Autora do livro: ‘A morte é um dia que vale a pena viver’ – e um excelente
motivo para se buscar um novo olhar para a vida
Médica, formada pela USP, com residência em geriatria e gerontologia. Uma das maiores referências sobre Cuidados Paliativos no Brasil. Fez pós-graduação em psicologia – Intervenções em Luto (Instituto 4 Estações de Psicologia) e especialização em Cuidados Paliativos (Instituto Pallium e Universidade de Oxford). Trabalhou em uma unidade de Cuidados Paliativos, exclusiva do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
VOU CITAR aqui vários trechos desta valiosa obra, cuja
abordagem considero indispensável à vida!
É claro que a síntese não substitui a leitura completa do
livro. Nele, há um detalhamento precioso. Vai aqui a sugestão de presente a uma
pessoa que sofre com a morte de alguém, à família de um doente, a um médico, a
alguém interessado em buscar a essência da natureza humana...
·
Tom Simões
Eis as produtivas lições da doutora Ana Claudia:
“SOU UMA dessas pessoas que têm a sensação de estar perto dos
amigos diante do mural do Facebook. Faço bom uso dessa ferramenta e aproveito
muito qualquer tempo que posso para compartilhar com pessoas tão queridas, mas
distantes.”
“AINDA ASSIM, penso que estar com os amigos é vital. Com eles
construímos relações mais honestas e transparentes, algo que nem sempre é
possível viver com a família. E é com os amigos que temos a chance de dizer: ‘Não gostei do que você fez', e ficar
bem, porque eles suportarão a crítica. Quando estamos com os amigos, queremos
que nossas opções e sentimentos sejam respeitados, e assim é. As pessoas da
nossa família nem sempre são as mais agradáveis do mundo, com quem você anseia
conviver. Contamos nos dedos as pessoas que gostam de passar o Natal entre
parentes. Muita gente faz isso por obrigação, sem prazer, sem alegria.”
“SOU uma médica muito privilegiada porque trabalho em dois extremos:
em um consultório que fica dentro do Hospital Israelita Albert Einstein, em São
Paulo, onde conheço pacientes com boa condição socioeconômica; e no Hospice,
ligado ao Hospital das Clínicas, também em São Paulo, onde recebo pessoas que
podem chegar em condições bastante precárias – moradores de rua passam pelos
meus cuidados. São dois extremos na cidade, mas uma única realidade: seres
humanos doentes que podem estar bem perto da morte. Está claro para mim que o
sofrimento humano não escolhe bolso nem número de diplomas, carimbos nem
passaportes, pratos cheios ou vazios ou quantidade de livros na estante. Quando
falamos da expressão do sofrimento, as questões que o motivam são exatamente as
mesmas.”
“Ana Claudia nos traz uma
surpreendente reflexão sobre o tema. Segundo a autora, o que deveria nos
assustar não é a morte em si, mas a possibilidade de chegarmos ao fim da vida
sem aproveitá-la, de não usarmos nosso tempo da maneira que gostaríamos.
A morte é um
dia que vale a pena viver é um livro
que nos faz repensar a nossa existência, que nos incentiva a cultivar relações
positivas, a ter hábitos saudáveis sem deixar de fazer o que temos vontade. Uma
reflexão fundamental para os dias de hoje, tempo em que vivemos com a sensação
permanente de que estamos deixando a vida escorrer entre os dedos.”
·
contracapa
do livro
“A ÚNICA
certeza que temos na vida é de que vamos morrer um dia. Quem nunca ouviu essa
frase? É uma afirmação realista, mas que assusta muitas pessoas. Pensar na
morte é algo que gera medo e insegurança, principalmente para aqueles que não
carregam uma crença sobre o que acontece depois que essa hora chega.”
“EU VEJO as coisas de um jeito que a maioria não se permite
ver. Mas tenho tido várias oportunidades de capturar a atenção de pessoas
interessadas em mudar de posição, de ponto de vista. Algumas apenas podem
mudar, outras precisam; o que nos une é o querer. Desejar ver a vida de outra
forma, seguir outro caminho, pois a vida é breve e precisa de valor, sentido e
significado. E a morte é um excelente motivo para buscar um novo olhar para a
vida.
