Biólogo
e escritor moçambicano. Adotou o pseudônimo
‘Mia Couto’ por gostar do miar dos gatos. Iniciou os estudos
universitários em medicina, mas abandonou essa área no princípio do terceiro
ano, passando a exercer a profissão de jornalista. Em 1985,
abandonou o jornalismo e ingressou no curso de Biologia, com
especialidade em Ecologia; e
enquanto o faz, edita um livro de contos, Vozes
Anoitecidas,
com o qual recebe o Grande Prêmio da Ficção Narrativa.
“PARA que as luzes do outro sejam
percebidas por mim devo por bem apagar as minhas, no sentido de me tornar
disponível para o outro.”
“O ESCRITOR não é apenas aquele que
escreve. É aquele que produz pensamento, aquele que é capaz de engravidar os
outros de sentimento e de encantamento.”
"A PALAVRA de hoje é aquela que cada vez mais se
despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo
diferente.”
"A minha pátria é
outra e ela está ainda por nascer."
Mia Couto
"A MINHA mensagem é simples: mais do que uma geração
tecnicamente capaz, nós necessitamos de uma geração capaz de questionar, capaz
de repensar o país e o mundo. Mais do que gente preparada para dar respostas,
necessitamos de capacidade para fazer perguntas.”
Cidadãos
ativos:
“NÃO SE pode governar um
país como se a política fosse um quintal e a economia fosse um bazar. Ao
avaliar um regime de governação precisamos, no entanto, de ir mais fundo e
saber se as questões não provêm do regime, mas do sistema e a cultura que esse
sistema vai gerando. Pode-se mudar o governo e tudo continuará igual se
mantivermos intacto o sistema de fazer economia, o sistema que administra os
recursos da nossa sociedade. Nós temos hoje gente com dinheiro. Isso em si
mesmo não é mau. Mas esses endinheirados não são ricos. Ser rico é outra coisa.
Ser rico é produzir emprego. Ser rico é produzir riqueza. Os nossos novos-ricos
são quase sempre predadores, vivem da venda e revenda de recursos nacionais.
Afinal, culpar o governo ou o sistema e ficar apenas por aí é fácil. Alguém dizia que governar é tão fácil que todos o sabem fazer até ao dia em que são governo. A verdade é que muitos dos problemas que nós vivemos resultam da falta de resposta nossa como cidadãos ativos. Resulta de apenas reagirmos no limite quando não há outra resposta senão a violência cega. Grande parte dos problemas resulta de ficarmos calados quando podemos pensar e falar.”
Afinal, culpar o governo ou o sistema e ficar apenas por aí é fácil. Alguém dizia que governar é tão fácil que todos o sabem fazer até ao dia em que são governo. A verdade é que muitos dos problemas que nós vivemos resultam da falta de resposta nossa como cidadãos ativos. Resulta de apenas reagirmos no limite quando não há outra resposta senão a violência cega. Grande parte dos problemas resulta de ficarmos calados quando podemos pensar e falar.”
“NÓS temos hoje gente com dinheiro. Isso em si mesmo não é
mau. Mas esses endinheirados não são ricos. Ser rico é outra coisa. Ser rico é
produzir emprego. Ser rico é produzir riqueza. Os nossos novos-ricos são quase
sempre predadores, vivem da venda e revenda de recursos nacionais.”
"DEVIA era, logo de manhã,
passar um sonho pelo rosto. É isso que impede o tempo e atrasa a ruga.”
“EU NASCI para estar calado. Minha única vocação é
o silêncio. Foi meu pai que me explicou: tenho inclinação para não falar, um
talento para apurar silêncios. Escrevo bem, silêncios, no plural. Sim, porque
não há um único silêncio. E todo o silêncio é música em estado de gravidez.
Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava
pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios
com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios.”
“O QUE mais dói na miséria
é a
ignorância que ela tem de si mesma.
Confrontados com a ausência de tudo,
os homens abstêm-se do sonho,
desarmando-se do desejo de serem outros.”
ignorância que ela tem de si mesma.
Confrontados com a ausência de tudo,
os homens abstêm-se do sonho,
desarmando-se do desejo de serem outros.”
“AS MIÇANGAS, todos as veem. Ninguém nota o fio
que, em colar vistoso, vai compondo as miçangas. Também assim é a voz do poeta:
um fio de silêncio costurando o tempo.”
“NÃO FOMOS feitos para caber numa
receita puritana encomendada para
domesticar e padronizar o mundo. O discurso
do politicamente correto é um crime contra as nossas nações, contra
originalidade e a diversidade dos nossos povos.”
“PORQUE andei sempre sobre meus
pés,
e doeu-me às vezes viver.”
e doeu-me às vezes viver.”
“UMA coisa aprendi na vida. Quem tem medo da
infelicidade nunca chega a ser feliz.”
“O IMPORTANTE não é a casa
onde moramos.
Mas onde, em nós, a casa mora.”
Mas onde, em nós, a casa mora.”
“TODOS elogiam o sonho, que é o descansar da vida.
Mas é o contrário, Doutor. A gente precisa do viver para descansar dos sonhos.”
“COZINHAR é um modo de amar
os outros.”
“Não penso na velhice, tenho medo que a velhice
pense em mim.”
Flores
“NINGUÉM
oferece flores.
A flor,
em sua fugaz existência,
já é oferenda.
Talvez, alguém,
de amor,
se ofereça em flor.
Mas só a semente
oferece flores.”
“TINHA tanto medo de solidão
que nem espantava as moscas.”
E quando nos beijávamos......
