Eu
imagino acompanhar essa etapa da vida do empresário... Curioso como estou,
sobre o que acontece com a mente do indivíduo numa circunstância como essa! Por
mais discutível que seja o seu caráter.
Imagem: http://oglobo.globo.com/brasil/pf-acha-dez-relogios-de-grife-na-casa-de-eike-batista-20860610
QUE ME
PERDOEM os revoltados, eternos insatisfeitos. Eu apreciaria que esses
‘negativistas de plantão’ parassem de esbravejar! Há algo circulando na rede social
que diz assim: “Se você quer chamar a atenção, faça algo para ser admirado. Com
o excesso de queixas, inconformismos, você se torna apenas um chato”. Eu
reforçaria: um ‘chato de galocha’. É claro que a mídia divulga comentários
produtivos, reveladores, cujos autores são especialistas das áreas que abordam;
há também pessoas esclarecidas que se manifestam. Em ambas as opiniões,
mostra-se uma visão contundente dos acontecimentos, que se diferencia pelo
saber e pela reflexão. Os chatos insuportáveis, de quem a gente não vê a hora
de sair de perto, acham-se costumeiramente superiores em seus comentários vazios,
movidos por um rancor desmedido.
Há na obra ‘Conhecimento da liberdade’, de autoria
de Tarthang Tulku, uma passagem que diz: “Podemos nos colocar à parte da
sociedade e criticar seu lado negativo, sem estarmos dispostos a contribuir com
qualquer energia positiva para mudar a situação. Afinal de contas, não se pode
mudar nada – as coisas sempre foram assim. Por que eu deveria perder o meu
tempo com isto?”.
“Autoconhecimento
significa conhecer a nossa limitação de momento a momento. Assim, uma mente que
não percebe a sua própria limitação nunca pode experimentar a verdade. O que é
ignorância não pode unir-se com a sabedoria. Cessem a ignorância que a sabedoria
surgirá. A sabedoria não é acumulação, que dá continuidade; a sabedoria é
compreensão do problema, compreensão completa. A cada instante percebemos o
falso e percebemos o verdadeiro. Mas perceber o falso como falso e o verdadeiro
como verdadeiro é dificílimo; requer muita clareza de percebimento. E para ver
o verdadeiro no falso é necessário agilidade da mente, uma mente que não esteja
presa por nenhum vínculo, por limitação nenhuma”, relata Jiddu Krishnamurti,
1895-1986, filósofo, escritor e educador indiano, em sua obra ‘Da insatisfação à felicidade’ (http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br/2013/10/como-transcender-mente-e-experimentar.html).
Há em ‘Flor do Dia’, escrito pelo filósofo
paulista Sri Prem Baba, algo com o que me identifico: “Quando eu olho para uma pessoa, não vejo se é homem ou mulher,
muito menos penso sobre qual é o seu partido político ou a sua religião. O que
eu vejo são almas. E observo se estão abertas para receber as sementes de amor.
Tenho tentado plantar sementes de amor em todos, inclusive nos políticos, não
importa de qual partido. Eu não me preocupo com partidos, me preocupo em
encontrar caminhos para melhorar a vida das pessoas. Meu intento é acordar os
valores necessários em todos os seres humanos”, escreve o filósofo.
Para
ele, “A injustiça cresce quando a compaixão se esvazia. Na sua origem, as
crises que estamos vivendo no país e no mundo são espirituais. Elas são um
reflexo do desvio do ‘dharma’, o propósito maior. Para um país se alinhar com o
seu ‘dharma’ é inevitável que o sistema político se alinhe também. E para que o
sistema político se alinhe, a população precisa se alinhar também, porque o
sistema político é um reflexo da população. Portanto, para o país se alinhar,
precisamos primeiro nos alinhar, pois o externo é um reflexo do interno.”
A prisão
de Eike Batista, 60, sem nenhuma regalia, é, assim, um prato cheio para os
maledicentes, com seus discursos repetidos e sua zombaria, alheios ao discurso
sensato, capaz de gerar a informação produtiva. O empresário é natural de Governador Valadares, Minas Gerais.
