Jiddu
Krishmamurti, 1895-1986
Filósofo, escritor, orador e educador indiano. Profere grandes
Ensinamentos envolvendo: revolução psicológica, meditação, conhecimento,
liberdade, relações humanas, natureza da mente, origem do pensamento e realização
de mudanças positivas na sociedade global.
Krishnamurti nasceu em uma
pequena vila no sul da Índia. Ele e seu irmão foram adotados em sua juventude
pela doutora Annie Besant, então
presidente da Sociedade Teosófica. Besant e outros proclamaram que esse filósofo indiano seria um instrutor do Mundo, vindo como os
teosofistas haviam previsto. Foi educado cuidadosamente para ser o ‘avatar’ da Nova Era. ‘Avatar’, na
religião hindu, significa manifestação
corporal de um ser
superpoderoso.
Krishnamurti não pertencia a
nenhuma organização religiosa, seita ou país, nem estava associado a qualquer
escola política ou pensamento ideológico. Pelo contrário, ele afirmou que estes
são os verdadeiros fatores que dividem os seres humanos e que trazem o conflito
e a guerra. Seus Ensinamentos transcendem os sistemas de crenças criados pelo
homem, o sentimento de nacionalismo e de sectarismo. Ao mesmo tempo, dão um novo
sentido e direção à busca da Humanidade pela verdade. Seus Ensinamentos, além
da sua relevância à idade moderna, são atemporais e universais.
Livros Recomendados
TENHO este
produtivo hábito. Sintetizar os livros que leio abordando autoconhecimento e espiritualidade.
É comum eu compartilhar com os meus seguidores trechos de alguns deles. Isso
não impede o leitor de adquirir a citada obra para conhecê-la em sua totalidade.
Vai aqui também a sugestão de um presente muito útil para quem valoriza a
leitura.
Conheça algumas das ideias memoráveis do livro: “Comentários sobre o
Viver", que li em fevereiro de 2015:
“O MERO conhecimento, independente do
quão amplo e elaborado seja, não resolverá nossos problemas humanos; presumir
que sim é abrir as portas para a frustração e a infelicidade. Algo muito mais
profundo se faz necessário. Um indivíduo pode ter o conhecimento de que o ódio
é fútil, mas estar livre do ódio é algo bastante diferente. O amor não é uma questão de conhecimento.”
Simplicidade
“NÓS PARECEMOS pensar que simplicidade é
meramente uma expressão externa, um retraimento – ter poucas posses, vestir uma
tanga, não ter casa, usar poucas roupas, ter uma pequena conta no banco.
Certamente, isso não é simplicidade. Isso é meramente uma demonstração externa.
E me parece que simplicidade é essencial, mas a simplicidade pode surgir apenas
quando começamos a compreender o significado do autoconhecimento.”
“DEVE haver uma cessação de toda busca, e
só então há possibilidade do surgimento do inefável (*).”
(*) significa o que não pode ser expresso
verbalmente, é um termo utilizado para
identificar algo de origem divina ou transcendental e com atributos de beleza e perfeição tão
superiores aos níveis terrenos que não pode ser expresso em palavras.
“SABEMOS tanto, sobre tantas coisas, mas o conhecimento não parece
impedir a decadência que vive no homem. Os computadores e outros complexos
aparelhos eletrônicos superam o homem em cada oportunidade e, ainda assim, sem
o homem, eles não poderiam existir. O simples fato é que alguns cérebros estão
ativos, criativos, e o restante de nós vive apodrecendo e frequentemente rejubilando-nos
em nossa podridão.”
“O CONHECIMENTO impede o escutar. Talvez um indivíduo saiba muitas
coisas; mas para escutar algo que pode ser totalmente diferente do que ele sabe
é preciso deixar de lado todo conhecimento. Não é assim, senhor? Como podemos
perceber se uma afirmação é verdadeira ou falsa se a mente é preconceituosa,
presa na estrutura das próprias conclusões e experiências, ou de outro? Para
essa mente, o importante é perceber a própria limitação.”