“E EU perdia a respiração e, entre suspiros, perguntava: Em que dia nasceste? E me respondias com voz trêmula: Estou nascendo agora...”
“E EU perdia a respiração e, entre suspiros, perguntava: Em que dia nasceste? E me respondias com voz trêmula: Estou nascendo agora...”
A adiada enchente
“VELHO, não.
Entardecido, talvez.
Antigo, sim.
Me tornei antigo
porque a vida,
tantas vezes, se demorou.
E eu a esperei
como um rio aguarda a cheia.”
E eu a esperei
como um rio aguarda a cheia.”
Fui sabendo de mim
“FUI sabendo de mim
por aquilo que perdia
pedaços que saíram de mim
com o mistério de serem poucos
e valerem só quando os perdia
fui ficando
por umbrais
aquém do passo
que nunca ousei
eu vi
a árvore morta
e soube que mentia”
“FUI sabendo de mim
por aquilo que perdia
pedaços que saíram de mim
com o mistério de serem poucos
e valerem só quando os perdia
fui ficando
por umbrais
aquém do passo
que nunca ousei
eu vi
a árvore morta
e soube que mentia”
Ser, parecer
“ENTRE o desejo de ser
e o receio de parecer
o tormento da hora cindida
Na desordem do sangue
a aventura de sermos nós
restitui-nos ao ser
que fazemos de conta que somos.”
“ENTRE o desejo de ser
e o receio de parecer
o tormento da hora cindida
Na desordem do sangue
a aventura de sermos nós
restitui-nos ao ser
que fazemos de conta que somos.”
“RIR junto é melhor que falar a mesma língua. Ou talvez o
riso seja uma língua anterior que fomos perdendo à medida que o mundo foi
deixando de ser nosso.”
“DE QUE vale ter voz
se só quando não falo é que me entendem?
De que vale acordar
se o que vivo é menos do que o que sonhei?”
se só quando não falo é que me entendem?
De que vale acordar
se o que vivo é menos do que o que sonhei?”
“A MORTE é como o umbigo: o quanto
nela existe é a sua cicatriz, a lembrança de uma anterior existência.”
“Eu SOMOS tristes. Não me engano,
digo bem. Ou talvez: nós sou triste? Porque dentro de mim não sou sozinho. Sou
muitos. E esses todos disputam minha única vida.”
“(...) a razão deste mundo estava num outro mundo
inexplicável.”
“OS MAIS perigosos inimigos não são
aqueles que te odiaram desde sempre. Quem mais deves temer são os que, durante
um tempo, estiveram próximos e por ti se sentiram fascinados.”
“OS SONHOS são cartas que enviamos
a nossas outras, restantes vidas.”
“TODOS elogiam o sonho, que é o descansar da vida. Mas é o
contrário, Doutor. A gente precisa do viver para descansar dos sonhos.”
“CADA homem é uma raça.”
“SÓ SE escreve com intensidade se vivermos intensamente.
Não se trata apenas de viver sentimentos mas de ser vivido por sentimentos.”
“SOU feliz só por preguiça. A infelicidade dá uma
trabalheira pior que doença: é preciso entrar e sair dela, afastar os que nos
querem consolar, aceitar pêsames por uma porção da alma que nem chegou a
falecer. – Levanta, ó dono das preguiças.”
“ESPERTO é o mar que, em vez da briga, prefere abraçar o
rochedo.”
“AS OSSADAS são nossa única
eternidade.”
"AQUELE vento, pensou ele, iria varrer a terra por
inteiro, atingir por igual os fracos e os poderosos. E os grandes aprenderiam
que há um poder bem maior que o deles. O vento os ensinaria a saberem ser
pequenos.”
“O QUE pode suscitar uma pequena história é quanto por trás
do cientista reside um homem, com suas ignorâncias, suas incertezas e suas
crenças tantas vezes muito pouco científicas.”
“SOU BIÓLOGO e viajo muito pela savana do meu país.
Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu
mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto. Não sei ler
sinais da terra, das árvores e dos bichos. Não sei ler nuvens, nem o prenúncio
das chuvas. Não sei falar com os mortos, perdi contato com os antepassados que
nos concedem o sentido da eternidade. Nessas visitas que faço à savana, vou
aprendendo sensibilidades que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas
certezas. Nesse território, eu não tenho apenas sonhos. Eu sou sonhável.”
“Muito do debate de ideias é substituído pela agressão
pessoal. Basta diabolizar quem pensa de modo diverso. Existe uma variedade de
demônios à disposição: uma cor política, uma cor de alma, uma cor de pele, uma
origem social ou religiosa diversa.”
***
Observação:
AQUI, o meu propósito é reunir material de interação social significativa que gere autorreflexão e, quem sabe, a conversação, usando as palavras para o conhecimento útil, aquele que, segundo Sócrates, nos torna melhores. É nessas buscas que percebo o quão incompleto é o conhecimento humano.
Quem sabe, algumas vezes poderei estar correndo o risco de atribuir frases não correspondentes a um ou outro pensador mencionado, apesar do meu rigor em relação às fontes de consulta. Neste sentido, o leitor poderá sugerir eventuais correções, contribuindo para o aprimoramento da informação.
Um amigo tranquilizou-me certa vez, mostrando que, mesmo se involuntário de minha parte, o pensamento não corresponder ao do verdadeiro autor, devo considerar o meu propósito e a essência da ideia.
Por outro lado, de cada autor, sintetizo apenas os pensamentos com os quais me identifico mais.
* Edição: Guilherme Rodrigues
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