Em busca
de paz. Com esta leitura, talvez seja possível trilhar um caminho mais leve!
DEDICAMOS todo o tempo da vida pensando. Pensando e
fantasiando. Pensando em muitas coisas, necessárias e desnecessárias, sendo que
o foco da nossa mente está sempre direcionado para o lado de fora. ‘Minha mente é como um céu, meus pensamentos são como
nuvens’, revela o monge budista Geshe Kelsang Gyatso. Assim, o cérebro
vai acumulando milhares de informações, difíceis de serem produtivamente
processadas. Daí, quando ouvimos falar da tal ‘paz interior’, acreditamos
tratar-se de uma fantasia impossível de concretizar.
O verdadeiro
conhecimento deve conduzir à transformação interior. De outra forma, é apenas
informação. Eu quero imaginar então como o leitor se comportará diante deste
conteúdo. Imaginar se ele conseguirá
relaxar durante um tempo para refletir sobre um assunto de fundamental
importância para a sua existência: a interiorização. Quem sabe, ao final do
texto, seja possível compreender o que é necessário cultivar para atingir o
estado de plenitude experimentado pelos sábios e santos que compõem a história
da humanidade.
Quem explora esse
tema com sabedoria é Sri Daya Mata, filósofa indiana, em ‘Só o amor’: ‘É apenas aprendendo a aquietar nossa consciência, como
os grandes mestres nos ensinaram, que poderemos perceber dentro de nós a
presença do Divino. Ele tem estado conosco desde o início dos tempos; Ele está
conosco agora, e estará conosco por toda a eternidade. Segure-se firme Naquele
que é imutável’.
Eu creio que o
leitor não sairá ileso desta provocação. Nada do que ora abordo baseia-se em conceitos
teóricos, tão somente. Quando leio e me inspiro em algo, trata-se de algo com que
me identifico, que já experienciei, ou susceptível de me enriquecer.
Compartilho minhas experiências para encorajar as pessoas. O psicanalista
Contardo Calligaris diz, também, que escreve para estimular o leitor a melhorar
a qualidade de sua experiência de vida, intensificando-a. Algo que provoque um
pensamento novo.
Sobre o
processo da interiorização, escreve Geshe Kelsang Gyatso em ‘Transforme sua vida’: ‘A verdadeira
causa de felicidade é a paz interior, e esta só pode ser encontrada dentro da
mente, não em condições exteriores’. Em sua edição 2420, de 8/4/2015, a revista
‘Veja’ (carta ao leitor: ‘A religião e a ciência’) faz uma
chamada: ‘A vida interior tem precedência
sobre todas as outras. Cultivá-la é um assunto sério’.
‘Deus responde
a cada esforço do devoto, a cada apelo devocional. Mesmo como principiante, isso
será perceptível na sua própria busca se aprender a reconhecê-Lo como a
silenciosa paz interna que chega furtivamente à sua consciência. Essa paz é a
primeira prova da presença de Deus no seu interior. Você saberá que foi Ele
quem o guiou e inspirou a tomar certas decisões na vida. Você sentirá a força
Dele dando a você poder para superar maus hábitos e para nutrir as qualidades
espirituais. Você O conhecerá como amor e alegria sempre crescentes, que jorram
das profundezas do seu ser, transbordando nos relacionamentos da sua vida
cotidiana’, relata Paramahansa Yogananda, filósofo indiano (‘Onde Existe Luz’).
O próximo
passo na evolução humana, segundo Eckhart Tolle (‘O poder do silêncio’), é transcender o pensamento. ‘Hoje é a nossa
tarefa mais premente. Isso não significa que não devemos mais pensar, mas
simplesmente que não devemos nos identificar com o pensamento nem ser dominados
por ele’, escreve o filósofo.
