“Não fale, a menos que possa melhorar o
silêncio.” (filosofia Zen)
Tom Simões, tomsimoes@hotmail.com,
Santos (São Paulo, Brasil), julho 2017
SEM O
HÁBITO da leitura, pessoas perdem a oportunidade de se tornarem mais
interessantes, mais acolhidas, mais produtivas, menos inoportunas... Assim, é
importante que nós, leitores assíduos, nos tornemos instrumentos de incentivo à
leitura.
“Milhares de pessoas acreditam que ler é
difícil, ler é chato, ler dá sono, e com isso atrasam seu desenvolvimento,
atrofiam suas ideias, dão de comer a seus preconceitos, sem imaginar o quanto a
leitura as libertaria dessa vida estreita. Ler civiliza”, escreve Martha
Medeiros, 55, jornalista, escritora, aforista e poetisa gaúcha.
Eu
imagino que os próprios sacerdotes, por exemplo, poderiam despertar em seus
fieis o interesse pela leitura. Há ali uma multidão atenta em seus sermões! No
ambiente de trabalho é possível também trabalhar-se esse produtivo hábito com
os colegas; não custa tentar. Uma novela que outra, através de um agradável
personagem, contribuiria bastante nesse sentido.
Há
outras oportunidades para aumentar o conhecimento: centros espíritas, por
exemplo, costumam ministrar palestras semanais sobre autoconhecimento e
espiritualidade, que levam à autorreflexão, e a Loja Rosacruz de Santos, outro
exemplo, tem práticas de meditação às sextas-feiras e sábados no final da
tarde. Ambas as atividades estão abertas ao público, independentemente de
crenças. Casas assistenciais e igrejas, por exemplo, também são locais
adequados para leitores assíduos poderem trabalhar voluntariamente,
incentivando a leitura e compartilhando o seu conhecimento.
Gen
Kelsang Tsultrim, 67, monge budista, diz que o caminho para a felicidade é sair
da ignorância. “E, para isso, é preciso
ampliar a sabedoria. Uma árvore forte e saudável surge da raiz. Se essa raiz é
fortalecida, a árvore vai ter caule, tronco, folhas e frutos saudáveis. Agora,
se ela estiver abalada ou meio doentia, enfraquece tudo. Conosco é a mesma
coisa. Se a raiz do sofrimento, que chamamos de ignorância, começa a
enfraquecer, tudo começa a ficar mais fraco. A dica, então, é essa: comece a
aumentar a sua sabedoria. O benefício é imediato. À medida que você vai
aumentando a sua sabedoria, seja lendo um livro, indo a uma palestra ou
meditando, certamente vai enfraquecer a raiz dos problemas”, orienta o
monge.
Penso
que a melhor forma de incentivar uma pessoa ao hábito da leitura é oferecer-lhe
textos e livros adequados com os quais ela se identifique. Uma página de
leitura por dia: esta é a minha sugestão, até que se crie o hábito. Com o
tempo, o futuro leitor poderá ir aumentando o interesse; nesse sentido, é
importante avaliar o seu desempenho, estimulando-o. “A pessoa que pôde mover a montanha começou movendo as pequenas pedras”,
brinda-nos a filosofia Zen.
Conversas
pobres
“Tudo
aquilo que o homem ignora não existe para ele. Por isso, o universo de cada um
se resume no tamanho de seu saber”, registrou Albert Einstein.
As
pessoas, de maneira geral, costumam falar de si próprias, sua família, amigos,
vizinhos e outros casos particulares. Falam demasiadamente sobre os seus
problemas e experiências, dando ao interlocutor pouca chance de se manifestar.
E isso se transforma em algo entediante, improdutivo, deixando o interlocutor
desinteressado e com vontade de se livrar de algo que não acrescenta nada para ambas
as partes.
Quem
fala muito de si próprio torna-se repetitivo. Sem repertório para abordar
conversas interessantes, repete suas histórias, não raramente recheadas de
queixas e insatisfações. A pessoa que fala muito de si própria torna-se chata,
não só pela obviedade e previsibilidade, como também pela falta de conteúdo de
suas afirmações. Ela chega a causar incômodo ou tédio em seu interlocutor.
