terça-feira, 25 de setembro de 2018

“Em Defesa de Deus” (O que a religião realmente significa)


Karen Armstrong, 1944, nascida em Worcestershire, Reino Unido





Autora especializada em temas de religião, em particular sobre judaísmo, cristianismo e islamismo. Nessa obra, Karen Armstrong busca reconciliar fé e razão, convidando o leitor a uma contemplação da fragilidade do humano diante da Eternidade. E mostra como a religião pode contribuir para a solução de problemas contemporâneos.

Ela foi freira durante sete anos, deixou a ordem para estudar literatura em Oxford e atualmente é uma das mais conceituadas especialistas em religião comparada.




Livros Recomendados

TENHO este produtivo hábito. Sintetizar os livros que leio abordando autoconhecimento e espiritualidade. É comum eu compartilhar com os meus seguidores trechos de alguns deles. Isso não impede o leitor de adquirir a citada obra para conhecê-la em sua totalidade. Vai aqui também a sugestão de um presente muito útil para quem valoriza a leitura.    

Tom Simões, tomsimoes@hotmail.com



   


Conheça algumas das ideias memoráveis do livro: “Em Defesa de Deus”, que li em 2011:  




RELIGIÃO não é, essencialmente, algo que se pensa, mas algo que se faz. Chega-se a sua verdade por meio de atos concretos. Ninguém aprende a dirigir simplesmente lendo o manual ou estudando o código de trânsito. Assim como não aprende a dançar, pintar ou cozinhar folheando textos ou receitas. As regras de um jogo podem parecer obscuras, desnecessariamente complicadas e tediosas até o momento em que começamos a jogar, e então tudo faz sentido. Certos aprendizados requerem uma prática constante e dedicada, mas, se perseveramos, conseguimos fazer algo que, no começo, parecia impossível. Em vez de afundar até o piso da piscina, conseguimos boiar. Podemos aprender a saltar mais alto e com mais graça do que parece humanamente possível, ou cantar com extraordinária beleza. Nem sempre entendemos como realizamos essas façanhas, porque a mente dirige o corpo de um modo que ultrapassa a deliberação consciente e lógica. Mas de alguma maneira aprendemos a transcender nossa capacidade inicial. Algumas dessas atividades proporcionam indescritível alegria. É uma satisfação mais profunda que um simples ‘sentir-se bem’. É o que os gregos chamavam de ekstasis, um ‘sair’ da norma; um desprendimento que nos permite sair da esfera do ego e experimentar o Divino.”










Ciência e Religião

A RELIGIÃO é vista como uma aptidão adquirida por meio da prática constante. Quem adquire essa aptidão descobre uma dimensão transcendente da vida, impossível de explicá-la em termos de razão (‘logos’). Essa imprecisão não tem nada de frustrante, como um ocidental moderno poderia imaginar, mas acarreta um ekstasis que transporta os praticantes para além dos estreitos limites do eu. Nosso conhecimento voltado para a Ciência procura dominar a realidade, explicá-la e mantê-la sob o controle da razão, porém o prazer do desconhecimento também faz parte da experiência humana. Mesmo hoje, poetas, filósofos, matemáticos e cientistas descobrem que a contemplação do insolúvel é uma fonte de alegria, admiração e contentamento.”





A RAZÃO é indispensável para a ciência, a medicina e a matemática, porém só com processos de pensamentos mais intuitivos é possível abordar uma realidade que transcende os sentidos.”




Deus

O QUE está atrás ou além do Universo é inconcebível para nós. Quando tentamos pensar em seu Criador, nossa mente simplesmente emperra. Podemos, porém, ver sinais e vestígios de Deus em nosso Mundo. Nunca chegaremos a conhecer a essência de Deus, mas, para adequar sua natureza indescritível ao nosso limitado intelecto, Deus se comunica conosco por meio de Suas atividades no Mundo. Elas são as realidades mais elevadas que a mente humana consegue apreender e nos permitem vislumbrar uma realidade transcendente que está além de tudo que podemos conceber. Só no silêncio é possível apreender o Divino. Só o silêncio é adequado ao que está além das palavras.”





SEGUNDO o autor anônimo de A Nuvem do Desconhecimento, que traduziu para o inglês a Teologia Mística de Dionísio, se queremos conhecer Deus, devemos lançar sob uma densa ‘nuvem de esquecimento’ todas as ideias acerca da Trindade, da Virgem Maria, da vida de Cristo e das histórias dos santos – que são ótimas em si mesmas. 

O pregador dominicano Meister Eckhart prega um desprendimento que leva ao ‘silêncio’ e ao ‘deserto’ do intelecto: Temos de eliminar as imagens, os conceitos e as experiências que usamos para preencher nosso vazio interior e, por assim dizer, cavar um vácuo interior que trará Deus para dentro do Eu.”