O poder da
mente
Em ‘Compaixão Universal’, Geshe Kelsang
Gyatso lembra que nossa mente atual é como um elefante selvagem, fora de
controle e difícil de domar: ‘Governados por essa mente descontrolada,
enfrentamos muitas dificuldades e problemas. Se disciplinarmos e apaziguarmos
nossa mente selvagem, assumiremos o controle e, assim, ficaremos livres dos
nossos problemas atuais. A princípio, pensamentos negativos ainda poderão
surgir, mas já não terão poder sobre nós e não nos levarão a cometer as ações
negativas, que são a base de todos os nossos problemas. Com esse autocontrole,
estaremos sempre calmos e compostos, e nossa mente permanecerá estável em todas
as circunstâncias. Tendo obtido paz e estabilidade com o controle da nossa
mente, poderemos, por fim, alcançar a paz da libertação e a meta espiritual
última, a budeidade. Se praticarmos o treino
da mente, nossa mente permanecerá calma e estável, quaisquer que sejam as
circunstâncias’.
Lembrando
então Paramahansa Yogananda (‘Paz
interior’): o melhor abrigo é o silêncio da alma. E se você puder
desenvolver esse silêncio, nada no mundo poderá tocá-lo. Você pode permanecer
inabalado em meio à colisão de mundos que se destroem. Ponha seu coração em
Deus. Quanto mais você buscar Nele a paz, mais essa paz destruirá suas preocupações
e sofrimentos, escreve o filósofo.
Em ‘Só o amor’ (Sri Daya Mata), lê-se: ‘Às
vezes, acordo no meio da noite; não há vontade de dormir, unicamente de passar
cada momento possível falando com Deus. Para mim, isso é realidade; e porque
encontro meu prazer, minha paz, minha alegria na comunhão com Ele, desejo isso
para cada um de vocês. [...] Nem gosto muito de usar a palavra ‘prece’, que
parece indicar um apelo formal e unilateral a Deus. Para mim, conversar com
Deus, falar com Ele como se fala a um amigo próximo e querido, é uma forma de
oração mais natural, pessoal e eficaz. Quando ouço falar de tragédias de guerra
e outros sofrimentos da humanidade, ou quando qualquer pessoa me escreve e pede
ajuda, imediatamente discuto isso com Deus, conversando com Ele no silencioso
santuário de minha alma’.
Pensamento
correto
‘Se você
quiser expulsar a escuridão da sala, não vai usar um mata-moscas e ficar
desferindo golpes na escuridão, vai? Porque, mesmo que pudesse fazer isso um
milhar de anos, você não a afastaria. A maneira de expulsar a escuridão da sala
é acender a luz, ou riscar um fósforo. A maneira de vencer os pensamentos
negativos é aplicar o oposto, o pensamento positivo. No momento em que você
começa a pensar de forma mais positiva em sua vida, começa a falar de forma
mais positiva, começa a agir de forma mais positiva, saiba com certeza que está
aplicando as leis divinas que atrairão automaticamente para você o resultado benéfico
dessas leis’, prossegue Daya Mata. ‘Assim, junto com a meditação diária, é
essencial que o indivíduo aprenda a vigiar os pensamentos, porque o pensamento
é o pai ou a mãe da ação. O que você pensa expressa-se por fim em palavras e
ações. Assim, a pessoa tem de começar substituindo os pensamentos negativos, de
crítica e de dúvida, por pensamentos positivos; e a maneira mais simples de
fazer isso, segundo minha própria experiência, é: sempre que tiver tempo livre
de obrigações, deixe que a mente descanse em Deus. Ele é o pensamento mais
poderoso do mundo. Chama-se a isso praticar a presença de Deus. A mente é como
uma página em branco quando você nasce. Seus pensamentos então começam a fazer
riscos no cérebro. Quando você toma um pensamento particular – especialmente se
for negativo ou destrutivo – e pensa nele por vezes sem conta, e ninguém jamais
o educa ou disciplina para tirá-lo dessa ranhura, você vai descobrir que, à
medida que avança em idade, chega uma hora em que está absolutamente preso a
esse pensamento e não consegue se libertar’, orienta a filósofa indiana.
