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sexta-feira, 22 de março de 2013

PRÁTICA ESPORTIVA: QUEM CONSEGUE SE HABITUAR?

Por que muitos se empolgam no início e logo depois desistem?
Isto é muito comum
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QUEM É PRATICANTE assíduo de uma academia de ginástica, ou de outro tipo de esporte, costuma notar a euforia das várias pessoas que iniciam a prática esportiva e logo depois sua desistência. Qual a razão? Preguiça, falta de coragem para a mudança de hábito, falta de foco, inibição...? Pelo que eu tenho observado ao longo dos anos que frequento a academia, a razão pode estar também na ausência do imediato e esperado acolhimento social que o ambiente da academia deixa a desejar. É provável que muitos professores de educação física ainda não tenham despertado para o fato.

Recentemente, a academia de musculação do clube que frequento passou por uma reforma completa. Nesse tempo, que durou cerca de seis meses, a academia foi improvisada em uma pequena sala. No novo espaço, muitos praticantes suspenderam a prática, alegando o desconforto do local. Seria mesmo esse o motivo? Outros chegaram a se matricular em outras academias. Mas poucos!

Por que eu não consegui suspender a prática? Ou, por que não procurei outra academia? E isto eu cheguei a comentar com alguns amigos. Porque o meu envolvimento com o esporte não se trata apenas de uma necessidade física, de manter o corpo ativo. Há sobretudo a necessidade da interação social.

Eu me mantive naquele espaço, talvez desconfortável para alguns, principalmente por não querer me afastar das pessoas que ali conquistei ao longo de muitos anos. Pessoas especiais que passaram a fazer parte da minha vida. Pessoas que eu tenho grande prazer de reencontrar várias vezes por semana. Pessoas com as quais eu brinco, troco e-mails,  confraternizo-me em reuniões no próprio clube e mesmo fora dele e, é claro, chego até a conversar não raramente sobre assuntos particulares.

Optar por me transferir para outra academia significaria abandonar pessoas importantes em minha vida e começar tudo de novo. É claro que é sempre bom começar algo novo. Mas com o cuidado de não comprometer conquistas obtidas ao longo dos anos, especialmente no âmbito pessoal. Eu preservo sim, e bastante, os meus amigos. Eles cabem sim na minha família. Eu não abro mão deles.

“VÁ PROCURAR SUA TURMA”:

É o tema de um artigo escrito por Amanda Lourenço, publicado na Folha de S.Paulo, caderno Equilíbrio, de 23/10/2012. “A maturidade rouba a energia exigida para conhecer pessoas e ampliar o círculo social, mas uma hora a pessoa percebe que carreira e família não suprem a necessidade de ter uns amigos para chamar de seus”, escreve a autora.
Ela fala que as pessoas passam a vida no trabalho, então fazer amigos fora desse ambiente requer esforço. Não adianta fazer o percurso casa-trabalho, trabalho-casa e reclamar.

Diz também que, para driblar a solidão que a família não preenche, especialistas recomendam aliar uma atividade de bem-estar com a procura por gente.

“Lazer e atividade física em grupo são as melhores formas de fazer amigos. São contextos propícios à ampliação do círculo social. Além da saúde social, a saúde física é envolvida”, diz a psicóloga Luciana Karine de Souza (professora da UFMG e organizadora do livro ‘Amizade em Contexto: Desenvolvimento e Cultura’, com Claudio Hutz), citada pela jornalista Amanda Lourenço.

Em sua obra “Patrimônio”, Philip Roth comenta: “Sim, o vestiário masculino do Centro Comunitário do bairro – onde eles tiravam a roupa,  suavam e fediam,  onde, como homens em  meio a outros homens, conhecendo cada reentrância de seus corpos velhos, gastos e deformados, jogavam  conversa fora e contavam piadas indecentes, e onde, vez por outra, fechavam negócios – aquele era o verdadeiro templo deles e onde todos se mantinham judeus”.

