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quinta-feira, 20 de julho de 2017

Conversas pobres...

“Não fale, a menos que possa melhorar o silêncio.” (filosofia Zen)

Tom Simões, tomsimoes@hotmail.com, Santos (São Paulo, Brasil), julho 2017




SEM O HÁBITO da leitura, pessoas perdem a oportunidade de se tornarem mais interessantes, mais acolhidas, mais produtivas, menos inoportunas... Assim, é importante que nós, leitores assíduos, nos tornemos instrumentos de incentivo à leitura.

Milhares de pessoas acreditam que ler é difícil, ler é chato, ler dá sono, e com isso atrasam seu desenvolvimento, atrofiam suas ideias, dão de comer a seus preconceitos, sem imaginar o quanto a leitura as libertaria dessa vida estreita. Ler civiliza”, escreve Martha Medeiros, 55, jornalista, escritora, aforista e poetisa gaúcha.

Eu imagino que os próprios sacerdotes, por exemplo, poderiam despertar em seus fieis o interesse pela leitura. Há ali uma multidão atenta em seus sermões! No ambiente de trabalho é possível também trabalhar-se esse produtivo hábito com os colegas; não custa tentar. Uma novela que outra, através de um agradável personagem, contribuiria bastante nesse sentido.

Há outras oportunidades para aumentar o conhecimento: centros espíritas, por exemplo, costumam ministrar palestras semanais sobre autoconhecimento e espiritualidade, que levam à autorreflexão, e a Loja Rosacruz de Santos, outro exemplo, tem práticas de meditação às sextas-feiras e sábados no final da tarde. Ambas as atividades estão abertas ao público, independentemente de crenças. Casas assistenciais e igrejas, por exemplo, também são locais adequados para leitores assíduos poderem trabalhar voluntariamente, incentivando a leitura e compartilhando o seu conhecimento.




Gen Kelsang Tsultrim, 67, monge budista, diz que o caminho para a felicidade é sair da ignorância. “E, para isso, é preciso ampliar a sabedoria. Uma árvore forte e saudável surge da raiz. Se essa raiz é fortalecida, a árvore vai ter caule, tronco, folhas e frutos saudáveis. Agora, se ela estiver abalada ou meio doentia, enfraquece tudo. Conosco é a mesma coisa. Se a raiz do sofrimento, que chamamos de ignorância, começa a enfraquecer, tudo começa a ficar mais fraco. A dica, então, é essa: comece a aumentar a sua sabedoria. O benefício é imediato. À medida que você vai aumentando a sua sabedoria, seja lendo um livro, indo a uma palestra ou meditando, certamente vai enfraquecer a raiz dos problemas”, orienta o monge.

Penso que a melhor forma de incentivar uma pessoa ao hábito da leitura é oferecer-lhe textos e livros adequados com os quais ela se identifique. Uma página de leitura por dia: esta é a minha sugestão, até que se crie o hábito. Com o tempo, o futuro leitor poderá ir aumentando o interesse; nesse sentido, é importante avaliar o seu desempenho, estimulando-o. “A pessoa que pôde mover a montanha começou movendo as pequenas pedras”, brinda-nos a filosofia Zen.

Conversas pobres

“Tudo aquilo que o homem ignora não existe para ele. Por isso, o universo de cada um se resume no tamanho de seu saber”, registrou Albert Einstein.

As pessoas, de maneira geral, costumam falar de si próprias, sua família, amigos, vizinhos e outros casos particulares. Falam demasiadamente sobre os seus problemas e experiências, dando ao interlocutor pouca chance de se manifestar. E isso se transforma em algo entediante, improdutivo, deixando o interlocutor desinteressado e com vontade de se livrar de algo que não acrescenta nada para ambas as partes.

Quem fala muito de si próprio torna-se repetitivo. Sem repertório para abordar conversas interessantes, repete suas histórias, não raramente recheadas de queixas e insatisfações. A pessoa que fala muito de si própria torna-se chata, não só pela obviedade e previsibilidade, como também pela falta de conteúdo de suas afirmações. Ela chega a causar incômodo ou tédio em seu interlocutor.