Daya Mata
entende que o Absoluto só pode ser capturado no mais profundo silêncio e paz. ‘Entretanto,
como podemos conseguir isso quando, nesta vida atarefada, precisamos também
servir ao próximo? Se recorremos ao Bhagavad
Gita (texto religioso hindu) e às palavras de Jesus na Bíblia, aprendemos
ali que o verdadeiro caminho para a autorrealização é aquele que combina a
meditação com a atividade correta. Ambas são essenciais para vivenciar a
consciência divina. Você precisa compreender isto: buscar Deus significa também
servi-Lo na humanidade. Você não pode mergulhar completamente na consciência
celestial de Deus sem que tenha aprendido a arte de equilibrar sua vida com meditação
mais atividade correta.’
Outro ponto
importante nesse contexto todo, segundo Paramahansa Yogananda (‘Onde existe luz’) é que o poder da
mente traz consigo a infalível energia de Deus. Este é o poder de que você
precisa no corpo. E existe um modo de levá-lo para ali: a comunhão com Deus
mediante a meditação. Quando sua comunhão com Ele for perfeita, a cura será
permanente. Saber exatamente como e quando orar, de acordo com a natureza de
suas necessidades, é o que traz os resultados desejados. Quando o método
correto é aplicado, ela faz entrar em ação as leis apropriadas de Deus. Sendo
operadas cientificamente, essas leis produzem resultados.
Consciência
e meditação
Aprofunde-se
na meditação, observa Daya Mata. ‘Não importa se sua meditação é de apenas
cinco minutos; faça que esses cinco minutos tenham valor para o Ser Amado. Mas
medite por mais tempo quando puder. Não procure desculpas para não meditar
todos os dias, regularmente. Consuma-se, noite e dia, com o desejo ardente por
Deus. Palavras são incapazes de descrever a alegria que nasce desse
relacionamento. Use os fins de semana para meditar, para se isolar, para
renovar sua força espiritual interior. Se você meditar com regularidade e
profundamente, isso mudará toda a sua vida’.
‘É possível ter experiências transcendentais
sem professar uma fé. A palavra espírito vem do latim ‘spiritus’, uma tradução
do termo grego ‘pneuma’, que significa respiração, com o propósito de retirar
do termo a conotação ‘mística’ que o enredou ‘em crenças sobre almas
imateriais, seres sobrenaturais, fantasmas e daí por diante, a partir do século
XIII. A palavra espiritualidade é empregada para discorrer sobre os esforços
que as pessoas fazem para trazer a mente por inteiro ao presente. O modo mais
racional, aceitável e simples de fazer um incrédulo vivenciar a transcendência
é a meditação, ou seja, a possibilidade de alcançar a mais profunda consciência
de si próprio’, revela Sam Harris, neurocientista americano, neoateísta, autor
de ‘Despertar’, Companhia das Letras
(revista Veja, ‘Espiritualidade – A busca da transcendência longe das religiões’,
8/4/2015). Para o novo ateísmo, é possível alcançar um arrebatador sentimento
de elevação, a partir de um estado de consciência plena, sem que isso se
aproxime de algo como uma dimensão mística, sustenta o neurocientista.
Felicidade =
paz interior
Dizem que a
felicidade não se compra (apesar de muita gente duvidar disso). Os experimentos
científicos de que o monge budista francês Matthieu Ricard participou, no
entanto, introduzem uma nova máxima: é preciso treinar o cérebro para ser
feliz. Há 40 anos, o francês abandonou a carreira como doutor em biologia
molecular e se mudou para a região do Himalaia, onde virou monge. Nos últimos
15 anos, reconciliou ciência e meditação ao virar cobaia de uma série de
estudos que investigam os efeitos da meditação, da compaixão e do altruísmo no
cérebro. Uma pesquisa científica analisou os efeitos da compaixão, do amor e da
bondade no cérebro, da qual participou o monge francês, feita pelo
neurocientista Richard Davidson, da Universidade de Wisconsin (EUA). Nela, vários
meditadores experientes tiveram seus cérebros escaneados durante a meditação e
foi mapeada atividade intensa e muito poderosa nas áreas relacionadas a emoções
positivas.