“O ser
humano tem a tendência a enxergar nos outros aquilo que existe em abundância em
seu íntimo, por isso pessoas de bom coração não veem a maldade ou a fartura de
defeitos e sordidez que os maledicentes sempre encontram. Infelizmente o mundo
não é cor-de-rosa e precisamos ter a consciência de que nem todos falam apenas
a verdade sobre os outros, pois, muitas vezes, distorcem os fatos ao seu
bel-prazer” (algo aqui oportuno, citado em http://www.vidarealdasam.com.br/2012/07/a-maledicencia.html).
Segundo ainda o link, temos o péssimo hábito de não questionar o que ouvimos ou
lemos. A gente lida com pessoas que criam sua própria realidade e, por mais que
tentemos lhes explicar que aquilo não existe ou está errado, não adianta,
continuam cegas para qualquer argumento.
Em
nenhuma das outras prisões de personalidades envolvidas com a corrupção no
Brasil, inspirei-me a escrever sobre a possível ‘humilhação’ por que tenham
passado os envolvidos, levados algemados por policiais e sendo manchete dos
principais veículos de comunicação do país. Na verdade, a ideia desse tipo de
‘humilhação’ passou sim pela minha cabeça, mas parou por ali.
“Sempre vejo um raio de luz na noite mais escura. E por mais escura que
a noite possa estar, há sempre uma possibilidade de o amanhecer estar bem
próximo”, observa Osho, filósofo indiano, em seu livro ‘Poder, Política e Mudança’.
Qual o significado da palavra ‘humilhação’?
Segundo o dicionário, é literalmente o ato de ser tornado humilde, ou diminuído de posição ou prestígio. Tem muito em comum com a emoção da vergonha. A humilhação não é uma experiência agradável, visto que costuma
diminuir a autoestima da pessoa que a sofre.
Creio eu, ser ‘humilhação’ a palavra mais forte para representar uma
figura antes “ilustre” sendo algemada por um policial. Por mais sem caráter que
seja o indivíduo, não há como ele não se sentir humilhado, como que sozinho no
fim do mundo. Daí, a imagem deles, com a cabeça baixa, de vergonha.
O caso
de Eike Batista leva-me a esta reflexão, a partir da entrevista que li, de
Felipe Santana, correspondente em Nova York da TV Globo, no dia 31/01/2017, com
o empresário no aeroporto e, a seu lado, no avião (http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/reporter-conta-como-foi-acompanhar-eike-batista-na-volta-ao-brasil.ghtml).
“O
sofrimento é o melhor remédio para acordar o espírito”, escreve Émile Zola,
1840-1902, escritor francês e um dos principais representantes do naturalismo
literário. É dele também: “A verdade marcha e nada conseguirá detê-la”. Agora é
a vez de Anatole France, 1844-1924, escritor, poeta e crítico francês, cujas
obras apresentam um conteúdo cético: “Muito aprendeu quem bem conheceu o
sofrimento”.
O
jornalista voou com ele até o Rio de Janeiro
Dizem
que “há mais a unir-nos do que pensamos”. “Num momento como este que estamos
vivendo, no qual a mente coletiva está vibrando no medo e no ódio, no qual há
muita confusão e conflito, é natural que essas vibrações também passem pelo seu
corpo. E quando isso acontece, um link entre o processo coletivo e o seu processo
pessoal ocorre sem que você possa compreender e elaborar. Então, tudo fica
muito confuso, e você é tomado por sentimentos negativos. Por isso eu tenho
insistido tanto na prática da auto-observação. Para transmutar o sofrimento,
seja ele oriundo da esfera coletiva ou da esfera pessoal, há que se ter uma
base sólida de estabilidade mental, que somente a auto-observação é capaz de
construir”, ensina Sri Prem Baba.
Ao se
aprofundar na prática da auto-observação, prossegue o filósofo, muitas vezes
você percebe que a sua tensão é pelo fato de estar brigando internamente com
alguém. “Você está sempre defendendo algum ponto de vista e criando estratégias
para ser aceito por esse alguém. Você está obstinadamente tentando atingir
algum objetivo. O seu corpo está aqui, mas a sua mente está nesse outro lugar,
onde não existe paz nem descanso. Isso é o inferno.”
Eike
Batista, que era considerado foragido, voltou dos EUA e se entregou à Polícia
Federal. O empresário indicou que vai colaborar com a operação da Lava Jato.
