segunda-feira, 21 de setembro de 2015

“AUTOBIOGRAFIA DE UM IOGUE”

Tentando compor o que há  nessa obra clássica envolvendo a Ciência da Religião



Tom Simões, jornalista, Santos (SP), www.tomsimoes.com, setembro 2015

O tema transcende o conhecimento comum. Ninguém é obrigado (ou não está ainda preparado) a admitir a teoria da espiritualidade, que envolve o aspecto transcendental do ser humano. Transcendental significa a experiência elevada, o que está acima da razão. ‘Autobiografia de um Iogueé um livro sagrado escrito em 1946 pelo iogue indiano Paramahansa Yogananda, 1893-1952. Considerado seu ‘magnum opus’, o livro relata os poderes iogues de ressuscitar os mortos, ver através de paredes, curar doenças terminais, materializar perfumes e objetos, além de descrever a trajetória de estudos e meditação do autor, com ênfase na técnica de ‘Kriya Yoga e sua missão de difundi-la no Ocidente. Yogananda também descreve a sua procura por um guru (mestre espiritual) e seus encontros com Mahatma Gandhi, a quem deu iniciação em Kriya Yoga; Rabindranáth Tagore, poeta e escritor e músico indiano; Therese Neumann, a católica estigmatizada; Sri Anandamoyi Ma, uma santa hindu; Lutero Burbank, ‘Um Santo Americano’ a quem o livro é dedicado; dentre outras personalidades. Rabindranáth Tagore, por exemplo, nos ensinou a cantar, para exprimir nossa alma com naturalidade, sem esforço, como os pássaros.

Paramahansa Yogananda é considerado um dos maiores divulgadores da antiga filosofia da Índia para o Ocidente. A meditação transcendental atraiu a atenção de George Harrison, que, entusiasmado pela leitura de ‘Autobiografia de um Iogue’, contagiou os outros Beatles com os seus anseios místicos. ‘Mantenho exemplares da ‘Autobiografia de um iogue’ espalhados pela casa e constantemente dou de presente a pessoas que precisam mudar de vida. Eu digo: Leia isto, porque este livro toca o coração de todas as religiões’, escreveu George Harrison em artigo publicado no ‘The New York Times’.    



Eleito como um dos cem melhores livros espirituais do Século XX, o extraordinário relato de Yogananda leva o leitor a uma exploração inesquecível do mundo dos santos e iogues. A obra, que acabo de ler, narra a vida desse filósofo, desde a infância na Índia, quando já buscava a orientação de um mestre espiritual autorrealizado que pudesse lhe mostrar o caminho para Deus. Aponta a existência de muitos santos e sábios antes ocultos aos olhos do mundo, o período de formação no Eremitério de seu guru Swami Sri Yuktéswar, passando pelos trinta anos que viveu nos Estados Unidos, consolidando sua mensagem ao Ocidente através da organização que aí fundou logo ao chegar, em 1920, a Self-Realization Fellowship (SRF).
‘Embora a Índia possua uma civilização mais antiga do que qualquer outra nação, poucos historiadores notaram que o prodígio dessa nação não é, de modo algum, um acidente, mas uma decorrência lógica do testemunho de devoção às verdades eternas que a Índia tem oferecido, através de seus melhores filhos, no curso das gerações. Por essa absoluta continuidade de ser, pela intransitividade perante as eras históricas (poderão os empoeirados eruditos dizer-nos quantas?), a Índia deu a mais valiosa resposta que qualquer povo daria ao desafio do tempo. Extintos se acham os impérios de nações poderosas, hábeis nas artes da guerra e que foram, outrora, contemporâneas da Índia: Egito, Babilônia, Grécia e Roma antigos. A resposta do Senhor demonstra claramente que uma nação sobrevive, não por suas conquistas materiais e, sim, pelos homens que são suas obras-primas’, ensina o mestre Yogananda.
O Hinduísmo não é uma religião exclusivista. Nele existe lugar para o culto a todos os profetas do mundo. Não é uma religião missionária no sentido comum do termo. Absorveu, sem dúvida, muitas tribos em seu seio, mas esta absorção foi de caráter evolutivo, imperceptível. O Hinduísmo ensina cada homem a adorar a Deus segundo a sua própria fé ou dhárma, vivendo assim um sentimento de verdadeira paz. Característica ímpar do Hinduísmo, entre as religiões do mundo, é sua derivação, não de um único grande fundador, mas das Escrituras Védicas impessoais, que regulam não apenas as práticas de devoção, mas todos os costumes sociais importantes, num esforço para harmonizar cada ação do homem com a lei divina. 
Todos os grandes mestres da Índia que demonstraram agudo interesse pelo Ocidente compreenderam muito bem as condições modernas. Eles sabem que os problemas do mundo continuarão insolúveis enquanto todas as nações não assimilarem melhor as virtudes características do Oriente e do Ocidente. Cada hemisfério necessita daquilo que o outro tem a oferecer de melhor.
No decurso de sua viagem pelo mundo, Yogananda observou com tristeza muito sofrimento. No Oriente, acentuado sofrimento no plano material. No Ocidente, sobretudo miséria mental e espiritual. Em todos os países repercutem os dolorosos efeitos de civilizações desequilibradas. A Índia e muitos outros países orientais poderão beneficiar-se imensamente se tratarem de competir com o senso prático dos empresários e a eficiência material das nações ocidentais, como os Estados Unidos. Os povos ocidentais, ao contrário, necessitam compreender com maior profundidade a base espiritual da vida e, especialmente, as técnicas científicas que a Índia desenvolveu e aplica, desde a antiguidade, para a comunhão consciente do homem com Deus. 