O monge
francês acabou de voltar do laboratório de neurociência nos EUA, ‘no qual
estamos estudando mudanças no cérebro daqueles que praticam meditação. O
resultado: 20 minutos diários por um mês já modificam a estrutura e o
funcionamento do cérebro, ativando áreas ligadas a emoções positivas e o volume
das áreas ligadas à armazenagem e ao controle emocional’, diz.
Matthieu, 69,
entrevistado por Fernanda Mena (‘Felicidade
não se compra, mas certamente se treina’), Folha de S. Paulo, 17/5/2015, fala da importância de se desmistificar
o conceito de meditação, muitas vezes vista como algo exótico. Muita gente acha
que meditar é esvaziar a mente e relaxar. Bobagem. A palavra em sânscrito e em
tibetano significa ‘cultivar’. O monge ensina que meditar é cultivar um estado
mental. ‘É um treino. O segredo é praticar. Quem toca um instrumento tem de
treinar e treinar até desenvolver seu potencial. Ninguém espera tocar piano sem
treino. Por que esperar que compaixão, altruísmo, liberdade interior e
concentração ocorram magicamente? Não faz sentido. O budismo enfatiza muito o
treinamento da mente. E pesquisas feitas com eletroencefalograma e com máquinas
de ressonância magnética estão apontando para os efeitos desse treinamento no
cérebro, no sistema imunológico e na diminuição de doenças como a depressão.
Não há mistério. Treine, de novo e de novo. Você pode começar com algo fácil,
como a concentração em um objeto ou em sentimentos de amor que tem por uma
determinada pessoa. Se o pensamento desaparece, você o reaviva. Se a mente se
distrai, você a traz de volta. Cinco, dez, vinte minutos diários. Isso é
meditação. Quanto mais praticar, mais significativas serão as mudanças no
cérebro e no seu comportamento’, finaliza.
O que é
felicidade então? ‘Felicidade é bem-estar. Não é busca incessante por sensações
prazerosas. Tudo bem querer sentir prazer, mas é algo efêmero. Felicidade é
outro negócio: é realização, satisfação e florescimento. Felicidade é
consequência de várias qualidades, entre elas, a liberdade interior. Não
liberdade para você fazer o que quiser, mas em relação a pensamentos que
escravizam. Obsessões, ganância, raiva, ciúmes, arrogância. Depois de 15 anos
de pesquisas e encontros com cientistas, cheguei à conclusão que altruísmo é a
mais importante das qualidades que compõem a felicidade’, conta o monge
francês.
‘Medite de manhã e de noite’, orienta Sri Daya Mata. ‘Aprofunde-se cada
vez mais na meditação. E medite tarde da noite e noite adentro. Não pense que
tenha de dormir muito. Isso é verdadeiro. Qualquer um de vocês que tenha
meditado muito profundamente sabe que, na meditação profunda, o corpo e a mente
têm total descanso, muito maior do que se pode ter no reino subconsciente do
sono. No sono, sonhamos; não temos sempre o descanso do corpo ou da mente. Mas
na meditação profunda o corpo e a mente entram num estado de tranquilidade
total, paz total’.
O mundo
interior é a única fuga real de nossas tribulações, prossegue a filósofa
indiana. ‘Quanto mais, na meditação,
permanecemos na consciência divina do mundo interior, mais queremos ficar nela.
É fácil entender por que os grandes iogues mergulham nesse estado meditativo
durante horas, dias ou anos seguidos. Quando uma pessoa se interioriza
profundamente, compreende que só então está vivendo de fato, só então está em
contato com a Realidade. Ela não tem vontade de abandonar esse céu interior, de
descer desse plano de consciência’.