Monges

EM MEADOS do século IV, alguns monges do deserto cultivavam uma espiritualidade sem palavras, que lhes proporcionava tranquilidade interior. Eles praticavam técnicas de concentração utilizadas pelos iogues para aquietar a mente; assim, em vez de procurar limitar o Divino, encerrando-o em categorias racionalistas humanas, eles podiam cultivar um silêncio atento. Rezar não era conversar com Deus, nem meditar sobre a natureza divina; era um ‘despojar-se de pensamentos’. Como Deus ultrapassa todas as palavras e todos os conceitos, a mente precisa estar ‘nua’. Longe de ser essencial para a busca espiritual, as visões, vozes e sentimentos de devoção podem ser, na verdade, uma distração.”




RELIGIÃO é uma disciplina prática que nos ensina a descobrir novas capacidades mentais e afetivas. Não adianta analisar magistralmente os ensinamentos da religião, para avaliar sua verdade ou sua mentira, antes de adotar um estilo de vida religioso. Só vamos descobrir a verdade – ou a mentira – dessas doutrinas se as traduzirmos em ação ritual ou ética. Como qualquer aprendizado, a religião requer perseverança, esforço e disciplina. Algumas pessoas se sairão melhor que outras; algumas serão terrivelmente inaptas; e algumas não entenderão nada. Mas quem não se dedicar não chegará a lugar nenhum. Os religiosos acham difícil explicar como seus rituais e suas práticas funcionam, assim como o patinador talvez desconheça as leis físicas que lhe permitem deslizar sobre o gelo, apoiado numa fina lâmina.”




UMA LONGA tradição religiosa nos insta a admitir os limites do nosso conhecimento e ressalta a importância do silêncio, da reticência, da reverência. Uma das condições para obter conhecimento sempre foi a disposição de abandonar o que pensamos que sabemos a fim de avaliar verdades que nunca sequer imaginamos. Para chegar a um novo entendimento, talvez tenhamos de desaprender muita coisa sobre religião. Não é fácil falar do que chamamos de Deus, e a busca religiosa muitas vezes começa com a dissolução deliberada de padrões de pensamento usuais.”










A MISSÃO de Sócrates consistia em despertar em seus interlocutores o autoconhecimento genuíno. Ele inventou a dialética, uma disciplina rigorosa, concebida para apontar convicções equivocadas e extrair a verdade. Consequentemente, conversar com Sócrates podia ser perturbador.

Por mais que Sócrates e seus interlocutores raciocinassem, sempre lhes fugia alguma coisa, e o diálogo os levava a reconhecer a profundidade da própria ignorância. Para Sócrates, no entanto, essa ignorância não era uma desvantagem. Ou questionamos nossos preconceitos mais arraigados, ou levamos uma vida superficial. Como ele explicou ao tribunal que o condenou à morte, “o maior bem para o homem é falar todos os dias sobre a virtude e sobre as outras coisas a respeito das quais me ouves conversar e investigar em mim e nos outros, pois a vida que não é examinada não vale a pena ser vivida.”
  
SÓCRATES era um chamado vivo ao supremo dever do autoexame rigoroso. Ele se definiu como um mosquito que estava sempre picando as pessoas para torná-las conscientes, obrigá-las a acordar para si mesmas, a questionar as próprias opiniões e a cuidar de seu progresso espiritual. O que importava não era a solução do problema, e sim o caminho percorrido na busca da solução. Filosofar não era impor o próprio ponto de vista ao interlocutor, mas lutar consigo mesmo.

Não se alcança o tipo de sabedoria proposto por Sócrates acumulando conhecimento, mas aprendendo a ser de outra maneira, ou seja, convertendo-se (metanóia*), passando literalmente por uma “mudança.”

(*) significa a ação de mudar de ideia ou pensamento.






                                   Imagem: https://www.altoastral.com.br/poder-pai-nosso/



Oração

PARA Richard Rolle, eremita e poeta inglês, oração era sensação. “Não consigo dizer quanto me surpreendi na primeira vez que senti meu coração aquecer-se”, declara o autor no começo de ‘The Fire of Love’. “Foi um calor real, não imaginário, e parecia arder efetivamente. Eu estava pasmo com a maneira como o calor surgiu e com o grande e inesperado conforto que essa nova sensação proporcionava. Tive de ficar sentindo o peito para assegurar-me de que, fisicamente, não havia motivo para isso. Todavia, quando entendi que (o calor) provinha unicamente de dentro, que esse fogo não tinha causa, material ou pecaminosa, mas era dom de meu Criador, fiquei absolutamente deliciado e quis que o meu amor fosse ainda maior.”

***



ESTA síntese é uma simples ideia da obra. Quem se identificou com o seu conteúdo, deve ler o livro. Há muito mais a ser explorado sobre o tema.



Todo mundo pode mudar para melhor, se quiser. Carlos Castaneda, escritor e antropólogo peruano, diz que o homem só vive para aprender. “E se aprende, é porque é essa a natureza de seu destino, para melhor ou para pior”.

O autoconhecimento nos traz o saber, e este, o poder de nos transformar em pessoas melhores e mais plenas internamente. Trata-se de um longo caminho a ser percorrido e que exige a reinvenção de nós mesmos.

A gente tem de estar sempre se testando e se reinventando... Aperfeiçoando-se!

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