Se essa pessoa não envereda pelo caminho do conhecimento, que exercite então a prática do silêncio, evitando falar de si mesma e fazer comentários alheios, dispensáveis. É notório existirem pessoas que falam de si próprias de forma enriquecedora, compartilhando experiências pessoais capazes de motivar mudanças positivas de comportamento no interlocutor. Certamente, pessoas extraordinárias assim têm amplo interesse em conhecer a experiência e opinião do outro, educando-o de alguma forma e até mesmo se enriquecendo com aquela troca produtiva. Como é surpreendente encontrar pessoas com formação básica escolar que são apaixonadas pela leitura. E o que dizer de pessoas que não têm o hábito de ler, nem formação básica escolar, e são tão sábias!

Pessoas exaustivas nos levam a evitá-las. E, não raramente, nos sentimos desconfortáveis em não lhes dar a devida atenção. Incomoda-me pensar que sejam cansativas sem o saberem, levando até mesmo alguns de seus interlocutores a caçoarem delas.

“PROGREDIMOS muito mais escutando do que falando. O provérbio diz: ‘Você tem dois ouvidos e uma boca’, o que quer dizer que deve escutar duas vezes mais do que falar. A palavra nos transforma porque nos obriga a precisar nossas ideias, mas a escuta é ainda mais poderosa, porque nos abre para outros universos além do nosso”, relatam Christophe André (psiquiatra, pioneiro na introdução da meditação na psicoterapia), Alexandre Jollien (filósofo) e Matthieu Ricard (monge budista), em “O Caminho da Sabedoria”. 

Transformemos então nossos bate-papos informais em conversas mais inteligentes. Vamos, na medida do possível, incentivar o hábito da leitura em locais apropriados, oferecendo textos e livros adequados a possíveis interessados. Já conscientes do valor da boa leitura, temos sim responsabilidade de trabalhar nesse sentido. É muito gratificante compartilhar o bem que a leitura nos faz.

Buscar o conhecimento e compartilhá-lo com o leitor tem sido para mim uma jornada extraordinária. “Desejara apenas cumprir um dever cívico durante as horas de folga”, escreve o sábio indiano Paramahansa Yogananda, em sua memorável obra “Autobiografia de um Iogue”.

“Livros são, para mim, a melhor invenção humana. Livros abriram minha cabeça, me ajudaram a entender melhor quem eu amo, a compreender e conviver com quem tolero, a sobreviver diante das minhas maldições, a ser um profissional mais habilidoso, técnico e competente. Livros me lembram - todo o tempo - o quanto precisamos ser sensíveis numa tempestade de excessos, inclusive de informações, que nos induz a confundir achismo com argumento, debate com ganhar a conversa, liberdade de expressão com exercício de intolerância, diversidade com maniqueísmo”, escreve o jornalista Marcus Vinicius Batista,  http://conversasedistracoes.blogspot.com.br/2017/07/o-remedio-da-proxima-pagina.html

Não use seu tempo procurando coisas pequenas. Não se satisfaça com algo que seja menos do que o maior”, alguém citou sabiamente. Cristovão Tezza, escritor brasileiro, também nos inspira:O ato de ler nos modifica, e é por essa razão que ele faz sentido”. Despertemos nesse sentido!



             ·         Revisão gramatical: Márcia Navarro Cipólli

2 comentários:

  1. “SIMPLIFICAR nossas palavras, evitando fazer da nossa boca um moinho de conversas inúteis que giram sem parar. As palavras que escapam dos nossos lábios às vezes têm consequências pesadas.”

    Fonte: ‘O Caminho da Sabedoria’, Christophe André (psiquiatra, pioneiro na introdução da meditação na psicoterapia), Alexandre Jollien (filósofo) e Matthieu Ricard (monge budista)

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  2. “ESTAR PRESENTE diante do outro representa uma prática à qual me obrigo. Da melhor forma possível, quando estou com alguém, tento verdadeiramente lhe dar atenção, ainda mais que minha disponibilidade para o outro é limitada. Após certo tempo, os outros me cansam – não é que me incomodem, mas preciso de solidão, de tranquilidade. Daí a importância de estar com a pessoa por inteiro, mesmo que seja rapidamente. [...] Hoje, entendi que não posso fazer milagres, mas, se eu fizer o esforço de permanecer centrado neles durante os poucos minutos que dura esse troca, isso talvez lhes traga um pouco de energia, de coragem e de reconforto.” (dito por Christophe André)

    Fonte: ‘O Caminho da Sabedoria’, Christophe André (psiquiatra, pioneiro na introdução da meditação na psicoterapia), Alexandre Jollien (filósofo) e Matthieu Ricard (monge budista)

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