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quinta-feira, 16 de maio de 2013

LEGADO MAIOR DE UMA PESSOA

Destinado aos meus filhos Ana e Guilherme


EM JANEIRO de 2000, aos 52 anos, iniciei um registro de vida. Hoje, lamento não ter começado mais cedo. Imagino quanta coisa deixei de escrever até então. Não raramente, surpreendo-me com detalhes de alguns registros. Daí eu pensar que bom seria ler textos sobre a minha infância, adolescência...

Considero a coletânea o maior legado a meus filhos. Posso deixar um e outro imóvel, algum dinheiro... Mas esse legado não pode ser avaliado materialmente; ele não tem preço. Quem sabe um dia os netos poderão ler um pouco da minha história. Uma história que não visa simplesmente uma autocontemplação, mas uma possibilidade de autorreflexão e facilitação para melhorar a própria vida e a vida dos outros.

O que é um legado? Segundo o Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, 2004, legado é a disposição de última vontade pela qual o testador deixa a alguém um valor fixado ou uma ou mais coisas determinadas. O que é transmitido às gerações que se seguem...”

Em sua obra “Transformando Suor em Ouro”, que li em 2008, Bernardinho aborda o pai: “Mais que pai, o meu foi sempre um modelo de caráter, de lealdade, de ética, de respeito às pessoas. São coisas que não se compram, pois não estão à venda. Foi em seu livro ‘Andanças e Caminhadas’, uma coletânea de textos diversos, que conheci muitos dos lemas positivistas que influenciaram minha vida”.

Paralelamente a registros pessoais, minha coletânea é enriquecida com sínteses dos livros e textos em geral que leio. Sínteses que utilizo regularmente como referência nos artigos que produzo para o blog e outros veículos. São citações de autores com os quais me identifico bastante e recomendo ao leitor interessado no autoconhecimento e na permanente renovação.

Lá numa página da coletânea guardo algo de Gabriel García Márquez: “Ninguém se recordará de ti por teus pensamentos secretos. Pede ao Senhor força e sabedoria para expressá-los. Demonstra a teus amigos e entes queridos quanto eles são importantes”.

O MELHOR LIVRO...

Em sua obra “Um Pássaro em Voo”, cita Osho, filósofo indiano: “... Uma pessoa religiosa sempre está além do livro; uma consciência religiosa nunca é viciada nas palavras e no texto. Tudo é infantil. Um homem religioso está à procura de experiências autênticas, não de palavras pedidas emprestadas, não experiências dos outros”.

Assim, diz o filósofo, um mestre não está interessado em lhe dar o livro certo. “Ele não existe. Não existe nenhum livro certo, só existem pessoas certas e pessoas erradas. Um verdadeiro mestre está interessado em deixar você de cabeça para cima. Um mestre está interessado em mudá-lo, em mudar a sua pessoa; ele não está interessado em lhe dar um livro”.

Olha só outro registro com o qual me identifico, com base na obra “É Hora de Mudança”, de Deanna Beisser: “Antes de deixar este mundo, quero contar a meus filhos algumas coisas muito importantes sobre quem eu sou e em que acredito. Isso pode não fazer diferença no grande esquema das coisas, mas, ao menos para mim, será como partilhar meu coração e as verdades da minha alma. Quero que eles saibam que meu espírito dançou a cada novo dia e beijou discretamente cada anoitecer, que eu os amei com todo o meu ser, e que aonde quer que seus caminhos os levem, lá também estará o meu amor”.

CITAÇÃO

“A citação também pode servir como uma provocação para a reflexão, não é simplesmente algo para demonstrar erudição”, revela Geraldo Holanda Cavalcanti, 84, secretário-geral da Academia Brasileira de Letras, no artigo “Imortal lança livro de referências poéticas”, de autoria de Marcio Aquiles  (Folha de S.Paulo, Ilustrada, 11/5/2013).

Compêndio de mais de cinco décadas em que coletou citações e referências sobre poesia, “A herança de Apolo” exprime o universo de anotações e reflexões que Cavalcanti teceu ao longo da vida, escreve o jornalista Aquiles.

Defensor da citação como procedimento literário, Cavalcanti mostra como o método sempre foi útil para sistematizar o conhecimento. Ao longo dos anos, os conceitos e definições foram registrados em vários suportes: primeiramente nas fichas manuscritas, depois em folhas datilografadas e, finalmente, em arquivos eletrônicos. (Eu também guardo os primeiros registros em folhas datilografadas)

“Aos 80 anos, descobri uma vontade de pôr ordem em todas essas anotações, pois, quando leio, eu risco, tomo notas, faço observações”, revela Cavalcanti.

Veja só a imaginação de Dalai-Lama: “Acho que tenho uma capacidade especial: o modo como minha mente funciona. Acho que tenho muita capacidade para ler um texto budista, captar a essência do que está no livro e resumi-la bem. Acho que essa capacidade se deve em parte à habilidade de colocar o material em um contexto mais amplo e, principalmente, à minha tendência de relacionar o material à minha vida, de fazer uma conexão comigo e com minha experiência pessoal, com minhas emoções”.

O propósito da minha coletânea é sintetizar as muitas questões que considero essenciais para a conquista da paz interior. É compartilhar os progressos obtidos ao longo da vida em termos de um melhor conhecimento e entendimento do mundo para alcançar a verdadeira felicidade.

Ficarei feliz se algumas experiências e reflexões que compõem a minha história puderem transformar positivamente o leitor, com base na reflexão de ideias, conceitos, valores e crenças que alicerçam a história de personalidades que fazem a diferença.

Para concluir, escolho a obra “O Ócio Criativo”, de Domenico de Masi, pág. 36, que li em março de 2004: “No Fedro, de Platão, faz calor e Sócrates está sob um carvalho. Ele encontra uma fonte, refresca as mãos, repousa à sombra e encontra ali a perfeita consonância entre si e o que o circunda. Isto é dar ‘sentido’ às coisas. Sócrates não precisa de nada mais, não é como Onassis ou Trump, que cortam o mar com seus iates e mil acessórios. As poucas coisas que um filósofo possui lhe bastam, já que ele sabe enriquecê-las de significado”.

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Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

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