segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Amor Incondicional: o melhor conceito

Tom Simões, jornalista, tomsimoes@hotmail.com, Santos (São Paulo, Brasil), setembro 2017

JÁ ENCONTREI definições variadas sobre o amor. Não o amor corriqueiro, movido pela troca de interesses pessoais; alimentar expectativas de felicidade em função do retorno de outras pessoas pode ser frustrante. Mas, o amor verdadeiro, esse sentimento amoroso compartilhado serena e desinteressadamente, a todos indistintamente. Quem o experiencia é certamente alguém que cultiva o amor próprio, que desabrocha o seu ‘Deus interior’.
 A autoestima é a capacidade de gostar de si mesmo, de se sentir bem, feliz e confiante, mesmo quando as circunstâncias são desfavoráveis, pela prática da tolerância, do entendimento e do estado de paz interior (meditação). Porque prazer não é sinônimo de felicidade. ‘Serenidade’, sim, é o estado permanente de felicidade. Tudo o que uma pessoa atinge com a maturidade, a cada resto do primitivo sentimento de onipotência superado com a sua experiência, contribui para solidificar o sentimento puro dentro de si, ou seja, para fazer desabrochar a presença divina dentro de si, o ‘Deus interior’. Alguém citou: ‘Eu não devo buscar deuses exteriores, mas o ‘Deus interior’, o eterno dentro de mim’.

Isso não significa que uma pessoa centrada na sua solitude, completa em si mesma, não possa fazer amigos. Na verdade, só uma pessoa como essa pode fazer amigos, porque agora isso não é mais uma necessidade, é só um compartilhar. VOCÊ TEM TANTO, QUE PODE COMPARTILHAR. “Solitude é o estado de privacidade de uma pessoa, não significando, propriamente, estado de solidão. Solitude é o isolamento ou reclusão voluntário, quando o indivíduo busca estar em paz consigo mesmo. Diferente da solidão que, em sua essência, é o estado emocional do indivíduo que deseja ardentemente uma companhia e não a tem. Um indivíduo pode estar cercado de amigos, em meio a um salão de festas muito animado, e ainda assim estar corroído pela solidão. Em alguns casos, o indivíduo escolhe isso pelas experiências que lhe foram desagradáveis em algum tempo atrás. Sendo então a solitude uma maneira de evitar que o mesmo incidente ocorra novamente”, descreve a Wikipédia, a enciclopédia livre.
Para encontrar o Divino dentro de si, você vai ter que se desamarrar de todos os conceitos que lhe foram dados do lado de fora, porque Deus não é uma pessoa’, inspira-nos Osho, o grande filósofo indiano. “A imagem de Deus não existe, nenhuma estátua é possível. Deus é uma experiência! Se você tiver a ideia de um Deus que seus pais e sua sociedade têm dado a você, você vai absorver essa ideia, que será um obstáculo, impedindo-lhe que seja o que é, verdadeiramente.”

Para o mestre Osho, Deus é um acontecimento! “Se você estiver em silêncio, aberto, amoroso para o seu próprio ser, com a consciência desperta, Deus vai acontecer. A qualquer momento, quando estiver na sintonia certa com a Existência, isso vai acontecer. Deus está lá, você está lá. Apenas a sintonia certa. Abandonar todas as ideologias ajuda-o a ficar devidamente atento. E uma vez que esteja em sintonia com a Existência, isso é ‘felicidade’. Você chegou em casa, em seu interior, transformando-o num templo divino.”

E quando isto acontece, não há como ser diferente. Ao experienciar o Divino dentro de si, o homem iluminado simplesmente dá. Não porque ele queira receber algo de você – você não tem nada para lhe dar, ensina Osho. “O que você tem para lhe dar? Ele dá porque tem muito a dar, está sobrecarregado. Ele dá porque é como uma nuvem de chuva, tão cheia de chuva que tem de chover. Não importa onde, sobre o quê – sobre rochas, sobre o solo bom, sobre jardins, sobre o oceano... Isso não tem a menor importância. A nuvem simplesmente quer se descarregar. O homem iluminado é simplesmente uma nuvem de chuva. Ele lhe dá amor; não para receber de volta. Ele o compartilha e lhe fica agradecido porque você lhe deu essa oportunidade; porque você estava suficientemente aberto, disponível, vulnerável; porque não o rejeitou quando ele estava pronto para despejar todas as suas bênçãos sobre você; porque você abriu seu coração e recebeu tanto quanto estava dentro da sua capacidade."
O filósofo indiano conduz essa ideia com grande sabedoria. Desde que eu descobri este Ensinamento, guardo-o como um tesouro dentro de mim, tentando aplicá-lo cotidianamente:

“VOCÊS não precisam sequer ser gratos pelo meu amor, porque o meu amor é a própria recompensa. Em vez de vocês se sentirem gratos, eu é que sou grato por vocês aceitarem o meu amor e não rejeitá-lo. Vocês poderiam tê-lo rejeitado, têm esse direito. Quando conheci a mim mesmo, conheci um significado totalmente diferente da responsabilidade. Ela não é uma questão de dever; é uma questão de compartilhamento. Você tem tanto amor e tanto êxtase que gostaria de compartilhá-los. E quem quer que esteja pronto para recebê-lo terá a sua gratidão. Ele é um presente, e não tem causa na pessoa a quem você o está dando. Você o está dando porque se sente pleno; você está transbordando. No momento em que você conhecer a si mesmo em toda a sua totalidade, pela primeira vez você será capaz de ser altruísta, compassivo, amoroso, bondoso, generoso.” Esta é a chave do amor incondicional.

Nesta linha de pensamento, encaixa-se sabiamente o filósofo Mário Sérgio Cortella, ao dizer:


“Eu preciso transbordar, ir além da minha borda, preciso me comunicar, preciso me juntar, preciso me repartir. Nesta hora, minha vida que, sem dúvida, ela é curta, eu desejo que ela não seja pequena”.


Sócrates considerava o amor como condição necessária para a autorrealização, processo pelo qual nos tornamos seres mais humanos. “O amor não é o conjunto de emoções (sensações corporais) que a pessoa sente por outra ou por algo, mas o ato de decidir pelo bem ou a favor de outrem ou de algo, independente das circunstâncias. As sensações físicas surgem como consequência da decisão de amar. Muitos estudiosos entendem que as sensações da atração física que uma pessoa sente por outra não podem ser chamadas de amor, ou de algum tipo de sentimento, mas apenas emoções (sensações corporais) consequentes do instinto que leva uma pessoa a sentir atração por outra.”


O ato de compartilhar, ditado por Osho

Segundo o filósofo, o amor é a única religião, o único Deus, o único mistério que tem de ser vivido, compreendido. Quando o amor for compreendido, você terá compreendido todos os sábios e todos os místicos do mundo. Isto é maravilhoso!

As pessoas comuns acham que elas estão compartilhando, mas elas não têm nada para compartilhar – nenhuma poesia no coração, nenhum amor. Na verdade, quando elas dizem que querem compartilhar, não querem dar nada, porque não têm nada para dar. Elas estão em busca de alguém que lhes dê algo, e o outro está no mesmo barco. Ele está procurando tirar algo de você, e você está tentando tirar algo dele. Ambos estão, de certo modo, tentando roubar algo do outro, ensinava o sábio.
Quando a pessoa é totalmente livre, essa liberdade torna possível o compartilhamento. Ela dá muito de si, mas sem que isso seja uma necessidade; dá muito de si, mas não faz disso um comércio. Ela dá muito de si porque tem muito para dar. Ela dá muito de si porque gosta de se dar.
Osho distingue dois tipos de amor. Um é o amor que acontece quando você está se sentindo solitário: por necessidade, você busca o outro. O outro amor surge quando você não está se sentindo solitário, apenas só. No primeiro caso, você sai em busca de alguma coisa; no segundo, você sai em busca de dar alguma coisa.

Como escreve Paul Tillich, teólogo e filósofo da religião: “A linguagem criou a palavra solidão para expressar a dor de estar sozinho. E criou a palavra solitude para expressar a glória de estar sozinho”.

“A capacidade de estar sozinho é a capacidade de amar. Pode parecer paradoxal para você, mas não é. Trata-se de uma verdade existencial: só as pessoas capazes de ficar sozinhas são capazes de amar, de compartilhar, de mergulhar no âmago mais profundo da outra pessoa – sem possuir o outro, sem se tornar dependente dele, sem reduzir o outro a um objeto, e sem ficar viciado no outro. Elas dão ao outro liberdade absoluta, pois sabem que, se o outro as deixar, elas serão felizes como são agora. A felicidade delas não pode ser levada pelo outro, pois não é concedida pelo outro. Elas adoram compartilhar; elas têm tanta alegria, que gostariam que essa alegria se derramasse sobre todas as pessoas. E sabem como tocar a vida como se ela fosse um instrumento solo”, pregava Osho.

Esta é assim uma ideia que tanto me agrada do verdadeiro amor, o amor incondicional, que alia a inteligência do coração, a razão e a espiritualidade, trazendo um novo significado para a vida por meio de conceitos que transcendem o imaginável. Trata-se o puro amor de um sentido de conexão com algo maior que si próprio. Quem já despertou a consciência nesse sentido, reconhece-se em Osho, em tudo que ele descreve, sabiamente!


     ·         Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli

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