Filósofo e psiquiatra
alemão. Estudou medicina e, depois de trabalhar no hospital psiquiátrico da
Universidade de Heidelberg, tornou-se professor de psicologia da Faculdade de
Letras dessa instituição.
A
forte defesa da filosofia e da liberdade foi uma das marcas do pensamento de
Karl Jaspers, um dos fundadores do existencialismo.
Lê-se
em https://citacoes.in/autores/karl-jaspers/, que, desligado
de seu cargo pelo regime nazista em 1937, foi readmitido em 1945 e, três anos
depois, passou a lecionar filosofia na Universidade de Basileia. “O pensamento
de Jaspers foi influenciado pelo seu conhecimento em psicopatologia e, em
parte, pelo pensamento de Kierkegaard, Nietzsche e Max Weber. Sempre teve
interesse em integrar a ciência ao pensamento filosófico na medida em que, para
Jaspers, as ciências são por si só
insuficientes e necessitam do exame crítico que só pode ser dado pela filosofia.
Esta, por sua vez, deve basear-se numa elucidação, a mais completa possível, da
existência do homem real, e não da humanidade abstrata. O resultado das
reflexões de Jaspers sobre o tema foi a primeira formulação de sua filosofia
existencial.”
Para Antónia Cristina Perdigão, ‘A
filosofia existencial de Karl Jaspers’, http://www.scielo.mec.pt/pdf/aps/v19n4/v19n4a05.pdf, a vida pessoal de Jaspers, bem como o seu percurso
intelectual, foram vividos na dependência da debilidade física que o
caracterizou desde criança. Às estases brônquicas, que o enfraqueceram desde
tenra idade, viria mais tarde acrescentar-se uma insuficiência cardíaca
secundária que contribuiria para o arrastamento irreversível da doença por toda
a sua vida. Jaspers viveu-a, de acordo com o que escreveu em sua autobiografia
(Jaspers, 1969), como um destino.
Apesar disso, o seu pensamento espelha, no entanto, uma
pessoa que viveu o seu cotidiano em função de uma consciência profunda dos seus
limites, por um lado, e de uma luta constante na tentativa de superá-los, por
outro. A sua obra foi amadurecendo na vivência da proximidade simultânea do
fracasso e das possibilidades da sua superação. Deu, a seu modo, conteúdo e
sentido às palavras de Abbagnano (s.d., p. 46):
“[...] existir significa, pura e simplesmente, filosofar, se
bem que filosofar nem sempre signifique fazer filosofia. Com efeito, filosofar
significa para o homem, antes de mais, defrontar, com olhos bem abertos, o seu
destino e a si mesmo pôr, com clareza, os problemas que resultam da justa
relação consigo próprio, com os outros homens e com o mundo. Significa não já
limitar-se a elaborar conceitos, a idear sistemas, mas escolher, decidir,
empenhar-se, apaixonar-se; em suma, viver autenticamente e ser autenticamente
ele próprio.”
Ainda de acordo com Antónia Perdigão, a humanidade e a
autenticidade que condicionaram e influenciaram em grande parte a filosofia de
Jaspers ficaram também a dever-se à influência exercida por outros fatores. São
disso exemplo: a educação de amor, razão, retidão e fidelidade que recebeu; a
experiência de solidão vivida durante o liceu e desencadeada por um meio social
formalista e estratificado; as leituras que Jaspers foi fazendo a partir dos
dezessete anos, nomeadamente das obras dos filósofos do passado; e os mestres
que teve, com destaque para Max Weber.
“O PROBLEMA crucial é o seguinte:
a filosofia aspira à verdade total, que o mundo não quer.“
“O SIMPLES saber é uma acumulação, a filosofia é uma unidade. O
saber é racional e igualmente acessível a qualquer inteligência. A filosofia é
o modo do pensamento que termina por constituir a essência mesma de um ser
humano.”
“A FILOSOFIA entrevê os critérios últimos, a abóbada celeste das possibilidades e procura, à luz do aparentemente impossível, a via pela qual o homem poderá enobrecer-se em sua existência empírica.“
“MESMO diante do desastre possível e total, a filosofia continuaria a preservar a dignidade do homem em declínio.“
Orientar Filosoficamente a
Vida
“A ÂNSIA de uma orientação filosófica da vida nasce da obscuridade em que cada
um se encontra, do desamparo que sente quando, em carência de amor, fica o
vazio, do esquecimento de si quando, devorado pelo afadigamento, súbito acorda
assustado e pergunta: que sou eu, que estou descurando, que deverei fazer?
