CRÍTICA SOBRE LITERATURA DE AUTOAJUDA
Tom
Simões, tomsimoes@hotmail.com, 29 de abril de 2014
PARTE II
OUTRO DIA li algo extraído do texto “Parábolas dos níveis evolutivos“, cuja fonte não era mencionada,
que dizia: “Há um tipo de indivíduo que gosta de analisar a situação, discutir
os pormenores, criticar tudo, mas não apresenta nenhuma solução ou alternativa.
Prefere deixar tudo ‘pra lá’, pois ‘não tem tempo’ para se aborrecer com a
ação, que prefere deixar para ‘outros’ resolverem. É um erudito e teórico que
fala muito, mas que age muito pouco e não apresenta nenhuma solução para nenhum
problema, a não ser a mais óbvia. É um medíocre enfatuado, cheio de erudição,
que se julga o ‘Dono da Verdade’, que se acha muito ‘entendido’, reclama de
tudo e só sabe apenas argumentar e tudo criticar”.
Segundo
Osho, filósofo indiano, em sua obra “Poder,
Política e Mudança", se uma pessoa ajuda alguém, nenhum jornal vai
publicar a história; mas se ela matar alguém, todos os jornais estarão repletos
dela.
O
jornal costuma destacar o crime e a corrupção. Então, por exemplo, quando um
conceituado jornal paulistano destaca, num domingo, um jovem que faz
instrumentos com móveis descartados, chega a me surpreender. Esse fato foi,
inclusive, inspiração para um artigo meu: http://www.tomsimoes.com/2011/06/jovem-faz-instrumentos-com-madeira-do.html#more
Penso
na necessidade de o jornal reservar espaços permanentes para noticiar fatos
que, eventualmente, possam mudar a mente e a atitude das pessoas. Há informação
em demasia para ‘revoltar’ o leitor, e raras informações para levá-lo à
autorreflexão, contribuindo para mudanças saudáveis.
Isto me
faz lembrar algo que li em 2009, de Hugh Prather (“Não Leve a Vida tão a Sério”), que diz: “Todos os dias nos reunimos
diante da televisão para ouvir intermináveis reportagens sobre problemas da
vizinhança e do mundo, sem sequer nos lembrarmos de procurar alguma solução.
Absorver o problema já é o bastante para nos satisfazer – e a mídia sabe muito
bem disto”. Para Prather, noticiários são campeões de audiência porque estão
sempre trazendo uma lista de notícias desagradáveis ao vivo para que o
espectador possa se preocupar. “Reportagens investigativas que revelam perigos
em lugares insuspeitos estimulam nossa ansiedade, que, por sua vez, provoca
alterações químicas no organismo – e, assim, o vício da ansiedade se alimenta”.
Em
outra obra, “Inocência, Conhecimento e Encantamento”,
Osho revela que um homem que é muito bem informado, muito instruído, cria uma
parede tão grossa de palavras – palavras inúteis, palavras vazias – em torno de
si, que se torna incapaz de enxergar a vida. Para o filósofo, conhecimento é
uma barreira para a vida. “Ponha de lado seu conhecimento! E então olhe com
olhos vazios... e a vida é uma constante surpresa. E eu não estou falando de
alguma vida divina; a vida comum é tão extraordinária. Nos pequenos incidentes
você vai encontrar a presença do divino – uma criança rindo, um cão latindo, um
pavão dançando. Mas você não consegue enxergar se seus olhos estiverem cobertos
de conhecimento.”
E agora
há a possibilidade de a ciência e a religião poderem se unir, admite Osho,
porque os maiores cientistas também perceberam isso, de uma maneira muito
indireta: “Por exemplo, Eddington, Einstein e outros chegaram a uma percepção
de que, quanto mais conhecimento eles tinham sobre a existência, mais confusos
se sentiam, porque, quanto mais se sabe, mais há que saber. Quanto mais se
sabe, mais o conhecimento parece superficial. Einstein morreu quase um místico;
aquele velho orgulhoso de que “chegará o dia em que conheceremos tudo”
desapareceu. Ele morreu de um modo quase meditativo; não morreu como um cientista,
mas mais como um poeta”.
Em sua
última declaração na terra, Sócrates revelou: “Quando eu era jovem, achava que
sabia tudo. Eu me vangloriava porque podia argumentar melhor do que qualquer
outra pessoa. Quando fiquei um pouco mais maduro, percebi que havia muitas
coisas que eu não sabia. Eu estava apenas me jactando de saber. E como outros
podiam argumentar comigo, achavam que eu devia saber, porque meu argumento era
mais consistente. E, à medida que o tempo foi passando, lentamente, lentamente
ficou claro para mim que eu não sabia nada. Que seja esta minha última
declaração na terra: que eu nada sei”.
Osho e seus livros
Alguém
pergunta a Osho: “Sou novo nos seus ensinamentos, mas, se o entendi até agora,
você diz (aproximadamente) que o conhecimento obtido dos livros é mera
informação, e como tal é inútil e estéril – o que importa é um conhecimento
interior derivado da experiência, mais do sentimento do que do intelecto. Por
que então você publica livros?”.