“CERTAMENTE o desejo de ser guiado propicia a conformidade, e uma
mente que se conforma é incapaz de encontrar a verdade. Buscar luz em outro,
sem autoconhecimento, é seguir cegamente. Todo seguir é cego.”
“OU ALGO é verdadeiro ou é falso. O que é verdadeiro não precisa de
interpretação, e o que é interpretado não é verdadeiro. O interpretador se
torna um traidor, pois apenas oferece sua opinião, e opinião não é a verdade.”
“QUE MINHA vida apenas exista, e que uma benção recaia sobre ela.”
“A MENTE é um produto da sociedade, da cultura em que foi criada; e
como a sociedade está sempre em estado de corrupção, sempre se destruindo a
partir de dentro, uma mente que continuar influenciada pela sociedade também se
achará em estado de corrupção e deterioração. Não é assim? Será que não podemos
educar os jovens para que estejam tão atentos a esses fatores de corrupção e
deterioração que os evitarão instintivamente, como evitariam uma peste?”
“PELO PROCESSO natural da inteligência, ele passou a ver que a
melhora profunda do homem não reside inteiramente em planejamento, em
eficiência, na luta por poder. Assim, ele abandonou tudo aquilo, e começava a
considerar o todo da vida de modo novo. ‘Passei
muitos anos num afluente do rio, digamos assim, e quero passar os anos de vida
que me restam no próprio rio.’ Agora ele desejava contribuir para o
progresso da sociedade a partir de seu coração, e não da mente incessantemente
calculista.”
“NÓS não amamos, não somos realmente simples. Por estarmos
preocupados demais com reformas, com deveres, com respeitabilidade, com
tornar-se algo, com chegar ao outro lado. Em nome de outros, estamos apenas
interessados em nós mesmos; estamos aprisionados na própria concha. ‘Vocês acham
que são o centro desta bela Terra. Nunca param para observar uma árvore, uma
flor, o fluxo de um rio; e se, por acaso, observam, seus olhos estão cheios das
coisas da mente, e não da beleza e do amor.’ Isso é verdade, mas o que podemos
fazer? Observar e ser simples.”
·
Krishnamurti é tido mundialmente como um dos maiores pensadores e instrutores
religiosos de todos os tempos. Ele não apresentava nenhuma filosofia ou
religião, mas falava sobre coisas que preocupam a todos nós na vida diária, dos
problemas do viver numa sociedade moderna com sua violência e corrupção, da
busca individual por segurança e felicidade e da necessidade da Humanidade se
livrar do peso interior do medo, da dor e da tristeza. Explicou com grande
precisão o funcionamento da mente humana, apontando a necessidade de trazer à
nossa vida diária uma qualidade profundamente meditativa e espiritual.
“QUERO expor meu coração – algo que jamais fiz a ninguém, pois não é
fácil falar de si com outras pessoas.”
“NOSSA MENTE é tão cuidadosamente cultivada que nós preenchemos o
coração com as coisas dela. Dedicamos a maior parte do tempo e da energia a
ganhar o sustento, à acumulação de conhecimento, à chama da crença, ao
patriotismo e à dedicação do Estado, às atividades de reforma social, à busca
por ideais e virtudes e a muitas outras coisas com que a mente se mantém
ocupada; assim, o coração se torna vazio, e a mente repleta de seus ardis. Isso
realmente propicia a insensibilidade, não acha?”
