Você nunca reparou que, quando diz
‘tentarei mudar’, não tem intenção alguma de fazer isso?
http://kfa.org/dialogue-details.php?id=37
JIDDU
KRISHNAMURTI nasceu na Índia em 1895 e, a partir dos treze anos de idade, passou a ser educado pela Sociedade Teosófica,
que o considerava o veículo como "Instrutor do Mundo", cujo advento
proclamavam. Krishnamurti logo emergiu como um poderoso, descompromissado e
inclassificável instrutor, cujas palestras e escritos não estavam vinculados a
nenhuma religião específica, não sendo do Oriente nem do Ocidente, mas para o
mundo todo. Nessa ocasião, um repórter, considerando um ato espetacular
dissolver uma organização com milhares de membros, perguntou-lhe quem se
interessaria em escutá-lo, se não queria seguidores? Krishnamurti respondeu: "Se
houver apenas cinco pessoas que queiram escutar, que queiram viver, que tenham
a face voltada para a eternidade, será o suficiente. De que servem milhares que
não compreendem, completamente imbuídos de preconceitos, que não desejam o novo
[...]? Gostaria que todos os que queiram compreender sejam livres, não
para me seguir, não para fazer de mim uma gaiola, que se torne uma religião,
uma seita. Deverão estar livres de todos os temores [...], do medo da
espiritualidade, do medo do amor, do medo da morte, do medo da própria vida”.
Pelo restante
de sua vida, Krishnamurti rejeitou insistentemente a posição de guru que
tentaram lhe impingir. Continuou a atrair grande audiência através do mundo,
mas não reivindicava autoridade, não queria discípulos, e falava sempre como um
indivíduo fala a outro. No cerne do seu ensinamento estava a conscientização de
que é possível produzir mudanças fundamentais na sociedade apenas pela
transformação da consciência individual. Enfatizava constantemente a
necessidade do autoconhecimento, bem como, da compreensão da influência
restritiva e separativa dos condicionamentos religiosos e nacionalistas.
Apontava sempre para a necessidade urgente de abertura, do "vasto espaço
no cérebro no qual há inimaginável energia". Isto parece ter sido a fonte
de sua própria criatividade e a chave para seu impacto catalítico sobre uma
ampla gama de pessoas.
Krishnamurti
continuou falando pelo mundo até sua morte, em 1986, aos 90 anos de idade. Suas
palestras e diálogos, diários e cartas têm sido preservados em livros e
gravações. Falou em várias universidades, a professores e a grupos de
estudantes, nos EUA, na Europa e na Índia. Foi frequentemente procurado por
pensadores e cientistas, com os quais estabeleceu debates.
A educação
constituiu sua principal preocupação, desde muito jovem, tendo fundado várias escolas.
Hoje, esses centros educacionais são renomados e recebem jovens de todas as
partes do mundo. As mais famosas são as de Brockwood
Park School, na Inglaterra, para jovens a partir de quatorze anos, a de Rishi Valley Education Centre, na Índia,
que recebe crianças a partir de sete anos, e a de Oak Grove High School, nos EUA, com alunos a partir de três anos e
meio de idade.
Conheça mais
sobre o filósofo no site da Instituição Cultural Krishnamurti: http://www.krishnamurti.org.br/?q=node/4
Brincamos com
a ideia de mudar, mas nunca mudando
Em um dos
capítulos da obra “Comentários sobre o
Viver”, breves textos, volume 3, Jiddu Krishnamurti aborda “A Importância
da Mudança”:
“Senhores, não
é um fato que uma transformação individual fundamental é necessária? Sem tal
transformação, a inspiração é sempre transitória, e existe uma luta constante
para recapturá-la; sem tal transformação, qualquer esforço para levar uma vida
espiritual só poderá ser muito superficial, uma questão de rituais, de sinos e
livros; sem tal transformação, a meditação se torna um meio de fuga, uma forma
de auto-hipnose. Sem uma profunda mudança interna, todo esforço para ser
religioso ou espiritual é mera alteração na superfície”, escreve Krishnamurti.
