Num encontro pela manhã, eles abrem o coração
e se sentem um pouco mais
leves
Pais e Filhos - Prato de Sopa |
NO DIA 1o julho de 2013, estive na Associação Prato de Sopa de Santos (SP) desenvolvendo um trabalho de autoconhecimento com, aproximadamente, trinta moradores de rua. Essa associação os acolhe de segunda a sexta-feira, das 9h30 às 13 horas, oferecendo café da manhã, almoço, dois banhos semanais e algumas atividades educativas e culturais, com a coordenação da assistente social Raquel Nunes de Souza Dias, auxiliada pela psicóloga Maria Luiza Alves da Silva.
Eu penso que as pessoas, quando se sentem solitárias, estressadas ou magoadas, deveriam, por exemplo, visitar a Associação Prato de Sopa para conhecer um pouco o trabalho dos profissionais que ali atuam e conversar com alguns moradores de rua. Certamente, ao conhecer de perto tal realidade, não há como não sair diferente dali, valorizando a própria vida.
Logo cedo. Estava um dia muito chuvoso. E eu aprecio bastante a chuva, por ela me deixar mais inspirado para ler e escrever. Ao chegar à Associação e presenciar os moradores de rua aguardando a entrada, molhados, imaginei como teriam passado aquela noite fria e chuvosa. Então, logo veio uma leve sensação de peso em minha consciência por apreciar a chuva e não considerar as pessoas em situação de rua. Como sair diferente dali, valorizando o trabalho daqueles profissionais e conversar com alguns moradores de rua.
Em se tratando da indiferença, preconceito, desconfiança e até da ofensa da sociedade a esses moradores, penso que, quando a gente não tem a capacidade de se sensibilizar com determinado fato social, melhor se calar. Não há argumento que possa justificar a ignorância da população.
O respeito com essas pessoas não implica necessariamente a doação de dinheiro ou alimento. Na ausência de doação material por algum motivo, basta uma atenção, uma palavra carinhosa: não há valor estimado para uma atitude altruísta. Falo isso por algumas experiências pessoais com seres humanos desorientados na vida.
O PENSAMENTO
“A solidão voluntária, o isolamento dos outros, é a proteção mais imediata contra o sofrimento que as relações humanas podem provocar. Como se vê, a felicidade que esta via permite atingir é a felicidade da ataraxia. Contra o temível mundo exterior, a única defesa possível é de algum modo virar as costas, caso se pretenda cumprir sozinho esta tarefa”, escreve Sigmund Freud em “O mal-estar na civilização”. Os moradores de rua abandonam a família, os amigos, abandonam tudo, mas eles jamais se perdoam e, infelizmente, dificilmente conseguem se superar.
Nesta vez que retornei à Associação Prato de Sopa, resolvi fazer uma espécie de terapia com os seus hóspedes, desenvolvendo algumas teorias sobre “autoconhecimento” e aplicando uma entrevista sobre a vida deles. A princípio, pensei que não fossem se interessar, qual não foi a minha surpresa: a maioria envolveu-se com a ideia, alguns até com emoção.
Iniciei a conversa abordando o “pensamento”: algo essencial na natureza humana. É através desse processo mental que construímos nosso mundo pessoal e avaliamos a realidade de tudo o que nos envolve direta ou indiretamente.
Segundo Descartes (1596-1650), filósofo de grande destaque na história do pensamento, "a essência do homem é pensar". Por isso, dizia ele: "Sou uma coisa que pensa, isto é, que duvida, que afirma, que ignora muitas, que ama, que odeia, que quer e não quer, que também imagina e que sente. Logo, quem pensa é consciente de sua existência, "penso, logo existo.
Treinar a mente para pensar de um novo modo: eis, talvez, o maior exercício para a vida. Como posso mudar o meu pensamento?, indaga Neale Donald Walsch em sua obra “Conversando com Deus”. “O que eu penso sobre algo é a minha opinião a respeito. Meus pensamentos, minhas atitudes e ideias não surgiram da noite para o dia. Tenho de achar que são o resultado de anos de experiência, uma vida inteira me deparando com as situações”, escreve o autor.