No entender de
Daya Mata, o Senhor não espera que fujamos para a floresta para buscá-Lo na
solidão. Precisamos encontrar essa solidão dentro de nós. Então, quando
trazemos nossa consciência de volta, do estado meditativo para a percepção do
mundo, permanecemos num plano mais elevado.
Sobre o silêncio
Paramahansa
Yogananda (´Paz interior’) também
relata sabiamente: ‘Quando tiver acabado de cumprir seus deveres, ao fim do
dia, sente-se sozinho em silêncio. Pegue um bom livro e leia com atenção; em
seguida, medite longa e profundamente. Você encontrará maior paz e felicidade
nisso do que nas atividades inquietas em que sua mente corre turbulenta por
todas as direções. Se você cultivar o hábito de passar períodos solitários de
meditação em casa, um grande poder e uma grande paz descerão sobre você e
ficarão com você em suas atividades e na meditação. O isolamento é o preço da
grandeza.
O filósofo
indiano explica que se por um instante pudéssemos perceber o efeito sobre nós
das cargas que colocamos frequentemente sobre nossa mente, talvez ficássemos
surpresos de não termos tido um colapso há muito tempo. Impondo à nossa mente o
ônus de todos os tipos de preocupação e ansiedade, logo ficamos oprimidos por
essa carga. Como resultado, insinua-se o temor e perdemos nossa disposição
mental e nosso equilíbrio espiritual.
Anthony Strano
(‘O Ponto Alfa’) traz mais este
conhecimento: ‘No atribulado mundo
em que vivemos, os maiores erros são provocados pelos pensamentos inúteis. São
eles que instalam as armadilhas das nossas desilusões e transformam nossas
vidas em rosários de ignomínias. Cada vez mais eu percebia que o silêncio e a
serenidade eram tão importantes quanto o conhecimento, isto é, além de aprender
com a experiência dos outros, era necessário que eu praticasse serenidade. Não
apenas orar, cantar ou recitar, mas entrar em um estado de profundo silêncio
interior, no qual a alma possa ouvir Deus. Na serenidade, a alma pode
sintonizar-se em aspectos da existência que estão além da análise e discussão’.
‘Sob as
sombras desta vida se encontra a Luz maravilhosa de Deus. O universo é um vasto
templo de Sua presença. Quando você meditar, vai encontrar, em toda a parte,
portas se abrindo para Ele. Quando você está em comunhão com Ele, nem mesmo os
maiores danos do mundo podem roubar-lhe essa Alegria e essa Paz’, escreve Paramahansa
Yogananda.
Primeiros
passos...
Eu pratico
meditação há quatro anos e meio, aproximadamente. E sempre poucos minutos,
várias vezes ao dia. No meio da noite, no intervalo de um sono para o outro; ao
acordar, antes de sair da cama; no trabalho, quando sinto que algo pode
desconcertar-me; na própria academia de ginástica, de um treino para outro...
Outro dia, um colega da academia, médico urologista, perguntou por que eu
ficava de olhos fechados, alguns momentos, praticando os exercícios!
Expliquei-lhe que me concentrava no corpo, meditando! Ele ficou interessado, dizendo
ser extremamente ansioso por conta dos compromissos médicos, que comprometiam
bastante a sua qualidade de sono. O leigo da medicina aqui sugeriu então a
receita para o médico: meditar!
As pessoas
estão apressadas demais. E também muito ansiosas, distraídas e viciadas na
internet. Imagine ir para a academia de ginástica e ficar o tempo todo no ‘WhatsApp’! Como fica então a
concentração no exercício e no próprio corpo, favorecendo a qualidade total do
treino? Este é só um exemplo de como as pessoas estão vivendo hoje, sem se
concentrarem no porquê de suas atividades!
Em qualquer
instante do dia é possível relaxar. Fechar os olhos e não pensar em nada! Se
for o caso, concentre-se na ponta do nariz, acompanhando suavemente cada
inspiração e expiração. Inspira e segura; expira e segura. Muitas vezes
seguidas. Pode-se também segurar a inspiração até o máximo possível e depois
expirar lenta e repetidamente. Onde quer que você esteja. Sentado ou em pé.