Se essa
pessoa não envereda pelo caminho do conhecimento, que exercite então a prática
do silêncio, evitando falar de si mesma e fazer comentários alheios,
dispensáveis. É notório existirem pessoas que falam de si próprias de forma
enriquecedora, compartilhando experiências pessoais capazes de motivar mudanças
positivas de comportamento no interlocutor. Certamente, pessoas extraordinárias
assim têm amplo interesse em conhecer a experiência e opinião do outro,
educando-o de alguma forma e até mesmo se enriquecendo com aquela troca
produtiva. Como é surpreendente encontrar pessoas com formação básica escolar
que são apaixonadas pela leitura. E o que dizer de pessoas que não têm o hábito
de ler, nem formação básica escolar, e são tão sábias!
Pessoas
exaustivas nos levam a evitá-las. E, não raramente, nos sentimos
desconfortáveis em não lhes dar a devida atenção. Incomoda-me pensar que sejam
cansativas sem o saberem, levando até mesmo alguns de seus interlocutores a
caçoarem delas.
“PROGREDIMOS
muito mais escutando do que falando. O provérbio diz: ‘Você tem dois ouvidos e
uma boca’, o que quer dizer que deve escutar duas vezes mais do que falar. A
palavra nos transforma porque nos obriga a precisar nossas ideias, mas a escuta
é ainda mais poderosa, porque nos abre para outros universos além do nosso”,
relatam Christophe André (psiquiatra, pioneiro na introdução da meditação na
psicoterapia), Alexandre Jollien (filósofo) e Matthieu Ricard (monge budista),
em “O Caminho da Sabedoria”.
Transformemos
então nossos bate-papos informais em conversas mais inteligentes. Vamos, na
medida do possível, incentivar o hábito da leitura em locais apropriados,
oferecendo textos e livros adequados a possíveis interessados. Já conscientes
do valor da boa leitura, temos sim responsabilidade de trabalhar nesse sentido.
É muito gratificante compartilhar o bem que a leitura nos faz.
Buscar
o conhecimento e compartilhá-lo com o leitor tem sido para mim uma jornada
extraordinária. “Desejara apenas cumprir
um dever cívico durante as horas de folga”, escreve o sábio indiano
Paramahansa Yogananda, em sua memorável obra “Autobiografia de um Iogue”.
“Livros são, para mim, a melhor invenção humana. Livros abriram minha
cabeça, me ajudaram a entender melhor quem eu amo, a compreender e conviver com
quem tolero, a sobreviver diante das minhas maldições, a ser um profissional
mais habilidoso, técnico e competente. Livros me lembram - todo o tempo - o
quanto precisamos ser sensíveis numa tempestade de excessos, inclusive de
informações, que nos induz a confundir achismo com argumento, debate com ganhar
a conversa, liberdade de expressão com exercício de intolerância, diversidade
com maniqueísmo”, escreve o jornalista Marcus Vinicius Batista, http://conversasedistracoes.blogspot.com.br/2017/07/o-remedio-da-proxima-pagina.html
“Não use seu tempo procurando coisas
pequenas. Não se satisfaça com algo que seja menos do que o maior”, alguém
citou sabiamente. Cristovão Tezza, escritor brasileiro, também
nos inspira: “O ato de ler nos modifica, e é por essa razão
que ele faz sentido”. Despertemos nesse sentido!
·
Revisão
gramatical:
Márcia Navarro Cipólli
“SIMPLIFICAR nossas palavras, evitando fazer da nossa boca um moinho de conversas inúteis que giram sem parar. As palavras que escapam dos nossos lábios às vezes têm consequências pesadas.”
ResponderExcluirFonte: ‘O Caminho da Sabedoria’, Christophe André (psiquiatra, pioneiro na introdução da meditação na psicoterapia), Alexandre Jollien (filósofo) e Matthieu Ricard (monge budista)
“ESTAR PRESENTE diante do outro representa uma prática à qual me obrigo. Da melhor forma possível, quando estou com alguém, tento verdadeiramente lhe dar atenção, ainda mais que minha disponibilidade para o outro é limitada. Após certo tempo, os outros me cansam – não é que me incomodem, mas preciso de solidão, de tranquilidade. Daí a importância de estar com a pessoa por inteiro, mesmo que seja rapidamente. [...] Hoje, entendi que não posso fazer milagres, mas, se eu fizer o esforço de permanecer centrado neles durante os poucos minutos que dura esse troca, isso talvez lhes traga um pouco de energia, de coragem e de reconforto.” (dito por Christophe André)
ResponderExcluirFonte: ‘O Caminho da Sabedoria’, Christophe André (psiquiatra, pioneiro na introdução da meditação na psicoterapia), Alexandre Jollien (filósofo) e Matthieu Ricard (monge budista)