O auto-esquecimento é fomentado pelo mundo da técnica. Pautado pelo cronômetro, dividido em trabalhos absorventes ou esgotantes que cada vez menos satisfazem o homem enquanto homem, leva-o ao extremo de se sentir peça imóvel e insubstituível de um maquinismo de tal modo que, liberto da engrenagem, nada é e não sabe o que há de fazer de si. E, mal começa a tomar consciência, logo esse colosso o arrasta novamente para a voragem do trabalho inane e da inane distração das horas de ócio.
Porém, o pendor para o auto-esquecimento é inerente à condição humana. O homem precisa de se arrancar a si próprio para não se perder no mundo e em hábitos, em irrefletidas trivialidades e rotinas fixas.
FILOSOFAR é decidirmo-nos a despertar em nós a origem, é reencontrarmo-nos e agir, ajudando-nos a nós próprios com todas as forças.
Na verdade, a existência é o que palpavelmente está em primeiro lugar: as tarefas materiais que nos submetem às exigências do dia-a-dia. Não se satisfazer com elas, porém, e entender essa diluição nos fins como via para o auto-esquecimento e, portanto, como negligência e culpa, eis o anelo de uma vida filosoficamente orientada.
E, além disso, tomar a
sério a experiência do convívio com os homens: a alegria e a ofensa, o êxito e
o revés, a obscuridade e a confusão. Orientar filosoficamente a vida não é
esquecer, é assimilar, não é desviar-se, é recriar intimamente, não é julgar
tudo resolvido, é clarificar.
São dois os seus caminhos: a meditação solitária por todos os meios de consciencialização e a comunicação com o semelhante por todos os meios da recíproca compreensão, no convívio da ação, do colóquio ou do silêncio.”
* Karl Jaspers, in 'Iniciação Filosófica'
A Independência do Homem
“MAL podemos acreditar no filósofo a quem tudo deixa indiferente; não acreditamos
na tranquilidade do estoico (*), não desejamos sequer a impavidez, porque a própria
condição humana nos lança na paixão e no medo, e são as lágrimas e o júbilo que
nos permitem conhecer o que é. Eis por que somente o impulso ascendente nos
liberta das perturbações anímicas e não é pela supressão que nos encontramos.
Temos, pois, que nos arriscar a ser homens e, enquanto homens, fazermos o que pudermos para alcançar a independência conquistada. Sofreremos então sem queixume, desesperar-nos-emos sem nos afundarmos, abalados mas nunca completamente derrubados quando suspensos à íntima independência que em nós se gera. A filosofia, porém, é a escola dessa independência, não a sua posse.”
(*) estoicismo: doutrina fundada por Zenão de Cício (335-264 a.C.) e desenvolvida por várias gerações de filósofos, que se caracteriza por uma ética em que a imperturbabilidade, a extirpação das paixões e a aceitação resignada do destino são as marcas fundamentais do homem sábio, o único apto a experimentar a verdadeira felicidade. O estoicismo exerceu profunda influência na ética cristã.
Por extensão: O estoicismo foi
utilizado por homens e mulheres há séculos para poder triunfar nas suas
empreitadas e solucionar os seus problemas.
* Karl Jaspers, in
'Iniciação Filosófica'
Precisamos do Outro para
Encontrar a Verdade
“SÓ alcançamos a verdade do nosso pensamento quando
incansavelmente nos esforçamos por pensar colocando-nos no lugar de qualquer
outro. É preciso conhecer o que é possível ao homem. Se tentamos pensar
seriamente aquilo que outrem pensou aumentamos as possibilidades da nossa
própria verdade, mesmo que nos recusemos a esse outro pensamento.
Só ousando integrar-nos totalmente nele o podemos conhecer. O mais remoto e estranho, o mais excessivo e excepcional, mesmo o aberrativo, incitam-nos a não passar ao largo da verdade por omissão de algo de original, por cegueira ou por lapso.”
* Karl Jaspers, in 'Iniciação Filosófica'
O Futuro do Homem
“O HOMEM pode sempre mais e coisa diversa daquilo que se esperaria dele. O homem
é inacabado e inacabável e sempre aberto ao futuro. Não há homem total e não o
haverá jamais. Por isso há dois modos de pensar o futuro do homem. Posso
concebê-lo como um processo natural, análogo àquele que respeita os objetos, e
formular probabilidades. Ou então posso imaginar as situações que vão ocorrer
sem saber a resposta que lhes dará o homem, sem saber como, através delas, mas
espontaneamente, ele se encontrará a si próprio.
No primeiro caso, aguardo
um desenrolar necessário que poderia conhecer em princípio, mesmo se não o
conheço. No segundo caso, o futuro, longe de ser o desenvolvimento de
necessidades causais implicadas pela realidade dada, depende do que será
realizado e vivido em liberdade. As inúmeras pequenas ações dos indivíduos,
todas as suas livres decisões, todas as coisas que realizam, têm um alcance
ilimitado. No primeiro caso submeto-me a uma necessidade contra a qual nada
posso. No segundo, procuro a fonte original que está na base da liberdade
humana. Faço um apelo à vontade.