Esta é uma das formas de não pensar em nada, concentrando-se apenas na
respiração. Pode-se também focar em algo que remeta a uma sensação de paz: uma
luz, uma divindade, um riacho, uma floresta... Essas são práticas iniciais, em
termos de observação dos próprios processos mentais, exercitando-se para a
interiorização, pois, com o tempo, aprende-se a meditar sem pensar em nada,
absolutamente em nada!
Uma forma ideal de concentração é no ‘terceiro olho’, que se situa no ponto central
entre as sobrancelhas. Conhecido como "terceiro
olho" na tradição hinduísta, está ligado à capacidade intuitiva e à percepção sutil. Quando bem desenvolvido, pode indicar um
sensitivo de alto grau. Durante
a meditação profunda, o olho único (terceiro olho), ou espiritual, torna-se
visível dentro da porção central da testa. Este olho onisciente é mencionado de
vários modos nas Escrituras como: o terceiro olho, a estrela do Oriente, o olho
interno, a pomba descendo do céu, o olho de Shiva, o olho da intuição etc.
Trata-se de um chakra (centro energético dentro
do corpo humano que distribui a energia) extremamente
importante no hinduísmo, pois corresponde à intuição, percepção e desenvolvimento
do conhecimento. É através do conhecimento que se pode transcender e chegar à
iluminação.
Segundo a
organização ‘Brahma Kumaris’, a mais
importante jornada que podemos fazer é a jornada interna. ‘É o lugar, além da
consciência de cada dia, onde se inicia o fortalecimento espiritual. O poder
espiritual nos dá poder para escolher pensamentos criativos em vez de pensar de
forma automática; dar resposta proativa em vez de reação; paz, amor e harmonia
ao invés de estresse, conflito e caos. A meditação permite que embarquemos
nessa jornada interior’.
Há diferentes
oportunidades para a prática da meditação. É claro que o ideal é praticá-la em
um templo ou um lugar reservado. Mas é possível praticá-la também esperando o
elevador, por exemplo. Sabe aquele momento em que a gente se incomoda com a
espera dele? Relaxe e se concentre; o incômodo não irá apressar a chegada do
elevador. O importante é cultivar o estado de paz interior. Há outros exemplos nesse
sentido: a demora de um ‘link’ no
computador, a espera na fila para determinado atendimento... A ansiedade,
nesses momentos, em nada auxilia; é relaxar e se concentrar em algo elevado.
A meditação
nada mais é do que a conexão com Deus, com o plano divino ou transcendental. Deus
não invade o interior de cada um de nós. Nem bate à porta! Ele é convidado a entrar
em nossa casa. A meditação propicia a entrada dessa Luz em nosso ser. Daí a
sensação de paz interior que ela proporciona. Só com o tempo, o praticante começa
a ter essa percepção de paz indescritível.
Contato
(comunhão) divino
Como mostra Paramahansa
Yogananda (‘Autobiografia de um iogue’),
a divindade encontra-se oculta dentro de cada ser humano, é preciso despertá-la
– o caminho é a interiorização. ‘Procurar Deus com toda a sinceridade durante o
maior tempo possível. Se praticar com firmeza e constância, você perceberá
mudanças gradativas em seu equilíbrio mental. Vibrações de paz emanam da
meditação e chegam a ter até mesmo o poder de curar. Fazer pausas entre os
afazeres diários, meditando! Concentre-se na paz interior e borde-a até os limites
de sua própria originalidade’, diz o mestre. Não é necessário se prender a
normas estabelecidas. Escolha a prática com a qual você mais se identifica;
pode ser o conjunto de várias delas. Seja apenas assíduo em suas
experimentações e consequentes progressos.
