quinta-feira, 25 de junho de 2015

MEDITAÇÃO: O DESPERTAR DA VISÃO INTERIOR

Em busca de paz. Com esta leitura, talvez seja possível trilhar um caminho mais leve!


Tom Simões, tomsimoes@hotmail.com, jornalista, Santos (SP), 25 de junho de 2015 




DEDICAMOS todo o tempo da vida pensando. Pensando e fantasiando. Pensando em muitas coisas, necessárias e desnecessárias, sendo que o foco da nossa mente está sempre direcionado para o lado de fora. ‘Minha mente é como um céu, meus pensamentos são como nuvens’, revela o monge budista Geshe Kelsang Gyatso. Assim, o cérebro vai acumulando milhares de informações, difíceis de serem produtivamente processadas. Daí, quando ouvimos falar da tal ‘paz interior’, acreditamos tratar-se de uma fantasia impossível de concretizar.

O verdadeiro conhecimento deve conduzir à transformação interior. De outra forma, é apenas informação. Eu quero imaginar então como o leitor se comportará diante deste conteúdo.  Imaginar se ele conseguirá relaxar durante um tempo para refletir sobre um assunto de fundamental importância para a sua existência: a interiorização. Quem sabe, ao final do texto, seja possível compreender o que é necessário cultivar para atingir o estado de plenitude experimentado pelos sábios e santos que compõem a história da humanidade.

Quem explora esse tema com sabedoria é Sri Daya Mata, filósofa indiana, em ‘Só o amor’: ‘É apenas aprendendo a aquietar nossa consciência, como os grandes mestres nos ensinaram, que poderemos perceber dentro de nós a presença do Divino. Ele tem estado conosco desde o início dos tempos; Ele está conosco agora, e estará conosco por toda a eternidade. Segure-se firme Naquele que é imutável’.


Eu creio que o leitor não sairá ileso desta provocação. Nada do que ora abordo baseia-se em conceitos teóricos, tão somente. Quando leio e me inspiro em algo, trata-se de algo com que me identifico, que já experienciei, ou susceptível de me enriquecer. Compartilho minhas experiências para encorajar as pessoas. O psicanalista Contardo Calligaris diz, também, que escreve para estimular o leitor a melhorar a qualidade de sua experiência de vida, intensificando-a. Algo que provoque um pensamento novo.

Sobre o processo da interiorização, escreve Geshe Kelsang Gyatso em ‘Transforme sua vida’: ‘A verdadeira causa de felicidade é a paz interior, e esta só pode ser encontrada dentro da mente, não em condições exteriores’. Em sua edição 2420, de 8/4/2015, a revista ‘Veja’ (carta ao leitor: ‘A religião e a ciência’) faz uma chamada: ‘A vida interior tem precedência sobre todas as outras. Cultivá-la é um assunto sério’.  

‘Deus responde a cada esforço do devoto, a cada apelo devocional. Mesmo como principiante, isso será perceptível na sua própria busca se aprender a reconhecê-Lo como a silenciosa paz interna que chega furtivamente à sua consciência. Essa paz é a primeira prova da presença de Deus no seu interior. Você saberá que foi Ele quem o guiou e inspirou a tomar certas decisões na vida. Você sentirá a força Dele dando a você poder para superar maus hábitos e para nutrir as qualidades espirituais. Você O conhecerá como amor e alegria sempre crescentes, que jorram das profundezas do seu ser, transbordando nos relacionamentos da sua vida cotidiana’, relata Paramahansa Yogananda, filósofo indiano (‘Onde Existe Luz’).

O próximo passo na evolução humana, segundo Eckhart Tolle (‘O poder do silêncio’), é transcender o pensamento. ‘Hoje é a nossa tarefa mais premente. Isso não significa que não devemos mais pensar, mas simplesmente que não devemos nos identificar com o pensamento nem ser dominados por ele’, escreve o filósofo. 

