quarta-feira, 26 de setembro de 2018

“Religião para Ateus”


Alain de Botton, filósofo e escritor





Nasceu em Zurique, na Suíça, em 1969, mas mora em Londres desde os oito anos. Tornou-se conhecido por popularizar a filosofia, divulgando seu uso na vida cotidiana.
Religião para Ateus parte da premissa de que, com ou sem fé, é possível encontrar aspectos úteis, interessantes e consoladores nas religiões. Alain de Botton examina as possibilidades de transferir algumas dessas ideias e práticas para a vida.
Ele demonstra uma profunda capacidade de direcionar seu olhar para a religiosidade no que ela trouxe de útil às pessoas e comunidades ao longo dos séculos.
Ao descartar os dogmas e o sobrenatural, a obra resgata uma sabedoria que pertence a toda a Humanidade, inclusive aos mais céticos.
Religião para Ateus mostra o lado positivo da religião.




Livros Recomendados

TENHO este produtivo hábito. Sintetizar os livros que leio abordando autoconhecimento e espiritualidade. É comum eu compartilhar com os meus seguidores trechos de alguns deles. Isso não impede o leitor de adquirir a citada obra para conhecê-la em sua totalidade. Vai aqui também a sugestão de um presente muito útil para quem valoriza a leitura.    

Tom Simões, tomsimoes@hotmail.com





Conheça algumas das ideias memoráveis do livro: “Religião para Ateus", que li em 2012:




UMA DAS perdas que a sociedade moderna sente de forma mais aguda é a do sentimento de comunidade. Tendemos a imaginar que no passado existiu um grau de boa vizinhança que foi substituído por um anonimato implacável, um estado em que as pessoas buscam contato umas com as outras principalmente com fins restritos e individualistas: obter ganhos financeiros, ascensão social ou amor romântico.
Parte da nossa nostalgia gira em torno da relutância em dar, por caridade, àqueles em dificuldades, mas também podemos nos preocupar com sintomas mais triviais de separação social, como, por exemplo, a incapacidade de cumprimentar uns aos outros na rua, ou de ajudar vizinhos idosos com as compras. Vivendo em cidades colossais, tendemos a ficar presos em guetos tribais baseados em nível educacional, classe e profissão, e podemos ver o resto da Humanidade como inimigo em vez de um coletivo acolhedor ao qual gostaríamos de nos juntar. Pode ser extraordinário e insólito dar início a uma conversa espontânea com um desconhecido em um espaço público. Ao passar dos trinta anos, é até um pouco surpreendente fazer um novo amigo.”












POR MAIS isolados que tenhamo-nos tornado, evidentemente não abandonamos toda a esperança de construir relações. Nos solitários cânions da cidade moderna, não existe emoção mais estimada que o amor. Entretanto, não se trata do amor sobre o qual a religião fala, tampouco a expansiva e universal irmandade da Humanidade, é uma variedade mais ciumenta, restrita e, no fim, mais mesquinha. É um amor romântico, que nos põe em uma busca maníaca de uma única pessoa com quem esperamos conquistar uma comunhão completa e para toda a vida, uma pessoa em particular que nos dispensará de qualquer necessidade por gente em geral.”






UMA MISSA católica não é, com certeza, o habitat ideal para um ateu. Muito do que se diz é ofensivo à razão ou simplesmente incompreensível. Ela se estende por muito tempo e raras vezes impede que se caia na tentação do sono. Mesmo assim, a cerimônia é repleta de elementos que, de maneira sutil, fortalecem os elos de afeição dos congregantes, e os ateus fariam bem se os estudassem e aprendessem a se apropriar deles para reutilizá-los no domínio secular.
O catolicismo começa a criar uma noção de comunidade por meio de um cenário. Ele delimita um espaço da terra, ergue paredes ao redor e declara que dentro de seus parâmetros reinarão valores profundamente distintos daqueles dominantes no Mundo além, nos escritórios, ginásios e salas de estar da cidade.
Uma igreja, com suas portas de madeira maciça e trezentos anjos de pedra esculpidos ao redor do pórtico, dá a rara permissão de nos aproximarmos de um estranho e dizer ‘olá’ sem o menor perigo de sermos considerados predatórios ou insanos. Temos a promessa de que aqui (nas palavras iniciais de saudação da missa) ‘Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo’ pertencem a todos que se reuniram. A Igreja empresta seu enorme prestígio, acumulado ao longo do tempo, seu conhecimento e sua grandeza arquitetônica, ao nosso tímido desejo de nos abrirmos para alguém novo.”






PERDEMOS o interesse pelos outros quando tudo o que procuramos fazer é afirmar o quanto as coisas estão indo bem para nós, da mesma maneira que a amizade só tem chance de crescer quando ousamos compartilhar aquilo que tememos e lamentamos. O resto é puro exibicionismo. A missa encoraja esse descarte do orgulho.”