Para
Paramahansa, o que alguém não se dá ao trabalho de procurar dentro de si, não
será descoberto transportando o corpo de cá para lá. Mas assim que o devoto
voluntariamente se dispõe a ir ao fim do mundo para obter a iluminação
espiritual, seu guru lhe aparece, bem próximo. ‘Você dispõe de
um quarto pequeno onde possa fechar a porta e estar sozinho? Essa é a sua
caverna. Essa é a sua montanha sagrada. Ali é que achará o reino de Deus.’
‘O iogue
perguntou: - Por que não dorme? – Senhor, como posso dormir quando relâmpagos
fulguram ao meu redor, estejam meus olhos fechados ou abertos? – Você é
abençoado ao obter esta experiência. As radiações espirituais não são vistas
facilmente’, escreve o filósofo indiano.
Para ele, a intuição,
que é o guia da alma, surge com naturalidade no homem, nos instantes em que a
mente se acha calma. “Quase todos já tiveram a experiência de um pressentimento
inexplicavelmente correto ou transferiram seus pensamentos com exatidão a outra
pessoa. Todos os pensamentos vibram eternamente no cosmos. Por meio da
concentração profunda, um mestre pode descobrir os pensamentos de qualquer
pessoa, viva ou morta. Os pensamentos têm raízes de universalidade e não de
individualidade; uma verdade não pode ser criada, mas apenas percebida. Todo
pensamento errôneo de um homem resulta de uma imperfeição, pequena ou grande,
em seu discernimento. O objetivo da ciência da ioga é acalmar a mente, de modo
que, sem distorções, esta possa ouvir o conselho infalível da Voz Interior”.
Como então associar nossa consciência com Deus? Há na obra de Sri Daya
Mata (‘Só o amor’) um trecho muito
inspirador nesse sentido: “Ao despertar de manhã, não pense primeiro no trabalho;
torne um hábito levantar-se alguns minutos mais cedo do que de costume, de modo
que, antes de começar as obrigações do
dia, você possa passar quinze minutos, ou meia hora, meditando e comungando com
Deus. Nesse período, esqueça o tempo e as responsabilidades mundanas; se houver
uma sensação de urgência para terminar a meditação, você não terá a
receptividade necessária para sentir a presença de Deus. Durante a meditação,
afaste todos os pensamentos estranhos; pense somente em Deus. Fale com Deus na
linguagem de seu coração. Depois da meditação, leve a todas as suas atividades,
da melhor maneira que puder, a paz da meditação que você acumulou no coração.
Por sua vez,
em ‘Paz interior’, o filósofo
Paramahansa Yogananda diz que o melhor abrigo é o silêncio da alma. ‘E se você
puder desenvolver esse silêncio, nada no mundo poderá tocá-lo. Você pode
permanecer inabalado em meio à colisão de mundos que se destroem. Ponha seu
coração em Deus. Quanto mais você buscar Nele a paz, mais essa paz destruirá
suas preocupações e sofrimentos’. Por outro lado, aumentam as evidências de que
a meditação tem a capacidade de melhorar a saúde física e não apenas a saúde
mental.
‘Sem paz
interior, a paz exterior é impossível. Todos nós desejamos que haja paz
mundial, mas a paz mundial jamais poderá ser conquistada sem que primeiro
estabeleçamos a paz em nossa própria mente’, lembra o budista Geshe Kelsang
Gyatso (‘Transforme a sua vida’).
Com o
exercício diário da meditação, as pessoas vão experimentando sensações de paz
interior, que as levam a preferir ambientes mais calmos, a evitar conversas
improdutivas, a observar melhor e valorizar as coisas mais simples da vida...,
e interrompendo com mais facilidade o falatório da mente, permitindo a conexão
com o plano divino.
O resto é prática.
Viver com simplicidade e pensar com elevação. Há algo que diz que se a gente
deseja evoluir e fazer evoluir a Humanidade, ideias e caminhos nos serão
oferecidos, não raramente chegando até mesmo a nos surpreender. Portanto, se
desejamos realmente mudar nossa vida, em termos do que é essencial à natureza
do ser humano, precisamos começar neste momento!
Assista também a este vídeo, que enriquece muito toda
esta ideia.
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