O poder da mente


Em ‘Compaixão Universal’, Geshe Kelsang Gyatso lembra que nossa mente atual é como um elefante selvagem, fora de controle e difícil de domar: ‘Governados por essa mente descontrolada, enfrentamos muitas dificuldades e problemas. Se disciplinarmos e apaziguarmos nossa mente selvagem, assumiremos o controle e, assim, ficaremos livres dos nossos problemas atuais. A princípio, pensamentos negativos ainda poderão surgir, mas já não terão poder sobre nós e não nos levarão a cometer as ações negativas, que são a base de todos os nossos problemas. Com esse autocontrole, estaremos sempre calmos e compostos, e nossa mente permanecerá estável em todas as circunstâncias. Tendo obtido paz e estabilidade com o controle da nossa mente, poderemos, por fim, alcançar a paz da libertação e a meta espiritual última, a budeidade. Se praticarmos o treino da mente, nossa mente permanecerá calma e estável, quaisquer que sejam as circunstâncias’.




Lembrando então Paramahansa Yogananda (‘Paz interior’): o melhor abrigo é o silêncio da alma. E se você puder desenvolver esse silêncio, nada no mundo poderá tocá-lo. Você pode permanecer inabalado em meio à colisão de mundos que se destroem. Ponha seu coração em Deus. Quanto mais você buscar Nele a paz, mais essa paz destruirá suas preocupações e sofrimentos, escreve o filósofo.

Em ‘Só o amor’ (Sri Daya Mata), lê-se: ‘Às vezes, acordo no meio da noite; não há vontade de dormir, unicamente de passar cada momento possível falando com Deus. Para mim, isso é realidade; e porque encontro meu prazer, minha paz, minha alegria na comunhão com Ele, desejo isso para cada um de vocês. [...] Nem gosto muito de usar a palavra ‘prece’, que parece indicar um apelo formal e unilateral a Deus. Para mim, conversar com Deus, falar com Ele como se fala a um amigo próximo e querido, é uma forma de oração mais natural, pessoal e eficaz. Quando ouço falar de tragédias de guerra e outros sofrimentos da humanidade, ou quando qualquer pessoa me escreve e pede ajuda, imediatamente discuto isso com Deus, conversando com Ele no silencioso santuário de minha alma’.

Pensamento correto

‘Se você quiser expulsar a escuridão da sala, não vai usar um mata-moscas e ficar desferindo golpes na escuridão, vai? Porque, mesmo que pudesse fazer isso um milhar de anos, você não a afastaria. A maneira de expulsar a escuridão da sala é acender a luz, ou riscar um fósforo. A maneira de vencer os pensamentos negativos é aplicar o oposto, o pensamento positivo. No momento em que você começa a pensar de forma mais positiva em sua vida, começa a falar de forma mais positiva, começa a agir de forma mais positiva, saiba com certeza que está aplicando as leis divinas que atrairão automaticamente para você o resultado benéfico dessas leis’, prossegue Daya Mata. ‘Assim, junto com a meditação diária, é essencial que o indivíduo aprenda a vigiar os pensamentos, porque o pensamento é o pai ou a mãe da ação. O que você pensa expressa-se por fim em palavras e ações. Assim, a pessoa tem de começar substituindo os pensamentos negativos, de crítica e de dúvida, por pensamentos positivos; e a maneira mais simples de fazer isso, segundo minha própria experiência, é: sempre que tiver tempo livre de obrigações, deixe que a mente descanse em Deus. Ele é o pensamento mais poderoso do mundo. Chama-se a isso praticar a presença de Deus. A mente é como uma página em branco quando você nasce. Seus pensamentos então começam a fazer riscos no cérebro. Quando você toma um pensamento particular – especialmente se for negativo ou destrutivo – e pensa nele por vezes sem conta, e ninguém jamais o educa ou disciplina para tirá-lo dessa ranhura, você vai descobrir que, à medida que avança em idade, chega uma hora em que está absolutamente preso a esse pensamento e não consegue se libertar’, orienta a filósofa indiana.

