Sabemos tanto, sobre tantas coisas,
mas o conhecimento não parece impedir a decadência que vive no homem
Tom
Simões, jornalista, Santos (SP), Brasil, tomsimoes@hotmail.com
NO LIVRO ‘Comentários sobre o Viver’, Jiddu
Krishnamurti, livre-pensador, escreve: “O mero conhecimento, independente do
quão amplo e elaborado seja, não resolverá nossos problemas humanos; presumir
que sim é abrir as portas para a frustração e a infelicidade. Algo muito mais
profundo se faz necessário. Um indivíduo pode ter o conhecimento de que o ódio
é fútil, mas estar livre do ódio é algo bastante diferente. O amor não é uma
questão de conhecimento”.
Sabemos tanto,
sobre tantas coisas, narra o filósofo, mas o conhecimento não parece impedir a
decadência que vive no homem. “Os computadores e outros complexos aparelhos
eletrônicos superam o homem em cada oportunidade, e, ainda assim, sem o homem,
eles não poderiam existir. O simples fato é que alguns cérebros estão ativos,
criativos, e o restante de nós vive deles, apodrecendo e frequentemente rejubilando-nos
em nossa podridão”.
Osho também se
ocupou do assunto. Em ‘O Barco Vazio’,
escreve o filósofo oriental: “Sempre que um homem realmente passa em saber, o
conhecimento é esquecido. Isso é o que chamamos de sabedoria. Um homem sábio é
que aquele que foi capaz de desaprender o conhecimento. Ele simplesmente
abandona tudo o que não é essencial”. Diz Chuang Tzu, místico chinês: “Onde posso encontrar um homem que se
esqueceu das palavras? É com ele que eu gostaria de conversar”. Com ele vale
a pena conversar, prossegue Osho: “Pode não ser tão fácil convencê-lo a falar,
mas só de estar perto dele, só se sentar ao seu lado, já será uma comunhão,
será uma comunicação, a mais profunda possível. Dois corações se fundem um no
outro”.
Conhecimento e Liberdade
Como mostra o
filósofo, cada religião insiste em ensinar as crianças o mais cedo possível,
porque depois da infância é muito difícil converter as pessoas para que passem
a fazer coisas tolas, é muito difícil. “Os psicólogos dizem que todo mundo deve
ser pego antes da idade de sete anos. A criança deve ser convertida para ser
hindu, muçulmana, cristã ou qualquer outra coisa, comunista, teísta ou ateia,
não faz nenhuma diferença, mas agarre a criança antes dos sete anos. Até os
sete anos de idade a criança aprende quase cinquenta por cento de tudo o que
ela vai aprender em toda a sua vida. Restam apenas os outros cinquenta por
cento. E esses cinquenta por cento são muito significativos, porque se tornam a
base. Ela vai aprender muitas coisas, vai criar uma grande estrutura de
conhecimento, mas toda a estrutura será baseada no conhecimento que recebeu
quando era criança. E, nesse momento, antes dos sete anos, a criança não tem
lógica, não é argumentativa. Ela está confiando, explorando, acreditando. Ela
não pode deixar de acreditar, porque não sabe o que é crença, nem o que é a
descrença. Tudo o que você diz é verdade, parece verdadeiro, e, se você
repetir, a criança fica hipnotizada. É assim que todas as religiões têm
explorado a humanidade”.
Krishnamurti
conduz-nos por esta linha pensamento: “Vocês não estão sendo ensinados por mim.
Ser ensinado e estar livre para aprender são duas coisas completamente
diferentes. Ao ser ensinado, há sempre o professor, o guru que sabe e o
discípulo que não sabe; assim, uma divisão sempre se mantém entre eles. É uma
perspectiva essencialmente autoritária e hierárquica, em que o amor não existe.
