Acho
bem diferentes o olhar dos sábios e o olhar dos intelectuais. Donos de uma
ampla gama de conhecimentos, que vão desde os especializados àqueles relativos
a outras matérias, os intelectuais, com bastante frequência, chegam a ser
inacessíveis até mesmo ao público interessado, e, frequentemente, isso se dá,
acreditem, por conta da soberba. Certamente, muitos seriam mais úteis se fossem
mais humildes, mais “espiritualizados” no trato interpessoal. É claro que não
dá para generalizar: há certamente intelectuais também capazes de ser muito humanos,
servindo como instrumento de educação. Os soberbos me aborrecem porque acredito
que o homem inteligente deve agir em prol da felicidade humana; agir sempre de
forma a produzir a maior quantidade de bem-estar. Há uma percepção que me diz:
‘Não use seu tempo procurando coisas pequenas. Não se satisfaça com algo que
seja menos do que o maior’. Certamente, algumas pessoas se diferenciam em sua
trajetória por terem ações de fato transformadoras. Vangloriar-se como profundo
conhecedor de qualquer coisa e se fechar em grupos elitistas pode responder a
propósitos egóicos, não contribuindo para a expansão do saber na alma humana.
“Sabe aquele
tipo que precisa ostentar conhecimento chamando o outro de burro? Sabe aquela coisa
de quinta série do tipo: “Num acredito que você num sabe isso, até uma criança
de cinco anos sabe!” ? Pois é, isso existe no mundo adulto, e acontece a toda
hora. A desculpa principal geralmente é a gramática do outro, mas tudo o que eu
souber e o outro não, pode virar uma pedra em potencial para mais tarde. Talvez
seja natural: quanto mais você se intelectualiza e tempera a sua visão de
mundo, mais você se decepciona com o lado raso do outro. Falo dessas agressões
gratuitas, falo dos donos do pedaço, falo do salto alto”, escreve Eduardo
Benesi, pedagogo e consultor cultural,
no artigo ‘Etiqueta cultural para arrogantes intelectuais’, http://www.sobreavida.com.br/2015/03/05/etiqueta-cultural-para-arrogantes-intelectuais/ . “Gente
politizada que pensa exercer um domínio ou direito de opinião maior do que quem
é menos politizado ou simplesmente não é. Pode acontecer em todo lugar,
inclusive nas rodas intelectuais. Até na minha panela cinéfila tem gente
ditando o que é bom ou ruim. Sujeito que faz faculdade de cinema impondo sua
opinião, como se o cinema não fosse também algo pertencente a quem recebe, como
se cada um não tivesse seu próprio universo de subjetividade e critérios
próprios. Pensando nessa falta de gentileza com o que o outro não sabe, fiz
essa lista para mostrar como funciona esse tipo de opressão, que sinceramente
só serve para mostrar o quanto tem gente egoísta com o próprio conhecimento.
Fica então a sugestão: e se você resolvesse dividir o que sabe ao invés de
simplesmente rejeitar quem não sabe?”, acrescenta o pedagogo.
Benesi não se cansa de ver gente repetindo a velha fórmula do ‘ironiquinho’
ou do hostil. “Fazer ativismo e ficar horas bolando teorias geniais para postar
no seu Facebook pode render likes deliciosos e também abrir os olhos da galera
que você considera acéfala, mas ficar toda hora destilando sua acidez ,
negatividade e rebeldia sobre todo e qualquer assunto pode também mostrar o
quanto o seu mundo é fincado no prazer negativamente orientado e no
quanto você pode apenas estar bancando o chato em busca de ser querido.
Observando o comportamento sobre como as pessoas reagem a uma militância da
qual não concordam, principalmente em relação aos que militam com ironia
exagerada, percebo que quando as partes discordantes entram em atrito, não
existe convencimento, nem ideias, nem argumentos. As pessoas simplesmente não
se ‘escutam’. Educar o olhar do outro através da conversa, talvez seja um
caminho menos fácil, porém mais eficiente para uma questão polêmica”, reforça
Eduardo Benesi.
Mente Espiritual
Lendo ‘14 Lições de Filosofia Yogue’, de
autoria do Yogue Ramacháraca, senti-me tentado a citar um trecho da obra que nos
permite fazer reflexões profundas sobre a mente intelectual e a mente espiritual.