Sem dúvida, diz
o filósofo, o importante é sentir a necessidade premente de uma mudança
fundamental, e não apenas ser convencido da necessidade de mudar pelas palavras
de outro. Uma descrição empolgante pode estimulá-los a sentir que precisam
mudar, mas essa sensação é muito superficial, e passará quando o estímulo
desaparecer. Mas se vocês veem a importância de mudar, se sentem, sem qualquer
forma de coerção, sem qualquer motivação ou influência, que uma transformação
radical é essencial, esse próprio sentimento é a ação da transformação. O sentimento cria seus próprios meios de
ação.
Por raciocínio
lógico você pode chegar à conclusão de que uma mudança fundamental se faz
necessária, mas esse entendimento intelectual ou verbal não gera a ação da
mudança, escreve o autor. E então ele argumenta: “A compreensão intelectual ou
verbal não é uma reação superficial? Você ouve, raciocina, mas todo o seu ser
não está nisso. Sua mente superficial talvez concorde que uma mudança é
necessária, mas a totalidade de sua mente não está dando atenção plena; está dividida
em si mesma”.
Outro ponto
interessante abordado por Krishnamurti é que uma parte da mente está convencida
de que essa mudança fundamental é necessária, mas o resto dela não está
envolvido; pode estar em suspenso, ou adormecido, ou opondo-se ativamente a tal
mudança. “Quando isso acontece, há uma contradição no interior da mente, uma
parte querendo mudar e a outra indiferente ou oposta à mudança. O conflito
resultante, no qual a parte da mente que deseja a mudança está tentando superar
a parte resistente, chama-se disciplina, sublimação, repressão; mas também é
chamado de busca de um ideal. Assim, está ocorrendo uma tentativa de construir
uma ponte sobre o hiato da contradição. Há o ideal, a compreensão intelectual
ou verbal de que deve ocorrer uma transformação fundamental, e há o sentimento
vago, porém real, de não querer mudar, o desejo de deixar as coisas continuarem
como estão, o medo da mudança, da insegurança. Assim, há uma divisão na mente;
e a busca pelo ideal é uma tentativa de reunir as duas partes contraditórias, o
que é uma impossibilidade. Nós
perseguimos um ideal porque isso não exige uma ação imediata; o ideal é um
adiamento aceito e respeitado.”
E a lição
continua: “Tentar mudar a si mesmo, então, é sempre uma forma de adiamento. Você nunca reparou que, quando diz
‘tentarei mudar’, não tem intenção alguma de fazer isso? Ou você muda, ou
não muda; ‘tentar’ mudar, na verdade, tem pouquíssimo sentido. Perseguir o
ideal, tentar mudar, obrigar as duas partes contraditórias da mente a se unirem
por meio da força de vontade, praticar um método ou disciplina para alcançar
essa unificação e por aí vai – tudo isso é um esforço inútil e sem sentido que,
na realidade, impede qualquer transformação fundamental do centro, do ‘eu’, do
ego”.
No entendimento
do filósofo, brincamos com a ideia de mudar, mas nunca mudando. A mudança exige
ação drástica, unificada. A ação unificada ou integrada não pode ocorrer
enquanto há um conflito entre partes opostas da mente.
O sentimento
é, então, coberto por ideias, por palavras, não é mesmo?, escreve o livre-pensador
indiano. “Ocorre uma reação contraditória, nascida do desejo de não querer
mudar. Se for esse o caso, então continue de sua antiga maneira; não se engane
seguindo o ideal, dizendo que está tentando mudar, e todas essas coisas. Apenas
viva com o fato de que não quer mudar. A percepção dessa verdade é, por si só,
suficiente”, finaliza Jiddu Krishnamurti.
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