Ele é suspeito de ter pago US$ 16,5 milhões em propina ao ex-governador Sérgio
Cabral. O recolhimento de Eike a um presídio mostra um quadro que merece ampla
reflexão, como revela Uriel Villas Boas, um leitor da Folha de S. Paulo. Em 2012, Eike era o sétimo homem mais rico do
mundo, com estimados US$ 30 bilhões.
Como
revela outro leitor do citado veículo, José de Anchieta Nobre de Almeida,
advogado, “Apesar de toda a gravidade de nossa grande crise, estamos dando um
exemplo ao mundo de como combater e enfrentar a corrupção endêmica. As prisões
de lideranças políticas e de empresários, até agora efetuadas dentro dos
princípios legais, estão sendo vistas como uma salutar recuperação da
moralidade pública no Brasil. A curto e médio prazos, certamente isso terá
efeitos benéficos em nossa economia interna, bem como na externa, o que
permitirá nossa inserção positiva na atual geopolítica mundial”.
“No sábado (28 de janeiro), veio a
informação de que uma passagem Nova York - Rio de Janeiro havia sido comprada
no nome do empresário. Parecia ser a oportunidade final de conversar com o
homem que já foi o mais rico do Brasil e tinha sua prisão decretada por
suspeita de estar envolvido no esquema de corrupção do ex-governador do Rio de
Janeiro Sérgio Cabral”, conta o correspondente Felipe Santana.
Durante a conversa, ainda na área de
desembarque, várias outras pessoas se aproximaram para demonstrar
solidariedade, prossegue o correspondente. “O único comentário de desaprovação
foi o que foi ao ar nos telejornais. Um garoto passou e disparou: ‘Vai tomar
catuaba selvagem com teu colega Cabral?’, se referindo a Sérgio Cabral, preso
desde novembro, e a quem Eike teria pago propina. Eike foi plácido e sempre
muito respeitoso. Só se negou a comentar o que julgou poder complicar sua
situação com a polícia. Mas não decepcionou ao lançar a frase que seria o
título de várias matérias durante o dia: “Está na hora de ajudar a passar as
coisas a limpo". Dependendo de quem a ouvisse, poderia soar como um
recado, uma ameaça ou até uma declaração de impacto do mais midiático
empresário brasileiro. Foi a hora de ele começar a se portar como um mártir.
Como se desse sua liberdade em sacrifício – para a mudança de uma cultura do
empreendedorismo no país. Insinuou que para fazer negócio no país é preciso
pagar propina e elogiou a atuação do Ministério Público.
“Na
hora do embarque, uma situação cômica, que quase inspira piedade. O homem que
já foi o sétimo mais rico do mundo disputa, em leves movimentos de cotovelo, o
primeiro lugar na fila de embarque. E, quando entra, senta bem ao lado da
porta. Desde a hora em que senta, mexe no celular freneticamente. Roda as
conversas do WhatsApp e apaga alguns arquivos antigos. Mas não está conectado à
internet depois que o avião decola. Negou bebida, jantar. Tomou um comprimido
que parecia um calmante, mas que ele disse tratar-se de uma pastilha para o
estômago. Tomou dois grandes copos de leite puro e dormiu pela última vez livre
– ainda que confinado num avião. Estávamos nas alturas. Eike ainda poderia
sonhar com a época em que o Brasil era a bola da vez dos investidores
internacionais. Época em que o país foi capa da revista inglesa ‘The Economist’
com o Cristo decolando. Época em que Eike era o símbolo do Brasil que parecia
ter finalmente encontrado o futuro. Quem queria investir no Brasil procurava
pelas empresas X de Eike. Vendeu muito. E também muito gato por lebre.
Construiu um patrimônio pueril, de sonho e megalomania”, alinhava Felipe.
Até que ele acordou muito mais abatido do
que quando foi dormir. O jornalista perguntou-lhe o que se passava em sua
cabeça, mas nunca quis compartilhar um sentimento. Sob nossos pés estava a Rio
de Janeiro com sua Baía de Guanabara ainda imunda e favelas tomadas pela
violência. “No auge de sua carreira, Eike se colocou como benfeitor da cidade,
deu dinheiro para a instalação e manutenção das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e
prometeu que ajudaria no saneamento da cidade”, menciona Felipe.