Ciência e Religião



O Oriente possui, em verdade, imensos tesouros de conhecimento que o Ocidente mal começou a explorar. Paramahansa Yogananda conta que o doutor Julian Huxley, famoso biologista inglês e diretor da UNESCO, afirmou que os cientistas ocidentais deveriam ‘aprender as técnicas orientais’ para controlar a respiração e entrar em estado de transe. ‘O que acontece? Como é possível?, perguntou ele. Um despacho da ‘Associated Press’, em 21 de agosto de 1948, informava: ‘O doutor Huxley disse aos membros da nova Federação Mundial em prol da Saúde Mental que fariam melhor se examinassem a literatura mística do Oriente. Se esta literatura fosse investigada cientificamente, aconselhou ele aos especialistas em psicologia, então penso que se avançaria um enorme passo neste campo’.  
“Citando inúmeros filósofos e teólogos, o então diretor de religião da revista ‘Time’, em abril de 1966, analisava ponderadamente a forma como a sociedade estava se adaptando ao papel cada vez menor da religião numa era de secularização, urbanização e avanço da ciência”, escreve George Johnson num ensaio publicado pela Folha de S.Paulo de 12/9/2015, no caderno ‘The New York Times’. De acordo com Johnson, vendo de longe, o mundo parece quase à beira de admitir que não existem verdades, apenas ideologias concorrentes – narrativas lutando contra narrativas. “Nessa guerra epistemológica, os mais poderosos são acusados de impor a sua versão da realidade – o ‘paradigma dominante’ – sobre os demais, cabendo ao lado mais fraco reagir com suas próprias formulações. Tudo vira versão”, crê Johnson.
Consta, em ‘Autobiografia de um iogue’, que Charles P. Steinmetz, o grande engenheiro eletricista, foi interpelado, certa vez, pelo senhor Roger W. Babson: ‘Em que rumo a pesquisa científica encontrará maior desenvolvimento dentro dos próximos cinquenta anos?’ Steinmetz respondeu: ‘Penso que a maior descoberta será feita no campo da espiritualidade. Aí estão forças, e a História nos ensina, claramente, que tiveram a maior influência no desenvolvimento dos homens. Apesar disso, estivemos até aqui simplesmente brincando com elas e nunca as estudamos com a seriedade que demos às forças físicas. Algum dia, homens e mulheres aprenderão que as coisas materiais não trazem felicidade e são de pouca utilidade para torná-los mais criativos e felizes. Então, os cientistas do mundo inteiro voltarão seus laboratórios para o estudo de Deus, da prece e de forças espirituais que, até hoje, mal foram pesquisadas. Quando esse dia chegar, o mundo verá mais progresso, numa só geração, do que conheceu nas quatro últimas”.  
Jâgadís Chandra Bose, 1858-1937, grande cientista da Índia, citado por Paramahansa Yogananda, inventou o telégrafo sem fio, que antecedeu vários anos a descoberta de Marconi. Bose foi o primeiro a inventar um detector, independente de fios, para as ondas de radiodifusão, e um instrumento para indicar a refração das ondas elétricas. Mas o inventor hindu não explorou comercialmente. Seus descobrimentos revolucionários em fisiologia vegetal ultrapassaram até mesmo suas radicais realizações como físico.
O crescógrafo Bose permite uma ampliação de dez milhões de vezes. O microscópio aumenta alguns milhares de vezes e, apesar disso, deu impulso vital à ciência biológica. O aparelho desvenda incalculáveis horizontes. Segundo Yogananda, os gráficos registrados pelo crescógrafo são prova, aos olhos mais céticos, de que as plantas possuem um sistema nervoso sensitivo e uma vida emocional variada. ‘Amor, ódio, alegria, medo, prazer, dor, excitabilidade, estupor e inúmeras outras respostas a estímulos são tão universais nas plantas como nos animais.’
Com o tempo, as mais adiantadas sociedades científicas do mundo aceitaram as teorias e descobertas de Jâgadís Bose, reconhecendo a importância da contribuição da Índia à ciência.                  
