Alain de Botton, filósofo e escritor
Nasceu em Zurique, na Suíça, em 1969,
mas mora em Londres desde os oito anos. Tornou-se conhecido por popularizar a
filosofia, divulgando seu uso na vida cotidiana.
Religião para Ateus
parte da premissa de que, com ou sem fé, é possível encontrar aspectos úteis,
interessantes e consoladores nas religiões. Alain
de Botton examina as possibilidades de transferir algumas dessas ideias e
práticas para a vida.
Ele demonstra uma
profunda capacidade de direcionar seu olhar para a religiosidade no que
ela trouxe de útil às pessoas e comunidades ao longo dos séculos.
Ao descartar os dogmas e o sobrenatural, a obra resgata uma sabedoria
que pertence a toda a Humanidade, inclusive aos mais céticos.
Religião para Ateus mostra o lado positivo da religião.
Livros Recomendados
TENHO este
produtivo hábito. Sintetizar os livros que leio abordando autoconhecimento e espiritualidade.
É comum eu compartilhar com os meus seguidores trechos de alguns deles. Isso
não impede o leitor de adquirir a citada obra para conhecê-la em sua totalidade.
Vai aqui também a sugestão de um presente muito útil para quem valoriza a
leitura.
Tom Simões, tomsimoes@hotmail.com
Conheça algumas das ideias memoráveis do livro:
“Religião para Ateus", que li em 2012:
“UMA DAS perdas
que a sociedade moderna sente de forma mais aguda é a do sentimento de
comunidade. Tendemos a imaginar que no passado existiu um grau de boa
vizinhança que foi substituído por um anonimato implacável, um estado em que as
pessoas buscam contato umas com as outras principalmente com fins restritos e
individualistas: obter ganhos financeiros, ascensão social ou amor romântico.
Parte da nossa nostalgia gira em torno da relutância
em dar, por caridade, àqueles em dificuldades, mas também podemos nos preocupar
com sintomas mais triviais de separação social, como, por exemplo, a
incapacidade de cumprimentar uns aos outros na rua, ou de ajudar vizinhos
idosos com as compras. Vivendo em cidades colossais, tendemos a ficar presos em
guetos tribais baseados em nível educacional, classe e profissão, e podemos ver
o resto da Humanidade como inimigo em vez de um coletivo acolhedor ao qual
gostaríamos de nos juntar. Pode ser extraordinário e insólito dar início a uma
conversa espontânea com um desconhecido em um espaço público. Ao passar dos
trinta anos, é até um pouco surpreendente fazer um novo amigo.”
“POR MAIS
isolados que tenhamo-nos tornado, evidentemente não abandonamos toda a
esperança de construir relações. Nos solitários cânions da cidade moderna, não
existe emoção mais estimada que o amor. Entretanto, não se trata do amor sobre
o qual a religião fala, tampouco a
expansiva e universal irmandade da Humanidade, é uma variedade mais ciumenta,
restrita e, no fim, mais mesquinha. É um amor romântico, que nos põe em uma
busca maníaca de uma única pessoa com quem esperamos conquistar uma comunhão
completa e para toda a vida, uma pessoa em particular que nos dispensará de
qualquer necessidade por gente em geral.”
“UMA MISSA católica
não é, com certeza, o habitat ideal
para um ateu. Muito do que se diz é ofensivo à razão ou simplesmente
incompreensível. Ela se estende por muito tempo e raras vezes impede que se
caia na tentação do sono. Mesmo assim, a cerimônia é repleta de elementos que,
de maneira sutil, fortalecem os elos de afeição dos congregantes, e os ateus
fariam bem se os estudassem e aprendessem a se apropriar deles para
reutilizá-los no domínio secular.
O catolicismo começa a criar uma noção de comunidade
por meio de um cenário. Ele delimita um espaço da terra, ergue paredes ao redor
e declara que dentro de seus parâmetros reinarão valores profundamente distintos
daqueles dominantes no Mundo além, nos escritórios, ginásios e salas de estar
da cidade.
Uma igreja, com suas portas de madeira maciça e
trezentos anjos de pedra esculpidos ao redor do pórtico, dá a rara permissão de
nos aproximarmos de um estranho e dizer ‘olá’ sem o menor perigo de sermos
considerados predatórios ou insanos. Temos a promessa de que aqui (nas palavras
iniciais de saudação da missa) ‘Cristo, o
amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo’ pertencem a todos que se
reuniram. A Igreja empresta seu enorme prestígio, acumulado ao longo do tempo,
seu conhecimento e sua grandeza arquitetônica, ao nosso tímido desejo de nos
abrirmos para alguém novo.”
“PERDEMOS o
interesse pelos outros quando tudo o que procuramos fazer é afirmar o quanto as
coisas estão indo bem para nós, da mesma maneira que a amizade só tem chance de
crescer quando ousamos compartilhar aquilo que tememos e lamentamos. O resto é
puro exibicionismo. A missa encoraja esse descarte do orgulho.”
Pedidos de desculpa
“O ENFOQUE na
cólera é uma abordagem particular do judaísmo: como é fácil senti-la, como é
difícil expressá-la e como é assustador e complicado amainá-la nos outros.
Podemos ver isso com especial clareza no Dia
do Perdão judaico, um dos mais eficazes mecanismos psicológicos já
concebidos para a resolução de conflitos sociais.
Nessa data, os judeus devem pôr de lado suas
costumeiras atividades domésticas e comerciais e fazer uma revisão mental das
ações empreendidas no ano anterior, identificando todos aqueles a quem fizeram
mal ou trataram de forma injusta.