“NÃO HÁ diferença, exceto nas palavras, entre o homem que medita e
pratica uma disciplina para alcançar a outra margem do rio e aquele que
trabalha duro para realizar sua ambição material. Ambos são ambiciosos, ambos
são gananciosos, ambos estão interessados em si mesmos. Um monge, um ‘saniasi’
meramente renuncia ao espetáculo exterior do mundo, da sociedade, mas,
internamente, ainda é parte dela, ainda está ardendo com o desejo por alcançar,
ganhar, tornar-se. Sim, compreendo. Claro, já que se exauriu completamente na
política, seu problema não é apenas romper com a sociedade, mas voltar à vida
por completo, amar e ser simples. Não importa o que faça, sem amor você não
conhecerá a ação total que pode salvar o Homem.”
“ALÉM DO que li e experimentei, o que sei? Aprender é uma grande
virtude, mas estar satisfeito com o que se sabe é estúpido. Não venho com
espírito de argumentação, embora argumentar seja necessário quando surge a
dúvida. Venho buscar, e não refutar. Pratiquei meditação por muitos anos, não
apenas as formas hinduístas e budistas, mas também os tipos ocidentais. Digo
isso para que você saiba até que ponto busquei encontrar aquilo que transcende
a mente.”
Qual é o sentido da vida?
“PORQUE estamos confusos, não sabemos qual é a razão de toda esta
bagunça e infelicidade. Queríamos debater isso com alguém que não esteja tão
confuso quanto nós, e que não seja arrogante e autoritário; alguém que
conversará conosco normalmente, e não com condescendência, como se soubesse
tudo e nos colocasse como ignorantes garotos de escola que não sabem nada.
Ouvimos dizer que você não é assim, e por isso viemos para lhe perguntar qual é
o sentido da vida. Não é só isso, senhor. Também queremos levar uma vida produtiva,
uma vida que tenha algum sentido. Mas, ao mesmo tempo, não queremos ser
‘istas’, ou pertencer a qualquer ‘ismo’. Alguns de nossos amigos pertencem a
vários grupos de religiosos e políticos, mas não temos desejo algum de
participar deles. Os políticos estão geralmente buscando o poder para si mesmos
em nome do Estado; e quanto aos religiosos, são, na maior parte, crédulos e
supersticiosos. Portanto, aqui estamos, e não sei se você pode nos ajudar.”
Mas como podemos nos educar corretamente? Precisamos de alguém
para nos ensinar
“VOCÊS têm professores para instruí-los em matemática, literatura e
outras coisas, mas a educação é algo mais profundo e amplo que o mero acúmulo
de informações. Educação é o cultivo da mente de modo que a ação não seja autocentrada;
é aprender ao longo da vida a derrubar as paredes que a mente constrói para
estar segura, e de onde surge o medo com todas as suas complexidades. Para
serem corretamente educados, vocês têm de estudar muito e não ter preguiça.
Sejam bons em jogos, não para vencer o outro, mas para se divertir. Comam a
comida certa, e mantenham-se fisicamente saudáveis. Deixem que sua mente esteja
alerta e capaz de lidar com os problemas da vida, não como hindu, comunista ou
cristão, mas como ser humano. Para serem corretamente educados, vocês devem
compreender a si mesmos; têm de seguir aprendendo por si mesmos. Quanto param
de aprender, a vida se torna feia e infeliz. Sem bondade e amor não somos
corretamente educados.”
“NUMA pequena casa, ao longo da trilha junto ao córrego, uma mulher
estava cantando com uma voz cristalina; trazia lágrimas aos olhos, não por
alguma lembrança nostálgica, mas pela simples beleza do som.”
“O RICO florescer da bondade na mente – que é muito diferente de ser
‘bom’ para atingir um fim ou tornar-se algo – é, em si mesmo, ação direta. O
amor é a própria ação, a própria eternidade.”
“QUANDO vocês ficam irritados com um barulho? Um cachorro começa a latir
no meio da noite, ele os acorda, e talvez vocês possam fazer algo a respeito,
ou não. Mas só quando há resistência ao barulho é que ele se torna uma coisa
cansativa, uma dor, uma irritação...”
