Costumam
dizer que trabalho voluntário não é trabalho, só porque não é remunerado
Muitas pessoas dedicam parte de sua vida a
trabalhos voluntários das mais diferentes naturezas. Algumas nem costumam
comentar sua dedicação à causa que escolheram. São força anônima. De maneira
geral, o voluntariado é pouco ou nada valorizado pela sociedade, que não o
considera como um ‘serviço’. Há até quem o menospreze: “Eu não tenho tempo pra
isso”, “Esse trabalho é coisa para o governo, pra isso pago impostos”. Então,
numa instituição comum, o voluntário, não sendo enquadrado como funcionário,
ainda que trabalhe muito, pode viver ali numa condição subvalorizada, apesar da
importância do seu trabalho.
Mas essa realidade, não apenas brasileira (afinal
gente é gente, aqui ou no deserto de Gobi), não desestimula inúmeras pessoas que
investem seu tempo e talento trabalhando de maneira espontânea e não
remunerada, em causas de interesse comunitário. Pessoas que se diferenciam por
terem ações de fato transformadoras.
Segundo definição das
Nações Unidas, “o voluntário é o jovem ou adulto que, devido a seu interesse
pessoal e espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a
diversas formas de atividade, organizadas ou não, de bem-estar social, ou
outros campos”. Assim, ele realiza o
trabalho gerado pelo impulso solidário, atendendo tanto às necessidades do
próximo quanto às suas próprias motivações pessoais.
Mais do que um simples
interesse em prestar auxílio a comunidades (ou a pessoas no singular) de alguma
forma carentes, há no voluntário (ou na maioria deles) o desejo de compartilhar
as suas conquistas pessoais e espirituais, dizer que essa dedicação lhe traz um
sentido mais amplo para a sua existência. E ele age por imperativo próprio. Voluntários
são pessoas generosas que têm uma preciosa capacidade: a ‘empatia’.
Eu criei um blog em 2008 abordando
o autoconhecimento, que tem trazido um retorno inesperado: a credibilidade para
auxiliar leitores a solucionar problemas pessoais. Com o advento do Facebook,
então, vem aumentando o número de pessoas que me escrevem para pedir orientação
em problemas particulares. Tal demanda inspira-me a dedicar-me mais e mais a
esse trabalho, que desenvolvo em horas de folga, sobretudo em finais de semana,
quando não tenho outros compromissos.
“Amigo, na verdade, estou
precisando de ajuda. Tenho uma amiga que está passando por um problema.
Conhecendo suas postagens, creio que uma conversa com ela a ajudaria”, um dos
exemplos. Outro exemplo: “Faço terapia há quinze anos e a manutenção agora é o
meu desenvolvimento espiritual. Você e minha terapeuta são meus mestres. Sou
sortuda! Eu procuro a paz. Tenho muita energia e desejo canalizá-la para algum
lugar. Não me sinto mais à vontade com as pessoas com as quais convivo, elas
são superficiais. Está na hora de achar outra tribo”. Há inúmeros outros! Mas
exemplos são para os poucos que os podem compreender; os outros não se sentirão
atraídos por eles. Foi para auxiliar nessa demanda que cheguei a participar de
um ‘Curso Livre de Formação em Psicanálise (Metodologia Holística)”, entre 2013
e 2014, com a duração de um ano e meio, em Santos (SP), ministrado pelo
psicanalista Domingos Almeida.
No artigo ‘Filosofia
também tem uso terapêutico’ (Folha de
S.Paulo, 19/2/2013), escreve Giuliana de Toledo: “O uso do pensamento como terapia foi popularizado nos
best-sellers ‘Mais Platão, Menos Prozac’ (1999), do canadense Lou
Marinoff, e ‘As Consolações da Filosofia’ (2000), do suíço pop Alain de
Botton. Na terapia filosófica ou filosofia clínica, filósofos atendem e dão
aconselhamento com base nas ideias de grandes pensadores. Para ter efeito
positivo em autoajuda, a indicação de livros que prometam soluções milagrosas
deve ser evitada, diz o psiquiatra Elko Perissinotti, do Hospital das Clínicas
de SP. Para ele, autoajuda boa é a que faz o paciente pensar sobre sua
condição. Aquela coisa robotizada de olhar no espelho e falar ‘bom dia, dia’
tem duração fugaz”.
