A função do mestre é apenas permanecer
disponível
"O HOMEM ILUMINADO simplesmente dá.
Não porque ele queira receber algo de você – você não tem nada para lhe dar. O
que você tem para lhe dar? Ele dá porque tem muito a dar, está sobrecarregado.
Ele dá porque é como uma nuvem de chuva, tão cheia de chuva que tem de chover.
Não importa onde, sobre o quê – sobre rochas, sobre o solo bom, sobre jardins,
sobre o oceano... Isso não tem a menor importância. A nuvem simplesmente quer
se descarregar. O homem iluminado é simplesmente uma nuvem de chuva. Ele lhe dá
amor; não para receber de volta. Ele o compartilha com você e fica agradecido
porque você lhe deu essa oportunidade; porque você estava suficientemente
aberto, disponível, vulnerável; porque você não o rejeitou quando ele estava
pronto para despejar todas as suas bênçãos sobre você; porque você abriu seu
coração e recebeu tanto quanto estava dentro da sua capacidade”, escreve Osho,
filósofo indiano, na obra “Poder, Política e Mudança”, da série
“Questões Essenciais”, cuja leitura
ora concluo.
Osho é um dos mais provocativos e
inspiradores professores espirituais do século XX. É conhecido por suas
revolucionárias contribuições para a ciência das transformações internas. É o
autor que mais li durante a minha vida.
Segundo ele, nossa responsabilidade
primordial é transformar nosso próprio ser. “E quando o seu ser estiver transformado, coisas começarão a
acontecer naturalmente. Você se torna uma luz e as pessoas começam a encontrar
seus caminhos com a ajuda da sua luz. Você não precisa fazer nada para fazê-las
enxergar. Sua luz, brilhando ardentemente, será convite suficiente; as pessoas
vão começar a procurá-lo. Qualquer um que precise de luz virá até você. Não há necessidade de ir atrás de
ninguém, porque esse próprio movimento é tolo. Ninguém jamais mudou ninguém
contra a sua vontade. Não é assim que as coisas acontecem.”
Na referida obra, Osho aborda importantes
assuntos que muitas vezes nos causam forte inquietação: fala de poder,
corrupção, ambição, política, rebeldia, religião. Certamente os políticos irão
odiá-la. Mas, ainda assim, não deveriam ignorá-la.
Ao refutar a ideia convencional de que “o
poder corrompe”, ele propõe, ao contrário, que aqueles que buscam o poder já
são corrompidos: assim que atingem seu objetivo, a corrupção, que já estava
dentro deles como uma semente, só ganha espaço para brotar. Osho também faz uma
interessante análise sobre de onde vem a “vontade de poder” e como ela se
expressa não apenas nas instituições políticas, mas também em nossos
relacionamentos diários.
DISPOSIÇÃO PARA MUDAR
Osho tem essa capacidade de nos levar à
autorreflexão, de maneira lógica, contagiante, produtiva. É claro que,
infelizmente, poucas pessoas têm o hábito da leitura, sobretudo da leitura
capaz de transformá-las em seres humanos melhores a cada momento.
“Posso escolher mudar o mundo e mudar a mim
mesmo ao mesmo tempo?”, pergunta o filósofo, que responde: “Isso não é
possível. Na verdade, você é o mundo. Quando você muda a si mesmo, começou a
mudar o mundo – e não há outra maneira. Se você começar a mudar os outros não
conseguirá mudar a si mesmo, e alguém que não consegue mudar a si mesmo não
consegue mudar ninguém. Só consegue continuar acreditando que está realizando
um ótimo trabalho, assim como seus políticos continuam acreditando. Seus
supostos revolucionários são, todos, pessoas doentes, pessoas tensas, pessoas
loucas – insanas. Mas a insanidade deles é tal que, se eles ficarem entregues a
si mesmos, vão ficar completamente loucos; por isso colocam a insanidade em
alguma ocupação. Começam a mudar a sociedade, a reformar a sociedade, a fazer
isto e aquilo... mudar o mundo todo. E a loucura deles é tal que não conseguem
enxergar a estupidez disso. Você não mudou a si mesmo – como pode mudar as
pessoas?”