Foi então que o avião pousou, e um
comissário, sem alarde, chegou perto de Eike. “Logo levantou. Na porta, um
policial federal. E a porta do avião se fechou de novo. Lá dentro, todos em
silêncio. Olhavam-se como se estivessem todos constrangidos. E o jornalista nem
teve tempo de responder à pergunta que ele lhe fez: “Você tá nesse voo só por
causa de mim?”.
‘Poder,
Política e Mudança’
Na visão de
Osho, os tempos de desastre o tornam consciente da realidade como ela é. “A
vida é sempre frágil; todos estão sempre em perigo. Em tempos normais você
‘dorme’ profundamente e por isso não o percebe. Continua sonhando, imaginando
belas coisas para os próximos dias, para o futuro. Mas, nos momentos em que o
perigo é iminente, então de repente você toma consciência de que pode não haver
futuro, não haver amanhã, e que este é o único momento que você tem. Então, os
tempos de desastre são muito reveladores – eles não trazem nada de novo ao
mundo; eles simplesmente o tornam consciente do mundo como ele é. Eles acordam
você. Se você não entender isso, pode enlouquecer; se entender, pode
despertar”.
Para esse
filósofo indiano, as pessoas são totalmente inconscientes de que podem fazer
qualquer coisa para manter o seu poder, a sua respeitabilidade – mesmo que isso
signifique explodir o mundo todo. “Podem arriscar qualquer coisa para salvar o
seu ego. E essas são as pessoas que naturalmente atingem as posições de poder,
porque são os únicos buscadores do poder. Nenhuma pessoa criativa, inteligente,
busca poder. Nenhuma pessoa inteligente está interessada em dominar os outros.
Seu principal interesse é conhecer a si mesma. Por isso, as pessoas com a mais
alta qualidade de inteligência buscam o misticismo e as mais medíocres buscam o
poder. Esse poder pode ser material, político; pode vir do dinheiro, pode vir
de manter dominação espiritual sobre milhões de pessoas, mas a compulsão básica
é dominar cada vez um número maior de pessoas”.
Você diz que os políticos estão explorando e enganando as pessoas,
reflete o filósofo. “Mas às vezes parece que você está falando sobre eles como
se fossem uma raça diferente vinda do espaço sideral para nos dominar. Meu
entendimento, por outro lado, é que esses políticos saem do meio de nós; nós
somos totalmente responsáveis pelo que fazem, e nos queixarmos deles seria como
nos queixarmos de nós mesmos. Não há um político oculto entre nós? Os políticos
certamente não vêm do espaço sideral; eles se desenvolvem entre nós. Também
temos a mesma cobiça de poder, a mesma ambição de ser mais santo que os outros.
Eles são as pessoas mais bem-sucedidas no que se refere a ambições e desejos.
Certamente nós somos responsáveis, mas é um círculo vicioso; não somos os
únicos responsáveis. Como os sacerdotes, os políticos continuam condicionando
as novas gerações às mesmas ambições; eles constroem a sociedade, cultivam a
mente das pessoas e seu condicionamento. Eles são também responsáveis – e são
mais responsáveis do que as pessoas comuns, porque as pessoas comuns são
vítimas de todos os tipos de programas que estão sendo impostos a elas”.
Vá até qualquer sede do parlamento e observe os políticos, sugere Osho.
“Todos os políticos que estão no poder, e todos os políticos que não estão no
poder – eles são todos iguais. Aqueles que estão no poder parecem ser
reacionários porque chegaram ao poder e agora querem protegê-lo. Agora querem
mantê-lo em suas mãos; assim, parecem ser o ‘establishment’. Aqueles que não
estão no poder falam em revolução porque querem derrubar aqueles que estão no
poder. Quando chegarem ao poder vão se tornar reacionários, e as pessoas que
estiveram no poder antes, mas que foram expulsas do poder, vão se tornar os
revolucionários. Um revolucionário bem-sucedido é um revolucionário morto, e um
governante expulso do seu poder torna-se um revolucionário. E eles continuam
enganando as pessoas. Quer você escolha aqueles que estão o poder, quer escolha
aqueles que não estão no poder, não estará escolhendo pessoas diferentes. Elas
têm rótulos diferentes, mas não há a menor diferença entre elas.”
