Um dos
mais influentes poetas e escritores portugueses do século XX. Com formação em
medicina, destacou-se como poeta, contista e memorialista, mas também escreveu romances,
peças de teatro e ensaios.
“A VIDA afetiva é a única que vale a pena. A outra
apenas serve para organizar na consciência o processo da inutilidade de tudo.”
“É UM fenômeno curioso: o
país ergue-se indignado, moureja o dia inteiro indignado, come, bebe e
diverte-se indignado, mas não passa disto. Falta-lhe o romantismo cívico da
agressão. Somos, socialmente, uma coletividade pacífica de revoltados.”
“A MAIOR desgraça que pode acontecer a um artista é
começar pela literatura, em vez de começar pela vida.”
“SÓ havia três coisas sagradas na vida: a infância,
o amor e a doença. Tudo se podia atraiçoar no mundo, menos uma criança, o ser
que nos ama e um enfermo. Em todos esses casos a pessoa está indefesa.”
“MAS a vida
é uma coisa imensa, que não cabe numa teoria, num poema, num dogma, nem mesmo
no desespero inteiro dum homem.”
“(...) tinham-me feito
descobrir uma riqueza inédita: a solidão rodeada de livros.”
“MAS, francamente: fé em quê? Num mundo que almoça
valores, janta valores, ceia valores, e os degrada cinicamente, sem qualquer
estremecimento da consciência? Peçam-me tudo, menos que tape os olhos. Bem
basta quando a terra nos cobrir!”
“DEVO à paisagem as poucas alegrias que tive no
mundo. Os homens só me deram tristezas [...] a terra, com os seus vestidos e as
suas pregas, essa foi sempre generosa. [...] Vivo a natureza integrado nela, de
tal modo que chego a sentir-me, em certas ocasiões, pedra, orvalho, flor ou
nevoeiro. Nenhum outro espetáculo me dá semelhante plenitude e cria no meu
espírito um sentido tão acabado do perfeito e do eterno.”
“VENTO que passas, leva-me contigo.
Sou poeira também, folha de outono.
Rês tresmalhada que não quer abrigo
No calor do redil de nenhum dono.
Leva-me, e livre deixa-me cair
No deserto de todas as lembranças,
Onde eu possa dormir
Como no limbo dormem as crianças.”
Sou poeira também, folha de outono.
Rês tresmalhada que não quer abrigo
No calor do redil de nenhum dono.
Leva-me, e livre deixa-me cair
No deserto de todas as lembranças,
Onde eu possa dormir
Como no limbo dormem as crianças.”
Como é Difícil Ser Natural
“É CURIOSO como é difícil ser natural. Como a gente
está sempre pronta a vestir a casaca das ideias, sem a humildade de se mostrar
em camisa, na intimidade simples e humana da estupidez ou mesmo da indiferença.
Fiz agora um grande esforço para dizer coisas brilhantes da guerra futura, da
harmonia dos povos, da próxima crise. E, afinal de contas, era em camisa que eu
devia continuar quando a visita chegou. No fundo, não disse nada de novo, não
fiquei mais do que sou, não mudei o curso da vida. Fui apenas ridículo. Se não
aos olhos do interlocutor, que disse no fim que gostou muito de me ouvir, pelo
menos aos meus, o que ainda é mais penoso e mais trágico.”
“(...) e em qualquer fresta
estava a liberdade.”
Expiação
“NUNCA me respondeste, quando te chamei,
E só Deus sabe como era urgente e aflita
A minha voz!
Mas, desgraçadamente sós,
Morrem os que se afogam
No mar da sua própria condição.
O meu, sem margens, é um descampado
Desabrigado.
Vagas e vagas de solidão,
E a tua imagem, litoral sonhado,
Sempre evocada em vão.
Nunca me respondeste, e foi melhor assim.
Um náufrago perpétuo é um pesadelo.
Dizer-me o quê?
Que, de longe, me vias afogar,
Mas que nada podias.
Pois sabias
Que os poetas jurados,
Humanas heresias,
Nascem condenados
A morrer afogados
Todos os dias
No tormentoso mar dos seus pecados.”
E só Deus sabe como era urgente e aflita
A minha voz!
Mas, desgraçadamente sós,
Morrem os que se afogam
No mar da sua própria condição.
O meu, sem margens, é um descampado
Desabrigado.
Vagas e vagas de solidão,
E a tua imagem, litoral sonhado,
Sempre evocada em vão.
Nunca me respondeste, e foi melhor assim.
Um náufrago perpétuo é um pesadelo.
Dizer-me o quê?
Que, de longe, me vias afogar,
Mas que nada podias.
Pois sabias
Que os poetas jurados,
Humanas heresias,
Nascem condenados
A morrer afogados
Todos os dias
No tormentoso mar dos seus pecados.”
“RECOMEÇA... se puderes, sem angústia e sem pressa e os
passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto
não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade.”
“MAIS um ano. Mais um palmo a
separar-me dos outros, já que a vida não passa de um progressivo distanciamento
de tudo e de todos, que a morte remata.”
“NÃO perturbes a paz que me foi
dada. Ouvir de novo a tua voz seria matar a sede com água salgada.”
***
Observação:
AQUI, o meu propósito é reunir material de interação social significativa que gere autorreflexão e, quem sabe, a conversação, usando as palavras para o conhecimento útil, aquele que, segundo Sócrates, nos torna melhores. É nessas buscas que percebo o quão incompleto é o conhecimento humano.
Quem sabe, algumas vezes poderei estar correndo o risco de atribuir frases não correspondentes a um ou outro pensador mencionado, apesar do meu rigor em relação às fontes de consulta. Neste sentido, o leitor poderá sugerir eventuais correções, contribuindo para o aprimoramento da informação.
Um amigo tranquilizou-me certa vez, mostrando que, mesmo se involuntário de minha parte, o pensamento não corresponder ao do verdadeiro autor, devo considerar o meu propósito e a essência da ideia.
Por outro lado, de cada autor, sintetizo apenas os pensamentos com os quais me identifico mais.
* Edição: Guilherme Rodrigues
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