sexta-feira, 16 de agosto de 2013

SOBRE A MISSA


Lamento a perda de oportunidade da igreja católica de transformar verdadeiramente os seus fieis devotos



A PRINCÍPIO, este texto se destinava a um comentário meu sobre uma frase inserida no Facebook: “Ser bom por medo de punições não é uma virtude”, ilustrada com a imagem de um sacerdote celebrando a Missa. Mas depois  resolvi transformá-lo em um artigo.

Fui ‘criado’ na igreja católica. Quando criança, até o começo da adolescência, frequentei a Cruzada Eucarística, varria a igreja, contava as doações dos fieis... Padre Antonio, espanhol, pároco da igreja que eu frequentava, quando no retorno de uma visita a seu país, chegou a me presentear com chocolate da Espanha. Mas quando comecei a questionar a religião, ficando sem algumas respostas lógicas para mim, afastei-me, obtendo respostas satisfatórias em outras práticas filosófico-religiosas. Ainda aprecio o templo católico, mas de preferência vazio de pessoas, quando posso respirar a espiritualidade subjacente nesse espaço. Quando frente a um sacerdote especial, daqueles que irradiam uma espécie de luz e suavidade num primeiro momento, aprecio também alguns de seus rituais.


Há algumas semanas, compareci a uma Missa de Sétimo Dia. Confesso que a encenação do ritual naquela Igreja deixou-me um tanto incomodado. O padre e os cantores, ao longo de toda a celebração, cantavam ao microfone, resultando em um som demasiadamente alto. E o sermão do pároco em nada mudou com o passar dos anos. Para mim, a música num templo tem de ser branda, acolhedora; ela é uma espécie de terapia ligada à espiritualidade. Entrei e saí da igreja sem ser positivamente provocado, sem ouvir algo que pudesse levar-me a refletir e, quem sabe, a alguma mudança afirmativa de comportamento. Por outro lado, acostumado com a simplicidade e o silêncio do templo budista, que leva ao aquietamento da mente, não consegui relaxar naquela Missa para tentar uma busca pelo transcendental. O canto em alto som distraía muito, provavelmente impedindo a concentração dos devotos. Acredito que o ritual assim praticado, hoje possivelmente frequente em muitas das igrejas, distraia bastante os fieis. As igrejas evangélicas também se utilizam muito da música em alto volume para envolver os fieis. Às vezes me pergunto se não seria uma estratégia de amortecimento, levando os praticantes à falsa ideia de que cumpriram suas obrigações religiosas, mas na verdade impedindo o mergulho no Ser Divino presente em cada um de nós. Mesmo porque este mergulho pode ser libertador frente a dogmas e tutores sacerdotais.   

Lamento então a oportunidade que perdem as igrejas, dentre elas a Católica, de transformar verdadeiramente os seus fieis devotos. Penso então se essa Igreja não estaria, assim, deixando de promover transformações em seus fieis, esse grande número de pessoas que frequenta assiduamente as paróquias. É evidente que não devo generalizar. Há certamente paróquias especiais que contribuem verdadeiramente para a modificação de percepção, ou seja, para promover coletivamente a capacidade de mudar, imprescindível para o amadurecimento pessoal, de forma a tornar os fieis mais compreensivos e generosos com a família, amigos, colegas de trabalho, vizinhos e à comunidade em geral. Pessoas podem vivenciar mudanças profundas de comportamento em templos. Esta sim é a verdadeira função dos espaços sagrados. É neste particular que, a meu ver, a Igreja Católica precisa se transformar.


______________

Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com, e Roberto da Graça Lopes 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Para comentar mais facilmente, ao clicar em “Comentar como – Selecionar Perfil”, selecione NOME/URL. Após fazer a seleção, digite seu NOME e, em URL (preenchimento opcional), coloque o endereço do seu site.