Daya Mata entende que o Absoluto só pode ser capturado no mais profundo silêncio e paz. ‘Entretanto, como podemos conseguir isso quando, nesta vida atarefada, precisamos também servir ao próximo? Se recorremos ao Bhagavad Gita (texto religioso hindu) e às palavras de Jesus na Bíblia, aprendemos ali que o verdadeiro caminho para a autorrealização é aquele que combina a meditação com a atividade correta. Ambas são essenciais para vivenciar a consciência divina. Você precisa compreender isto: buscar Deus significa também servi-Lo na humanidade. Você não pode mergulhar completamente na consciência celestial de Deus sem que tenha aprendido a arte de equilibrar sua vida com meditação mais atividade correta.’


Outro ponto importante nesse contexto todo, segundo Paramahansa Yogananda (‘Onde existe luz’) é que o poder da mente traz consigo a infalível energia de Deus. Este é o poder de que você precisa no corpo. E existe um modo de levá-lo para ali: a comunhão com Deus mediante a meditação. Quando sua comunhão com Ele for perfeita, a cura será permanente. Saber exatamente como e quando orar, de acordo com a natureza de suas necessidades, é o que traz os resultados desejados. Quando o método correto é aplicado, ela faz entrar em ação as leis apropriadas de Deus. Sendo operadas cientificamente, essas leis produzem resultados.

Consciência e meditação

Aprofunde-se na meditação, observa Daya Mata. ‘Não importa se sua meditação é de apenas cinco minutos; faça que esses cinco minutos tenham valor para o Ser Amado. Mas medite por mais tempo quando puder. Não procure desculpas para não meditar todos os dias, regularmente. Consuma-se, noite e dia, com o desejo ardente por Deus. Palavras são incapazes de descrever a alegria que nasce desse relacionamento. Use os fins de semana para meditar, para se isolar, para renovar sua força espiritual interior. Se você meditar com regularidade e profundamente, isso mudará toda a sua vida’. 

 ‘É possível ter experiências transcendentais sem professar uma fé. A palavra espírito vem do latim ‘spiritus’, uma tradução do termo grego ‘pneuma’, que significa respiração, com o propósito de retirar do termo a conotação ‘mística’ que o enredou ‘em crenças sobre almas imateriais, seres sobrenaturais, fantasmas e daí por diante, a partir do século XIII. A palavra espiritualidade é empregada para discorrer sobre os esforços que as pessoas fazem para trazer a mente por inteiro ao presente. O modo mais racional, aceitável e simples de fazer um incrédulo vivenciar a transcendência é a meditação, ou seja, a possibilidade de alcançar a mais profunda consciência de si próprio’, revela Sam Harris, neurocientista americano, neoateísta, autor de ‘Despertar’, Companhia das Letras (revista Veja, ‘Espiritualidade – A busca da transcendência longe das religiões’, 8/4/2015). Para o novo ateísmo, é possível alcançar um arrebatador sentimento de elevação, a partir de um estado de consciência plena, sem que isso se aproxime de algo como uma dimensão mística, sustenta o neurocientista.

Felicidade = paz interior

Dizem que a felicidade não se compra (apesar de muita gente duvidar disso). Os experimentos científicos de que o monge budista francês Matthieu Ricard participou, no entanto, introduzem uma nova máxima: é preciso treinar o cérebro para ser feliz. Há 40 anos, o francês abandonou a carreira como doutor em biologia molecular e se mudou para a região do Himalaia, onde virou monge. Nos últimos 15 anos, reconciliou ciência e meditação ao virar cobaia de uma série de estudos que investigam os efeitos da meditação, da compaixão e do altruísmo no cérebro. Uma pesquisa científica analisou os efeitos da compaixão, do amor e da bondade no cérebro, da qual participou o monge francês, feita pelo neurocientista Richard Davidson, da Universidade de Wisconsin (EUA). Nela, vários meditadores experientes tiveram seus cérebros escaneados durante a meditação e foi mapeada atividade intensa e muito poderosa nas áreas relacionadas a emoções positivas.