[...] Cada um de nós está presente na própria vida e
na vida de quem amamos. Presente não apenas fisicamente, mas presente com nosso
tempo, nosso movimento. Só nessa presença é que a morte não é o fim.
Quase todo mundo pensa que a norma é fugir da
realidade da morte. Mas a verdade é que a morte é uma ponte para a vida.
Despratique as normas.”
“PARA boa parte de nós,
a morte é provavelmente o maior de todos os medos. Mas e se a grande questão
envolvendo a morte for, na verdade, a vida? Estamos aproveitando nossos dias ou
vamos chegar
ao fim desta jornada cheios de arrependimentos sobre coisas que fizemos – ou,
pior, que deixamos de fazer? De maneira clara e suave, Ana Claudia nos ajuda a
ter um novo olhar sobre o modo como gastamos o nosso tempo e sobre a nossa
ideia acerca da vida e da morte.”
· contracapa do livro
· contracapa do livro
“COMO Nietzsche,
eu também acreditava que o Homem tolera qualquer ‘como’ se tiver um ‘porquê’.”
“DIANTE de uma doença grave e incurável, as pessoas entram em
sofrimento desde o diagnóstico. A morte anunciada traz a possibilidade de um
encontro veloz com o sentido da sua vida, mas traz também a angústia de talvez
não ter tempo suficiente para a tal experiência de descobrir esse sentido. Os
Cuidados Paliativos oferecem, então, não apenas a possibilidade de suspender
tratamentos considerados fúteis, mas a realidade tangível de ampliação da
assistência oferecida por uma equipe que pode cuidar dos sofrimentos físicos,
sintomas da progressão da doença ou das sequelas de tratamentos agressivos que
foram necessários no tratamento ou no controle da doença grave e incurável.”
“O SOFRIMENTO
emocional é muito intenso. Nele, o doente toma consciência de sua mortalidade.
Essa consciência o leva à busca de sentido de sua existência. Sempre digo que
medicina é fácil. Chega a ser até simples demais perto da complexidade do mundo
da psicologia. No exame físico, consigo avaliar quase todos os órgãos internos
de um paciente. Com alguns exames laboratoriais e de imagem, posso deduzir com
muita precisão o funcionamento dos sistemas vitais. Mas, observando um ser
humano, seja ele quem for, não consigo saber onde fica sua paz. Ou quanta culpa
corre em suas veias, junto com seu colesterol. Ou quanto medo há em seus
pensamentos, ou mesmo se estão intoxicados de solidão e abandono.”
“PRECISO
oferecer o melhor do
meu conhecimento técnico junto com o melhor que tenho dentro de mim, como ser
humano. Jamais poderei dizer que alcancei o máximo da minha humanidade, mas sei
o tamanho do compromisso que firmei comigo mesma para desenvolver esse olhar
atento e raro todos os dias. E é isso que me permite adormecer em paz todas as
noites.”
Só conseguiremos pensar sobre o sentido da vida,
se a dor passar...
“MEU PAPEL como médica é tratar o sofrimento físico com todos os
recursos disponíveis. Se a falta de ar passar, se qualquer desconforto físico
intenso passar, haverá tempo e espaço para a vida se manifestar. Muitas vezes,
diante do alívio do sofrimento físico, o que aparece em seguida é a expressão
de outros sofrimentos, como o emocional e o espiritual. A família fica aliviada
ao perceber o conforto físico, mas então aparece a necessidade de falar sobre o
que falta na vida. Virá o momento de pensar nas famosas ‘pendências’...
“ENQUANTO as pessoas não olharem para a morte com a honestidade de
perguntar a ela o que há de mais importante sobre a vida, ninguém terá a chance
de saber a resposta. O problema é que caminhamos ao lado de pessoas que pensam
que são eternas. Por causa dessa ilusão, vivem suas vidas de modo
irresponsável, sem compromisso com o bom, o belo e o verdadeiro, distanciadas
da própria essência.”
“E É só pela
consciência da morte que nos apressamos em construir esse ser que deveríamos
ser.”