Pedidos de desculpa

O ENFOQUE na cólera é uma abordagem particular do judaísmo: como é fácil senti-la, como é difícil expressá-la e como é assustador e complicado amainá-la nos outros. Podemos ver isso com especial clareza no Dia do Perdão judaico, um dos mais eficazes mecanismos psicológicos já concebidos para a resolução de conflitos sociais.
Nessa data, os judeus devem pôr de lado suas costumeiras atividades domésticas e comerciais e fazer uma revisão mental das ações empreendidas no ano anterior, identificando todos aqueles a quem fizeram mal ou trataram de forma injusta.
Eles devem, então, procurar aqueles a quem frustraram, enfureceram, trataram sem consideração ou traíram e oferecer total contrição.
Nesse dia sagrado, os judeus são aconselhados a entrar em contato com seus colegas, a conversar com pais e filhos, a enviar cartas a conhecidos, amantes e ex-amigos no exterior e a listar seus momentos relevantes de pecado. Aqueles a quem se desculparam, por sua vez, são instados a reconhecer a sinceridade e o esforço feito pelo ofendedor ao pedir perdão.  Em vez de deixar a irritação e a amargura em relação à outra pessoa voltarem a crescer, devem estar prontos a deixar os incidentes passados para trás, conscientes de que sua vida não está livre de culpa.”







NÃO ESTAMOS, aqui, muito longe do conselho de Deus a : em vez de tentar corrigir as humilhações insistindo na nossa importância equivocada, deveríamos tentar apreender e apreciar nossa insignificância essencial. O notável perigo de vida em uma sociedade ateísta é que ela não tem mensagens que nos lembrem do transcendente e, portanto, nos deixa despreparados para a decepção e a destruição final. Quando Deus está morto, os seres humanos – para seu prejuízo – correm o risco de assumir o palco psicológico central. Eles se imaginam comandantes do próprio destino, pisoteiam a Natureza, esquecem os ritmos da terra, negam a morte e se esquivam de avaliar e reconhecer tudo o que escapa ao seu domínio, até que, afinal, precisam colidir de maneira catastrófica com as arestas pontiagudas da realidade.”







A RELIGIÃO é, acima de tudo, um símbolo daquilo que nos ultrapassa e uma educação sobre as vantagens de reconhecer nossa insignificância.”











DE MANEIRA MÍOPE, as autoridades científicas oficialmente encarregadas de interpretas as estrelas para o restante de nós raras vezes parecem reconhecer a importância terapêutica de seu tópico central. Com uma linguagem científica austera, as agências espaciais nos informam sobre as propriedades e os caminhos dos corpos celestes, mas poucas vezes consideram a astronomia como uma fonte de sabedoria ou um corretivo para o sofrimento.
À noite – talvez depois do principal telejornal e antes de um reality show -, poderíamos observar um momento de silêncio para contemplar os duzentos a quatrocentos bilhões de estrelas da nossa galáxia, os cem bilhões de galáxias e os três septilhões de estrelas do Universo. Qualquer que seja sua importância para a Ciência, as estrelas, no fim, são igualmente valiosas para a Humanidade como solução para a megalomania, a autocomiseração e a ansiedade.
Para responder à necessidade de estarmos sempre conectados por meio dos sentidos a ideias de transcendência, deveríamos insistir que uma percentagem de todos os televisores posicionados em locais públicos de destaque fosse sintonizada em transmissões ao vivo das imagens captadas pelos telescópios extraplanetários.”





PRECISAMOS de instituições para estimular e proteger aquelas emoções que estamos inclinados a cultivar, mas às quais, sem uma estrutura de apoio e um sistema de lembretes ativos, não dedicamos tempo porque somos distraídos e indisciplinados demais.
Aqueles de nós que não têm religião nem crenças sobrenaturais ainda precisam de encontros regulares e ritualizados com conceitos como amizade, comunidade, gratidão e transcendência. Não podemos depender da nossa capacidade de chegar a eles sozinhos. Precisamos de instituições que nos lembrem de que necessitamos deles e que os apresentem em embalagens atraentes – assegurando, assim, o fortalecimento dos lados mais esquecidos e não autoconscientes de nossa alma.”






AUGUSTE Comte, 1798-1857, esperava que as escolas e as universidades seculares pudessem se tornar os novos educadores da alma, transmitindo aos alunos lições éticas, e não somente informação, mas percebeu que o capitalismo, no fim, sempre favoreceria uma força de trabalho capacitada, obediente e não introspectiva, em detrimento de uma inquisitiva e equilibrada em termos emocionais.”






O OBJETIVO deste livro foi identificar algumas das lições que podemos extrair das religiões: como gerar sentimentos de comunidade, promover a delicadeza, cancelar a atual tendência a veicular apenas valores comerciais na publicidade, selecionar e fazer uso de santos seculares, repensar as estratégias das universidades e nossa abordagem em relação à educação cultural, redesenhar hotéis e spas, reconhecer nossas necessidades infantis, abdicar de parte do nosso otimismo contraproducente, adquirir perspectiva por meio do sublime e do transcendente, reorganizar museus, utilizar a arquitetura para preservar valores – e, finalmente, unir os esforços dispersos dos indivíduos interessados na proteção da alma e organizá-los sob o patrocínio de instituições.” Alain de Botton



***



ESTA síntese é uma simples ideia da obra. Quem se identificou com o seu conteúdo, deve ler o livro. Há muito mais a ser explorado sobre o tema.




Todo mundo pode mudar para melhor, se quiser. Carlos Castaneda, escritor e antropólogo peruano, diz que o homem só vive para aprender. “E se aprende, é porque é essa a natureza de seu destino, para melhor ou para pior”.

O autoconhecimento nos traz o saber, e este, o poder de nos transformar em pessoas melhores e mais plenas internamente. Trata-se de um longo caminho a ser percorrido e que exige a reinvenção de nós mesmos.
A gente tem de estar sempre se testando e se reinventando... Aperfeiçoando-se!

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