O monge francês acabou de voltar do laboratório de neurociência nos EUA, ‘no qual estamos estudando mudanças no cérebro daqueles que praticam meditação. O resultado: 20 minutos diários por um mês já modificam a estrutura e o funcionamento do cérebro, ativando áreas ligadas a emoções positivas e o volume das áreas ligadas à armazenagem e ao controle emocional’, diz.

Matthieu, 69, entrevistado por Fernanda Mena (‘Felicidade não se compra, mas certamente se treina’), Folha de S. Paulo, 17/5/2015, fala da importância de se desmistificar o conceito de meditação, muitas vezes vista como algo exótico. Muita gente acha que meditar é esvaziar a mente e relaxar. Bobagem. A palavra em sânscrito e em tibetano significa ‘cultivar’. O monge ensina que meditar é cultivar um estado mental. ‘É um treino. O segredo é praticar. Quem toca um instrumento tem de treinar e treinar até desenvolver seu potencial. Ninguém espera tocar piano sem treino. Por que esperar que compaixão, altruísmo, liberdade interior e concentração ocorram magicamente? Não faz sentido. O budismo enfatiza muito o treinamento da mente. E pesquisas feitas com eletroencefalograma e com máquinas de ressonância magnética estão apontando para os efeitos desse treinamento no cérebro, no sistema imunológico e na diminuição de doenças como a depressão. Não há mistério. Treine, de novo e de novo. Você pode começar com algo fácil, como a concentração em um objeto ou em sentimentos de amor que tem por uma determinada pessoa. Se o pensamento desaparece, você o reaviva. Se a mente se distrai, você a traz de volta. Cinco, dez, vinte minutos diários. Isso é meditação. Quanto mais praticar, mais significativas serão as mudanças no cérebro e no seu comportamento’, finaliza.

O que é felicidade então? ‘Felicidade é bem-estar. Não é busca incessante por sensações prazerosas. Tudo bem querer sentir prazer, mas é algo efêmero. Felicidade é outro negócio: é realização, satisfação e florescimento. Felicidade é consequência de várias qualidades, entre elas, a liberdade interior. Não liberdade para você fazer o que quiser, mas em relação a pensamentos que escravizam. Obsessões, ganância, raiva, ciúmes, arrogância. Depois de 15 anos de pesquisas e encontros com cientistas, cheguei à conclusão que altruísmo é a mais importante das qualidades que compõem a felicidade’, conta o monge francês.

‘Medite de manhã e de noite’, orienta Sri Daya Mata. ‘Aprofunde-se cada vez mais na meditação. E medite tarde da noite e noite adentro. Não pense que tenha de dormir muito. Isso é verdadeiro. Qualquer um de vocês que tenha meditado muito profundamente sabe que, na meditação profunda, o corpo e a mente têm total descanso, muito maior do que se pode ter no reino subconsciente do sono. No sono, sonhamos; não temos sempre o descanso do corpo ou da mente. Mas na meditação profunda o corpo e a mente entram num estado de tranquilidade total, paz total’.

O mundo interior é a única fuga real de nossas tribulações, prossegue a filósofa indiana.  ‘Quanto mais, na meditação, permanecemos na consciência divina do mundo interior, mais queremos ficar nela. É fácil entender por que os grandes iogues mergulham nesse estado meditativo durante horas, dias ou anos seguidos. Quando uma pessoa se interioriza profundamente, compreende que só então está vivendo de fato, só então está em contato com a Realidade. Ela não tem vontade de abandonar esse céu interior, de descer desse plano de consciência’.