É neste sentido que,
paralelamente à atividade profissional, na área da divulgação científica,
desenvolvo também essa espécie de ‘jornalismo de serviço ou utilitário’, em
caráter voluntário, cujo alicerce é a informação que o leitor necessita ou que
poderá se tornar necessária a ele em alguma oportunidade. Mas nem discuto sobre
isso com ninguém, pois, pelo fato de não ser remunerado, não tenho patrões e
nem reconhecimento devo esperar, a não ser dos leitores que se beneficiam desse
meu trabalho.
Jornalismo
interativo
De
acordo com http://www.professores.unirg.edu.br/carolina/aula.pdf,
“a notícia on-line possui a capacidade de fazer com o que o
leitor/usuário sinta-se parte do processo. Essa interatividade acontece de
diversas maneiras: pela troca de e-mails entre leitores e jornalistas; por meio
da disponibilização da opinião dos leitores (fóruns de discussão); via
bate-papo com jornalistas, entre outras”. Nesses casos, a atitude do internauta
é mais ativa, cita o documento; ele aponta erros dos jornais e manifesta
opinião, desejando respostas a suas sugestões/críticas. Jornalistas e leitores
podem trocar experiências e, dependendo do veículo, o leitor pode pedir
orientação sobre algo de seu interesse.
“Um dos
fenômenos observados na interatividade digital é o progressivo desaparecimento
da separação entre produtor e consumidor da informação. Em Internet, todos são
potencial e simultaneamente escritores e editores, jornalistas e leitores e compradores
e vendedores”, analisa o referido estudo.
Jailma
Simone Gonçalves Leite, em ‘Jornalismo Interativo na TV Digital’, http://www.insite.pro.br/2009/maio/jornalismo_interatividade_jailma.pdf,
busca entender as diversas ferramentas que o jornalista dispõe nessa era da
informação on-line, bem como contribui para a reflexão e o aprimoramento
da prática jornalística.
“Atualmente,
se todos podem emitir e receber informações, ser distribuidores de notícias,
então, qual será o papel dos jornalistas, do profissional encarregado de
produzir, processar e emitir o discurso? Para isso, antes de entrar na questão
tecnológica e abordar temas como interatividade e convergência de mídias, é
preciso analisar a mediação jornalística enquanto atividade que informa e
educa”, escreve Jailma Leite. Para ela, ainda que os meios à disposição e o
modo de apresentação dos conteúdos tenham definitivamente mudado, como ainda os
tradicionais gêneros jornalísticos estejam eles próprios em mutação, a
atividade do jornalista, em sua essência, permanece inalterada: selecionar,
verificar e transmitir informação com imparcialidade e veracidade. A sua
pesquisa constatou que o futuro do jornalismo na era das novas tecnologias, neste
caso, em especial na TV Digital, terá como base o domínio das ferramentas
tecnológicas em conjunto com a capacidade de elaboração de um pensamento
crítico de consistência, que fará a diferença entre o jornalista e as pessoas
comuns que estarão distribuindo informação. “Nesta nova era digital, o modo de
produção do fato noticioso não é o mesmo. As pessoas comuns podem, hoje, fazer
o que só profissionais faziam. Com isso, o jornalista tem de oferecer algo
mais”, revela Jailma.
Jailma
mostra também que as tecnologias levam o jornalismo a praticar novos tipos de
abordagem e gerar cada vez mais uma interação entre o público e o meio. Isso
não implica dizer que a essência do jornalismo mudou e que se transforma a ponto
de perder sua função de informar e construir a opinião pública.
“A
mídia tradicional (jornal, revista, rádio, televisão) faz uma pré-escolha das informações
que serão transmitidas, impondo ao público uma certa passividade; já as
tecnologias digitais trazem novas formas de circulação de informações. A
internet, sem dúvida, é responsável por todas essas modificações nos meios de
comunicação. Ela transformou o modo de produção de notícias. Os principais
veículos convergiram na internet, onde TV, rádio e textos convivem. É dessa
convergência midiática que o público é convidado a participar e até mesmo
modificar os conteúdos veiculados na mídia”, argumenta a jornalista.
Em seu
estudo, Jailma trata da democratização da informação, assim como tem acontecido
com a Internet, onde o jornalista já não tem isoladamente o privilégio de
chegar primeiro aos acontecimentos, sendo muitas vezes surpreendido pelo
próprio agente receptor que flagrou a notícia e repassou o material
jornalístico para os veículos de comunicação.