“CHEGA uma hora em que nos preocupamos em fazer check-up, em perder a
barriga, em tomar conta da vida dos filhos. Pensar na morte faz com que
pensemos que é preciso fazer alguma coisa. Outro grave engano: vamos nos
distanciando do ‘ser’ pelo caminho do ‘fazer’. Pensamos então que uma vida boa
é uma vida que nos leva a ter coisas e a fazer coisas. Mas quando chega o tempo
da doença não podemos mais fazer nada. E quando deixamos de fazer, pensamos que
isso é morrer, mas não é ainda. A ideia de ‘ser’ humano é simplesmente existir
e fazer diferença no lugar onde estamos, por ser quem somos. As pessoas que se
ausentaram da própria vida serão apenas ‘ausências’ no tempo de morrer. Porque
muita gente é assim na vida, um ausente quase que constante. E quando está
presente, sente que esse tempo está vazio.”
“MESMO as
pessoas que não
morrem de morte anunciada, mesmo aquelas que morrem em acidentes ou com doenças
fulminantes: quase sempre se diz que
mostraram mudanças no comportamento pouco tempo antes de a morte
acontecer. Diversas respostas chegam nesse momento, e a pessoa tem, e se
permite, a chance de amar, de ser amada, de perdoar, de pedir perdão, de falar
‘muito obrigada’; se tiver consciência do que está acontecendo, ela se despede.
Não há um tempo determinado para isso, pois cada um tem seu tempo.”
“A PESSOA que
morre está nua, liberta de todas as vestes físicas, emocionais, sociais,
familiares e espirituais. E, por estar nua, consegue nos ver da mesma forma. As
pessoas que estão morrendo desenvolvem uma habilidade única de ver. Estar ao
lado de alguém que está morrendo é desnudar-se também.”
“QUANDO estamos perto da morte, aquilo com que nos deparamos é um
muro. Um grande amigo, Leonardo Consolim, uma vez disse que imagina esse muro
muito alto e comprido, como a muralha da China. E eu gostei dessa imagem, é com
ela que me relaciono quando penso na minha morte. Não tem como dar a volta, não
tem como escalar. E quando nos deparamos com esse muro e tomamos consciência da
nossa morte, a única coisa a fazer é olhar para trás. Então, quando estamos
diante da morte de uma pessoa, que fique bem claro para nós: aquela pessoa está
olhando para o caminho que percorreu e tentando entender o que fez para chegar
até ali – e se aquela viagem valeu a pena. O que norteia nosso caminho e nos
impele a fazer boas escolhas é a certeza de que, quaisquer que sejam nossos
caminhos e escolhas, o muro nos aguarda.”
“O QUE faz a
diferença dos caminhos que escolhemos ao longo da vida é a paz que sentiremos
ou não nesse encontro. Se fizermos escolhas de sofrimento ao longo da vida, a
paz não estará presente no encontro com a morte.”
“A MELHOR coisa
que posso fazer por alguém na hora da morte é estar presente. Presente ao lado
dessa pessoa, diante dela, por ela, para ela. Um estado de presença
multidimensional que somente o caminho da compaixão pode revelar.”
“SE EU for
sentir a dor do
outro, então não posso estar presente, pois será a minha dor. Se eu sinto a
dor, estou em mim e não no outro. Quanto tenho compaixão pela dor do outro,
respeito essa dor, mas sei que ela não me pertence. Posso estar presente a
ponto de proporcionar socorro, levar conforto. Se estou em estado de compaixão,
posso oferecer ou buscar ajuda. Se estou sentindo a dor, estou paralisada; não
posso suportar estar presente diante desse sofrimento e preciso de ajuda. Ver
uma pessoa com dor é algo desesperador, especialmente quando não temos ao nosso
lado um médico que saiba dar importância a esse cuidado.”
“QUANDO toca
alguém, nunca toque só um corpo. Quer dizer, não esqueça que toca uma pessoa e
que neste corpo está toda a memória de sua existência. E, mais profundamente
ainda, quando toca um corpo, lembre-se de que toca um Sopro, que este Sopro é o
sopro de uma pessoa com seus entraves e dificuldades e, também, é o grande
Sopro do Universo. Assim, quando toca um corpo, lembre-se de que toca um
‘Templo’.”