A pessoa realmente religiosa não pode se interessar por política, avalia
Osho. “E o político, permanecendo um político, não pode ter nenhuma experiência
religiosa, nenhuma amostra desse voo para o desconhecido. Mas eu nunca disse
que não há esperança de um mundo melhor. É verdade que o político não pode se
tornar religioso – pela simples razão de que a política, toda política, a
política como tal, é política de poder. É o desejo de poder. A pessoa quer
dominar, quer possuir, quer ser o fator decisivo na vida das pessoas. Essas são
qualidades do ego. É óbvio que esse tipo de pessoa não pode ser religiosa,
porque a verdadeira religião é basicamente a experiência de ausência de ego. O
homem religioso não pode ser interessado em política pela simples razão de que
ele não tem um lugar para alcançar – ele já alcançou. Ele já está onde o
político está tentando alcançar e nunca alcança – ele não pode alcançar por
causa da própria natureza das coisas.”
O filósofo então finaliza, refletindo: “O político não pode ser
religioso porque a verdadeira religião significa entendimento, consciência,
silêncio, harmonia e um profundo fluir com a existência, uma sensação de estar
em paz com tudo o que existe. Não há o desejo de ser outra pessoa, não há o
desejo de estar em nenhum outro lugar, não há o desejo do amanhã. Tudo é
preenchido neste momento. O político não pode se permitir isso”.
“E por que falar tanto em política e políticos? Porque no Brasil, assim
como no mundo, o poder dos políticos está muito ligado ao poder dos
empresários. É sempre um poder egóico, desviado do ideal de ser ferramenta para
construir socialmente o Bem. Fartamente combinado à corrupção, não se mantém
sem ser realimentado por mais desvios e desmandos, e cedo ou tarde não se
sustenta e desmorona. Será mesmo chegada a hora de políticos e empresários
desmoronarem?”, expressa Roberto da Graça Lopes, meu especial amigo.
Eike Batista
Como pode se sentir uma pessoa que abandona involuntariamente uma vida
nababesca para viver numa penitenciária... Ela tem duas opções: deixar-se levar
pelo sentimento da tragédia ou buscar um novo propósito para a sua vida.
Poder-se-ia perguntar: terão esses homens a capacidade de refletir mais
profundamente sobre o mal que causaram à sociedade, ou serão capazes de
continuar maquinando ainda, iludidos, saídas para escapar da prisão? Haveria
algum interessado em descrever a condição humana desses criminosos políticos em
suas celas? Existe abertura na penitenciária para um estudo dessa natureza,
realizado por um psicólogo, jornalista ou outro profissional? Daí eu
imaginar-me descrevendo essa triste realidade.
“Mas esse cara é bandido. Ele tem mesmo é que se f...”, gritam os falsos
moralistas. Eles pregam a moral e os bons costumes, porém no dia a dia não
praticam a moral que defendem ou julgam correta. Quem não convive com pessoas
que adoram essas pequenas facilidades, filhotinhas da corrupção? O famoso e
imoral ‘jeitinho brasileiro’ para favorecer a si própria?
A questão sociológica que o ‘jeitinho’ apresenta, porém, é outra,
explica em entrevista o antropólogo Roberto DaMatta, nascido em 1936 (https://maniadehistoria.wordpress.com/o-jeitinho-brasileiro/). “Ela mostra uma relação ruim
com a lei geral, com a norma desenhada para todos os cidadãos, com o
pressuposto que essa regra universal produz legalidade e cidadania! Eu pago
meus impostos integralmente e por isso posso exigir dos funcionários públicos do
meu país. Tenho o direito — como cidadão — de tomar conta da Biblioteca
Nacional, que também é minha. Agora, se eu dou um jeito nos meus impostos
porque o delegado da Receita Federal é meu amigo ou parente e faz a tal ‘vista
grossa’, aí temos o ‘jeitinho’ virando corrupção. A essas alturas, temos outra
questão básica”.