Osho
responde: “Eu falo para seduzi-lo para o silêncio. Eu uso palavras para que
você possa ser persuadido na direção da existência sem palavras. Os livros
estão aí para conduzi-lo adiante, não para você se prender a eles. No máximo,
eles são pontes. Mas se você construir sua casa em uma ponte, você é um tolo.
Você deve atravessar a ponte! Neste momento, você não consegue entender o
silêncio, você só consegue entender as palavras. Eu terei de usar palavras para
lhe transmitir a mensagem do silêncio. Entre as palavras, nas entrelinhas, às vezes,
se você se demorar comigo tempo suficiente, poderá um dia começar a ouvir o
silêncio – então não haverá necessidade dos livros; então queime esses livros
junto com os Vedas, as Bíblias e as escrituras sagradas. Meus livros também têm
de ser queimados. Tudo tem de ser deixado para trás. Mas neste momento você
ainda não está pronto. Quando estiver pronto, não haverá necessidade de nenhum
livro. Esses livros não são publicados para aqueles que já entendem. Esses
livros são publicados para aqueles que têm o desejo de entender – mas ainda não
entendem. O desejo de entender é belo. Essas pessoas têm de ser ajudadas. E se
estou aqui para ajudá-lo, tenho de me aproximar de você. Antes que você possa
se aproximar de mim, eu terei de me aproximar de você – essa é a única maneira.
Antes de poder levá-los para o lugar onde estou, tenho de descer até o lugar
onde você está. Esses livros não são necessários. São necessários por causa de
você. Se você conseguir ultrapassá-los, evitá-los, prescindir deles – maravilha!
Mas você ainda não é capaz de prescindir deles, do contrário não estaria aqui.
Você está aqui para me ouvir. Ainda está esperando que, ouvindo-me, possa
alcançar alguma coisa. Não acho que, por ouvir minhas palavras, você possa
alcançar. Acho que, ouvindo, você se tornará capaz de ouvir o que não é dito e,
através disso, você irá alcançar. Ninguém alcança nada por meio dos livros, mas
os livros podem ajudá-lo a ir além. Todas as escrituras dizem a mesma coisa. Em
algum lugar nos Upanishads, eles dizem: ‘o alvo, onde está? Onde está o alvo?
Vá além das palavras, só assim você saberá’. Meus livros estão aí para serem
transcendidos. Desfrute deles enquanto os estiver lendo, mas não se apegue a eles.
E se prepare para ir além.”
Para o
filósofo indiano, a ciência se desenvolve a partir da dúvida; a religião cresce
a partir do encantamento, do assombro. Entre os dois está a filosofia; ela
ainda não se decidiu, continua pendendo entre a dúvida e o encantamento. Às
vezes o filósofo duvida e às vezes o filósofo se encanta; ele está bem no meio.
Se ele duvida demais, pouco a pouco se torna um cientista. Se ele se encanta
demais, pouco a pouco se torna religioso.
“Quando
você perde a capacidade de se encantar, você perdeu sua vida. Então você se
arrasta, mas não vive mais. E o conhecimento mata o encantamento. Lembre-se
sempre disso como regra fundamental: o inferior não consegue entender o
superior, mas o superior consegue sempre entender o inferior”, complementa
Osho.
Existe ajuda na literatura de autoajuda?
O
artigo “Existe Ajuda na Literatura de
Autoajuda?” (30/9/2013, Rede Super,
Mente Aberta, http://redesuper.com.br/menteaberta/2013/09/30/existe-ajuda-na-literatura-de-autoajuda/,
lança uma questão: “O que uma pessoa busca ao ler um livro de autoajuda? É
possível encontrar, efetivamente, alguma ajuda nesse tipo de literatura?”
A
psicóloga e doutora em Ciências da Religião, Daniela Borja Bessa – autora do
livro “Literatura de Autoajuda Cristã: em
Busca da Felicidade ainda na Terra e não só para o Céu” –, explica no
referido artigo que a autoajuda diz respeito a “textos que visam desenvolver
capacidades objetivas e subjetivas”. Ela cita o autor Steve Salerno, que afirma
que a autoajuda não está relacionada apenas ao “bem viver” individual, mas,
também, ao aprimoramento de habilidades em benefício do outro, ao
desenvolvimento do autoconhecimento e à busca, com o apoio de outras pessoas,
por soluções para problemas em comum dentro de um determinado grupo (como Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos dentre outros).
Daniela
chama a atenção para a crítica em torno da literatura de autoajuda e cita o
autor Pedro Demo, que diz tratar-se de uma leitura marcada pela ingenuidade,
porque quem lê um livro dessa categoria “acredita que vai resolver o problema
quase que instantaneamente”. Mas a psicóloga crê que as críticas contra a
autoajuda baseiam-se no discurso ilusório que alguns títulos podem trazer,
aqueles que sustentam a impressão de que existe um alguém – no caso, o autor do
livro – capaz de dar receitas sobre como resolver determinados problemas. Esse
tipo de livro sustenta o que Daniela chama de “discurso da certeza”, em que
sentenças imperativas parecem apontar soluções certeiras: “faça”, “seja”,
“sorria”, “dê”. “Uma das críticas grandes que se faz é uma universalização da
vida. É como se dissessem (os autores): ‘o que serviu pra mim, serve pra todo
mundo’. Isso é um elemento negativo”, explica a psicóloga.