Eles devem, então, procurar aqueles a quem frustraram,
enfureceram, trataram sem consideração ou traíram e oferecer total contrição.
Nesse dia sagrado, os judeus são aconselhados a entrar
em contato com seus colegas, a conversar com pais e filhos, a enviar cartas a
conhecidos, amantes e ex-amigos no exterior e a listar seus momentos relevantes
de pecado. Aqueles a quem se desculparam, por sua vez, são instados a
reconhecer a sinceridade e o esforço feito pelo ofendedor ao pedir perdão. Em vez de deixar a irritação e a amargura em
relação à outra pessoa voltarem a crescer, devem estar prontos a deixar os
incidentes passados para trás, conscientes de que sua vida não está livre de
culpa.”
“NÃO ESTAMOS,
aqui, muito longe do conselho de Deus
a Jó: em vez de tentar corrigir as
humilhações insistindo na nossa importância equivocada, deveríamos tentar
apreender e apreciar nossa insignificância essencial. O notável perigo de vida
em uma sociedade ateísta é que ela não tem mensagens que nos lembrem do
transcendente e, portanto, nos deixa despreparados para a decepção e a
destruição final. Quando Deus está
morto, os seres humanos – para seu prejuízo – correm o risco de assumir o palco
psicológico central. Eles se imaginam comandantes do próprio destino, pisoteiam
a Natureza, esquecem os ritmos da terra, negam a morte e se esquivam de avaliar
e reconhecer tudo o que escapa ao seu domínio, até que, afinal, precisam
colidir de maneira catastrófica com as arestas pontiagudas da realidade.”
“A RELIGIÃO
é, acima de tudo, um símbolo daquilo que nos ultrapassa e uma educação sobre as
vantagens de reconhecer nossa insignificância.”
“DE MANEIRA
MÍOPE, as autoridades científicas oficialmente encarregadas de interpretas
as estrelas para o restante de nós raras vezes parecem reconhecer a importância
terapêutica de seu tópico central. Com uma linguagem científica austera, as
agências espaciais nos informam sobre as propriedades e os caminhos dos corpos
celestes, mas poucas vezes consideram a astronomia como uma fonte de sabedoria
ou um corretivo para o sofrimento.
À noite – talvez depois do principal telejornal e
antes de um reality show -,
poderíamos observar um momento de silêncio para contemplar os duzentos a
quatrocentos bilhões de estrelas da nossa galáxia, os cem bilhões de galáxias e
os três septilhões de estrelas do Universo. Qualquer que seja sua importância
para a Ciência, as estrelas, no fim, são igualmente valiosas para a Humanidade
como solução para a megalomania, a autocomiseração e a ansiedade.
Para responder à necessidade de estarmos sempre
conectados por meio dos sentidos a ideias de transcendência, deveríamos
insistir que uma percentagem de todos os televisores posicionados em locais
públicos de destaque fosse sintonizada em transmissões ao vivo das imagens
captadas pelos telescópios extraplanetários.”
“PRECISAMOS de
instituições para estimular e proteger aquelas emoções que estamos inclinados a
cultivar, mas às quais, sem uma estrutura de apoio e um sistema de lembretes
ativos, não dedicamos tempo porque somos distraídos e indisciplinados demais.
Aqueles de nós que não têm religião nem crenças
sobrenaturais ainda precisam de encontros regulares e ritualizados com conceitos
como amizade, comunidade, gratidão e transcendência. Não podemos depender da
nossa capacidade de chegar a eles sozinhos. Precisamos de instituições que nos
lembrem de que necessitamos deles e que os apresentem em embalagens atraentes –
assegurando, assim, o fortalecimento dos lados mais esquecidos e não
autoconscientes de nossa alma.”
“AUGUSTE Comte,
1798-1857, esperava que as escolas e as universidades seculares pudessem se
tornar os novos educadores da alma, transmitindo aos alunos lições éticas, e
não somente informação, mas percebeu que o capitalismo, no fim, sempre
favoreceria uma força de trabalho capacitada, obediente e não introspectiva, em
detrimento de uma inquisitiva e equilibrada em termos emocionais.”
“O OBJETIVO
deste livro foi identificar algumas das lições que podemos extrair das religiões: como gerar sentimentos de
comunidade, promover a delicadeza, cancelar a atual tendência a veicular apenas
valores comerciais na publicidade, selecionar e fazer uso de santos seculares,
repensar as estratégias das universidades e nossa abordagem em relação à
educação cultural, redesenhar hotéis e spas, reconhecer nossas necessidades
infantis, abdicar de parte do nosso otimismo contraproducente, adquirir
perspectiva por meio do sublime e do transcendente, reorganizar museus,
utilizar a arquitetura para preservar valores – e, finalmente, unir os esforços
dispersos dos indivíduos interessados na proteção da alma e organizá-los sob o
patrocínio de instituições.” Alain de
Botton
***
ESTA síntese é uma simples ideia da obra. Quem se identificou
com o seu conteúdo, deve ler o livro. Há muito mais a ser explorado sobre o
tema.
Todo mundo pode mudar para melhor, se quiser. Carlos Castaneda, escritor e antropólogo peruano, diz que o homem só vive para aprender. “E se aprende, é porque é essa a natureza de seu destino, para melhor ou para pior”.
O autoconhecimento nos traz o saber, e este, o poder de nos
transformar em pessoas melhores e mais plenas internamente. Trata-se de um
longo caminho a ser percorrido e que exige a reinvenção de nós mesmos.
A gente tem de estar sempre se testando e se reinventando...
Aperfeiçoando-se!
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