No entender de Daya Mata, o Senhor não espera que fujamos para a floresta para buscá-Lo na solidão. Precisamos encontrar essa solidão dentro de nós. Então, quando trazemos nossa consciência de volta, do estado meditativo para a percepção do mundo, permanecemos num plano mais elevado.

Sobre o silêncio

Paramahansa Yogananda (´Paz interior’) também relata sabiamente: ‘Quando tiver acabado de cumprir seus deveres, ao fim do dia, sente-se sozinho em silêncio. Pegue um bom livro e leia com atenção; em seguida, medite longa e profundamente. Você encontrará maior paz e felicidade nisso do que nas atividades inquietas em que sua mente corre turbulenta por todas as direções. Se você cultivar o hábito de passar períodos solitários de meditação em casa, um grande poder e uma grande paz descerão sobre você e ficarão com você em suas atividades e na meditação. O isolamento é o preço da grandeza.

O filósofo indiano explica que se por um instante pudéssemos perceber o efeito sobre nós das cargas que colocamos frequentemente sobre nossa mente, talvez ficássemos surpresos de não termos tido um colapso há muito tempo. Impondo à nossa mente o ônus de todos os tipos de preocupação e ansiedade, logo ficamos oprimidos por essa carga. Como resultado, insinua-se o temor e perdemos nossa disposição mental e nosso equilíbrio espiritual.

Anthony Strano (‘O Ponto Alfa’) traz mais este conhecimento: No atribulado mundo em que vivemos, os maiores erros são provocados pelos pensamentos inúteis. São eles que instalam as armadilhas das nossas desilusões e transformam nossas vidas em rosários de ignomínias. Cada vez mais eu percebia que o silêncio e a serenidade eram tão importantes quanto o conhecimento, isto é, além de aprender com a experiência dos outros, era necessário que eu praticasse serenidade. Não apenas orar, cantar ou recitar, mas entrar em um estado de profundo silêncio interior, no qual a alma possa ouvir Deus. Na serenidade, a alma pode sintonizar-se em aspectos da existência que estão além da análise e discussão’.

‘Sob as sombras desta vida se encontra a Luz maravilhosa de Deus. O universo é um vasto templo de Sua presença. Quando você meditar, vai encontrar, em toda a parte, portas se abrindo para Ele. Quando você está em comunhão com Ele, nem mesmo os maiores danos do mundo podem roubar-lhe essa Alegria e essa Paz’, escreve Paramahansa Yogananda.

Primeiros passos...

Eu pratico meditação há quatro anos e meio, aproximadamente. E sempre poucos minutos, várias vezes ao dia. No meio da noite, no intervalo de um sono para o outro; ao acordar, antes de sair da cama; no trabalho, quando sinto que algo pode desconcertar-me; na própria academia de ginástica, de um treino para outro... Outro dia, um colega da academia, médico urologista, perguntou por que eu ficava de olhos fechados, alguns momentos, praticando os exercícios! Expliquei-lhe que me concentrava no corpo, meditando! Ele ficou interessado, dizendo ser extremamente ansioso por conta dos compromissos médicos, que comprometiam bastante a sua qualidade de sono. O leigo da medicina aqui sugeriu então a receita para o   médico: meditar!

As pessoas estão apressadas demais. E também muito ansiosas, distraídas e viciadas na internet. Imagine ir para a academia de ginástica e ficar o tempo todo no ‘WhatsApp’! Como fica então a concentração no exercício e no próprio corpo, favorecendo a qualidade total do treino? Este é só um exemplo de como as pessoas estão vivendo hoje, sem se concentrarem no porquê de suas atividades!

Em qualquer instante do dia é possível relaxar. Fechar os olhos e não pensar em nada! Se for o caso, concentre-se na ponta do nariz, acompanhando suavemente cada inspiração e expiração. Inspira e segura; expira e segura. Muitas vezes seguidas. Pode-se também segurar a inspiração até o máximo possível e depois expirar lenta e repetidamente. Onde quer que você esteja. Sentado ou em pé. Esta é uma das formas de não pensar em nada, concentrando-se apenas na respiração. Pode-se também focar em algo que remeta a uma sensação de paz: uma luz, uma divindade, um riacho, uma floresta... Essas são práticas iniciais, em termos de observação dos próprios processos mentais, exercitando-se para a interiorização, pois, com o tempo, aprende-se a meditar sem pensar em nada, absolutamente em nada!