Segundo Walsch, o novo pensamento é a nossa única chance, a única oportunidade real de evoluir, crescer, tornar-nos ‘Quem Realmente Somos’. “Neste momento, a sua mente está cheia de velhos pensamentos. Não só seus, como principalmente de outras pessoas. Agora é hora de mudar de ideia em relação a algumas coisas. Isso é evolução”, narra o escritor.
OS MORADORES SURPREENDERAM-ME BASTANTE
A grande maioria das pessoas que ali estavam eram jovens. Algumas viciadas em droga e outras em bebida alcoólica. Mas a maior parte sem vício dessa natureza. Surpreendeu-me o fato de todos serem religiosos, católicos ou evangélicos, e rezarem diariamente, com exceção de dois dos entrevistados. Todos eles, exceto um, sentem saudade da família e vergonha de sua triste condição.
Saiba, leitor, que a maioria dos moradores de rua deseja sim trabalhar, mas a sociedade não os acolhe. Uma moça de 29 anos, que chegou a frequentar a Universidade Metodista de São Paulo, fala da dificuldade de encontrar emprego. Chegou até mesmo a se candidatar a uma vaga de faxineira em uma empresa, mas não foi admitida por acreditarem que ela não se adaptaria ao emprego.
Os moradores que entrevistei têm geralmente como ídolos o pai e a avó, além de Jesus Cristo e Ayrton Senna, dentre outros. Alguns estão desempregados por tempo que varia de uma semana a seis anos. Boa parte deles não bebe. E a maioria deseja superar-se e voltar a viver com a família; a maior mágoa é ter abandonado a família e a maior alegria, o nascimento dos filhos.
Perguntados sobre o grande culpado pela vida atual, todos assumem serem eles os próprios culpados, com exceção de dois moradores, que culpam o Governo e as forças malignas. E então algo me surpreendeu: no coração deles há mais espaço para o amor e não para o ódio. Dos entrevistados, apenas um optou pelo ódio. Um deles escreveu: “Amor, amor, amor... A vida já está tão difícil, se eu colocar ódio no coração aí não dá. O melhor é amar!”
Também surpreendeu-me o fato de todos concordarem que precisam mudar de comportamento, e não esperar a mudança do outro. Disse um deles: “A primeira mudança tem de começar de dentro para fora, ela tem de partir de mim mesmo. Se eu desejo uma mudança, jamais ficarei esperando a mudança do outro; se ele mudar, que benção! Se não, mudo eu mesmo”.
Como o mundo reage com o morador de rua? A maioria das pessoas despreza-os, dizem eles. Veem os moradores como drogados, criminosos, tratando-os com descaso, desconfiança, discriminação, falta de respeito... Mas um jovem morador disse: “Tratam-nos de acordo como reagimos a nós mesmos; tratam-nos de acordo como nós nos tratamos”.
Mas é claro que existem também muitas pessoas que dão atenção a eles na rua. E, quando acontece, ficam emocionados, preenchendo um pouco a lacuna motivada pela falta de felicidade em suas vidas. Alguns moradores surpreenderam-me bastante. Um deles revelou: “Gosto de ser acompanhante de quarto de pessoas enfermas”. Outro: “Uma coisa boa é acordar todos os dias e agradecer a Deus pela minha vida”. E ainda: “Na situação em que me encontro, não posso contar com as pessoas”.
Ao final do encontro especial com esses seres humanos, para mim fonte de inspiração para valorizar a vida e praticar a generosidade, um deles, Ernesto Martins Rios, 59, desenhou uma roseira e escreveu: “Obrigado, senhor Tom, pela terapia que me proporcionou. Prece da roseira: ‘Agradeço-te ó meu Deus porque, apesar dos espinhos que carrego, deste-me a força precisa para oferecer-te a alegria e o perfume das rosas’, Francisco Cândido Xavier, pelo espírito Emmanuel”.
É PRECISO dizer algo mais?...
__________
Observação: a Associação Prato de Sopa, mmoreira@iron.com.br, localiza-se na rua Sete de Setembro, 52 – telefone: (13) 3232-5468. Ela funciona de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas. Os moradores necessitam muito de roupas e sapatos usados, além de produtos de higiene pessoal. Quem estiver interessado em ministrar palestras e desenvolver atividades culturais será muito bem recebido. Por experiência própria, digo: “É muito gratificante trabalhar com os moradores que ali vão. Não há como não se enriquecer pessoal e espiritualmente com uma experiência como essa.”