“GOSTAMOS de pensar que nosso problema particular é exclusivo, que
nossa dor é totalmente diferente da dor alheia; queremos permanecer separados a
todo custo. Mas dor é dor, seja sua ou minha. Se não entendemos isso, não
podemos avançar; nós nos sentiremos enganados, decepcionados, frustrados.
Certamente, todos aqui buscam a mesma coisa; o problema de cada um é,
essencialmente, o problema de todos. Se realmente sentimos a verdade disso,
então teremos avançado muito em nossa compreensão, e poderemos investigar juntos;
podemos ajudar uns aos outros, escutar e aprender uns com os outros. Desse
modo, a autoridade de um mestre não tem sentido, torna-se tola. Seu problema é
o problema do outro; sua tristeza é a tristeza do outro. O amor não é
exclusivo. Se isso está claro, senhores, podemos prosseguir.”
A importância da mudança
“SENHORES, não é um fato que uma transformação individual
fundamental é necessária? Sem tal transformação a inspiração é sempre
transitória, e existe uma luta constante para recapturá-la; sem tal
transformação, qualquer esforço para levar uma vida espiritual só poderá ser
muito superficial, uma questão de rituais, de sinos e livros; sem tal
transformação a meditação se torna um meio de fuga, uma forma de auto-hipnose.
Sem uma profunda mudança interna todo esforço para ser religioso ou espiritual
é mera alteração na superfície.
Sem dúvida, o importante é
sentir a necessidade premente de uma mudança fundamental, e não apenas ser
convencido da necessidade de mudar pelas palavras de outro. Uma descrição
empolgante pode estimulá-los a sentir que precisam mudar, mas essa sensação é
muito superficial, e passará quando o estímulo desaparecer. Mas se vocês veem a
importância de mudar, se sentem, sem qualquer forma de coerção, sem qualquer
motivação ou influência, que uma transformação radical é essencial, esse
próprio sentimento é a ação da transformação. O sentimento cria seus próprios
meios de ação.”
“POR RACIOCÍNIO lógico você pode chegar à conclusão de que uma
mudança fundamental se faz necessária, mas esse entendimento intelectual ou
verbal não gera a ação da mudança. A compreensão intelectual ou verbal não é
uma reação superficial? Você ouve, raciocina, mas todo o seu ser não está
nisso. Sua mente superficial talvez concorde que uma mudança é necessária, mas
a totalidade de sua mente não está dando atenção plena; está dividida em si
mesma.”
“UMA PARTE da mente está convencida de que essa mudança fundamental
é necessária, mas o resto dela não está envolvido; pode estar em suspenso, ou
adormecido, ou opondo-se ativamente a tal mudança. Quando isso acontece, há uma
contradição no interior da mente, uma parte querendo mudar e a outra
indiferente ou oposta à mudança. O conflito resultante, no qual a parte da
mente que deseja a mudança está tentando superar a parte resistente, chama-se
disciplina, sublimação, repressão; mas também é chamado de busca de um ideal.
Assim, está ocorrendo uma tentativa de construir uma ponte sobre o hiato da
contradição. Há o ideal, a compreensão intelectual ou verbal de que deve
ocorrer uma transformação fundamental, e há o sentimento vago, porém real, de
não querer mudar, o desejo de deixar as coisas continuarem como estão, o medo
da mudança, da insegurança. Assim, há uma divisão na mente; e a busca pelo
ideal é uma tentativa de reunir as duas partes contraditórias, o que é uma
impossibilidade. Nós perseguimos um ideal
porque isso não exige uma ação imediata; o ideal é um adiamento aceito e
respeitado.”
“TENTAR mudar a si mesmo, então, é sempre uma forma de adiamento.