Embora o mestre possa falar de amor, e o discípulo afirme sua devoção, a
relação é desprovida de espírito, profundamente imoral, levando a um estado de
grande confusão e sofrimento. Entretanto, precisamos de orientação, e quem
atuará como guia? Existe alguma necessidade de orientação quando estamos
constantemente aprendendo, não de determinado alguém, mas de todas as coisas em
nosso avanço? Certamente, buscamos orientação apenas quando desejamos estar
seguros, certos, confortáveis. Se somos livres para aprender, vamos aprender
com a folha que cai, em todo tipo de relação, em estar atentos para as
atividades de nossas próprias mentes. Mas a maioria não está livre para
aprender, porque nós estamos habituados demais a ser ensinados; por meio dos
livros, de nossos pais, da sociedade, somos instruídos no que pensar e, como
uma vitrola, repetimos o que está gravado no disco. E o disco, em geral, está
muito arranhado. Nós o tocamos muitas vezes. Nosso pensamento é todo de segunda
mão. Ser ensinado torna o indivíduo repetitivo, medíocre. O desejo de ser
guiado, com suas implicações de autoridade, obediência, medo, falta de amor e
tudo mais, só pode conduzir à escuridão. Ser livre para aprender é algo
totalmente diferente. E não pode haver liberdade para aprender quando já há uma
conclusão, uma suposição; ou quando nossa perspectiva se baseia em experiência
como conhecimento; ou quando a mente está presa em tradição, atada a uma
crença; ou quando há o desejo de estar seguro, de atingir determinado fim. A
mente pode estar ciente da própria prisão, e nessa própria percepção há
aprendizado. Mas, primeiro, está claro para nós que uma mente presa ao que lhe
foi ensinado é incapaz de aprender? Os acúmulos da mente impedem a liberdade de
aprender. Para aprender, não pode haver acúmulo de conhecimento, nenhum
empilhamento de experiências do passado. Será que você vê por si mesmo a
verdade disso? É um fato para você ou apenas algo que eu disse, com que você
venha a concordar – ou discordar? Claro, isso não quer dizer que temos de jogar
fora todo o conhecimento que a ciência reuniu, isso seria um absurdo. O ponto
é: se quisermos aprender, não podemos presumir nada. Aprender é um movimento,
mas não de um ponto fixo a outro, e esse movimento é impossível se a mente está
carregada do acúmulo do passado, com conclusões, tradições, crenças. Essa
acumulação, mesmo que seja chamada de alma, Eu superior ou algo assim, é o ‘mim’,
o ego, o ‘eu’. O ‘eu’ e sua conservação impedem o movimento do aprendizado.
Perceba então o movimento do aprendizado: enquanto estou encerrado em meu
próprio desejo de segurança, de conforto, de paz, não pode haver movimento de
aprendizado”.
Retomando
Osho, ele escreve: “Se a Terra for um dia realmente religiosa, então não vamos
ensinar mais o cristianismo, o hinduísmo, o islamismo ou o budismo. Esse é um
dos maiores crimes cometidos. Nós vamos ensinar religiosidade, vamos ensinar
meditação, mas não seitas. Não vamos ensinar palavras e crenças, vamos ensinar
um modo de vida, vamos ensinar felicidade, vamos ensinar êxtase”.
Na
sabedoria de Osho: “Nós vamos ensinar
como olhar as árvores, como dançar com as árvores, como ser mais sensíveis,
como ser mais vivos e desfrutar das
bênçãos que a natureza nos deu. Vamos deixar as crianças na natureza; esse é o
templo, a igreja de verdade. Vamos ensinar as crianças a olhar para as nuvens
flutuantes, para o nascer do Sol, para a Lua à noite. Vamos ensiná-las a amar,
e vamos ensiná-las a não criar barreiras para o amor, para a meditação, para a
religiosidade. Vamos ensiná-las a ser abertas e vulneráveis, não vamos fechar
as suas mentes. E vamos, é claro, ensinar palavras, mas ao mesmo tempo também
iremos ensinar o silêncio, porque depois que as palavras passam a fazer parte
da base, o silêncio torna-se difícil. Porque quando você está em silêncio você
vai para dentro de si e se torna mais sensível ao absurdo interior que existe
ali. Quando você não está em meditação você fica voltado para fora, fica
extrovertido, envolvido com o mundo e você não pode ouvir o barulho interior
que ocorre dentro de você. Sua mente não está lá”.
Finalizando:
“Se devo descobrir um novo fato, ou perceber a verdade de algo, minha mente não
pode estar abarrotada com o que já passou. Vejo como é necessário que a mente
abandone tudo que conheceu ou experimentou. O que tem continuidade,
‘permanência’, é a memória de coisas passadas. A mente tem de morrer para o
passado, embora seja concebida pelo passado. A totalidade da mente deve estar
completamente quieta, sem qualquer pressão, influência ou movimento do ontem.
Só assim o outro é possível”, ensina-nos Krishnamurti. Sabiamente!
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