AGARRANDO-SE ao corpo, o homem teme perdê-lo, juntamente com todas as associações familiares que construiu no decorrer da existência. Seu coração discute com a morte: ‘Será que tudo isso deve ser mesmo abandonado para sempre?’ Sim, as coisas, propriamente, devem ser deixadas para trás, mas as pessoas não. As suas formas mudarão, mas a essência não mudará.

 






A Ciência da Religião

OS ENSINOS religiosos contêm, igualmente, sentimentos elevados, que são escarnecidos como pieguice pelos cínicos, não só por se tratar de sentimentos, mas também por serem elevados. No entanto, os sentimentos que tais ensinamentos enfatizam podem ser testados e comprovados. Se eles produzem resultados universais e universalmente desejáveis, por que depreciá-los pelo simples fato de promoverem a felicidade? Aliás, por que rotulá-los de anticientíficos? À sua própria maneira, a generalizada experiência humana equivale aos testes realizados em laboratório. Se a experiência demonstra, por exemplo, que a bondade é mais eficaz que o egoísmo, e proveitosa não só como técnica diplomática, mas também eficaz pela realização trazida ao indivíduo que a manifesta, não seria tolice, do ponto de vista pragmático, desprezar a demonstração como irrelevante? Jesus Cristo afirmou: ‘Há uma benção maior em dar do que em receber’. A ‘benção’ a que Ele se referiu faz recordar a bem-aventurança, que é o tema deste livro. O supremo argumento contra o egoísmo é o fato de que, a longo prazo, ele simplesmente não funciona. Aqueles que acumulam fortunas para si mesmos sem jamais distribuir a abundância acabam sentindo suas vidas amarguradas.

A felicidade que as pessoas realmente querem na vida não é encontrada na auto-absorção do egoísta, mas na expansão do sentido individual permitindo a inclusão do outro. Portanto, a doação generosa é pragmática, e não um mero preceito dogmático. A benção trazida pela generosidade é uma realidade que descobrimos na consciência, e não em tubos de ensaio ou em telescópios. Em termos de consciência, ela nos oferece resultados definidos, desejáveis.

A ciência da religião abrange muito mais que atitudes espirituais, por mais importantes que estas sejam. Quando a energia é dirigida ao cérebro no sentido ascensional e exterior, desaparecem como consequência natural as tendências mundanas.

As atitudes positivas podem ser afirmadas e, logo, reforçadas pelo ato de se sentar com a coluna ereta, mantendo o tórax erguido e respirando profundamente. Em si, a postura correta não é espiritualmente essencial, porém acompanha naturalmente a inspiração e, para a maioria das pessoas, é facilmente colocada em prática. Por que, então, não cooperar com a natureza? Ignorar tais fatos sob a piedosa alegação de que melhor seria depender somente da graça de Deus é, de fato, uma indicação de cegueira voluntária. Afinal de contas, Deus nos concedeu essas leis. Elas deveriam ser tomadas como um sinal de Sua graça, que pode ser usado para facilitar o progresso espiritual. Se alguém preferir, em vez disso, decidir por si próprio de que forma a graça irá operar em sua vida, deverá ser considerado preguiçoso, incompetente ou presunçoso! O ditado ‘Deus ajuda a quem se ajuda’ aplica-se muito bem a este caso.

O ser humano precisa fazer um esforço espiritual para atingir sua purificação em vez de deixá-la inteiramente a cargo da graça divina.

Por que não nos ajudarmos de todas as formas possíveis, principalmente se a oportunidade para fazê-lo está sendo, digamos assim, oferecida numa bandeja de prata? Não seria absurdo esperar que Deus mastigasse e engolisse o alimento que comemos? Ele já o digere por meio das energias fornecidas pela natureza ao corpo.

Os verdadeiros ensinamentos vibram com o poder espiritual. Não são produtos de reflexão intelectual, que quando muito só oferece deduções razoáveis. A mais profunda filosofia não consegue ir além de recomendar, ela não consegue elevar.








HOJE EM dia as pessoas pensam nos cientistas quase como caricaturas, imaginando-os de guarda-pó branco, testa franzida e ferozmente impregnados de teorias grandiosas, porém jamais atentos ao que traz alegria nesta vida. Decididamente chegou a hora de refinar essa imagem. Uma abordagem estreitamente intelectual à vida ignora os sentimentos do coração. A verdadeira compreensão exige uma combinação de raciocínio intelectual e sentimento intuitivo (embora não emocional). Pois a sabedoria não é apenas lógica: é a compreensão nascida da experiência direta da Realidade Suprema, que é a infinita, a eterna Bem-aventurança Consciente.




QUANTO mais animalizada a consciência de uma pessoa, mais sua energia centra-se na parte inferior da coluna. Pessoas ‘terra-a-terra’, frequentemente elogiadas em seu suposto realismo, manifestam na própria postura, nos próprios gestos, o fato de sua percepção centrar-se no ser inferior, como se fosse irradiada da região dos quadris. Mesmo em sua conversação referem-se constantemente às funções inferiores do corpo.




QUANDO a energia está livre para ascender sem obstáculos até o cérebro, sem que a impeçam quaisquer desejos e impulsos materiais de sentido descensional, a consciência do indivíduo alça voo rumo ao céu em bem-aventurança. Surge, então, o alívio das limitações do ego, pois nossa consciência expande nossa identidade pessoal. Esse fluxo ascendente tem importância crucial para o desenvolvimento espiritual. Quando a percepção e a energia estão centradas no ponto entre as sobrancelhas, do qual ascendem ao centro mais elevado no alto da cabeça, a consciência de dualidade desaparece e a alma se dissolve na unidade do Espírito.




DEUS tem oito aspectos essenciais: Amor, Bem-aventurança, Sabedoria, Paz, Calma Profunda, Poder, Luz e Som. (A calma difere da paz no sentido de irradiar um poder profundo.) A bem-aventurança é o que todos já estão buscando, embora poucos estejam conscientes de ser este seu verdadeiro objetivo.


***


EU COMPARTILHO ideias com as quais acredito. Se uma única dessas ideias puder ser útil a uma única pessoa, que a coloque em prática, meu propósito não será em vão. Todas as palavras não podem ser senão úteis, capazes de promover mudanças.”

Tom Simões


   
TODO mundo pode mudar para melhor, se quiser. Carlos Castaneda, escritor e antropólogo peruano, diz que o homem só vive para aprender. “E se aprende, é porque é essa a natureza de seu destino, para melhor ou para pior”.

O autoconhecimento nos traz o saber, e este, o poder de nos transformar em pessoas melhores e mais plenas internamente. Trata-se de um longo caminho a ser percorrido e que exige a reinvenção de nós mesmos. A gente tem de estar sempre se testando e se reinventando...
Aperfeiçoando-se!

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