Você nunca reparou que, quando diz ‘tentarei mudar’, não tem intenção alguma de
fazer isso? Ou você muda, ou não muda; ‘tentar’ mudar, na verdade, tem
pouquíssimo sentido. Perseguir o ideal, tentar mudar, obrigar as duas partes
contraditórias da mente a se unirem por meio da força de vontade, praticar um
método ou disciplina para alcançar essa unificação e por aí vai – tudo isso é
um esforço inútil e sem sentido que, na realidade, impede qualquer transformação
fundamental do centro, do ‘eu’, do ego.”
“BRINCAMOS com a ideia de
mudar, mas nunca mudando. A mudança exige ação drástica, unificada. A ação
unificada ou integrada não pode ocorrer enquanto há um conflito entre partes
opostas da mente.
O sentimento é, então,
coberto por ideias, por palavras, não é? Ocorre uma reação contraditória,
nascida do desejo de não querer mudar. Se for esse o caso, então continue de
sua antiga maneira; não se engane seguindo o ideal, dizendo que está tentando
mudar, e todas essas coisas. Apenas viva com o fato de que não quer mudar. A
percepção dessa verdade é, por si só, suficiente.”
Ser inteligente é ser simples
“VOCÊ IMPEDE sua inteligência com suas convicções, opiniões,
afirmações e negações. A simplicidade é o caminho da inteligência – não a mera
demonstração de simplicidade em coisas e comportamentos externos, mas a
simplicidade do ‘não ser’ internamente. Quando você diz ‘eu sei’, está no
caminho da não inteligência; mas quando diz ‘não sei’, e fala realmente a sério,
já está na trilha da inteligência. Quando um homem não sabe, ele observa,
escuta, indaga. ‘Saber’ é acumular, e aquele que acumula nunca saberá; ele não
é inteligente.
Ignorância é uma coisa, e
o estado de não saber é outra, completamente diferente; os dois não estão
ligados de modo algum. Alguém pode ser muito culto, astuto, eficiente,
talentoso e, mesmo assim, ser ignorante. Há ignorância quando não há
autoconhecimento. O homem ignorante é aquele que não está desperto para si
mesmo, que não conhece os próprios enganos, vaidades, invejas e tudo mais.
Autoconhecimento é liberdade. Você pode saber tudo sobre as maravilhas da Terra
e do céu, e, mesmo assim, não estar livre da inveja, da felicidade. Mas quando
diz ‘não sei’, está aprendendo. Aprender é não acumular conhecimento, coisas ou
relações. Ser inteligente é ser simples; mas ser simples é algo
extraordinariamente árduo.”
Estreiteza da mente
“O QUE é o mesmo que não escancarar as janelas e ver o céu, as
árvores, o povo, todo o movimento da vida, mas, em vez disso, ficar espiando
por uma fenda estreita no batente. E a mente é assim: uma parte pequena e
insignificante é muito ativa, enquanto o restante está dormente. Essa atividade
insignificante da mente cria os próprios problemas insignificantes sobre o bem
e o mal, seus valores políticos e morais e assim por diante. Se pudéssemos ver
de fato o absurdo desse processo, exploraríamos, naturalmente, sem qualquer
compulsão, os campos mais vastos da mente.”
Matar
“A DISPOSIÇÃO ou indisposição de um homem em matar animais para a
satisfação de seu apetite indica sua atitude em relação a questões maiores da
vida. Um homem não é virtuoso porque não come carne, nem é menos virtuoso por
comer. Matar é realmente um problema muito grande e complexo. Com uma palavra
ou um gesto você pode matar a reputação de um homem; por meio de fofocas,
difamação, desprezo, pode acabar com ele. E a comparação não mata? Não matamos
um menino ao compará-lo com outro que é mais esperto ou hábil? Um homem que
mata por ódio ou raiva é considerado um criminoso e é sentenciado à morte. No
entanto, o homem que deliberadamente bombardeia milhares de pessoas e as
elimina da face da Terra em nome de seu país é honrado, condecorado; é visto
como um herói. A matança está espalhada pelo planeta. Em nome da segurança ou
da expansão de uma nação, outra é destruída. Os animais são mortos pela
alimentação, pelo lucro ou pelos chamados esportes; são dissecados pelo
‘bem-estar’ do homem. O soldado existe para matar. Progressos extraordinários
são feitos na tecnologia para assassinar grande número de pessoas, em poucos
segundos e a grandes distâncias. Muitos cientistas se ocupam totalmente com
isso, e os sacerdotes abençoam o bombardeio e a guerra. Além disso, matamos um
repolho ou uma cenoura para comer, e destruímos uma praga. Onde devemos traçar
o limite do que não vamos matar? [...] O homem compassivo conhece a ação
correta. Sem amor, você está tentando descobrir qual é a coisa certa a fazer, e
sua ação apenas conduz a maior dano e infelicidade; essa é a forma de ação dos
políticos e dos reformadores. Sem amor, você não pode compreender a crueldade.”