·
Jean-Yves Leloup
“QUER um
conselho sábio a
respeito da sua vida? Peça a alguém que está morrendo. Esse sopro vital de
sabedoria, bem perto da hora da saída, emerge para a consciência e ilumina os
pensamentos com uma luz divina, uma lucidez absurda; conseguimos perceber
processos do antes, durante e depois, aqueles mistérios sobre os quais os mais
religiosos diriam que só Deus sabe. Quando estamos diante da morte, essa
revelação da verdade surge nos olhos de quem nos observa. Se mentirem,
saberemos. E se for você a estar diante dos olhos de alguém que está morrendo,
saiba: essa pessoa pode ver a sua plena verdade.”
A transformação começa no momento em que nos percebemos
capazes de estar presente
“A PESSOA que está morrendo não deve sentir-se um peso, um
estorvo, um incômodo. Ela merece a chance de descobrir-se valiosa para quem
está ali, ao lado dela. Todos nós merecemos isso. Sentir que temos valor, que
somos importantes, que somos amados, mesmo quando estivermos doentes e
morrendo. O desafio de quem quer estar ao lado de uma pessoa que está morrendo
é saber transformar o sentimento dela em algo de valor. Transformar o
sentimento de fracasso diante da doença em um sentimento de orgulho pela
coragem de enfrentar o sofrimento de finitude. Se a pessoa que está morrendo se
sente valiosa, no sentido de ser importante, de fazer diferença na própria vida
e sentir que está fazendo diferença na vida de quem está cuidando dela, ela
honrará esse tempo.”
“PARA ESTAR ao lado de alguém que está morrendo, precisamos saber
como ajudar a pessoa a viver até o dia em que a morte dela chegar. Apesar de
muitos escolherem viver de um jeito morto, todos têm o direito de morrer vivos.
Quando chegar a minha vez, quero terminar a minha vida de um jeito bom: quero
estar viva nesse dia.”
“MUITA GENTE não está viva de
fato, mesmo com o corpo funcionando bem. É uma coisa terrível. Pessoas que
enterraram suas dimensões emocional, familiar, social e espiritual. Gente que
não sabe se relacionar, que tem dificuldade de viver bem, sem culpas nem medos.
Gente que prefere não acreditar para não correr o risco de se decepcionar, seja
em relação ao outro, seja em relação a Deus. Gente que não confia, não entrega,
não permite, não perdoa, não abençoa. Gente viva que vive de um jeito morto.
Temos mortos andando livres nas academias de ginástica, nos bares, nos almoços
de família de comercial de margarina, desperdiçando domingos por meses a fio.
Gente que reclama de tudo e de todos. Gente que perpetua a própria dor se
entorpecendo com drogas, álcool ou antidepressivos, tentando se proteger da
tristeza de não se saber capaz de sentir alegria. [...] Em um contexto onde as
pessoas não têm a chance de perceber que estão vivas, o cheiro característico
da morte está mais presente. Mas onde a
morte está, de verdade, a vida se manifesta.”
“SE VOCÊ
expressar o que habita em você, isso irá salvá-lo. Mas se você não expressar o
que habita em você, isso irá lhe destruir.”
·
Jesus – Evangelho de São Tomé
“O TEMPO é uma
questão recorrente quando falamos sobre a finitude. Quando não houver mais
tempo, dará tempo de ser feliz? Quando uma pessoa adoece e precisa parar seu
tempo de correr para poder se tratar, o tempo não passa em segundos, minutos,
horas: passa em gotas ou em comprimidos. Os intervalos são percebidos entre um
remédio e outro, entre uma visita de médico e outra, entre um exame e outro. É
o tempo do soro pingando no suporte ao lado da cama. De seis em seis horas, de
oito em oito horas. O tempo se dilata e não passa.”
“É UM grande
desafio para os
médicos e profissionais de saúde compreenderem que não há fracasso quando
acontece a morte. O fracasso do médico acontece se a pessoa não vive feliz
quando se trata com ele. Muita gente está curada de câncer, mas se sente
completamente infeliz estando viva. Por que isso acontece? De que adianta curar
e controlar doenças se não conseguimos fazer com que o paciente entenda que a
saúde conquistada pode ser a ponte para a realização de experiências plenas de
sentido na sua vida? O papel mais importante do médico em relação ao seu
paciente doente é o de não o abandonar.”
A dimensão espiritual do sofrimento humano
“ATÉ eu
trabalhar no Hospice,
onde tive a oportunidade de cuidar de mais de seiscentos pacientes em menos de
quatro anos, os ateus de quem cuidei tiveram os processos de morte mais serenos
que eu já tinha acompanhado. Eram ateus essenciais, não convertidos.”
