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sexta-feira, 9 de março de 2018

O FEIRANTE E O CAFEZINHO COM GOSTO DE DIGNIDADE


Tom Simões, tomsimoes@hotmail.com, Santos (São Paulo, Brasil), março 2018




Ele sempre tem algo de novo a me contar, toda semana. Tem o dom de me servir fatias de sua felicidade com coisas muito simples, que passam despercebidas por muita gente. 


ÀS SEXTAS-FEIRAS, é sempre esse moço que me atende, muito gentilmente, na barraca de frutas da feira-livre. Como de costume, dá pra prosear um pouco com o rapaz, que é alegre, concentrado e bastante responsável. Nesta sexta, ele me contou em detalhes, radiante, sobre o cafezinho que tomara numa casa bonita de café. Por sua emoção, senti ser sua primeira vez numa dessas cafeterias da moda. Foi assim: ele passava de bicicleta pela cafeteria e se deliciou com o cheirinho que brotava do local. “Ah! Aquilo tudo foi uma tentação pra mim. Não resisti. Apesar do preço que paguei, valeu muito a pena! Mas como é danado de caro um cafezinho como aquele!” Daí, descreveu-me minuciosamente o seu extraordinário momento de prazer. “Antes, ofereceram-me um copinho de água com gás, pra eu poder saborear melhor o café” (segundo consta, a água gasosa serve para limpar e ativar as papilas gustativas, valorizando ao máximo o sabor do café). Seu semblante, ao me contar sua ‘aventura’ era de satisfação incontida. Certamente, tal momento de felicidade ainda se mantinha vivo no dia seguinte e deve perdurar por um bom tempo. Talvez se perpetue no arquivo de sua alma, na gaveta dos ‘momentos felizes’. A memória ainda pode lhe propiciar incontáveis cafezinhos. Para ele, que não pode se dar a esse luxo com frequência, a experiência se conectou à sua dignidade, ao fato de sentir-se igual a todo mundo... O rapaz teve seu momento de acesso a um dos ‘luxos’ da classe média. Fiquei muito feliz ao vê-lo tão radiante! Seu semblante expressava não só alegria, mas uma espécie de superação... Ele não parava de narrar, efusivamente, o momento extraordinário da sua vida. E, então, pensei como ‘passamos batido’ por aqueles que podem ser importantes momentos de sintonia com o aqui-agora, como ignoramos o valor de coisas simples por estarmos acostumados a tê-las, e ficamos querendo sempre mais, passando à margem da generosidade do mundo que também nos oferece o bom e o belo nos pequenos detalhes... Você já se percebeu experimentando um tão vívido momento de felicidade em uma casa de café? Pense como esta e outras circunstâncias podem se tornar especiais se caminharmos mais atentos e nos abrirmos para o ‘Agradecimento’. O rapaz então tomou a sua água com gás e o cafezinho,  mas sem acompanhamento: pãozinho de queijo, broa ou um pedaço de bolo... já seria demais para o seu bolso! Seria requintar o luxo! Tenho um carinhoso respeito e admiração por esse moço e por tudo o que ele, sem imaginar, me ensina! Se lhe dedicassem minutos de atenção, muitos poderiam experimentar também gomos de felicidade, doces e de graça, com as ricas histórias e a humildade do moço da barraca de frutas. De um simples cafezinho; de um caroço de uma fruta nobre, que trincou seu dente; e outros interessantes enredos..., o moço da feira tá sempre de cara feliz! Eu já chego sorrindo...


         ·         Revisão do texto: Roberto da Graça Lopes e Márcia Navarro Cipólli


2 comentários:

  1. Sim.... aprendemos muito com pessoas simples, mas precisa haver uma sintonia entre ambas para que os sentimentos aflorem. E com você isso é muito fácil .

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  2. Palavras generosas. Obrigado meu irmão!

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