COMO SE MANTER NA ACADEMIA

A atratividade das instalações e a disponibilidade do equipamento esportivo levam as pessoas a se matricular no começo. O que as faz continuar na academia é outra coisa. A retenção - segundo um estudo realizado na ACM, uma das maiores organizações sem fins lucrativos dos Estados Unidos, realizado pelo cientista social Bill Lazarus e pelo matemático Dean Abbott -, é motivada por fatores emocionais, tais como ‘se os funcionários sabem os nomes dos membros ou dizem oi quando eles entram’. Na verdade, as pessoas muitas vezes vão à academia procurando um contato humano, e não uma esteira ergométrica”, escreve Charles Duhigg em sua obra “O Poder do Hábito”, que acabo de ler. Por sinal, considero um livro obrigatório para quem deseja experimentar mudanças essenciais em sua vida.

Charles Duhigg é repórter investigativo do “New York Times”. Foi autor e colaborador de “Golden Opportunities” (2007), uma série de artigos que examinavam como empresas estão tentando se aproveitar de americanos em idade avançada.

Conforme explica Duhigg, para vender um novo hábito, neste caso os exercícios, é preciso embrulhá-lo em algo que as pessoas já conhecem e apreciam, tal como o instinto de ir a lugares onde é fácil fazer amigos. “Estamos decifrando o código de como manter as pessoas na academia”, diz Lazarus. “As pessoas querem frequentar lugares que satisfaçam suas necessidades sociais. Fazer com que as pessoas se exercitem em grupos torna mais provável que elas continuem treinando. É possível mudar a saúde do país assim.”

Para comercializar um novo hábito – seja ele um alimento ou um exercício aeróbico – é preciso entender como fazer com que o novo pareça familiar, revela Duhigg.

Em “O Poder do Hábito” entendemos porque algumas pessoas e empresas têm tanta dificuldade em mudar, enquanto outras parecem conseguir isso da noite para o dia.

Duhigg apresenta um argumento animador: a chave para se exercitar regularmente, perder peso, educar bem os filhos, se tornar uma pessoa mais produtiva, criar empresas revolucionárias e ter sucesso é entender como os hábitos funcionam.

“Toda a nossa vida, na medida em que tem forma definida, não é nada além de uma massa de hábitos”, escreveu William James em 1892. Conta Duhigg que a maioria das escolhas que fazemos a cada dia pode parecer fruto de decisões tomadas com bastante consideração, porém não é. “Elas são hábitos. E embora cada hábito signifique relativamente pouco por si só, ao longo do tempo, as refeições que pedimos, o que dizemos a nossos filhos toda noite, se poupamos ou gastamos dinheiro, com que frequência fazemos exercícios, e o modo como organizamos nossos pensamentos e rotinas de trabalho têm impactos enormes na nossa saúde, produtividade, segurança financeira e felicidade. Um artigo publicado por um pesquisador da Duke University em 2006 descobriu que mais de 40% das ações que as pessoas realizavam todos os dias não eram decisões de fato, mas sim hábitos.”

Segundo Duhigg, William James – assim como inúmeros outros, de Aristóteles a Oprah Winfrey – passou boa parte de sua vida tentando entender por que os hábitos existem. Porém só nas últimas duas décadas os neurologistas, psicólogos, sociólogos e marqueteiros realmente começaram a entender como os hábitos funcionam – e, mais importante, como eles mudam.

“Qualquer pessoa pode usar essa fórmula básica para criar seus próprios hábitos: Quer fazer mais exercícios? Escolha uma DEIXA, como ir para a academia assim que acorda, e uma RECOMPENSA para depois de cada sessão. Então pense na injeção de endorfina que você vai sentir. Permita-se desfrutar antecipamente da recompensa. Por fim, esse anseio vai acabar fazendo com que seja mais fácil entrar na academia todo dia. Os anseios por essa recompensa suplantam a tentação de largar o exercício”, complementa o escritor americano.

As referências aqui a “O Poder do Hábito” dão apenas uma pequena ideia da riqueza dessa obra, que apresenta tantas outras motivações para quem deseja experimentar mudanças em sua vida. Lembrando o próprio autor, “Não compartilhar uma oportunidade de aprender é um pecado capital”.

E então, professores e funcionários de academias esportivas e nós, assíduos frequentadores, devemos estar conscientes da importância de nos aproximar das pessoas que estão ingressando no esporte, acolhendo-as gentilmente e incentivando-as para o exercício. Devemos estar conscientes que o desejo de desistir da prática esportiva é mais difícil quando o praticante já se sente familiarizado com o ambiente como um todo. Portanto, “Sejam muito bem-vindos todos os novos esportistas do mundo”.
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Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

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