“A POLÍTICA pode ser espiritualizada? A política se interessa pela
sociedade, que está sempre em conflito consigo mesma, sempre em deterioração.
As inter-relações entre os seres humanos constituem a sociedade e, em verdade,
essa relação se baseia em ambição, frustração, inveja. A sociedade não conhece
compaixão. Compaixão é o ato de um indivíduo total e integrado.”
“EMBORA talvez tenhamos a capacidade de pensar de forma eficiente
até o fim de um problema, o pensamento é sempre limitado; a razão é incapaz de
ir além de certo ponto. O pensamento nunca pode ser livre, porque todo pensar é
reação da memória; sem memória, não há pensamento. A memória, ou conhecimento,
é mecânica; por ser enraizada no ontem, está sempre no passado. Toda busca,
racional ou irracional, começa do conhecido, do que já foi. Como o pensamento
não é livre, não pode ir longe; move-se por dentro dos limites do próprio
condicionamento, dentro das fronteiras de seu conhecimento e experiência. Cada
nova experiência é interpretada de acordo com o passado, que é tradição, o
estado condicionado, e assim o fortalece. Portanto, o pensamento não é o
caminho para a compreensão da realidade.
No próprio processo de
utilizar a mente, de pensar com clareza, de raciocinar de modo crítico e são,
descobrimos, sozinhos, a limitação do pensamento. O pensamento, a reação da
mente na relação humana, se une ao interesse autocentrado, positivo ou
negativo; é limitado por ambição, inveja, posse, medo e assim por diante.
Somente quando a mente se liberta desse cativeiro – que é o ‘eu’ -, a mente é
livre. A compreensão desse cativeiro é autoconhecimento.”
Crença não é o caminho para a realidade
“CRENÇA e não crença são questão de influência, pressão, e uma mente
que está sob pressão, ostensiva ou oculta, jamais pode alçar voo. A mente deve
estar livre de influência, de compulsões e pulsões internas, de modo que esteja
só, desembaraçada do passado; só então pode haver aquilo que é atemporal. Não
há caminho para isso. Religião não é uma questão de dogma, ortodoxia ou ritual;
não é crença organizada. A crença organizada mata o amor e a amabilidade. A religião é o sentimento de sacralidade, de
compaixão, de amor.
Crenças e dogmas têm
pouquíssimo valor – na verdade, são ativamente prejudiciais, separando o homem
do homem e gerando animosidade. O que importa é que a mente se liberte da
inveja, da ambição, do desejo de poder, porque esses sentimentos destroem a
compaixão. Amar, ser compassivo, isso é o real. A maioria de nós vive tanto na
superfície, somos tão imaturos e sujeitos a influências, que o verdadeiro nos
escapa.”
“A MENTE consciente, estando ocupada durante as horas de vigília com
eventos e pressões diárias, não tem tempo nem oportunidade de ouvir a parte
mais profunda de si mesma; portanto, quando a mente consciente ‘cai no sono’,
isto é, quando está bastante calma, não muito preocupada, o inconsciente pode
se comunicar, e essa comunicação assume a forma de símbolos, visões, cenas.
