Acolher sem necessidade de explicação
CONHECI tantas pessoas até
hoje... E acertei e errei muitas e muitas vezes... Hoje, o que me tranquiliza é
minha maturidade com a missão de compartilhar aprendizados capazes de nos
transformar em seres humanos melhores a cada nova oportunidade. Ainda que caia
numa circunstância inesperada, surpreendendo-me com minha própria atitude, não
há como escapar do processo sacramentado da autorreflexão. A escolha está definida,
não há como desviar do caminho da evolução espontânea. Alguém certamente ‘eternizou’
um mau momento em nosso relacionamento. Águas passadas. É possível alguém
guardar uma mágoa. Lamento quando há falta de oportunidade para a aproximação. Para
um possível magoado experimentar a minha reação. ‘Perdão’ eu posso pedir, por
uma antiga eventual incompreensão. ‘Perdão’, por conta de uma eventual
imaturidade. O que lamento é a provável imagem guardada não corresponder à condição
presente. Mas o que fazer? Ainda que alguém tenha me magoado, numa
circunstância de imaturidade, saiba essa pessoa que dela só preservo os bons momentos.
Momentos em que juntos construímos algo positivo para a nossa evolução. É
possível até reencontrar a pessoa que nos magoou e, após conversar
naturalmente, perceber o rumo que cada qual tomou em sua vida e a
impossibilidade da retomada do antigo convívio. Mas reencontrar e apagar a
impressão negativa deixada no tempo é essencial. Para não seguir adiante com ‘certezas’
duvidosas. Para conseguir preencher a lacuna da mágoa com algo mais positivo
sobre alguém que um dia se fez importante em nossa vida. Perdão! Perdão a essas
pessoas que eventualmente compõem a minha história, significativas em algumas
circunstâncias da minha vida. Perdão pela minha imaturidade no então momento em
que não houve oportunidade para o entendimento, restando a possível mágoa que
não se desfez. Quem fica com a mágoa, o ressentimento, fica com a tristeza.
Quem deseja a reaproximação, sem mágoa, é porque deseja estar em paz. O maior progresso que
podemos conquistar na vida é o autoconhecimento e a evolução positiva contínua.
Mas, se o outro não deseja uma reaproximação, é preciso respeitá-lo ainda assim.
Os caminhos tomaram rumos diferentes. Há caminhos por onde sempre andamos,
repetida e irrefletidamente, e há caminhos que originam uma nova percepção da
complexidade humana. Ter capacidade de perdoar
não é algo tão fácil. Perdoar é uma virtude. Perdoar vem da prática da
sabedoria. Perdoar é acolher sem necessidade de explicação. Perdoar é desejar
estar em paz consigo mesmo... Tenha ou não o outro a capacidade de entender!
UMA VISÃO MAIS AMPLA
“Costumo dizer que o perdão é também uma questão de
inteligência e não apenas de sentimento”, escreve o psicopedagogo e escritor
Rossano Sobrinho, em sua obra “Evolução
pelo Amor”. Segundo o autor, com o despertar de muitas consciências, o
aparecimento das ciências psicológicas e de suas diversas propostas
terapêuticas, chegou-se a uma nova concepção do perdão. Uma forma totalmente
diferente de compreendê-lo e vivenciá-lo.
No entender do autor, o perdão, hoje, não é apenas mais
um dogma religioso, mas uma importante orientação psicoterapêutica. “Durante
muito tempo pensamos que perdoar seria uma forma de beneficiar o agressor,
aquele que ofendeu, magoou, prejudicou, agrediu. Mas não é bem essa a verdade
sobre o perdão. O maior beneficiado é justamente aquele que perdoa. Por quê?
Porque se liberta do inimigo. Digo frequentemente que quem não perdoa dorme com
o inimigo. E quem dorme com o inimigo, quando consegue dormir, não sonha, tem
pesadelos.”
Rossano explica que, quem se permite alimentar em si
mesmo as energias da mágoa, do ressentimento ou do ódio, está destruindo o
próprio bem-estar emocional e também físico, porque emoções em desequilíbrio
afetam o organismo, gerando doenças.
“O que são os distúrbios psicossomáticos? São justamente
desequilíbrios orgânicos que têm componentes psíquicos. São provocados por
problemas emocionais, como aborrecimento, irritação, surpresas desagradáveis
etc. O corpo põe para fora tudo aquilo que vivenciamos emocionalmente. Ele
reflete o que pensamos e o que sentimos”, observa o escritor.
Por isso, prossegue ele, podemos dizer tranquilamente que
perdoar é uma atitude, antes de tudo inteligente, e depois emocional, porque
vamos ‘tratar dos sentimentos’. “O que significa dizer que trabalhar o perdão é
algo que será desejado e buscado por nós, e não recebido como imposição ou
obrigação de nossa parte. Isso muda bastante a nossa postura perante a ofensa
ou a agressão que recebemos.”
Para finalizar, orienta o psicopedagogo: “Quantos de nós
dedicamos boas horas semanais em exercícios físicos nas academias do mundo para
obter boa saúde e beleza corporal? Por que não dedicar também algum tempo dos
nossos dias aos exercícios da alma, como o exercício de perdoar, que embelezam
o espírito e também fortalecem nossas defesas orgânicas? [...] A evolução se
faz presente em todos os setores da vida humana, e viver e sentir o amor em plenitude
é o grande objetivo da nossa evolução”.
Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Para comentar mais facilmente, ao clicar em “Comentar como – Selecionar Perfil”, selecione NOME/URL. Após fazer a seleção, digite seu NOME e, em URL (preenchimento opcional), coloque o endereço do seu site.