_____________
Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com
Eu penso que as pessoas, quando se sentem solitárias, estressadas ou magoadas, deveriam, por exemplo, visitar a Associação Prato de Sopa para conhecer um pouco o trabalho dos profissionais que ali atuam e conversar com alguns moradores de rua. Certamente, ao conhecer de perto tal realidade, não há como não sair diferente dali, valorizando a própria vida.
Logo cedo. Estava um dia muito chuvoso. E eu aprecio bastante a chuva, por ela me deixar mais inspirado para ler e escrever. Ao chegar à Associação e presenciar os moradores de rua aguardando a entrada, molhados, imaginei como teriam passado aquela noite fria e chuvosa. Então, logo veio uma leve sensação de peso em minha consciência por apreciar a chuva e não considerar as pessoas em situação de rua. Como sair diferente dali, valorizando o trabalho daqueles profissionais e conversar com alguns moradores de rua.
Em se tratando da indiferença, preconceito, desconfiança e até da ofensa da sociedade a esses moradores, penso que, quando a gente não tem a capacidade de se sensibilizar com determinado fato social, melhor se calar. Não há argumento que possa justificar a ignorância da população.
O respeito com essas pessoas não implica necessariamente a doação de dinheiro ou alimento. Na ausência de doação material por algum motivo, basta uma atenção, uma palavra carinhosa: não há valor estimado para uma atitude altruísta. Falo isso por algumas experiências pessoais com seres humanos desorientados na vida.
O PENSAMENTO
“A solidão voluntária, o isolamento dos outros, é a proteção mais imediata contra o sofrimento que as relações humanas podem provocar. Como se vê, a felicidade que esta via permite atingir é a felicidade da ataraxia. Contra o temível mundo exterior, a única defesa possível é de algum modo virar as costas, caso se pretenda cumprir sozinho esta tarefa”, escreve Sigmund Freud em “O mal-estar na civilização”. Os moradores de rua abandonam a família, os amigos, abandonam tudo, mas eles jamais se perdoam e, infelizmente, dificilmente conseguem se superar.
Nesta vez que retornei à Associação Prato de Sopa, resolvi fazer uma espécie de terapia com os seus hóspedes, desenvolvendo algumas teorias sobre “autoconhecimento” e aplicando uma entrevista sobre a vida deles. A princípio, pensei que não fossem se interessar, qual não foi a minha surpresa: a maioria envolveu-se com a ideia, alguns até com emoção.
Iniciei a conversa abordando o “pensamento”: algo essencial na natureza humana. É através desse processo mental que construímos nosso mundo pessoal e avaliamos a realidade de tudo o que nos envolve direta ou indiretamente.
Segundo Descartes (1596-1650), filósofo de grande destaque na história do pensamento, "a essência do homem é pensar". Por isso, dizia ele: "Sou uma coisa que pensa, isto é, que duvida, que afirma, que ignora muitas, que ama, que odeia, que quer e não quer, que também imagina e que sente. Logo, quem pensa é consciente de sua existência, "penso, logo existo.
Treinar a mente para pensar de um novo modo: eis, talvez, o maior exercício para a vida. Como posso mudar o meu pensamento?, indaga Neale Donald Walsch em sua obra “Conversando com Deus”. “O que eu penso sobre algo é a minha opinião a respeito. Meus pensamentos, minhas atitudes e ideias não surgiram da noite para o dia. Tenho de achar que são o resultado de anos de experiência, uma vida inteira me deparando com as situações”, escreve o autor.
Segundo Walsch, o novo pensamento é a nossa única chance, a única oportunidade real de evoluir, crescer, tornar-nos ‘Quem Realmente Somos’. “Neste momento, a sua mente está cheia de velhos pensamentos. Não só seus, como principalmente de outras pessoas. Agora é hora de mudar de ideia em relação a algumas coisas. Isso é evolução”, narra o escritor.