Uma forma ideal de concentração é no ‘terceiro olho’, que se situa no ponto central entre as sobrancelhas. Conhecido como "terceiro olho" na tradição hinduísta, está ligado à capacidade intuitiva e à percepção sutil. Quando bem desenvolvido, pode indicar um sensitivo de alto grau. Durante a meditação profunda, o olho único (terceiro olho), ou espiritual, torna-se visível dentro da porção central da testa. Este olho onisciente é mencionado de vários modos nas Escrituras como: o terceiro olho, a estrela do Oriente, o olho interno, a pomba descendo do céu, o olho de Shiva, o olho da intuição etc. Trata-se de um chakra (centro energético dentro do corpo humano que distribui a energia) extremamente importante no hinduísmo, pois corresponde à intuição, percepção e desenvolvimento do conhecimento. É através do conhecimento que se pode transcender e chegar à iluminação.

Segundo a organização ‘Brahma Kumaris’, a mais importante jornada que podemos fazer é a jornada interna. ‘É o lugar, além da consciência de cada dia, onde se inicia o fortalecimento espiritual. O poder espiritual nos dá poder para escolher pensamentos criativos em vez de pensar de forma automática; dar resposta proativa em vez de reação; paz, amor e harmonia ao invés de estresse, conflito e caos. A meditação permite que embarquemos nessa jornada interior’.

Há diferentes oportunidades para a prática da meditação. É claro que o ideal é praticá-la em um templo ou um lugar reservado. Mas é possível praticá-la também esperando o elevador, por exemplo. Sabe aquele momento em que a gente se incomoda com a espera dele? Relaxe e se concentre; o incômodo não irá apressar a chegada do elevador. O importante é cultivar o estado de paz interior. Há outros exemplos nesse sentido: a demora de um ‘link’ no computador, a espera na fila para determinado atendimento... A ansiedade, nesses momentos, em nada auxilia; é relaxar e se concentrar em algo elevado.

A meditação nada mais é do que a conexão com Deus, com o plano divino ou transcendental. Deus não invade o interior de cada um de nós. Nem bate à porta! Ele é convidado a entrar em nossa casa. A meditação propicia a entrada dessa Luz em nosso ser. Daí a sensação de paz interior que ela proporciona. Só com o tempo, o praticante começa a ter essa percepção de paz indescritível.

Contato (comunhão) divino

Como mostra Paramahansa Yogananda (‘Autobiografia de um iogue’), a divindade encontra-se oculta dentro de cada ser humano, é preciso despertá-la – o caminho é a interiorização. ‘Procurar Deus com toda a sinceridade durante o maior tempo possível. Se praticar com firmeza e constância, você perceberá mudanças gradativas em seu equilíbrio mental. Vibrações de paz emanam da meditação e chegam a ter até mesmo o poder de curar. Fazer pausas entre os afazeres diários, meditando! Concentre-se na paz interior e borde-a até os limites de sua própria originalidade’, diz o mestre. Não é necessário se prender a normas estabelecidas. Escolha a prática com a qual você mais se identifica; pode ser o conjunto de várias delas. Seja apenas assíduo em suas experimentações e consequentes progressos.

Para Paramahansa, o que alguém não se dá ao trabalho de procurar dentro de si, não será descoberto transportando o corpo de cá para lá. Mas assim que o devoto voluntariamente se dispõe a ir ao fim do mundo para obter a iluminação espiritual, seu guru lhe aparece, bem próximo. ‘Você dispõe de um quarto pequeno onde possa fechar a porta e estar sozinho? Essa é a sua caverna. Essa é a sua montanha sagrada. Ali é que achará o reino de Deus.’