Caminhamos para um futuro que não pode ser conhecido, que, na sua totalidade, não está decidido. A imagem que dele temos é incessantemente corrigida pela experiência. O conhecimento do ser na sua totalidade continua a ser-nos inacessível. O saber que temos da superabundante realidade não mais se completa. A nossa consciência está sempre em marcha. A uma consciência que desejaria ter-se por definitiva opõe-se uma realidade do ser que não deixa de se mostrar novo, diferente, através dos fenômenos que surgem incessantemente, forçando assim a nossa consciência a transformar-se indefinidamente. Predizer verdadeiramente o futuro do homem seria já realizá-lo. Aqui predizer significa produzir.
Se conseguíssemos certificar-nos do que é a condição humana, com as definidas perspectivas das suas possibilidades infinitas, nunca mais poderíamos desesperar definitivamente do homem. Simbolicamente: o homem foi criado por Deus à sua imagem: por muito perdido que ele esteja, tal semelhança não pode desaparecer completamente. [...]
É incontestável, em primeiro lugar, que não nos criamos a nós mesmos e que estamos no mundo graças a alguma coisa que não somos nós. Tomamos consciência deste fato quando pensamos simplesmente que seria possível não existirmos.
É incontestável, em segundo lugar, que não somos livres graças a nós próprios, mas sim graças ao que, no fundo da nossa liberdade, se nos oferece a nós próprios: ainda que o queiramos, isso não chega para nos tornarmos livres. No auge da liberdade ganhamos consciência do fato de sermos para nós um dom: a nossa liberdade faz-nos viver, mas não podemos nós próprios consegui-la pela força.
Essa coisa pouca que não podemos conquistar, de onde pode ela vir-nos? E de onde o socorro? Este não se manifesta como um processo do mundo. Não vem do exterior. Porque, sentimo-lo, é no mais profundo de nós que nós nos encontramos quando nos tornamos nós próprios. Em parte alguma a transcendência fala de maneira direta, ninguém a tem diante de si, ela não se deixa captar. Deus não fala senão através da nossa liberdade. A decisão fundamental é aquela de que depende da maneira de apreender conscientemente a nossa condição de homem. Enquanto homem, não nos bastamos nunca, não somos o nosso único fim. Estamos vinculados à transcendência. Ela exalta-nos e, ao mesmo tempo, torna-nos transparentes a nós próprios, dando-nos consciência do pouquinho que somos.”
* Karl Jaspers, in 'Panorama das Ideias Contemporâneas'
O Elogio da História
“NENHUMA realidade é mais essencial para a nossa autocertificação do que a
história. Mostra-nos o mais largo horizonte da humanidade, oferece-nos os
conteúdos tradicionais que fundamentam a nossa vida, indica-nos os critérios
para a avaliação do presente, liberta-nos da inconsciente ligação à nossa época
e ensina-nos a ver o homem nas suas mais elevadas possibilidades e nas suas
realizações imperceptíveis.
Não podemos melhor aproveitar os nossos ócios do que familiarizando-nos com as magnificências do passado, conservando viva essa recordação e, ao mesmo tempo, contemplando as calamidades em que tudo se subverteu. A experiência do presente compreende-se melhor refletida no espelho da história. O que a história nos transmite vivifica-se à luz da nossa época. A nossa vida processa-se no esclarecimento recíproco do passado e do presente.
Só de perto, na intuição concreta e sensível, e prestando atenção aos pormenores, a história realmente interessa. Filosofando procedemos a considerações que se mantêm abstratas.”
* Karl Jaspers, in 'Iniciação Filosófica'
***
·
Outras
fontes de consulta: https://citacoes.in/autores/karl-jaspers/, https://kdfrases.com/autor/karl-jaspers, Pensador Frases e Pensamentos, livros e jornais.
Observação:
AQUI, o meu propósito é reunir material de interação social significativa que gere autorreflexão e, quem sabe, a conversação, usando as palavras para o conhecimento útil, aquele que, segundo Sócrates, nos torna melhores. É nessas buscas que percebo o quão incompleto é o conhecimento humano.
Quem sabe, algumas vezes poderei estar correndo o risco de atribuir frases não correspondentes a um ou outro pensador mencionado, apesar do meu rigor em relação às fontes de consulta. Neste sentido, o leitor poderá sugerir eventuais correções, contribuindo para o aprimoramento da informação.
Um amigo tranquilizou-me certa vez, mostrando que, mesmo se involuntário de minha parte, o pensamento não corresponder ao do verdadeiro autor, devo considerar o meu propósito e a essência da ideia.
Por outro lado, de cada autor, sintetizo apenas os pensamentos com os quais me identifico mais.
* Edição: Guilherme Rodrigues
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