OS MORADORES SURPREENDERAM-ME BASTANTE
A grande maioria das pessoas que ali estavam eram jovens. Algumas viciadas em droga e outras em bebida alcoólica. Mas a maior parte sem vício dessa natureza. Surpreendeu-me o fato de todos serem religiosos, católicos ou evangélicos, e rezarem diariamente, com exceção de dois dos entrevistados. Todos eles, exceto um, sentem saudade da família e vergonha de sua triste condição.
Saiba, leitor, que a maioria dos moradores de rua deseja sim trabalhar, mas a sociedade não os acolhe. Uma moça de 29 anos, que chegou a frequentar a Universidade Metodista de São Paulo, fala da dificuldade de encontrar emprego. Chegou até mesmo a se candidatar a uma vaga de faxineira em uma empresa, mas não foi admitida por acreditarem que ela não se adaptaria ao emprego.
Os moradores que entrevistei têm geralmente como ídolos o pai e a avó, além de Jesus Cristo e Ayrton Senna, dentre outros. Alguns estão desempregados por tempo que varia de uma semana a seis anos. Boa parte deles não bebe. E a maioria deseja superar-se e voltar a viver com a família; a maior mágoa é ter abandonado a família e a maior alegria, o nascimento dos filhos.
Perguntados sobre o grande culpado pela vida atual, todos assumem serem eles os próprios culpados, com exceção de dois moradores, que culpam o Governo e as forças malignas. E então algo me surpreendeu: no coração deles há mais espaço para o amor e não para o ódio. Dos entrevistados, apenas um optou pelo ódio. Um deles escreveu: “Amor, amor, amor... A vida já está tão difícil, se eu colocar ódio no coração aí não dá. O melhor é amar!”
Também surpreendeu-me o fato de todos concordarem que precisam mudar de comportamento, e não esperar a mudança do outro. Disse um deles: “A primeira mudança tem de começar de dentro para fora, ela tem de partir de mim mesmo. Se eu desejo uma mudança, jamais ficarei esperando a mudança do outro; se ele mudar, que benção! Se não, mudo eu mesmo”.
Como o mundo reage com o morador de rua? A maioria das pessoas despreza-os, dizem eles. Veem os moradores como drogados, criminosos, tratando-os com descaso, desconfiança, discriminação, falta de respeito... Mas um jovem morador disse: “Tratam-nos de acordo como reagimos a nós mesmos; tratam-nos de acordo como nós nos tratamos”.
Mas é claro que existem também muitas pessoas que dão atenção a eles na rua. E, quando acontece, ficam emocionados, preenchendo um pouco a lacuna motivada pela falta de felicidade em suas vidas. Alguns moradores surpreenderam-me bastante. Um deles revelou: “Gosto de ser acompanhante de quarto de pessoas enfermas”. Outro: “Uma coisa boa é acordar todos os dias e agradecer a Deus pela minha vida”. E ainda: “Na situação em que me encontro, não posso contar com as pessoas”.
Ao final do encontro especial com esses seres humanos, para mim fonte de inspiração para valorizar a vida e praticar a generosidade, um deles, Ernesto Martins Rios, 59, desenhou uma roseira e escreveu: “Obrigado, senhor Tom, pela terapia que me proporcionou. Prece da roseira: ‘Agradeço-te ó meu Deus porque, apesar dos espinhos que carrego, deste-me a força precisa para oferecer-te a alegria e o perfume das rosas’, Francisco Cândido Xavier, pelo espírito Emmanuel”.
É PRECISO dizer algo mais?...
__________
Observação: a Associação Prato de Sopa, mmoreira@iron.com.br, localiza-se na rua Sete de Setembro, 52 – telefone: (13) 3232-5468. Ela funciona de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas. Os moradores necessitam muito de roupas e sapatos usados, além de produtos de higiene pessoal. Quem estiver interessado em ministrar palestras e desenvolver atividades culturais será muito bem recebido. Por experiência própria, digo: “É muito gratificante trabalhar com os moradores que ali vão. Não há como não se enriquecer pessoal e espiritualmente com uma experiência como essa.”
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Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com
Tom, como sempre você mostrando um pouco da estrela guia dentro de seu coração. Nada mais peculiar, singelo do que perceber o outro em suas experiências. Essa é uma das maneiras para afinar a nossa orquestra d'alma. Tenho certeza de que muitos ensinamentos podem ser adquiridos com a vivência relatada por você. Obrigado por nos inspirar.
