Ele sempre
tem algo de novo a me contar, toda semana. Tem o dom de me servir fatias de sua
felicidade com coisas muito simples, que passam despercebidas por muita gente.
ÀS
SEXTAS-FEIRAS, é sempre esse moço que me atende, muito gentilmente, na barraca
de frutas da feira-livre. Como de costume, dá pra prosear um pouco com o rapaz,
que é alegre, concentrado e bastante responsável. Nesta sexta, ele me contou em
detalhes, radiante, sobre o cafezinho que tomara numa casa bonita de café. Por
sua emoção, senti ser sua primeira vez numa dessas cafeterias da moda. Foi
assim: ele passava de bicicleta pela cafeteria e se deliciou com o cheirinho
que brotava do local. “Ah! Aquilo tudo foi uma tentação pra mim. Não resisti.
Apesar do preço que paguei, valeu muito a pena! Mas como é danado de caro um
cafezinho como aquele!” Daí, descreveu-me minuciosamente o seu extraordinário
momento de prazer. “Antes, ofereceram-me um copinho de água com gás, pra eu
poder saborear melhor o café” (segundo consta, a água gasosa serve para limpar
e ativar as papilas gustativas, valorizando ao máximo o sabor do café). Seu
semblante, ao me contar sua ‘aventura’ era de satisfação incontida. Certamente,
tal momento de felicidade ainda se mantinha vivo no dia seguinte e deve
perdurar por um bom tempo. Talvez se perpetue no arquivo de sua alma, na gaveta
dos ‘momentos felizes’. A memória ainda pode lhe propiciar incontáveis
cafezinhos. Para ele, que não pode se dar a esse luxo com frequência, a
experiência se conectou à sua dignidade, ao fato de sentir-se igual a todo
mundo... O rapaz teve seu momento de acesso a um dos ‘luxos’ da classe média.
Fiquei muito feliz ao vê-lo tão radiante! Seu semblante expressava não só
alegria, mas uma espécie de superação... Ele não parava de narrar,
efusivamente, o momento extraordinário da sua vida. E, então, pensei como
‘passamos batido’ por aqueles que podem ser importantes momentos de sintonia
com o aqui-agora, como ignoramos o valor de coisas simples por estarmos
acostumados a tê-las, e ficamos querendo sempre mais, passando à margem da
generosidade do mundo que também nos oferece o bom e o belo nos pequenos
detalhes... Você já se percebeu experimentando um tão vívido momento de
felicidade em uma casa de café? Pense como esta e outras circunstâncias podem
se tornar especiais se caminharmos mais atentos e nos abrirmos para o ‘Agradecimento’.
O rapaz então tomou a sua água com gás e o cafezinho, mas sem acompanhamento: pãozinho de queijo,
broa ou um pedaço de bolo... já seria demais para o seu bolso! Seria requintar
o luxo! Tenho um carinhoso respeito e admiração por esse moço e por tudo o que
ele, sem imaginar, me ensina! Se lhe dedicassem minutos de atenção, muitos
poderiam experimentar também gomos de felicidade, doces e de graça, com as
ricas histórias e a humildade do moço da barraca de frutas. De um simples
cafezinho; de um caroço de uma fruta nobre, que trincou seu dente; e outros
interessantes enredos..., o moço da feira tá sempre de cara feliz! Eu já chego
sorrindo...
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Revisão
do texto: Roberto da Graça Lopes e Márcia Navarro Cipólli
Sim.... aprendemos muito com pessoas simples, mas precisa haver uma sintonia entre ambas para que os sentimentos aflorem. E com você isso é muito fácil .
ResponderExcluirPalavras generosas. Obrigado meu irmão!
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