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quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Aos Meus Eternos Amigos...

Tom Simões, tomsimoes@hotmail.com, agosto 2017




ENTRE DOIS AMIGOS inseparáveis, se o ponto de encontro permanente deixa de acontecer, os dois acabam se afastando naturalmente e, o que é pior, acostumando-se com a ausência do outro. Chico Xavier (médium, filantropo e um dos mais importantes expoentes do Espiritismo) enuncia: “Que eu não perca a vontade de ter grandes amigos, mesmo sabendo que, com as voltas do mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas”. Interessante observar, após um longo tempo sem rever o fiel amigo: nos reencontros, a sensação é de tê-lo visto ‘ainda ontem’. E haja emoção, refletida no longo e arrochado abraço!

E assim vai-se vivendo, com a saudade e a esperança de um reencontro, essa esperança que requer certa perseverança, acreditando que é possível, mesmo quando há indicações do contrário. ‘Precisamos nos ver, hein, vamos marcar!’... 

Há algo, porém, que, mesmo com a distância, é esculpido entre as duas almas gêmeas, no plano espiritual; isso nunca se perde. “Quanto te separares de um amigo, não te preocupes, pois o que tu amas nele pode tornar-se mais claro com a tua ausência, assim como para o alpinista a montanha aparece mais clara vista da planície”, escreve Khalil Gibran (ensaísta, filósofo, prosador, poeta, conferencista e pintor de origem libanesa).


Fabrício Carpinejar (poeta, cronista e jornalista) também escreve sobre eles: “Os amigos são próprios de fases: da rua, do Ensino Fundamental, do Ensino Médio, da faculdade, do futebol, da poesia, do emprego, da dança, dos cursos de inglês, da capoeira, da academia, do blog. Significativos em cada etapa de formação. Não estão em nossa frente diariamente, mas estão em nossa personalidade, determinando, de modo imperceptível, as nossas atitudes. Quantas juras foram feitas em bares a amigos, bêbados e trôpegos? Amigo é o que fica depois da ressaca. É glicose no sangue. A serenidade”.  

A psicanalista Anna Veronica Mautner faz outra interessante observação em sua crônica ‘Amizade é tudo(Folha de S.Paulo, 11/8/2017): “No tempo em que as famílias eram grandes, bastava a presença dos primos, dos dois lados, para se ter uma festa. [...] Já vai longe o tempo em que primos entre si enchiam o salão e até a igreja em dia de batizado ou casamento. Amigos então eram um anexo; hoje os primos é que são os anexos. Surgiram assim novas conexões afetivas, sendo a amizade a mais importante delas. Não é que não existisse amizade, mas ela era eventual. Essa situação moderna, de ausência de numerosos primos, ampliou o espaço da amizade. Hoje, amizade é tudo. Amizade é modernidade”. Amizade é afeto, atenção, carinho, lealdade, mútua proteção; tudo o que antigamente era função obrigatória dos membros da família, garante a articulista.

Com a vida moderna, os primos vão morar em outras cidades, em outros países. Já os amigos, eles estão sempre muito próximo, convivem entre si diariamente no trabalho, no esporte, em outros lugares onde se encontram com objetivos comuns.

Amigos pousam determinado tempo em nossa vida. Ficamos com eles o tempo necessário para uma troca produtiva. Eu me sinto abençoado, com a facilidade de fazer amigos. Penso que essas pessoas especiais chegam na hora certa, preenchendo-nos completamente por entusiasmo e confiança. Precisamos dessa confiança para trocar confidências, amar incondicionalmente e sentir-nos valorizados. Com elas, compartilhamos nosso tempo, ideias e crenças. “Às vezes, emprestar um ouvido não crítico pode ajudar mais do que tentar resolver a situação. Isso é o que une verdadeiramente as pessoas”, alinhava Gary Small, psiquiatra da Universidade da Califórnia. É com os amigos que costumamos falar mais abertamente, fazendo uma espécie de terapia, de confissão. Por medo ou vergonha de se abrir, as pessoas perdem a oportunidade de desabafar algo que consome caladamente sua vida, que certamente o fiel amigo compreende e pode ajudar muito, ainda que no silêncio, sem nada dizer. É torturante quando alguém guarda um segredo que precisa desabafar, mas não sabe como se expressar, com quem conversar ou em quem confiar.

Amigo de verdade não vê defeito no parceiro, prende-se apenas ao bem que o outro lhe faz, supervalorizando-o. Ele agrega valor à nossa vida. Miguel de Unamuno (ensaísta, romancista, dramaturgo, poeta e filósofo espanhol) conduz oportunamente essa ideia: “Cada novo amigo que ganhamos no decorrer da vida aperfeiçoa-nos e enriquece-nos, não tanto pelo que nos dá, mas pelo que nos revela de nós mesmos”.  

Amigo é uma palavra forte, algo que antes deve ser sentido, do que compreendido intelectualmente. Amigo transforma nossa existência, tornando-a mais enriquecida e digna de ser vivida.


                ·         Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli

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