Quando acordado, você diz: ‘Tive um sonho’ e tenta desvendar seu significado,
mas qualquer interpretação será influenciada, condicionada.
Não é possível estar
consciente das próprias reações quando você entra num ônibus, quando está com
sua família, quando está conversando com seu chefe no escritório ou com seu
criado em casa. Estar apenas atento a tudo isso – atento às árvores e aos
pássaros, às nuvens e às crianças, aos próprios hábitos, reações e tradições –
implica observar sem julgamento ou comparação; e se você pode estar assim
alerta, constantemente observando, escutando, perceberá que jamais sonha. Dessa
forma, toda a sua mente está intensamente ativa; tudo tem um sentido, uma
importância. Para uma mente assim, os sonhos são desnecessários. Você então
descobrirá que no sono não apenas há descanso e renovação completa, mas também
um estado que a mente nunca pode tocar.”
Ser ensinado e estar livre para aprender
“VOCÊS não estão sendo ensinados por mim. Ser ensinado e estar livre
para aprender são duas coisas completamente diferentes. Ao ser ensinado, há
sempre o professor, o guru que sabe e o discípulo que não sabe; assim, uma
divisão sempre se mantém entre eles. É uma perspectiva essencialmente
autoritária e hierárquica, em que o amor não existe. Embora o mestre possa
falar de amor, e o discípulo afirme sua devoção, a relação é desprovida de
espírito, profundamente imoral, levando a um estado de grande confusão e
sofrimento. Entretanto, precisamos de orientação, e quem atuará como guia?
Existe alguma necessidade de orientação quando estamos constantemente
aprendendo, não de determinado alguém, mas de todas as coisas em nosso avanço?
Certamente, buscamos orientação apenas quando desejamos estar seguros, certos,
confortáveis. Se somos livres para aprender, vamos aprender com a folha que
cai, em todo tipo de relação, em estar atentos para as atividades de nossas
próprias mentes. Mas a maioria não está livre para aprender, porque nós estamos
habituados demais a ser ensinados; por meio dos livros, de nossos pais, da
sociedade, somos instruídos no que pensar e, como uma vitrola, repetimos o que
está gravado no disco. E o disco, em geral, está muito arranhado. Nós o tocamos
muitas vezes. Nosso pensamento é todo de segunda mão. Ser ensinado torna o
indivíduo repetitivo, medíocre. O desejo de ser guiado, com suas implicações de
autoridade, obediência, medo, falta de amor e tudo mais, só pode conduzir à
escuridão. Ser livre para aprender é algo totalmente diferente. E não pode
haver liberdade para aprender quando já há uma conclusão, uma suposição; ou
quando nossa perspectiva se baseia em experiência como conhecimento; ou quando
a mente está presa em tradição, atada a uma crença; ou quando há o desejo de
estar seguro, de atingir determinado fim. A mente pode estar ciente da própria
prisão, e nessa própria percepção há aprendizado. Mas, primeiro, está claro
para nós que uma mente presa ao que lhe foi ensinado é incapaz de aprender? Os
acúmulos da mente impedem a liberdade de aprender. Para aprender, não pode
haver acúmulo de conhecimento, nenhum empilhamento de experiências do passado.
Será que você vê por si mesmo a verdade disso? É um fato para você ou apenas
algo que eu disse, com que você venha a concordar – ou discordar? Claro, você
não quer dizer que temos de jogar fora todo o conhecimento que a ciência
reuniu, isso seria um absurdo. O ponto é: se quisermos aprender, não podemos
presumir nada. Aprender é um movimento, mas não de um ponto fixo a outro, e
esse movimento é impossível se a mente está carregada do acúmulo do passado,
com conclusões, tradições, crenças. Essa acumulação, mesmo que seja chamada de
‘Atman’, alma, ‘Eu Superior’ ou algo assim, é o ‘mim’, o ego, o ‘eu’. O ‘eu’ e
sua conservação impedem o movimento do aprendizado. Perceba então o movimento
do aprendizado: enquanto estou encerrado em meu próprio desejo de segurança, de
conforto, de paz, não pode haver movimento de aprendizado.