“OS ATEUS essenciais muitas vezes nasceram em famílias de ateus
ou nunca conseguiram de fato acreditar, mesmo quando crianças. No entanto, têm
um grau de espiritualidade acima da média. Fazem o bem a si mesmos, ao próximo
e à natureza, e praticam esse bem com tamanho respeito que é impossível não se
encantar com sua qualidade humana. Como não acreditam em um Deus salvador,
fazem a sua parte para salvar a própria vida e a vida do planeta em que vivem.”
“PENSO na espiritualidade como um eixo que faz com que eu me movimente na relação comigo mesma,
com a minha vida, na relação com o outro, na relação com a sociedade, com o
Universo, com a Natureza e com Deus. O drama da religião mora na relação com o outro
e com Deus. Julgamentos e condenações agregam a esse eixo sentimentos tóxicos
que emperram o fluxo natural do Bem Maior.”
“O SER humano tem esse hábito estranho de buscar espaços onde se
sinta diferente, se possível superior em relação a outros. E a religião
favorece essa percepção de ser escolhido, de ser favorecido, de ser merecedor,
de ser segregado positivamente do resto da humanidade da qual discordamos.”
“O PROBLEMA é que a verdade não é um conceito. A verdade é uma
experiência. Só conseguimos entrar em contato com a verdade ‘espiritual’ quando
transcendemos, quando ‘experimentamos’ a verdade. Não faz o menor sentido
falar: ‘Eu acredito em Deus!’ Quando o indivíduo teve a experiência da verdade da
existência de Deus, diz: ‘Eu sei que Deus existe’. Raciocínio prático: não preciso dizer que acredito que o sol nasce
todos os dias. Eu SEI que o sol nasce
todos os dias. Dentro de mim não há nenhuma dúvida a esse respeito.”
“AS PESSOAS que
conhecem a verdade em relação à espiritualidade vivem essa experiência de
transcender; não é necessário provar nada e é impossível explicar. Não existe a
necessidade de convencer ninguém. E essas pessoas não se sentem agredidas caso
alguém duvide delas. Quando começamos a discutir religião pelo nível conceitual
da verdade, aí faz sentido brigar, pois falamos de regras, normas, políticas,
comportamentos, vantagens e desvantagens, custo e benefício.”
Imagem: https://viagenscinematograficas.com.br/2016/12/buzios-por-do-sol-porto-da-barra-restaurantes.html
“AO REFLETIR sobre esse processo de fé como entrega, percebemos
que há bem poucas pessoas religiosas. Raríssimas pessoas. A experiência
espiritual é uma verdade experimentada, não é uma verdade conceitual. Podemos
ter uma experiência de transcendência, independentemente da religião que
abraçamos ou não. A transcendência, para mim, é um sentimento intenso de
pertencimento, de se tornar ‘um’ com aquilo que nos desperta esse sentimento.
Aquele mar, aquele pôr do sol, aquele abraço do ser amado, só estará completo
porque estou ali e pertenço àquele momento, faço parte daquele mar, daquela
luz, daquele céu, daquela brisa. Não tem mais o ‘eu passado’ nem o ‘eu futuro’;
sou aquele momento, aquele instante
presente. Na hora em que nos separamos desse sentimento estamos diferentes,
transformados.”
A experiência de fim de vida é uma experiência que tem
grande poder de transcendência
“A EXPERIÊNCIA de transcender é sempre sagrada. É como experimentar
água do mar. Água do mar, em qualquer parte do planeta, sempre será água
salgada. Sempre que experimentarmos o mar, será salgado. Sempre que
experimentarmos a transcendência, será sagrada. Sempre. Se fosse possível
entrar em uma máquina de ressonância funcional no momento da transcendência,
podemos ter certeza: a área do nosso cérebro que se acenderia é a do sagrado,
do que é valor, do que é bom e verdadeiro para nós.”
Como fica a sua fé na hora de viver seus tempos finais
e reconhecer que sua missão terminou?