De acordo com o Círculo de Estudos Ramacháraca, http://www.ramacharaca.com.br/autor.htm, William Walker Atkinson (Iogue Ramacháraca) era figura
misteriosa. Nasceu em Baltimore em 1862 e faleceu em 1932. Da sua infância só é
notório que frequentou a escola pública. Em 1889, com quase 27 anos, casou-se
com Margaret Foster Black de quem teve dois filhos. Trabalhou como profissional
liberal até o fim de 1895, quando foi admitido no Fórum da Pensilvânia como
advogado. No ano seguinte, após uma profunda crise pessoal, aproximou-se da
escola do Novo Pensamento que preconizava a obtenção da saúde, bem-estar e
felicidade, através do controle e da confiança e mesmo da expectativa no
encontro com o princípio divino positivo e benevolente.
Além de advogado, Atkinson foi comerciante e escritor norte-americano,
sendo responsável pelas revistas ‘Suggestion’
(1900-1901), ‘New Thought’
(1901-1905) e ‘Advanced Thought’
(1906), em Chicago. Dedicou-se à difusão da Filosofia Yogue e do Ocultismo
Oriental no Ocidente, sendo considerado pelo povo da Índia como uma autoridade
no assunto. Contribuiu para a formação das bases de uma nova concepção para a
Psicologia e um novo Pensamento a respeito do mundo mental e sua relação com a
realidade espiritual do homem. Atkinson é dono de uma extensa obra com cerca de
109 livros.
Eis então a
lição de Ramacháraca sobre um aspecto da dinâmica do pensamento: “O crescimento
do homem, em direção a uma melhor e mais completa ideia do poder divino, não
vem do intelecto, ainda que este raciocine sobre as impressões recebidas e
procure exteriorizá-las em sistemas, credos, cultos etc. Não é o intelecto o
que nos dá a nossa crescente sensação da relação entre homem e homem – a
fraternidade do homem. Permiti que vos digamos por que o homem é agora mais
bondoso que anteriormente para com a sua espécie e formas de vida inferiores a
ele. Não é somente porque o intelecto lhe ensine o valor da bondade e do amor,
pois o homem não se faz bondoso pelo frio raciocínio. Pelo contrário, o homem
se torna bom e amoroso porque nele nascem certos impulsos e desejos que
procedem de algum lugar desconhecido que lhe tornam impossível ser de outro
modo, sem sofrer mal-estar e dor. Esses impulsos são tão reais como outros
desejos e impulsos; e, à proporção que o homem se desenvolve, esses impulsos
chegam a ser mais numerosos e muito mais fortes. Comparai o mundo de alguns
séculos atrás com o de hoje; vereis quanto mais bondade e mais amor temos do
que naqueles dias. Mas não nos desvaneçamos por isso, porque aparecemos como
simples selvagens aos olhos daqueles que virão depois de nós e que se
assombrarão pela nossa falta de humanidade para com nossos irmãos.
À proporção
que o homem se desenvolve espiritualmente, sente a sua relação com todo o
gênero humano e começa a amar os seus semelhantes cada vez mais. É-lhe doloroso
ver os outros sofrer, e quando a sua dor é muita, procura fazer alguma coisa
para remediá-la. À proporção que o tempo passa e o homem se desenvolve, o
terrível sofrimento de que hoje padecem muito seres humanos será impossível,
pela razão de que o desenvolvimento da consciência espiritual da raça fará que
a dor seja tão violentamente sentida por todos e que, não sendo capazes de
suportá-la, farão o possível em procurar o remédio. Do mais recôndito da alma
eleva-se um protesto contra as práticas da natureza inferior animal e ainda que
possamos fazer-nos de surdos por algum tempo, esse protesto se fará mais e mais
persistente, até que nos vejamos obrigados a atendê-lo. A antiga história
mostra que cada pessoa tem dois conselheiros, um em cada ouvido: um
aconselhando a seguir os mais elevados ensinamentos e o outro prosseguindo na
senda inferior. Por outro lado, a mente espiritual envia os seus impulsos de
progresso ao intelecto e se esforça em atrair a consciência para si, a fim de
ajudar o desenvolvimento do homem, para que possa dirigir e controlar a sua
natureza inferior.
