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quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Experiência de Religiosidade

Tom Simões, tomsimoes@hotmail.com, Santos (São Paulo, Brasil), 13 de setembro de 2016



HOJE CEDO, dirigindo-me ao trabalho, chamei o elevador de serviço do edifício onde moro; eu não sabia que estava sendo ocupado para o recolhimento do lixo. A funcionária olhou-me com espanto quando entrei no elevador. ‘Posso aproveitar a viagem?’ Ela respondeu-me, acanhada: ‘Se não se importar com o cheiro...’. Respondi-lhe então, tocando em seu ombro: ‘O problema maior é para você, que tem que conviver duas vezes por dia com esta situação. E quer saber? Acho que o problema dos lixeiros é bem maior que o nosso neste momento’. Ela sorriu, relaxando. E então comentou sobre um amigo, lixeiro, que recentemente havia cortado um dedo. ‘As pessoas descartam vidros quebrados sem embrulhá-los como se deve, e então a gente sempre corre esse risco’, disse a moça. Como houve receptividade, prossegui a conversa: os lixeiros têm um trabalho difícil pra caramba, mas como são alegres! Dá gosto ver a bagunça que fazem correndo atrás do fedorento caminhão... Sempre que dá, aceno com gosto pra eles. E eles me devolvem um sorriso gostoso, escancarado. Assim, você acha que eu posso me importar com esse mau cheiro por tão breves instantes?’...

Começar o dia assim não tem preço, só um retorno imediato: a sensação de ser inundado pelo que transcende à razão. Há em nós uma centelha divina, à qual só temos acesso quando acionamos alguma qualidade nobre, generosa, de nossa alma. E não de forma premeditada, ‘pra ganhar crédito no Céu’. A generosidade não é algo que brota quando se quer, com fim interesseiro; ela é espontânea, latente na natureza do indivíduo. Pode-se despertá-la, sim. Quando a generosidade é inerente e goteja no nosso dia a dia, é possível experimentar a presença do nosso Deus, ou Jesus, ou Cristo, ou Buda, ou Krishna, ou Espírito Guardião... interior. Sejamos 3 G: gratos, gentis e generosos, e nos aquietemos para que invisíveis portais celestiais se abram ao redor de nós. Aí, uma exaltação, toda feita de alegria e gratidão, pode preencher nossa alma numa experiência indescritível. Tem gente que vivencia isto a miúde, mas não comenta com ninguém. Porque, quase sempre, tal experiência de pura religiosidade, efêmera e intensa, poucos podem compreender.


Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli 

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