Daniela
alerta também para o risco do tratamento exageradamente simples dado a
determinadas patologias em alguns livros de autoajuda. “Você tem um texto
falando assim: ‘vença a depressão em dois dias’”, exemplifica a psicóloga. Esse
tipo de abordagem abre espaço para críticas à autoajuda como gênero literário.
A psicóloga salienta, porém, que existem benefícios nesse tipo de literatura.
Em sua tese de doutorado foi realizada uma pesquisa com 768 evangélicos e se
descobriu que muitos leem livros de autoajuda na busca de solução para
problemas pessoais. “Esse livro vai ocupar, de alguma maneira, um lugar que
está vazio nas igrejas, ou vazio na vida das pessoas: o de um bom amigo ou de
um bom conselheiro”, explica.
No meio
cristão, mais precisamente entre líderes teológicos, conforme explica Daniela
Bessa, uma resistência em relação à autoajuda surge por conta da premissa que
parece implícita nesse tipo de literatura de que as pessoas têm condições de
encontrar em si mesmas o poder para mudar as próprias vidas (o que excluiria a necessidade
de Deus). A psicóloga defende, entretanto, o benefício desse tipo de literatura
enquanto uma alternativa às lacunas, como a ausência ou dificuldade de se
comunicarem problemas pessoais (para uma pessoa que não quer expor os próprios
problemas, buscar ajuda em livros pode ser a alternativa mais viável).
“NA MESMA MEDIDA em que uma mudança evolutiva da consciência constitui um
requisito vital para o futuro do mundo, o resultado deste processo depende da
iniciativa de cada um de nós.” Stanislav Grof
Frases - http://kdfrases.com
No
artigo “Literatura de autoajuda”, http://www.infoescola.com/livros/literatura-de-auto-ajuda/,
“InfoEscola, Navegando e Aprendendo”,
Ana Lucia Santana conta que a literatura de autoajuda é um gênero atualmente
muito procurado por pessoas em busca de autoconhecimento, de orientação
espiritual, de respostas para os males que as afligem. Ela atua como um bálsamo
que aplaca a ansiedade, a angústia e o estresse, males tão característicos da
modernidade. Entre os críticos e apreciadores de um universo literário mais
refinado, porém, este estilo é visto com reservas e até mesmo com certa
discriminação.
Apesar
disso, a autora diz que as obras produzidas por este filão promissor estão
sempre entre as mais vendidas nas listas organizadas pelos mais diversos
periódicos, e as editoras que apostam neste campo certamente não se arrependem
de sua escolha, pois faturam alto no mercado editorial. “Hoje, a variedade de
livros oferecidos por este gênero é surpreendentemente ampla, abrangendo desde
a esfera científica, técnica, cultural, até temas de psicologia, relações
humanas, religião e lazer, dentre outros. É muito difícil para os leigos identificar
o que é realmente proveitoso e o que não passa de oportunismo, dentre tantos
títulos distintos.”
Para
Ana Lucia, essa literatura, considerada por muitos um campo à margem da esfera
cultural, tem encontrado muito espaço na atualidade, talvez por conta da
sensação de desamparo e de carência de rumos que se abate sobre a sociedade
contemporânea. O fato é que muitos autores se beneficiam deste contexto,
oferecendo ao ávido leitor a sua experiência própria, sua trajetória pessoal
neste árido deserto psíquico, muitas vezes propondo caminhos para os que não
tiveram a sorte de encontrar um oásis nesta travessia.
Ela diz
também que o público-alvo não se restringe, como se pode imaginar, a classes
sociais mais baixas e incultas. Hoje, pessoas de todas as faixas
socioeconômicas e etárias cultivam essa leitura na tentativa de preencher o
vazio que muitas vezes se instala em sua esfera emocional e também no âmbito
espiritual. Normalmente, elas se esforçam para adquirir as mesmas vivências e
pontos de vista transmitidos pelo elenco de escritores desse gênero, que por
sua vez conquistaram esse saber nas academias e, mais comumente, na prática
existencial.
Seja
como for, porém, explica Ana Lucia, essa literatura só pode oferecer uma ajuda,
como já indica seu próprio título, pois, a partir do momento em as pessoas
assimilam o conteúdo desses livros, caberá a elas seguir ou não o mesmo
caminho, acatar ou não as orientações oferecidas pelos autores. “A cura para os
males morais e espirituais deverá ser encontrada pelo próprio leitor, com base
nas trilhas que se descortinam diante dele, que terá de descobrir qual a mais
adequada para sua experiência pessoal.”
Dentre
sugestões que incluem hipnose, análise interior, meditação, técnicas chinesas
de cura, receitas para enfrentar a ansiedade, o estresse, para se libertar dos
vícios e de outros males psíquicos, assim como outras indicações apontadas pela
literatura de autoajuda, cada pessoa deverá escolher sua própria vereda, cita a
autora.
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Revisão
do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com
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