“É
possível que os brasileiros, pouco a pouco, como vem acontecendo nas
manifestações, comecem a tomar consciência, cada vez com mais força, de que
melhor do que o ‘jeitinho’ seria poder atuar como cidadãos com plenos direitos
e deveres numa sociedade em que a lei funcione para todos”, enuncia Juan Arias,
jornalista e escritor espanhol, nascido em 1932 (http://brasil.elpais.com/brasil/2013/12/30/opinion/1388424661_871576.html).
Analisando a detenção de Eike Batista, independentemente da questão da
justiça, seria apropriado enxergar também o fato sob o ângulo do que o
empresário passa a representar como um possível destino para a corrupção do
país.
O que estará passando na mente de Eike Batista? A ideia da finitude da
nobreza? Terá ele a capacidade de enveredar para um lado mais existencial,
questionando os próprios fundamentos da sua vida, e buscar um novo sentido?
Certamente, Eike experimentará o isolamento de um tempo indefinível,
insatisfação com o próprio resultado da sua vida, privação de sono, sentimento
de solidão e angústia, a precária condição da sua vida numa cela do espaço
prisional, enfim, uma experiência extremamente dolorosa. E então fatalmente
poderá perguntar: “Para que serve tanto dinheiro?”.
“O melhor também é possível, mas só é possível se você tiver vivido em
sintonia com a vida, com a existência, sem pedir favorecimentos. E estamos
sempre pedindo favorecimentos. Se não estivéssemos não haveria frustração, não
haveria raiva”, escreve Osho.
A propósito, ‘feliz’ do detento que aprecia a leitura, algo que deve ser
raro no espaço prisional. Mas consegue-se ler num presídio?... Talvez nas
condições em que estão os envolvidos na corrupção política, sim. O livro pode
se tornar um companheiro desejável.
Veja o que diz Deepak Chopra, 1947, médico indiano radicado nos EUA, em
“O Livro dos Segredos’: “No final de
uma boa leitura, você emerge como uma pessoa modificada, com percepções
completamente alteradas. Trata-se de um conhecimento com o qual você se
transforma e não aquele que você aprende passivamente. O que realmente divide
as pessoas é manter fechadas as portas da percepção, ou a falta de
consciência”.
É possível
que, com a leitura, o sofrimento do detento possa ser amenizado de alguma
forma. Para o médico indiano, “Em vez de se apoiar em uma consciência tão
limitada, você pode se abrir a possibilidades mais amplas. Mudar do antigo
sistema para o novo envolve um processo com o qual cada um de nós precisa se
comprometer todos os dias. A boa notícia é que nenhum aspecto da vida é imune à
transformação. Cada mudança que você fizer, por menor que seja, será
transmitida através da experiência; o Universo inteiro estará literalmente
bisbilhotando sua vida e oferecendo-lhe apoio. A partir do ponto de vista do
Universo, a formação de uma galáxia não é mais importante do que a evolução de
uma única pessoa”.
Outro
ponto destacado por Deepak Chopra é: “Uma coisa sabemos com certeza: o anseio
secreto que consome a alma das pessoas não tem nenhuma relação com coisas
externas, como dinheiro, status e segurança. É a pessoa interior que deseja
ardentemente encontrar significado na vida, o final do sofrimento e as
respostas para os enigmas do amor, da morte, de Deus, da alma, do bem e do mal.
Uma vida passada na superfície nunca responderá a essas perguntas nem satisfará
as necessidades que nos levam a fazê-las”.
“Fortalecidos
por nossos recursos internos, poderemos nos contrapor ao impulso crescente das
negatividades, e escolher uma nova direção para o futuro", arremata
Tarthang Tulku, em sua obra ‘Conhecimento
da Liberdade’, que leio atualmente. E é neste sentido que a experiência do
sofrimento deva buscar refúgio.
Restam
então algumas palavras de Winston Churchill, 1874-1965, nascido em uma família
da nobreza britânica, político conservador e estadista britânico: “Todas as grandes coisas são simples. E muitas podem ser expressas
numa só palavra: liberdade; justiça; honra; dever; piedade; esperança”.
O poder de Eike era grande, mas não poderia ser descrito por uma dessas
simples palavras. A antítese de seu poder talvez se aproxime mais de: vazio,
solidão, humilhação. Não tripudiemos, apenas deixemos a justiça prevalecer.
· Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli
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