“Simplesmente parei de fazer
o que não era essencial, o que não importava. Passei a ocupar-me de projetos
com crianças, que sempre desejei realizar...”
QUANDO leio um livro e me
deparo com um trecho como este que transcreverei, a vontade é de compartilhá-lo
imediatamente. Porque com a quantidade de obras disponíveis, mesmo o leitor
assíduo não consegue ter acesso a tudo o que lhe interessa diretamente. Paralelamente,
um bom trecho de livro também pode ser disponibilizado a pessoas que não
cultivam o hábito da leitura: imprimindo-o e oferecendo a alguém, disponibilizando-o
pela Internet etc. Este não é um trecho comum. Considero-o como uma produtiva e
emocionante Lição de Vida. Lendo-o pela primeira vez não consegui me conter.
Senti os olhos umedecerem. E então lembrei também de outro trecho importante da
referida obra: “Quando tudo já se disse e se fez, a única mudança que pode
fazer alguma diferença é a transformação do coração humano”.
Abordo aqui o livro: “Presença – Propósito Humano e o Campo do
Futuro”, de autoria de Peter Senge, C.Otto Scharmer, Joseph Jaworski e
Betty Sue Flowers. Segundo Nicanor
Perlas, um dos apresentadores da obra, ganhador do Prêmio Nobel Alternativo de
2003 e do Prêmio Global 500 das Nações Unidas para o Meio Ambiente, “Nesta
turbulenta conjuntura da história humana, um novo conjunto de inovações sociais
promete afastar a humanidade de sua senda destrutiva e encaminhá-la para uma
civilização planetária mais brilhante, e Presença
proporciona a quem quer mudar o mundo não apenas uma esperança intensa, mas
também modos sistemáticos e efetivos de criar uma sociedade planetária
sustentável”.
Você pretende mudar seu
modo de vida? Mas essa pergunta se assenta no topo de um medo imenso, e parece
que essa é uma razão de preferirmos não pensar ou falar sobre essas coisas. Por
que não mudamos? O que seria necessário para modificar o todo? “Não mudamos porque
achamos que somos imortais”, diz C. Otto Scharmer, um dos autores da obra, em
tom incisivo. “Como adolescentes, podemos ter medo, mas ainda achamos que
ficaremos aqui para sempre”, complementa.
Na referida obra,
assinalei então o trecho:
“SE FIZÉSSEMOS coletivamente
o que muitas pessoas fazem individualmente na iminência da morte: de repente
veríamos nossa vida com muita clareza [...].
Há alguns anos, em um de
nossos seminários sobre liderança, um jamaicano do Banco Mundial, chamado Fred,
contou-me uma história bastante comovente. Poucos anos atrás, soubera que
padecia de uma doença terminal. Depois de consultar inúmeros médicos, que
confirmaram o diagnóstico, fez o que todos fazem em semelhante situação: semana
após semana, negou o fato. Mas aos poucos, com a ajuda de amigos, foi aceitando
a realidade de que só viveria uns poucos meses. ‘Então, algo de impressionante
aconteceu’, disse ele. ‘Simplesmente parei de fazer o que não era essencial, o
que não importava. Passei a
ocupar-me de projetos com crianças, que sempre desejei realizar. Não discuti
mais com minha mãe. Quando alguém me cortava no trânsito ou acontecia algo que
antes me deixava furioso, eu ficava calmo. Em suma, não tinha tempo a perder
com bagatelas.’
Aí, pelo fim desse
período, Fred iniciou um novo e maravilhoso relacionamento com uma mulher que o
aconselhou a buscar outras opiniões sobre sua doença. Ele consultou alguns
médicos nos Estados Unidos e logo recebeu um telefonema de um deles dizendo:
‘Chegamos a um diagnóstico diferente’. O médico lhe disse que ele tinha uma
forma rara de uma doença perfeitamente curável. Agora vem a parte da história
que nunca esquecerei. Fred confessou: ‘Quando ouvi isso ao telefone, chorei
como um bebê... pois temia que minha vida voltasse a ser o que fora!’
Foi preciso o cenário da
possibilidade iminente de sua morte para que Fred despertasse. Foi preciso um
choque desses para transformar sua vida. Talvez algo semelhante deva acontecer
em todos nós que vivemos na Terra. Um cenário de réquiem talvez tivesse isso a
nos oferecer.”
______________
Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com
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