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terça-feira, 25 de março de 2014

O DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA

A função do mestre é apenas permanecer disponível

"O HOMEM ILUMINADO simplesmente dá. Não porque ele queira receber algo de você – você não tem nada para lhe dar. O que você tem para lhe dar? Ele dá porque tem muito a dar, está sobrecarregado. Ele dá porque é como uma nuvem de chuva, tão cheia de chuva que tem de chover. Não importa onde, sobre o quê – sobre rochas, sobre o solo bom, sobre jardins, sobre o oceano... Isso não tem a menor importância. A nuvem simplesmente quer se descarregar. O homem iluminado é simplesmente uma nuvem de chuva. Ele lhe dá amor; não para receber de volta. Ele o compartilha com você e fica agradecido porque você lhe deu essa oportunidade; porque você estava suficientemente aberto, disponível, vulnerável; porque você não o rejeitou quando ele estava pronto para despejar todas as suas bênçãos sobre você; porque você abriu seu coração e recebeu tanto quanto estava dentro da sua capacidade”, escreve Osho, filósofo indiano, na obra “Poder, Política e Mudança”, da série “Questões Essenciais”, cuja leitura ora concluo.
Osho é um dos mais provocativos e inspiradores professores espirituais do século XX. É conhecido por suas revolucionárias contribuições para a ciência das transformações internas. É o autor que mais li durante a minha vida.

Segundo ele, nossa responsabilidade primordial é transformar nosso próprio ser. “E quando o seu ser estiver transformado, coisas começarão a acontecer naturalmente. Você se torna uma luz e as pessoas começam a encontrar seus caminhos com a ajuda da sua luz. Você não precisa fazer nada para fazê-las enxergar. Sua luz, brilhando ardentemente, será convite suficiente; as pessoas vão começar a procurá-lo. Qualquer um que precise de luz virá até você. Não há necessidade de ir atrás de ninguém, porque esse próprio movimento é tolo. Ninguém jamais mudou ninguém contra a sua vontade. Não é assim que as coisas acontecem.”
Na referida obra, Osho aborda importantes assuntos que muitas vezes nos causam forte inquietação: fala de poder, corrupção, ambição, política, rebeldia, religião. Certamente os políticos irão odiá-la. Mas, ainda assim, não deveriam ignorá-la.
Ao refutar a ideia convencional de que “o poder corrompe”, ele propõe, ao contrário, que aqueles que buscam o poder já são corrompidos: assim que atingem seu objetivo, a corrupção, que já estava dentro deles como uma semente, só ganha espaço para brotar. Osho também faz uma interessante análise sobre de onde vem a “vontade de poder” e como ela se expressa não apenas nas instituições políticas, mas também em nossos relacionamentos diários.
DISPOSIÇÃO PARA MUDAR
Osho tem essa capacidade de nos levar à autorreflexão, de maneira lógica, contagiante, produtiva. É claro que, infelizmente, poucas pessoas têm o hábito da leitura, sobretudo da leitura capaz de transformá-las em seres humanos melhores a cada momento.
“Posso escolher mudar o mundo e mudar a mim mesmo ao mesmo tempo?”, pergunta o filósofo, que responde: “Isso não é possível. Na verdade, você é o mundo. Quando você muda a si mesmo, começou a mudar o mundo – e não há outra maneira. Se você começar a mudar os outros não conseguirá mudar a si mesmo, e alguém que não consegue mudar a si mesmo não consegue mudar ninguém. Só consegue continuar acreditando que está realizando um ótimo trabalho, assim como seus políticos continuam acreditando. Seus supostos revolucionários são, todos, pessoas doentes, pessoas tensas, pessoas loucas – insanas. Mas a insanidade deles é tal que, se eles ficarem entregues a si mesmos, vão ficar completamente loucos; por isso colocam a insanidade em alguma ocupação. Começam a mudar a sociedade, a reformar a sociedade, a fazer isto e aquilo... mudar o mundo todo. E a loucura deles é tal que não conseguem enxergar a estupidez disso. Você não mudou a si mesmo – como pode mudar as pessoas?”
Prossiga fazendo todas as coisas que está fazendo, mas se mantenha atento, ele orienta. “Faça com que se torne uma constante recordação que nenhum ato ocorra na inconsciência. Isso vai demorar algum tempo. Todos os dias você vai esquecer de muitas coisas; mais tarde vai recordar: “Meu Deus! Esqueci de novo. Mas não há razão para se preocupar. Não se preocupe com isso; do contrário, vai esquecer outra coisa. O que passou, passou; não desperdice um único momento nisso. É bom que você tenha se lembrado. Use essa recordação para ficar consciente agora sobre qualquer coisa que esteja fazendo”, narra o filósofo.”
E então prossegue ele: “Muitas vezes você vai esquecer, muitas vezes você vai lembrar. Pouco a pouco, devagar, você vai esquecer menos e lembrar mais. E um dia acontece... Quando o peso da lembrança for maior que o peso do esquecimento, quando a lembrança pesar mais do que o seu esquecimento – instantaneamente vai ocorrer a revolução, a transformação. De repente você é uma pessoa totalmente diferente – o novo homem nasceu. E esse homem vai descobrir que todo o seu mundo é novo, porque ele terá olhos novos, com novas qualidades de visão, ouvidos novos, com novas formas de escutar, mãos novas para sentir e tocar as coisas de uma nova maneira. E uma única pessoa com essa consciência começa a desencadear o processo da consciência em outras. Não com esforço, não que você tenha de fazer alguma coisa para desencadear o processo – o fazer foi o nosso desfazer; você tem apenas de continuar vivendo à sua maneira, sendo à sua maneira, e algo começa a acontecer espontaneamente. A sua presença de algum modo desperta algo nas pessoas que se aproximam de você... O surgimento de uma nova energia, o início de uma nova chama. Você não faz nada e a outra pessoa não faz nada: isso simplesmente acontece. Tudo o que é necessário é uma pequena proximidade, amizade”.
E essa é a função de um mestre, diz-nos Osho: “Reunir amigos em volta dele. Não há nenhum objetivo a ser alcançado, nenhuma determinada atividade a ser feita. A função do mestre é apenas permanecer disponível. Nunca se sabe quando alguém está no limite de onde o salto pode acontecer. Nunca se sabe em que momento se está aberto, e apenas um olhar do mestre e as coisas nunca serão as mesmas novamente. Mas esses são, todos, momentos imprevisíveis; portanto, é preciso esperar silenciosamente, em consciência. O máximo que você pode fazer é não criar barreiras, não criar obstáculos. Não se manter tenso, à distância. Fique relaxado... aproxime-se. Você não tem nada a perder – só tem a ganhar”.  
Em algum momento conhece-se alguém capaz de nos provocar inteligente e produtivamente. Alguém da qual se quer estar perto não apenas para comemorar algo, se distrair um pouco, jogar conversa fora... , e que nos inspira como amigo e uma espécie de analista! Diz Osho, “A função do ‘mestre’ é apenas permanecer disponível”. E não há nada mais gratificante para um inspirador do que compartilhar as suas conquistas filosófico-espirituais e sentir a reação positiva de alguém disposto a mudar verdadeiramente.
“O que é você? Uma parte deste mundo feio. Por que tentar mudar o vizinho? Ele pode não gostar, pode não querer, pode não estar interessado. Se você ficar consciente de que o mundo necessita de uma grande mudança, então você é o mundo mais próximo de si mesmo: comece por aí”, finaliza o grande mestre indiano.

Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

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