“O SOFRIMENTO pode ser o gatilho da sua transformação como ser
humano. Pode ser um momento de perceber uma versão totalmente nova de Deus. Se
pensarmos que cada um de nós, internamente, tem um reino de Deus, cada um de
nós tem uma versão inédita, pessoal, desse divino. E quando achamos que sabemos
tudo sobre divino e sagrado e nos colocamos diante de uma pessoa que está
morrendo, esse Deus que mora dentro de nós vai nos mostrar, de verdade, quem é
o divino e quem é o sagrado dentro de nós.”
“QUASE SEMPRE, quando fazemos alguma coisa para agradar a alguém,
fazemos por acreditar que, assim, contribuímos para a felicidade dessa pessoa.
Nas entrelinhas, são escolhas para validar a nossa importância na vida desse
alguém. No entanto, pensemos: usar nosso tempo de vida para nos tornarmos
importantes na vida de outra pessoa é escolher um caminho bem torto para
existir. Se podemos ser nós mesmos e se isso fizer de nós seres amados apenas
pelo que somos, isso é felicidade, é completude. No entanto, se precisamos nos
tornar outra pessoa para nos considerarmos amados, há algo errado. É quase
certo que nos arrependeremos depois; não podemos ser aquilo que representamos
para o outro. É um caminho muito perigoso.”
“AS CHANCES que perdemos de demonstrar o que sentimos de verdade
chegam com toda força no fim da vida. Mas se ainda há tempo para demonstrar
esse afeto, e se fazemos isso... Ah, é lindo viver essa experiência.”
“E SE não sabeis
trabalhar com amor mas com desagrado, é melhor deixardes o trabalho e
sentar-vos à porta do templo a pedir esmola àqueles que trabalham com alegria.”
·
Gibran Khalil Gibran
“SE TEMOS um trabalho que nos oferece a chance de deixar o
mundo melhor, mesmo que só um pouquinho e só para poucas pessoas; se nos
envolvemos nesse trabalho com verdadeira energia de transformação e nos
realizamos, vemos sentido no fluxo que escolhemos, ainda que implique trabalhar
muito.”
“A ENERGIA que vem de um trabalho que não traz sentido à nossa
vida é uma energia ruim.”
“RECEBER elogios não deve ser levado para o lado pessoal. Se
alguém nos acha importantes e interessantes, isso não necessariamente tem a ver
conosco. Tem a ver com aquela chave que temos e que abre a porta de bem-estar
da pessoa que elogia. Simples assim. Tirar conclusões e levar qualquer coisa,
boa ou ruim, para o lado pessoal faz com que muitas vezes tomemos decisões
erradas, que nos levarão ao arrependimento.”
“JÁ POSSO partir!
Que meus irmãos se despeçam de mim! Saudações a todos vocês: começo minha
partida. Devolvo aqui as chaves da porta e abro mão de meus direitos na casa.
Palavras de bondade é o que peço a vocês, por último. Estivemos juntos tanto
tempo, mas recebi mais do que pude dar. Eis que o dia clareou e a lâmpada que
iluminava o meu canto escuro se apagou. A ordem chegou e estou pronto para a
minha viagem.”
·
Rabindranath Tagore
“CADA PERDA existencial, cada morte simbólica, seja de uma
relação, de um trabalho, de uma realidade que conhecemos, busca pelos menos
três padrões de sentido. O primeiro diz respeito ao perdão, a si mesmo e ao
outro. O segundo é saber que o que foi vivido de bom naquela realidade não será
esquecido. O terceiro é a certeza de que fizemos a diferença naquele tempo que
termina para a nossa história, deixando um legado, uma marca que transformou
aquela pessoa ou aquela realidade que agora ficará fora da sua vida. Aceitar a perda tem uma função vital na
nossa vida que continua.
[...] Só conseguimos passar para a próxima etapa se
tivermos uma destas três confirmações: de que perdoamos, deixamos nossa marca
ou levamos a história conosco, tirando delas os aprendizados possíveis. Percebo
isso na condução de processos de luto que não estão relacionados com a morte em
si.
[...] O terceiro ponto pode ser uma experiência de
imortalidade. Seguimos em frente, mas deixamos algo de nossa essência, de nossa
história, naquele tempo, naquele ambiente, naquela pessoa que sai da nossa
vida.”
