É
preciso acionar o sinal de alarme
http://www.diretodaredacao.com/noticia/silencio-e-cidadania
JÁ ESCREVI SOBRE ISSO
algumas vezes. É sempre bom insistir na necessidade de reflexão sobre alguns
maus hábitos em nossa vida. Blá blá blá! ... Quem se identifica em ser assim ou em
conviver com alguém assim? Tem de haver uma fase na vida em que a pessoa
desperte para a necessidade de falar menos. Porque detalhes, muitas vezes
desinteressantes, sobre qualquer assunto, são desnecessários e esgotam o
ouvinte.
Infelizmente chega-se a
evitar algumas pessoas na vida por conta da conversa que nos leva ao limite da
tolerância. Só esse tipo de pessoa não percebe o desinteresse do ouvinte.
Porque quando se conversa com alguém, há de haver necessariamente um diálogo. O
outro precisa estar, de alguma forma, interessado na história, ainda que apenas
ouvindo. O ouvinte tem de perguntar, interagir. Tudo isto não significa
desrespeitar o próximo na sua necessidade de esmiuçar assuntos que não
acrescentam novidade na informação. Porque quando a pessoa já despertou neste
sentido, ela fala menos, observando se há ou não o envolvimento do outro em sua
narrativa.
Chega alguém e diz:
“Fulano, você não sabe o que aconteceu comigo!” O fulano, acostumado com a
conhecida introdução das conversas desse alguém, lamenta a cansativa narrativa
prestes a ter de ouvir. Às vezes, para falar do simples escorregão que levou na
calçada, a história começa com o par de sapatos escolhido: “Era para ter
escolhido outro. Mas, sabe, o telefone tocou antes de eu sair e era a vizinha
para contar sobre a sua enxaqueca!...” Blá blá blá!...
Muitas vezes, as pessoas não
têm com quem falar. Ou então só falam com a própria família, que se entedia com
a conversa. “Normalmente, as pessoas que são ou estão chatas não
olham para o seu comportamento, não se percebem. Estão tão absorvidas no seu
universo, que são incapazes de notar como os outros reagem à sua presença.
Algumas frases ouvidas de amigos ou colegas podem ser a dica de que você é ou
está se tornando um chato”, diz Celia Lima, psicoterapeuta holística, www.personare.com.br .
Há pessoas, inclusive, dessas que transformam a conversa numa espécie de
drama, que só falam sobre elas mesmas. Elas não têm nenhum interesse de saber
algo de quem a ‘suporta’. É sempre ela quem precisa desabafar sobre seus
desejos, aborrecimentos, preocupações, decepções, insatisfações, fadiga... E
quando o outro tenta comentar algo sobre si mesmo, ela não presta atenção; logo
que pode, retoma a sua má retórica.
Por essa razão, o ouvinte evita desviar a conversa, sendo normalmente
complacente. Sim, porque o indivíduo cansativo escolhe sempre alguém educado e
compreensivo para ouvir as histórias sem fim. Mesmo porque muita gente evita
encontrar o chato. Quem não convive com um ou mais indivíduos absolutamente
insensatos neste particular?
Portanto, leitor, todo cuidado é pouco para evitar que também sejamos
considerados chatos. Se é que já não somos. É preciso então se conscientizar e,
se necessário, passar a apertar o sinal de alarme. Porque, na velhice, tanto
podemos amadurecer nossas virtudes como piorar as chatices, tornando-nos alguém
de convívio insuportável. Portanto, pé na tábua na objetividade e pé no breque
na falação desnecessária.
No momento em que a
pessoa desperta neste sentido, ela se torna mais objetiva. Em um nível mais
evoluído, chega a experimentar a prática do silêncio e se sentir feliz com isso.
Em “O poder dos quietos”,
Susan Cain faz esta referência a Kamo No Chomei, recluso japonês do século XII:
“Apesar de eu não fazer nenhuma tentativa em especial para observar a
disciplina do silêncio, viver sozinho me faz automaticamente abster-me dos
pecados do discurso”.
“Causam-se mais danos com
o falar do que com o silenciar. Pode-se causar danos com ambos. É necessário,
pois, usar corretamente tanto o falar como o silenciar. Até se conseguir isso,
será melhor evitar palavras desnecessárias. Palavras desnecessárias! Quem de
vós poderá julgar se suas palavras são úteis? Cada um as considerará como tais.
Sem dúvida, é muito melhor calar-se do que falar em tempo impróprio. Quantas
vezes um olhar basta para dar clareza! Guardo tal referência da obra “Zoroaster
(Zaratustra), coleção “O mundo do Graal”, que li em 2012.
É preciso mudar...
Imagem: http://www.viverdo.com/como-ser-mais-legal/
“Há pessoas que precisam
se lamentar constantemente. Contam suas dores com muitos detalhes, falam com
minúcias dos problemas familiares, apresentam-se como vítimas da vida e do
tempo. Sempre tentei ajudar essas pessoas. Mas percebia que as mudanças, quando
aconteciam, eram tímidas e passageiras”, escreve Dalcides Biscalquin em sua
obra “Por onde o amor me leva”, que li recentemente.
No entanto, prossegue o
autor, tenho analisado o mecanismo e as etapas que as movem. “Por acreditarem
não possuir nenhuma característica capaz de atrair os que estão próximos, elas
acabam por contar apenas com a possibilidade de que os outros permaneçam junto
delas por compaixão.”
Dalcides entende a
questão e sua complexidade, mas a considera muito triste. “Triste, sim, porque
qualquer solução que seja apresentada ou sugerida a elas não tem o poder de
alegrá-las, uma vez que elas se alimentam da tristeza e acreditam que viver das
migalhas alheias é o único caminho que lhes resta.”
Entretanto, Dalcides
confessa que, mesmo que todos os sinais apontem para determinada direção, ele
continua a acreditar no ser humano e na sua capacidade de mudança.
Da minha parte, eu acredito
que uma boa prática para pessoas com essas características é desenvolver, por
exemplo, o hábito da leitura. O livro é um companheiro e tanto; ele nos leva à
autorreflexão e ao conhecimento capaz de mudar a nossa visão do mundo e nos
transformar em uma pessoa melhor a cada dia. Outra sugestão é trabalhar
voluntariamente para alguma instituição. Certamente, o padrão da conversa será
outro. Haverá sempre algo significativo para ser narrado, buscando contribuir
para tornar a mente e a atitude das pessoas menos convencional. E então haverá
sempre alguém interessado em nos ouvir. Porque, na verdade, em qualquer relação
humana, o que vale verdadeiramente é a possibilidade do aprendizado e
amadurecimento a dois. Porque, se desejamos realmente mudar, precisamos começar
neste instante por encontrar sentido e significado em nossa vida.
Lembrando Abraham
Lincoln, “Quando você se tornar alguém
que os outros querem por perto, ter-se-á tornado uma pessoa influente”.
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Revisão do texto: Márcia
Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com
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