Imagem: http://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2012/10/agulhas-e-vidros-provocam-acidentes-com-garis-em-ariquemes-ro.html
HOJE CEDO, dirigindo-me ao trabalho, chamei o elevador de serviço do
edifício onde moro; eu não sabia que estava sendo ocupado para o recolhimento
do lixo. A funcionária olhou-me com espanto quando entrei no elevador. ‘Posso
aproveitar a viagem?’ Ela respondeu-me, acanhada: ‘Se não se importar com o
cheiro...’. Respondi-lhe então, tocando em seu ombro: ‘O problema maior é para
você, que tem que conviver duas vezes por dia com esta situação. E quer saber?
Acho que o problema dos lixeiros é bem maior que o nosso neste momento’. Ela
sorriu, relaxando. E então comentou sobre um amigo, lixeiro, que recentemente
havia cortado um dedo. ‘As pessoas descartam vidros quebrados sem embrulhá-los
como se deve, e então a gente sempre corre esse risco’, disse a moça. Como
houve receptividade, prossegui a conversa: os lixeiros têm um trabalho difícil
pra caramba, mas como são alegres! Dá gosto ver a bagunça que fazem correndo
atrás do fedorento caminhão... Sempre que dá, aceno com gosto pra eles. E eles
me devolvem um sorriso gostoso, escancarado. Assim, você acha que eu posso me
importar com esse mau cheiro por tão breves instantes?’...
Começar o dia assim não tem preço, só um retorno imediato: a sensação de
ser inundado pelo que transcende à razão. Há em nós uma centelha divina, à qual
só temos acesso quando acionamos alguma qualidade nobre, generosa, de nossa
alma. E não de forma premeditada, ‘pra ganhar crédito no Céu’. A generosidade
não é algo que brota quando se quer, com fim interesseiro; ela é espontânea,
latente na natureza do indivíduo. Pode-se despertá-la, sim. Quando a
generosidade é inerente e goteja no nosso dia a dia, é possível experimentar a
presença do nosso Deus, ou Jesus, ou Cristo, ou Buda, ou Krishna, ou Espírito
Guardião... interior. Sejamos 3 G: gratos, gentis e generosos, e nos aquietemos
para que invisíveis portais celestiais se abram ao redor de nós. Aí, uma
exaltação, toda feita de alegria e gratidão, pode preencher nossa alma numa
experiência indescritível. Tem gente que vivencia isto a miúde, mas não comenta
com ninguém. Porque, quase sempre, tal experiência de pura religiosidade,
efêmera e intensa, poucos podem compreender.
Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli
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