“O 7 a 1 nos obriga a buscar transformações.
Um ponto essencial é associar o futebol à educação.”
Futebol do Vaninho. "Meu nome é
Evandro Geraldo do Nascimento (conhecido como Vaninho da Zilá). Nascido
em Tiradentes (MG), em 12/4/1973, residi durante 27 anos no bairro Várzea de
Baixo. Atualmente, resido no bairro Alto da Torre. Comecei o Projeto do Futebol
em 2006, através da Associação de Bairro.
Uma das regras do projeto é que só pode
participar quem tiver frequência escolar e bom comportamento." Exemplo de um
Homem que dá um sentido mais amplo à sua existência: "Vaninho". Para
quem acredita no poder individual de transformar o mundo ao seu redor!
MARCELO Melgaço (Goiânia, GO), escreve algo, no Painel do Leitor da Folha de S. Paulo de 14/7/2014, que nos leva a uma oportuna reflexão: “Os jogadores da Alemanha e Argentina mostraram como se deve fazer em campo. Nada de culto ao penteado, choradeira... Muita garra, disciplina tática e respeito pela camisa”. Outro leitor, Ricardo C. Siqueira, de Niterói (RJ), comenta: “Qualquer aprendizado diante da derrota é louvável, embora a humildade não seja uma característica dos jogadores brasileiros. Daqui a dois meses, no próximo amistoso internacional, bastará uma vitória ‘convincente’ para que o oba-oba deixe tudo como era antes”.
“Melhorar
a educação básica melhora a produtividade, que melhora o desenvolvimento, que
melhora a vida no país e, heureca!, melhora nossas chances de ganhar torneios
no futuro. Porque ‘futebol se joga com a cabeça’, como já dizia o craque Johan
Cruyff, treinador, apontado como o melhor futebolista dos Países Baixos de
todos os tempos. E ele não estava falando de jogo aéreo”, relata Ana Estela no
artigo “2018 em perigo”, publicado na
Folha de S. Paulo de 12/7/2014.
Grandes
clubes tiram proveito disso, diz a cronista. “O alemão Freiburg, um dos mais
bem-sucedidos na formação de atletas, multiplicou por quatro o número de horas
de estudo dos jogadores da base. No Grêmio, há um período extra de ensino na
residência esportiva; em três anos, o índice de reprovação escolar do grupo
caiu de 45% para 5%. De 70 jogadores entre 18 e 20 anos, 21 estão em cursos
universitários, até mesmo de engenharia. O Corinthians está firmando parcerias
com faculdades particulares. O Santos chama os pais dos garotos para mostrar a
eles como o bom desempenho escolar aumenta as chances de seus filhos no
esporte.”
Para
Ana Estela, nós vamos melhorar o futebol brasileiro dando muito treino físico,
técnico e tático. E reforçando a educação e o compromisso com a escola, porque
isso traz concentração, raciocínio e criação de jogadas dentro de campo.
No
entender de Oscar Vilhena Vieira, em sua crônica “Quando a bola acaba” (Folha
de S. Paulo, 12/7/2014), há muito que fazer. “Um ponto essencial, no
entanto, seria associar radicalmente o futebol à educação. De forma semelhante
ao que fizeram os alemães depois do fiasco de 2000, ou como ocorre nos esportes
profissionais norte-americanos, só chega ao profissionalismo quem passa pela
escola.”
Hoje no
Brasil, revela Vieira, são milhares de jovens que, de fato, abandonam a escola
para se submeter a intermináveis e perversas peneiras. A exigência da Lei Pelé
para que os clubes cuidem da educação de seus jovens atletas vem sendo cumprida
apenas por uma pequena elite de nossos times. “Como diversas investigações do
Ministério Público vêm expondo, o garimpo por craques tem gerado uma nova forma
de exploração e mercantilização de mão de obra infantil.”
Segundo
o cronista, apenas uma parte ínfima desse exército terá uma oportunidade.
Muitos deles cairão rapidamente nas garras de agentes, que os comercializarão
como gado. “Estima-se que, somente no ano passado, mil e quinhentos jogadores
brasileiros, em sua maioria jovens, foram vendidos ao exterior.”
Outro
ponto interessante para Vieira é que, para a maioria dos que se
profissionalizam no Brasil, está reservado um futuro pouco promissor.
“Calcula-se que 85% de nossos jogadores profissionais ganhem menos de dois
salários mínimos por mês e, em face da estupidez do calendário, ficam
desempregados quase metade do ano, como denuncia o Bom Senso Futebol Clube.”