Por sua vez, o professor Norman Brown, da Universidade da Pensilvânia, em artigo publicado em maio de 1939 no Boletim da ‘American Council of Learned Societies’, Washington, D.C., escreveu: ‘Acreditamos que nenhum departamento de estudo, particularmente o de humanidades, em qualquer universidade importante, pode estar completamente equipado sem um especialista conhecedor dos aspectos índicos de sua disciplina. Acreditamos também que toda Faculdade, objetivando preparar seus bacharéis para um trabalho inteligente no mundo em que deverão viver, deve ter entre seus catedráticos um erudito competente em Civilização da Índia’. As Universidades de Kentucky e Washington  e as Faculdades de Cornell e Colgate acrescentaram aos seus currículos um curso sobre a Índia, relata Paramahansa Yogananda em sua obra.
Yogananda menciona em seu livro que, assim como o crescimento das plantas pode ser acelerado muito além de seu ritmo normal, como Jâgadís Bose demonstrou, também o desenvolvimento psicológico do homem pode ser apressado por meios científicos. ‘Seja assíduo em suas práticas; alcançará o Guru de todos os gurus’, escreve.
A Vedanta, sumário dos Vedas, inspirou muitos dos grandes pensadores do Ocidente. O historiador francês Victor Cousin disse: ‘Quando lemos com atenção os monumentos filosóficos do Oriente – sobretudo os da Índia – descobrimos neles muitas verdades tão profundas, que somos obrigados a dobrar o joelho ante a filosofia do Oriente e a ver neste berço da raça humana a terra nativa da mais alta filosofia.
Segundo a Wikipédia Enciclopédia Livre, a Vedanta, que significa ‘a meta de todo o conhecimento’, baseia-se nas leis espirituais imutáveis que são comuns às tradições religiosas e espirituais ao redor do mundo, em que ‘meta do conhecimento’ refere-se a um estado de autorrealização ou de ‘consciência cósmica. Historicamente, a Vedanta tem sido compreendida como um estado de transcendência, e não como um conceito que pode ser compreendido apenas pelo intelecto.
Yogananda revela que todos os pensamentos vibram eternamente no cosmos. ‘Por meio da concentração profunda, um mestre pode descobrir os pensamentos de qualquer pessoa, viva ou morta. Os pensamentos têm raízes de universalidade e não de individualidade; uma verdade não pode ser criada, mas apenas percebida. Todo pensamento errôneo de um homem resulta de uma imperfeição, pequena ou grande, em seu discernimento. O objetivo da ciência da ioga é acalmar a mente, de modo que, sem distorções, esta possa ouvir o conselho infalível da Voz Interior. Embora o ego, nas mais bárbaras formas, conspire para escravizá-lo, o homem não é um corpo confinado a um ponto no espaço, mas é, em essência, alma onipresente’, diz.
Para esse filósofo indiano, quem quer que alcance a consciência e a experiência divina pode atingir qualquer objetivo com os infinitos poderes ocultos dentro de si. ‘Uma pedra contém secretas e estupendas energias atômicas; assim também o mais ínfimo dos mortais é uma central elétrica de divindade.’
Segundo Sri Yuktéswar, guru de Yogananda: ‘A intuição dos seres astrais perfura o véu e observa as atividades humanas na Terra; o homem, ao contrário, não pode ver o mundo astral, a menos que seu sexto sentido esteja desenvolvido. Milhares de habitantes da Terra vislumbraram momentaneamente um ser astral ou um mundo astral. Na Terra, crianças de mente pura são, às vezes, capazes de ver os graciosos corpos atrás das fadas. Por meio de drogas ou bebidas tóxicas, cujo uso é proibido por todas as Escrituras, um homem pode transtornar sua consciência a ponto de perceber formas hediondas nos infernos astrais’.     
A ciência de hoje é conhecimento insignificante, crê o sábio. ‘As verdades assombrosas que serão descobertas por nossos descendentes encontram-se agora mesmo a nosso redor, de olhos arregalados postos em nós, digamos assim; e, apesar disso, nós não as vemos. Mas não basta dizer que não as vemos; nós não as queremos ver – pois logo que se apresenta um fato imprevisto, com o qual não estamos familiarizados, tratamos de situá-lo no esquema de lugares-comuns do conhecimento adquirido, e nos indignamos se alguém ousa proceder a experimentos mais avançados’, argumenta.
Sir James Jeans, Universidade de Cambridge, em ‘O Universo Misterioso (houve edição brasileira na década de 1940)’ escreveu: ‘Os rumos do conhecimento científico apontam para uma realidade não-mecânica; o Universo começa a se parecer mais  a um grande pensamento que a uma grande máquina’.