Prossiga fazendo todas as coisas que está fazendo,
mas se mantenha atento, ele orienta. “Faça com que se torne uma constante
recordação que nenhum ato ocorra na inconsciência. Isso vai demorar algum tempo.
Todos os dias você vai esquecer de muitas coisas; mais tarde vai recordar: “Meu
Deus! Esqueci de novo. Mas não há razão para se preocupar. Não se preocupe com
isso; do contrário, vai esquecer outra coisa. O que passou, passou; não
desperdice um único momento nisso. É bom que você tenha se lembrado. Use essa
recordação para ficar consciente agora sobre qualquer coisa que esteja fazendo”,
narra o filósofo.”
E então prossegue ele: “Muitas vezes você
vai esquecer, muitas vezes você vai lembrar. Pouco a pouco, devagar, você vai
esquecer menos e lembrar mais. E um dia acontece... Quando o peso da lembrança
for maior que o peso do esquecimento, quando a lembrança pesar mais do que o
seu esquecimento – instantaneamente vai ocorrer a revolução, a transformação.
De repente você é uma pessoa totalmente diferente – o novo homem nasceu. E esse
homem vai descobrir que todo o seu mundo é novo, porque ele terá olhos novos, com
novas qualidades de visão, ouvidos novos, com novas formas de escutar, mãos
novas para sentir e tocar as coisas de uma nova maneira. E uma única pessoa com
essa consciência começa a desencadear o processo da consciência em outras. Não
com esforço, não que você tenha de fazer alguma coisa para desencadear o
processo – o fazer foi o nosso desfazer; você tem apenas de continuar vivendo à
sua maneira, sendo à sua maneira, e algo começa a acontecer espontaneamente. A
sua presença de algum modo desperta algo nas pessoas que se aproximam de
você... O surgimento de uma nova energia, o início de uma nova chama. Você não
faz nada e a outra pessoa não faz nada: isso simplesmente acontece. Tudo o que
é necessário é uma pequena proximidade, amizade”.
E essa é a função de um mestre, diz-nos
Osho: “Reunir amigos em volta dele. Não há nenhum objetivo a ser alcançado,
nenhuma determinada atividade a ser feita. A função do mestre é apenas
permanecer disponível. Nunca se sabe quando alguém está no limite de onde o
salto pode acontecer. Nunca se sabe em que momento se está aberto, e apenas um
olhar do mestre e as coisas nunca serão as mesmas novamente. Mas esses são,
todos, momentos imprevisíveis; portanto, é preciso esperar silenciosamente, em
consciência. O máximo que você pode fazer é não criar barreiras, não criar
obstáculos. Não se manter tenso, à distância. Fique relaxado... aproxime-se.
Você não tem nada a perder – só tem a ganhar”.
Em algum momento conhece-se alguém capaz de
nos provocar inteligente e produtivamente. Alguém da qual se quer estar perto
não apenas para comemorar algo, se distrair um pouco, jogar conversa fora... ,
e que nos inspira como amigo e uma espécie de analista! Diz Osho, “A função do ‘mestre’
é apenas permanecer disponível”. E não há nada mais gratificante para um
inspirador do que compartilhar as suas conquistas filosófico-espirituais e
sentir a reação positiva de alguém disposto a mudar verdadeiramente.
“O que é você? Uma parte deste mundo feio.
Por que tentar mudar o vizinho? Ele pode não gostar, pode não querer, pode não
estar interessado. Se você ficar consciente de que o mundo necessita de uma
grande mudança, então você é o mundo mais próximo de si mesmo: comece por aí”,
finaliza o grande mestre indiano.
Revisão
do texto: Márcia Navarro
Cipólli, navarro98@gmail.com
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