O fato
é que, argumenta Vieira, a imensa maioria ficará sem bola, sem escola e sem
perspectiva. “Apenas uma conjugação radical desses dois universos poderia
transformar o futebol num efetivo instrumento de inclusão para milhares de
boleiros das periferias sociais brasileiras e, por que não, melhorar o seu
desempenho”, diz o cronista.
Vem daí
um apelo de Ana Estela: “Governo, por favor, esqueça os cartolas por enquanto.
Só volte a se preocupar com eles depois de apoiar outros dirigentes: os que
cuidam da gestão da educação básica no país. Apoiar. Não é intervir, criar
regras, perdoar dívidas, impor reservas de mercado ou outra ideia brilhante
surgida em horas de crise. Estamos em 58o em matemática, num teste
feito com jovens de 65 países; somos o 55o em leitura e, em
ciências, ficamos em 590.”
“O 7 a
1 (Alemanha x Brasil), Copa do Mundo 2014, nos obriga a buscar
transformações. Um ponto essencial é associar o futebol à educação”, enfatiza
Oscar Vilhena.
Conscientização para um
melhor desempenho
“Algumas famílias, na ânsia de ver o filho fazer
carreira no futebol profissional, acabam exercendo uma influência negativa sobre
a escolaridade do atleta. Tem quem diga que ele tem que se preocupar em jogar,
se profissionalizar e depois estudar”, conta Maurício Marques, coordenador dos
cursos de treinadores da Confederação
Brasileira de Futebol (CBF), no artigo “Nível de escolaridade do
jogador de futebol profissional pode influenciar a sua performance”, www.educacaofisica.com.br Ele acredita que o nível de escolaridade do
jogador de futebol profissional é capaz, sim, de influenciar a sua performance
em campo, colaborando no desempenho do time: “A capacidade de interpretar o
discurso do treinador, as questões do treinamento, a ciência do esporte e a
questão científica por trás do treino, têm a ver com o nível educacional e o
desenvolvimento cognitivo e social do jogador.”
Atualmente, segundo Marques, dentro dos clubes, existe uma consciência maior sobre a importância de garantir o mínimo estudo para os jogadores. Ele reforça que a preocupação começou na virada do milênio: “Antes o clube não questionava isso e, como a maioria dos atletas mora longe da família, os parentes não tinham como interferir nisso e os jogadores seguiam sem escolaridade. A consciência sobre a formação integral do atleta e a melhora da sua performance foram decisivos para que os clubes mudassem de postura. Além disso, aqueles que procuram estudar uma segunda língua, por exemplo, acabam valorizados economicamente na hora de serem negociados com clubes estrangeiros”.
Se no Brasil, a “terra do
futebol”, os jogadores profissionais têm, em sua grande maioria, o ensino médio
completo, no exterior a coisa muda de figura. Pelo menos na Europa e nos
Estados Unidos.
Marques relembra quando o jogador Roque Júnior comentou, num bate-papo, que todos os seus colegas do time europeu tinham nível superior completo. E aqueles que não haviam frequentado as aulas presenciais apelaram ao ensino à distância (EAD). “Por lá o atleta consegue treinar duas vezes ao dia e assistir a aula à noite. Há outras formas de conclusão dos ensinos médio e universitário que são adequadas à formação do atleta”, explica.
Nos Estados Unidos, a profissionalização é ligada à universidade. Tanto que, em diversas modalidades, o atleta entra para a universidade e só depois se torna um atleta profissional, cita o artigo.
Marques relembra quando o jogador Roque Júnior comentou, num bate-papo, que todos os seus colegas do time europeu tinham nível superior completo. E aqueles que não haviam frequentado as aulas presenciais apelaram ao ensino à distância (EAD). “Por lá o atleta consegue treinar duas vezes ao dia e assistir a aula à noite. Há outras formas de conclusão dos ensinos médio e universitário que são adequadas à formação do atleta”, explica.
Nos Estados Unidos, a profissionalização é ligada à universidade. Tanto que, em diversas modalidades, o atleta entra para a universidade e só depois se torna um atleta profissional, cita o artigo.
“Encantos
e desencantos do futebol”
Em sua crônica, “Encantos e desencantos do futebol”, Ruy
Martins Altenfelder Silva, presidente do Conselho de Administração do CIEE
(Centro de Integração Empresa-Escola) e da Academia Paulista de Letras
Jurídicas, publicada na Folha de S. Paulo
(Tendências/Debates) de 14/7/2014, analisa:
“Não é difícil imaginar o que passa pela cabecinha daqueles que revelam mais
talento nos campinhos do que na sala de aula... E também na dos pais que veem
na habilidade do filho o passaporte para subir na vida e cedem à tentação de
ver seu nome gritado nos estádios e de dispor de contas bancárias recheadíssimas,
graças a contratos milionários com times e campanhas de publicidade”.