Se devo descobrir um novo
fato, ou perceber a verdade de algo, minha mente não pode estar abarrotada com
o que já passou. Vejo como é necessário que a mente abandone tudo que conheceu
ou experimentou. O que tem continuidade, ‘permanência’, é a memória de coisas
passadas. A mente tem de morrer para o passado, embora seja concebida pelo
passado. A totalidade da mente deve estar completamente quieta, sem qualquer
pressão, influência ou movimento do ontem. Só assim o outro é possível.”
“EM CERTOS momentos, sinto a surpreendente beleza e vastidão da
vida; mas aqueles momentos logo passam, e resta apenas um vazio. Esse vazio tem
sua própria vitalidade, mas não é a mesma coisa. Essa outra coisa está para
além da medida do tempo, além de toda palavra e pensamento. Quando surge a
alteridade, é como se eu nunca tivesse existido; toda a estreiteza da vida, das
torturas da existência diária, partem, e só esse estado permanece. Conheci esse
estado, e tenho de reavivá-lo de algum modo. Nada mais me interessa.
Às vezes, a vaidade é mais
forte que a razão. Somos todos vaidosos de nossa própria maneira peculiar, e
como dói admiti-lo. É claro que estamos no mesmo barco. Todos nós queremos algo
além de nossos insignificantes egos, mas essa estreiteza se infiltra e nos
domina. Existe um estado permanente de amor, de criatividade, um fim definitivo
da tristeza? Existe um estado de amor ou
de paz criativa que, uma vez atingido, nunca se degenerará, nunca se perderá.”
·
Krishnamurti não falava como um guru, mas como um amigo. Suas palestras e discussões
não eram baseadas num conhecimento tradicional, mas em seus próprios vislumbres
sobre a mente humana e a sua visão do Sagrado. Portanto, ele sempre transmitia
uma sensação de frescor e clareza, apesar da essência de sua mensagem ter se
mantido inalterada através dos anos. Quando se dirigia a grandes audiências, as
pessoas sentiam que o filósofo indiano estava falando com cada uma delas,
pessoalmente, sobre seus problemas em particular. Em suas entrevistas privadas,
era um professor compassivo, ouvindo atentamente o homem ou a mulher que vinham
a ele em sofrimento, encorajando-os a curar a si mesmo através do seu próprio
entendimento.
Estudiosos de religião
descobriram que suas palavras lançavam uma nova luz aos conceitos tradicionais.
Krishnamurti aceitou desafios de cientistas modernos e psicólogos e os acompanhou
passo a passo, discutindo suas teorias e, eventualmente, capacitando-os a
enxergar os limites dessas teorias. O filósofo deixou um precioso acervo em
forma de discursos públicos, escritos, discussões com professores e estudantes,
personalidades religiosas e científicas, conversas com pessoas comuns,
entrevistas em televisão e rádio e cartas.
***
ESTA síntese é uma simples ideia da obra. Quem se identificou
com o seu conteúdo, deve ler o livro. Há muito mais a ser explorado sobre o
tema.
Todo mundo pode mudar para melhor, se quiser. Carlos Castaneda, escritor e antropólogo
peruano, diz que o homem só vive para aprender. “E se aprende, é porque é essa
a natureza de seu destino, para melhor ou para pior”.
O autoconhecimento nos traz o saber, e este, o poder de nos
transformar em pessoas melhores e mais plenas internamente. Trata-se de um
longo caminho a ser percorrido e que exige a reinvenção de nós mesmos.
A gente tem de estar sempre se testando e se reinventando...
Aperfeiçoando-se!
· Outra fonte consultada:
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