‘O iogue perguntou: - Por que não dorme? – Senhor, como posso dormir quando relâmpagos fulguram ao meu redor, estejam meus olhos fechados ou abertos? – Você é abençoado ao obter esta experiência. As radiações espirituais não são vistas facilmente’, escreve o filósofo indiano.

Para ele, a intuição, que é o guia da alma, surge com naturalidade no homem, nos instantes em que a mente se acha calma. “Quase todos já tiveram a experiência de um pressentimento inexplicavelmente correto ou transferiram seus pensamentos com exatidão a outra pessoa. Todos os pensamentos vibram eternamente no cosmos. Por meio da concentração profunda, um mestre pode descobrir os pensamentos de qualquer pessoa, viva ou morta. Os pensamentos têm raízes de universalidade e não de individualidade; uma verdade não pode ser criada, mas apenas percebida. Todo pensamento errôneo de um homem resulta de uma imperfeição, pequena ou grande, em seu discernimento. O objetivo da ciência da ioga é acalmar a mente, de modo que, sem distorções, esta possa ouvir o conselho infalível da Voz Interior”.

Como então associar nossa consciência com Deus? Há na obra de Sri Daya Mata (‘Só o amor’) um trecho muito inspirador nesse sentido: “Ao despertar de manhã, não pense primeiro no trabalho; torne um hábito levantar-se alguns minutos mais cedo do que de costume, de modo que, antes de começar as  obrigações do dia, você possa passar quinze minutos, ou meia hora, meditando e comungando com Deus. Nesse período, esqueça o tempo e as responsabilidades mundanas; se houver uma sensação de urgência para terminar a meditação, você não terá a receptividade necessária para sentir a presença de Deus. Durante a meditação, afaste todos os pensamentos estranhos; pense somente em Deus. Fale com Deus na linguagem de seu coração. Depois da meditação, leve a todas as suas atividades, da melhor maneira que puder, a paz da meditação que você acumulou no coração.

Por sua vez, em ‘Paz interior’, o filósofo Paramahansa Yogananda diz que o melhor abrigo é o silêncio da alma. ‘E se você puder desenvolver esse silêncio, nada no mundo poderá tocá-lo. Você pode permanecer inabalado em meio à colisão de mundos que se destroem. Ponha seu coração em Deus. Quanto mais você buscar Nele a paz, mais essa paz destruirá suas preocupações e sofrimentos’. Por outro lado, aumentam as evidências de que a meditação tem a capacidade de melhorar a saúde física e não apenas a saúde mental.

‘Sem paz interior, a paz exterior é impossível. Todos nós desejamos que haja paz mundial, mas a paz mundial jamais poderá ser conquistada sem que primeiro estabeleçamos a paz em nossa própria mente’, lembra o budista Geshe Kelsang Gyatso (‘Transforme a sua vida’).

Com o exercício diário da meditação, as pessoas vão experimentando sensações de paz interior, que as levam a preferir ambientes mais calmos, a evitar conversas improdutivas, a observar melhor e valorizar as coisas mais simples da vida..., e interrompendo com mais facilidade o falatório da mente, permitindo a conexão com o plano divino.

O resto é prática. Viver com simplicidade e pensar com elevação. Há algo que diz que se a gente deseja evoluir e fazer evoluir a Humanidade, ideias e caminhos nos serão oferecidos, não raramente chegando até mesmo a nos surpreender. Portanto, se desejamos realmente mudar nossa vida, em termos do que é essencial à natureza do ser humano, precisamos começar neste momento!


Assista também a este vídeo, que enriquece muito toda esta ideia.


·         Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Para comentar mais facilmente, ao clicar em “Comentar como – Selecionar Perfil”, selecione NOME/URL. Após fazer a seleção, digite seu NOME e, em URL (preenchimento opcional), coloque o endereço do seu site.