Já de início há as
concorridíssimas peneiras que, segundo cálculos, deixam passar 2 ou 3 a cada
1.000 candidatos, observa Ruy Martins. Dos que escapam dos dois salários mínimos
por mês, 21% ganham de 2 a 20 mínimos e apenas 3% (a nata dos supercraques)
chegam a remunerações maiores.
Os mais atentos notarão que, nos
novos grupos, cresce o número de jogadores com mais escolaridade e, portanto,
mais articulados e com maior visão crítica, diz o cronista. “Não há receita
mágica para evitar o destino de muitos craques, que decaem para a pobreza e o
anonimato depois que deixam o campo. É preciso que, nas categorias de base, os
clubes conciliem treinamento técnico com a exigência de formação escolar,
preparando os jovens, principalmente os mais pobres, para enfrentar tanto os
encantos quanto os desencantos que encontrarão no futuro”, escreve Ruy Martins.
No entendimento de Ruy Martins,
“Se é próprio da adolescência sonhar alto e acreditar que há atalhos para o
sucesso, o governo, as organizações e pessoas que lidam com jovens deveriam se
preocupar em mostrar que, no futebol, como em qualquer carreira, o melhor
caminho passa pela formação integral do jovem, que decorre das oportunidades de
acesso à saúde, à educação e a outros direitos cidadãos. É essa mensagem que o
Centro de Integração Empresa-Escola transmite continuamente aos jovens que
beneficia, tanto por palavras quanto por ações”.
O Centro de Integração
Empresa-Escola, www.ciee.org.br, é uma instituição filantrópia,
com 50 anos de existência, mantida pelo empresariado nacional, de assistência
social, sem finalidades lucrativas, que trabalha em prol da juventude
estudantil brasileira. Seu maior objetivo é encontrar para os estudantes de
nível médio, técnico e superior oportunidades de estágio ou aprendizado, que os
auxiliem a colocar em prática tudo o que aprenderem na teoria.
Eis a mensagem do CIEE neste singular
momento brasileiro: “A Alemanha é a campeã do Mundial de Futebol no Brasil.
Mas, não foi por pura sorte e sim muito investimento em educação e esporte. O
país investiu cerca de um bilhão de dólares, desde o ano de 2000, no
desenvolvimento de novos craques, com 366 centros de treinamento especializados
e escolas de base para treinar futuros atletas. Além de investir no futebol e
em clubes locais, tornou-se uma exigência nacional que, para participar dos
programas para jovens jogadores, é necessário manter boas notas na escola. Isso
mostra que preparo é essencial para montar um bom time. Parabéns aos vencedores
que trabalharam duro por esse título!”.
E pensar que, se tivéssemos ganho a Copa, muita coisa, como normalmente acontece, seria deixada de lado. O tema abordado pelo texto, citando a importância da prática esportiva nas escolas, sem deixar de lado o estudo, é um dos que merecem mais atenção. Outras discussões, como a situação financeira dos clubes brasileiros em decorrência de administrações ruins, por exemplo, serão olhadas com mais rigor a partir de agora.
ResponderExcluirFoi o lado bom da derrota ( se é que existe um lado bom após levar 7). Mas...
Só espero que tais assuntos não caiam no esquecimento outra vez.
ResponderExcluir“[...] O MUNDIAL nos ensinou que futebol é cultura, que não é algo que pertence apenas ao Ministério do Esporte. Basta ver a quantidade de análises feitas por sociólogos, pedagogos, escritores, filósofos etc. [...] Jornais repetiram à exaustão que os alemães se prepararam durante dez anos num projeto que englobou todo o país. Soube que os atletas trouxeram namoradas, mulheres e filhos para a celebração e que doaram uma ambulância e dinheiro para os índios pataxós na Bahia, mas eu gostaria de ter lido também uma reportagem que falasse do nível de escolaridade desses jogadores.”
* FUTEBOL É CULTURA, Folha de S.Paulo, 22/7/2014, Affonso Romano de Sant’Anna, 77, poeta e escritor, autor de ‘Sísifo Desce a Montanha’
esse assunto jamais cairá em esquecimento
ResponderExcluire como o colega mencionou
FUTEBOL É CULTURA SIM!