Fenômenos


A história está repleta de fenômenos inexplicáveis no campo físico. Encontrou-se, por exemplo, o corpo de São João da Cruz, amoroso santo cristão, morto em 1591 e exumado em 1859, em estado incorrupto. Há outros fenômenos que nos permitem fazer reflexões profundas.
Durante os seus últimos vinte anos, Bjáduri Mahásaya sempre viveu encerrado em casa. ‘Só abrandava a regra que impunha a si mesmo nas épocas de festivais sagrados, quando se deslocava até a calçada, diante de sua própria porta! Os mendigos aglomeravam-se ali porque Mahásaya era conhecido por seu terno coração. ‘Como pode permanecer no ar, desafiando a lei da gravidade?’ O corpo de um iogue perde sua densidade depois de praticar certos ‘pranayâmas’ (métodos de controlar a força vital ‘prana’ por meio da respiração regulada. O ‘pranayâma Bhastrika’ – foles, pulmões – estabiliza a mente). Então pode levitar ou pular daqui para ali, à maneira de uma rã que saltita. Até mesmo santos não praticantes de nenhuma ioga formal foram vistos em levitação durante um estado de intenso fervor a Deus’, conta Paramahansa Yogananda.
Já Santa Teresa de Ávila, habituada à grande elevação de alma, achava muito desconcertante a elevação do corpo. Arcando com pesadas responsabilidades administrativas, ela tentou inutilmente evitar suas experiências ‘ascensionais’. ‘Mas as menores precauções de nada servem’, escreveu ela, ‘quando o Senhor quer o contrário’. O corpo de Santa Teresa, que jaz numa igreja de Alba na Espanha, há quatro séculos, manifesta incorruptibilidade, exalando perfume de flores. O lugar tem sido testemunha de inúmeros milagres.
Teresa Neumann é outro exemplo. Ela nem vivia de alimento denso, nem praticava uma técnica iogue científica que a dispensasse de comer. A explicação oculta-se nas complexidades do carma pessoal. Muitas vidas de dedicação a Deus escondem-se atrás de uma Teresa Neumann ou de uma Gíri Bala, mas seus canais de exteriorização diferem. Entre os santos cristãos que viveram sem comer destacam-se: Santa Lidwina de Schiedam, a Bem-aventurada Elisabeth de Rent, Santa Catarina de Siena, Dominica Lazarri, a Bem-aventurada Ângela de Foligno e Louise Lateau, esta do século 19. São Nicolau de Flue, o irmão Klaus, eremita do século 15, absteve-se de alimento durante vinte anos.
Láhiri Mahásaya, citado na obra, tinha um amigo famoso, Swâmi Trailanga, a quem se atribuíam mais de trezentos anos de idade. ‘Os dois iogues frequentemente se sentavam juntos para meditar. A fama de Trailanga tão amplamente se difundiu que poucos indianos negariam autenticidade a qualquer relato de seus espantosos milagres. Se Cristo retornasse à Terra e caminhasse pelas ruas de Nova York, exibindo seus poderes divinos, causaria no povo o mesmo medo reverente que Trailanga provocava, há décadas atrás, ao passar pela multidão nas ruas de Benares. Ele foi um dos ‘síddhas’ (seres que se fizeram perfeitos), os quais deram à Índia alicerces de cimento contra as erosões do tempo. Em muitas ocasiões, viu-se o swâmi beber, sem efeitos nocivos, os venenos mais mortíferos. Milhares de pessoas, inclusive algumas que ainda vivem, puderam ver Trailanga flutuar no Ganges. Durante dias seguidos, ele costumava sentar-se em cima da água; ou, durante períodos muito longos, escondia-se sob as ondas. Um espetáculo comum no Ghat Manikarnika era o corpo imóvel do swâmi sobre as lajes abrasadoras, inteiramente exposto ao sol impiedoso da Índia.’
Há na obra de Paramahansa Yogananda uma passagem que diz: ‘Não precisava dormir, pois estava sempre com Deus. Meu corpo conhecia mais descanso, pela calma absoluta da superconsciência, do que poderia obter pela imperfeita paz do estado subconsciente ordinário. Os músculos se relaxam durante o sono; mas o coração, os pulmões e o sistema circulatório continuam a trabalhar incessantemente; não conhecem repouso. Em superconsciência, todos os órgãos internos permanecem em estado de animação suspensa, eletrificados pela energia cósmica. Por este meio, para mim, vem sendo desnecessário dormir durante anos. – E acrescentou: - Tempo virá em que você, também, dispensará o sono.’
Yogananda descreve: ‘Cerca de meia-noite, Ram Gopal silenciou e deitei-me sobre os cobertores. Fechando os olhos, vi lampejos parecidos a relâmpagos; meu vasto espaço interior era uma câmara de luz difusa. Abri os olhos e observei a mesma radiação deslumbrante. O quarto tornou-se parte da abóbada infinita que eu contemplava com a visão interna. O iogue perguntou: - Por que não dorme? – Senhor, como posso dormir quando relâmpagos fulguram ao meu redor, estejam meus olhos fechados ou abertos? – Você é abençoado ao obter essa experiência. As radiações espirituais não são vistas facilmente. – O santo acrescentou algumas palavras de afeto.’