ResponderExcluirRetornei hoje, dia 15 de maio de 2014, na Associação Prato de Sopa, de Santos (SP), que desenvolve um trabalho com moradores de rua. A associação que, em sua estrutura, conta com uma assistente social e uma psicóloga, além de voluntários em diferentes áreas, oferece de segunda a sexta-feira, no período matutino: café da manhã, almoço, banho e várias atividades culturais. Eu desenvolvo com os ‘moradores’ um trabalho sobre autoconhecimento. Neste dia, abordei com eles o tema “O Deus que existe em cada um de nós”, com base na obra “Apresse o passo que o mundo está mudando”, de autoria de Lauro Trevisan, cuja síntese é a seguinte:
ResponderExcluirE A SOLUÇÃO DA POBREZA?
São muitos os necessitados, sem pão, sem teto, sem lar, sem nada. Mas não se pode deixar de constatar, em primeiro lugar, que essa desgraça é consequência da ignorância, já que no interior do ser humano existe tudo de que ele necessita. Todos os seres humanos têm poder, sabedoria, riqueza, saúde, amor, felicidade, abundância, qualidades, potencialidades. Todos têm dentro de si o que buscam lá fora. Não chegar a essa compreensão é não alcançar a raiz da questão. Podem não saber o caminho, mas nem por isso a verdade deixa de ser verdade.
O grande sábio Confúcio (551-479 antes de Cristo) afirmava: “O homem superior busca em si mesmo tudo que quer; o homem inferior vai buscar nos demais”.
Se todos somos iguais e temos dentro de nós toda a mina do Universo – dar esmola, ajudar, praticar caridade, corresponde a dar ao outro o que ele já possui. Qual o caminho? Em primeiro lugar, dar pão ao que está morrendo de fome, agasalho ao que está morrendo de frio, amor ao que está morrendo de solidão e educação ao que está morrendo de ignorância.
Depois de dar ajuda ao necessitado, em sua situação extrema, é fundamental ensiná-lo a ser o que é. Quando uma pessoa sabe de si, ela vai escolher o tipo de vida que deseja. Ensinar, aprender, mostrar, descobrir, inventar – esta é a era do Conhecimento. Feito o conhecimento, sobra a liberdade individual.
Caridade, então, é ter a generosidade de mostrar ao outro que ele tem dentro de si tudo quanto busca; é incentivá-lo a lutar por seus projetos; é entusiasmá-lo a realizar seus sonhos. Este é o verdadeiro estender a mão. Parte de um gesto de amor. – E se ele está morrendo de fome? Dê-lhe um prato de comida e um prato de saber. Se não lhe for dado o saber, continuará desencaminhado pelo resto da vida. Aí reside a falta de caridade. Os que rejeitam a comida do saber são como os que morrem afogados por recusarem a corda que lhes é estendida.
Dias atrás, conta Lauro Trevisan, recebi e-mail de uma senhora que narrava um fato ocorrido com ela. Revelou que, ao tomar um táxi em São Paulo, viu, ao lado do motorista, um letreiro que dizia: ‘Leia livros Positivos’. Ficou curiosa e perguntou o porquê daquele pequeno cartaz. O taxista passou a relatar sua história: era um ex-mendigo, que tinha recuperado sua dignidade e encontrou o caminho para realizar todos os seus desejos. Sua nova vida tinha começado pela leitura de livros positivos, que o ensinaram a usar o poder da sua mente. Por isso, agora divulgava esses livros através da legenda que trazia no carro. Se tivessem dado a esse proprietário de táxi apenas comida e roupa e uma bandeira, provavelmente ainda hoje seria mendigo. Foi o saber que libertou esse homem da escravidão. Descobriu sua capacidade, suas potencialidades, sua dimensão maior e acreditou em si, alcançando os resultados que o levantaram na vida.
É claro que você, como indivíduo, dono dos seus atos, tem também a missão existencial de irradiar amor e ajudar o próximo, até porque o próximo é parte de você, já que somos todos um neste universo de Deus. Mas ninguém, na verdade mais profunda, deve depender de ninguém, escreve Lauro Trevisan.