A mente
espiritual é também a origem da inspiração que certos poetas, pintores,
escultores, escritores, pregadores, oradores e outros têm recebido em todo o
tempo e ainda hoje recebem. Essa é a fonte da qual o vidente obtém a sua visão
– o profeta, as suas profecias. Muitos se têm concentrado sobre elevados ideais
e têm recebido raros conhecimentos dessa origem, atribuindo-os a seres de outro
mundo – a espíritos, anjos e a Deus mesmo; porém tudo isso tem sido recebido do
seu interior – foi a voz do seu Eu superior que lhe falou. Não queremos dizer
que não existam comunicações vindas ao homem de outras inteligências – muito
longe disso, sabemos que inteligências elevadas se comunicam frequentemente com
o homem pelo canal de sua mente espiritual – porém muito daquilo que o homem tem
atribuído a inteligências exteriores, realmente veio de si mesmo. O homem, pelo
desenvolvimento de sua consciência espiritual, pode colocar-se em um alto
estado de relação e contato com essa parte mais elevada de sua natureza e pode
chegar, assim, a possuir um conhecimento que o intelecto não se atreveria nem a
sonhar.
Certos poderes
psíquicos elevados abrem-se também ao homem desse modo, porém tais poderes
raramente se obtêm antes do momento em que ele se eleva acima das atrações da
parte inferior da sua natureza, porque, não sendo assim, poderia usar desses
dons para baixos propósitos. Somente quando o homem cessa de desejar o poder
para o seu uso pessoal é que o obtém. Tal é a Lei.
Atração de pensamentos de força e ajuda
Aqueles que
fizeram um estudo da dinâmica do pensamento conhecem as assombrosas
possibilidades de que dispõem os que desejam utilizar o depósito mental que
emanou das mentes dos pensadores do passado e do presente, e que está aberto ao
pedido e à atração daquele que queira usá-lo e que sabe como tirar proveito
dele.
Sobre este
assunto tem-se escrito muito pouco, o que é surpreendente se considerarmos as
assombrosas possibilidades de que dispõem aqueles que desejarem utilizá-las.
Muitos pensamentos foram projetados sobre todos os assuntos, e o homem que hoje
segue uma linha de atividade pode atrair a si pensamentos de grande ajuda,
relacionados com o seu assunto favorito. De fato, algumas das maiores invenções
e projetos assombrosos foram recebidos deste modo por alguns dos grandes homens
do mundo, ainda que esses homens nem sequer soubessem donde procedia a sua
informação.
Se uma pessoa
está ocupada com algum problema cuja solução lhe escapa, fará bem adotando uma
atitude receptiva para com os pensamentos que se relacionem com o problema, e é
muito provável que, quando tenha deixado de pensar sobre a matéria, a solução
resplandeça perante ela como por arte mágica. Alguns dos maiores pensadores do
mundo, escritores, oradores e inventores experimentaram exemplos dessa lei do
mundo do pensamento, ainda que apenas poucos deles tenham compreendido a causa que
age por detrás do fenômeno. O mundo astral está cheio de excelentes pensamentos
não expressos, que aguardam a quem os expresse e os use. Isso é simplesmente a
insinuação de uma grande verdade; que a utilizem aqueles que estiverem
preparados para tal.
Da mesma
forma, uma pessoa pode atrair para si pensamentos de força e ajuda, os quais a
auxiliarão nos casos de depressão e desalento que lhe sobrevenham. Existe uma
imensa soma de energia acumulada no mundo do pensamento, e quem quer que seja
que dela tenha necessidade, pode atrair a si quanta lhe seja necessária. É
questão, simplesmente, de que a soliciteis. O depósito de pensamento do mundo é
vosso – por que não lançais mão dele?”.
Alguém disse: ‘Quando você está pronto, o mestre
aparece’. Quem desperta para o sentido transcendental da existência experiencia
esta verdade. E há outro alguém também desconhecido que disse: ‘Que suas
contribuições para o bem do mundo sejam muitas e generosas. Seja sempre grato
por tudo o que você é, pois assim, se quiser fazer evoluir a Humanidade, ideias
e caminhos lhe serão oferecidos’. Portanto, que a arrogância dê lugar à
humildade, e os que sabem coloquem o seu conhecimento a serviço do progresso
cultural e espiritual da Humanidade.
“A Humanidade está desenvolvendo-se para entrar no plano da intuição, e um dia terá plena consciência neste plano. Por ora, recebe apenas os vislumbres da região oculta. Muitas das melhores coisas que temos provêm desta região; por exemplo: a arte, a boa música, a bela poesia, o amor sublime, a percepção espiritual até certo grau, o intuitivo reconhecimento da verdade etc. etc. Estas coisas não são produtos de raciocínio do nosso intelecto, mas parecem emanar de uma desconhecida região da mente.”
ResponderExcluir(Yogue Ramacháraca, ‘Lições sobre o Desenvolvimento Mental’)