De acordo com o autor indiano, Deus espera que os homens feitos à Sua imagem coloquem-se acima de todas as identificações com os sentidos e reatem sua união com Ele. ‘A visão cósmica me rendeu muitas lições indeléveis. Aquietando diariamente meus pensamentos, pude libertar-me da ilusória convicção de que meu corpo era uma massa de carne e ossos, a transitar pelo duro solo da matéria. A respiração e a mente inquietas, segundo constatei, são como tempestades que fustigam o oceano de luz, provocando ondas de formas materiais – terra, céu, seres humanos, animais, pássaros, plantas. Não se pode obter nenhuma percepção do Infinito como Luz Única, exceto acalmando essas tempestades’.

Deixamos de perceber a Grande Vida oculta por trás de todos os nomes e formas porque a ciência moderna nos diz como utilizar os poderes da Natureza. A familiaridade com a Natureza fez nascer o desprezo por seus segredos últimos; nossa relação com ela é de caráter prático, cita o livro. Nós a importunamos, digamos assim, para descobrir de que modo podemos forçá-la a servir nossos propósitos; tiramos proveito de suas energias, cuja Fonte ainda permanece desconhecida.  

As mentes obtusas não acreditam na possibilidade da justiça divina, do amor, da onisciência, da imortalidade. Homens com esta insensibilidade, irreverentes ante o espetáculo cósmico, provocam em suas vidas uma discordante sucessão de acontecimentos que por fim os compelirá a buscar a sabedoria.

‘Busque e incorpore a seu ser as melhores qualidades de todos os seus irmãos, disseminados pela Terra, em diferentes raças. Todos os que vierem até você com fé, à procura de Deus, serão ajudados. Quando você olhar para eles, a corrente espiritual, que emana de seus olhos, penetrará nos cérebros e modificará os hábitos materiais alheios, fazendo-os mais conscientes de Deus. Seu destino de atrair almas sinceras é muito bom. Aonde quer que vá, até no deserto, ou na selva, encontrará amigos’, orientava Sri Yuktéswar, guru de Paramahansa Yogananda.

De acordo com o autor, a mente humana, à semelhança do mundo dos fenômenos que ela conhece, é um fluxo perpétuo e não pode atingir o fim último das coisas. A satisfação intelectual não constitui o objetivo mais alto. Quem busca a Deus é realmente amante da verdade inalterável; tudo o mais é conhecimento relativo.
Dante deu um testemunho na ‘Divida Comédia’: ‘Mas tudo quanto do reino sagrado a memória teve o poder de entesourar será meu tema até que o verso finde’. Nesse sentido, enuncia Yogananda: ‘Quem anseia sincera e ardentemente pela sabedoria, contenta-se em iniciar sua busca pela aprendizagem humilde de um simples abecedário dos planos divinos, sem exigir prematuramente um gráfico matemático exato da ‘Teoria Einsteiniana’ da vida.

·         Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Para comentar mais facilmente, ao clicar em “Comentar como – Selecionar Perfil”, selecione NOME/URL. Após fazer a seleção, digite seu NOME e, em URL (preenchimento opcional), coloque o endereço do seu site.