Fica
claro então que as mídias interativas são instrumento e espaço adequados para a
prática do “jornalismo utilitário, e voluntário”. O que se põe num blog passa a serpentear no
Facebook, e o mote passa a ser posse do coletivo e a receber contribuições que
lhe dão novos rumos.
“A
coisa mais indispensável a um homem é reconhecer o uso que deve fazer do seu
próprio conhecimento.” (Platão)
Sou alguém que acredita que cada um tem o poder de
transformar o mundo ao seu redor, pois isso começa no transformar seu próprio
mundo. Escrevo com o propósito (nada modesto, confesso) de levar o leitor a um
estágio melhor do que o anterior. A leitura útil é a que pode despertar o
leitor e libertá-lo de velhas formas, repetitivas e condicionadas, de pensar; é
algo que possa explodir mitos incômodos e provocar um pensamento novo. Penso em
temas passíveis de agregar conteúdo, e estou aberto a sugestões (o primeiro
passo para o diálogo desejável, afinal agora mesmo falei sobre mídia
interativa).
Penso em me dedicar o máximo que puder ao bem-estar
dos outros, mas, ao mesmo tempo, tentar beneficiar-me também. Quem não tem
necessidade de encontrar sentido e significado para a sua vida? Resumindo em
algo que li recentemente: “Penso então em viver para os outros, estreitando e
mantendo os vínculos inter-humanos, a fim de compartilhar a responsabilidade
pela sorte e o bem-estar de todos”.
Há alguns anos, ao se pensar em ações voluntárias,
automaticamente pensava-se em movimentos religiosos ou trabalhos na área da
saúde. Sem dúvida, essas contribuições eram e continuam sendo importantes, mas
foi a partir da década de 1990, quando surgiu o movimento ‘Ação da Cidadania
Contra a Miséria e pela Vida’, liderado por Herbert de Souza, o Betinho, que a
consciência solidária da sociedade passou a ter visibilidade, traduzindo um
esforço voluntário de amplos setores nacionais e, sobretudo, de anônimos.
Não se pensa mais no voluntariado apenas como assistencial
(doação de roupas, alimentos e agasalhos, por exemplo), mas também como uma
força para mudança social por meio de medidas inclusivas e de impacto. É o ato do voluntário de doar tempo e
conhecimento para estimular a sociedade em que vive, por meio de ações que não
são remuneradas, mas que têm um valor fundamental para a comunidade e para o
próximo, sobretudo num país, como o Brasil, tão carente em inúmeras áreas, como
o Brasil.
Moradores em situação de rua visitam o Museu de Pesca de
Santos, no dia 4/9/2014,
por meio da Associação Prato de Sopa
Empatia significa a capacidade de se colocar no lugar do
outro, imaginando-se nas mesmas circunstâncias. Quem é capaz? Pessoas
depressivas, intolerantes, egocêntricas, de coração carente: “Ah, se elas
pudessem experimentar a felicidade, indescritível, que sentem pessoas
‘incomuns’ dedicadas a uma boa causa!” Sensibilizar-se com o sofrimento de
outras pessoas e ajudá-las de alguma maneira, não há remédio melhor para curar
as nossas próprias carências. Ao presenciar o sofrimento de outras pessoas,
passamos necessariamente a dar mais valor ao que a vida nos traz, ainda que, às
vezes, não estejamos nos melhores dias de nossa vida. Por isso, espero que
todos compreendam, é necessário, essencial mesmo, aprendam a lidar com a vida
de maneira inteligente, ou seja, de maneira mais solidária, mais generosa.
Dediquemo-nos a uma boa causa (que cada um escolha a sua, mas que a tenha) para
que possamos sentir a força do Poder Universal. Trabalhemos nesse sentido para
ter uma experiência do que significa paz interior! Quem já experimentou o
trabalho voluntário, certamente identificar-se-á com esta descrição.
Há
algo, de um autor desconhecido, que diz: “Que suas contribuições para o bem do
mundo sejam muitas e generosas. Seja sempre grato por tudo o que você é, pois
assim, se quiser fazer evoluir a Humanidade, ideias e caminhos lhe serão
oferecidos”. Também tem isto: “Se você discorda de muita coisa, o que tem feito
para ajudar a mudá-las?”.
· Revisores do texto: Roberto da Graça Lopes e Márcia
Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com
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