“O QUE tem que vir conosco das histórias passadas é a
transformação que elas nos proporcionaram. Não levemos a história, e sim o
produto da história... E a história só terá um produto se tiver mesmo havido um
encontro, se realmente mergulhamos nela por inteiro.”
“O QUE você viveu
não é tão importante quanto pensar em COMO você viveu ou PARA QUE você viveu.”
E para concluir:
“ESSA CONVERSA a respeito de diretivas antecipadas, sobre o que
queremos ou não para o final da nossa vida, deveria acontecer primeiro entre os
nossos familiares, na hora do jantar ou do almoço de domingo. Para nossa
segurança e de nossos familiares mais idosos ou adoecidos, convém que essa
conversa ocorra em um momento em que não exista atividade nem progressão de
doença. Deve acontecer na convivência, quase em um contexto filosófico; um
‘papo cabeça’, como se diria antigamente.”
“NÃO EXISTE a possibilidade de haver uma morte absoluta, de
desintegração de todas as dimensões de um ser humano cuja existência teve algum
sentido na vida de outros seres humanos. Quando a morte acontece, ela só diz
respeito ao corpo físico. Meu pai morreu, mas continua sendo meu pai. Tudo o
que me ensinou, tudo o que me disse, tudo o que vivemos juntos continua vivo em
mim. As duas únicas verdades com que preciso aprender a lidar a partir da morte
dele são estas: primeiro, que se tornou invisível; segundo, que não teremos um
futuro compartilhado na nossa relação. Haverá momentos em que pensarei nele,
sentirei muita saudade e refletirei sobre os conselhos que me daria diante de
dilemas que ainda virão. Mas, a depender de como eu decidir viver meu luto por
sua morte, saberei encontrá-lo dentro de mim nessas experiências que ainda me
aguardam.
Se aquela pessoa trouxe amor, alegria, paz,
crescimento, força e sentido de vida, então não é justo que tudo isso seja
enterrado junto com um corpo doente. É por meio dessa percepção de valor da
relação que o enlutado vai emergindo de sua dor.”
“FAZ muito bem lembrar dos momentos engraçados que vivemos com a
pessoa que morreu. Quando recebo alguém enlutado, peço que enumere tudo de bom
que a pessoa falecida ensinou a ela. Depois sugiro que me conte alguns momentos
muito engraçados em que viveram juntos. Com esses dois convites, assisto e um
tempo lindo bem na minha frente, quando o enlutado volta a se encontrar com seu
ente querido de um jeito novo em meio à dor. Quase sempre, ele fala sobre a
perda, a doença, o sofrimento e a morte. Mas, quando provoco lembranças da vida
em comum, lembranças boas, intensas, transformadoras, trago de volta a essência
daquela relação.
É nessa conversa que posso mostrar ao enlutado como a
vida deixada por aquela pessoa que morreu é plena de significado; afinal, o
aprendizado e a história em comum não morrem nunca. O enlutado jamais será
privado das lembranças e dos sentimentos. O Amor não morre com o corpo físico.
O Amor sempre permanece. Se você perdeu ou está perdendo alguém que ama muito,
faça esse exercício.”
“O MELHOR jeito
de nos sentirmos seguros em relação aos cuidados e limites de intervenção no
final da vida é conversando sobre isso em algum momento durante a nossa vida
com saúde. Quando se está doente, essa conversa, embora necessária, fica bem
mais delicada.”
“PENSO que,
se a sociedade se mobilizar para deixar claro qual é a sua vontade, e me refiro
inclusive a deixar esse ponto culturalmente
mais claro, mais lúcido dentro da vida de cada um, talvez no futuro seja mais
simples oferecer cuidados para preservar a dignidade da vida da pessoa que está
morrendo.”
***
Um livro conscientizador. Eis um texto que dedico aos PODERES que
ResponderExcluircomandam nosso País e ignoram os representados :
“ENQUANTO as pessoas não olharem para a morte com a honestidade de
perguntar a ela o que há de mais importante sobre a vida, ninguém terá
a chance de saber a resposta. O problema é que caminhamos ao lado de
pessoas que pensam que são eternas. Por causa dessa ilusão, vivem suas
vidas de modo irresponsável, sem compromisso com o bom, o belo e o
verdadeiro, distanciadas da própria essência.” - Lembrete
indispensável aos PODERES que comandam nosso País!
abração amigo
Izabel da Silva