Por que muitos se empolgam no início e logo depois desistem?
Isto é muito comum.
Isto é muito comum.
QUEM É
PRATICANTE assíduo de uma academia de ginástica, ou de outro tipo de esporte, costuma
notar a euforia das várias pessoas que iniciam a prática esportiva e logo
depois sua desistência. Qual a razão? Preguiça, falta de coragem para a mudança
de hábito, falta de foco, inibição...? Pelo que eu tenho observado ao longo dos
anos que frequento a academia, a razão pode estar também na ausência do
imediato e esperado acolhimento social que o ambiente da academia deixa a
desejar. É provável que muitos professores de educação física ainda não tenham
despertado para o fato.
Recentemente, a
academia de musculação do clube que frequento passou por uma reforma completa.
Nesse tempo, que durou cerca de seis meses, a academia foi improvisada em uma
pequena sala. No novo espaço, muitos praticantes suspenderam a prática,
alegando o desconforto do local. Seria mesmo esse o motivo? Outros chegaram a se
matricular em outras academias. Mas poucos!
Por que eu não
consegui suspender a prática? Ou, por que não procurei outra academia? E isto eu
cheguei a comentar com alguns amigos. Porque o meu envolvimento com o esporte
não se trata apenas de uma necessidade física, de manter o corpo ativo. Há
sobretudo a necessidade da interação social.
Eu me mantive
naquele espaço, talvez desconfortável para alguns, principalmente por não
querer me afastar das pessoas que ali conquistei ao longo de muitos anos.
Pessoas especiais que passaram a fazer parte da minha vida. Pessoas que eu
tenho grande prazer de reencontrar várias vezes por semana. Pessoas com as
quais eu brinco, troco e-mails,
confraternizo-me em reuniões no próprio clube e mesmo fora dele e, é
claro, chego até a conversar não raramente sobre assuntos particulares.
Optar por me
transferir para outra academia significaria abandonar pessoas importantes em
minha vida e começar tudo de novo. É claro que é sempre bom começar algo novo.
Mas com o cuidado de não comprometer conquistas obtidas ao longo dos anos, especialmente
no âmbito pessoal. Eu preservo sim, e bastante, os meus amigos. Eles cabem sim
na minha família. Eu não abro mão deles.
“VÁ PROCURAR SUA TURMA”:
É o tema de um
artigo escrito por Amanda Lourenço, publicado na Folha de S.Paulo, caderno Equilíbrio, de 23/10/2012. “A maturidade
rouba a energia exigida para conhecer pessoas e ampliar o círculo social, mas
uma hora a pessoa percebe que carreira e família não suprem a necessidade de
ter uns amigos para chamar de seus”, escreve a autora.
Ela fala que as
pessoas passam a vida no trabalho, então fazer amigos fora desse ambiente
requer esforço. Não adianta fazer o percurso casa-trabalho, trabalho-casa e
reclamar.
Diz também que,
para driblar a solidão que a família não preenche, especialistas recomendam
aliar uma atividade de bem-estar com a procura por gente.
“Lazer e
atividade física em grupo são as melhores formas de fazer amigos. São contextos
propícios à ampliação do círculo social. Além da saúde social, a saúde física é
envolvida”, diz a psicóloga Luciana Karine de Souza (professora da UFMG e
organizadora do livro ‘Amizade em Contexto: Desenvolvimento e Cultura’, com
Claudio Hutz), citada pela jornalista Amanda Lourenço.
Em sua obra “Patrimônio”, Philip Roth comenta: “Sim,
o vestiário masculino do Centro Comunitário do bairro – onde eles tiravam a
roupa, suavam e fediam, onde, como homens em meio a outros homens, conhecendo cada
reentrância de seus corpos velhos, gastos e deformados, jogavam conversa fora e contavam piadas indecentes, e
onde, vez por outra, fechavam negócios – aquele era o verdadeiro templo deles e
onde todos se mantinham judeus”.
COMO SE MANTER NA ACADEMIA
“A atratividade
das instalações e a disponibilidade do equipamento esportivo levam as pessoas a
se matricular no começo. O que as faz continuar na academia é outra coisa. A
retenção - segundo um estudo realizado na ACM, uma das maiores organizações sem
fins lucrativos dos Estados Unidos, realizado pelo cientista social Bill
Lazarus e pelo matemático Dean Abbott -, é motivada por fatores emocionais,
tais como ‘se os funcionários sabem os nomes dos membros ou dizem oi quando eles entram’. Na verdade, as
pessoas muitas vezes vão à academia procurando um contato humano, e não uma
esteira ergométrica”, escreve Charles Duhigg em sua obra “O Poder do Hábito”, que acabo de ler. Por sinal, considero um livro
obrigatório para quem deseja experimentar mudanças essenciais em sua vida.
Charles Duhigg é repórter investigativo do “New York Times”. Foi autor e colaborador de “Golden Opportunities” (2007), uma série de artigos que examinavam como empresas estão tentando se aproveitar de americanos em idade avançada.
Conforme
explica Duhigg, para vender um novo hábito, neste caso os exercícios, é preciso
embrulhá-lo em algo que as pessoas já conhecem e apreciam, tal como o instinto
de ir a lugares onde é fácil fazer amigos. “Estamos decifrando o código de como
manter as pessoas na academia”, diz Lazarus. “As pessoas querem frequentar
lugares que satisfaçam suas necessidades sociais. Fazer com que as pessoas se
exercitem em grupos torna mais provável que elas continuem treinando. É
possível mudar a saúde do país assim.”
Para comercializar um novo hábito – seja ele um alimento ou um exercício aeróbico – é preciso entender como fazer com que o novo pareça familiar, revela Duhigg.
Em “O Poder do Hábito” entendemos porque algumas pessoas e empresas têm tanta dificuldade em mudar, enquanto outras parecem conseguir isso da noite para o dia.
Duhigg
apresenta um argumento animador: a chave para se exercitar regularmente, perder
peso, educar bem os filhos, se tornar uma pessoa mais produtiva, criar empresas
revolucionárias e ter sucesso é entender como os hábitos funcionam.
“Toda a nossa
vida, na medida em que tem forma definida, não é nada além de uma massa de
hábitos”, escreveu William James em 1892. Conta Duhigg que a maioria das
escolhas que fazemos a cada dia pode parecer fruto de decisões tomadas com
bastante consideração, porém não é. “Elas são hábitos. E embora cada hábito
signifique relativamente pouco por si só, ao longo do tempo, as refeições que
pedimos, o que dizemos a nossos filhos toda noite, se poupamos ou gastamos
dinheiro, com que frequência fazemos exercícios, e o modo como organizamos
nossos pensamentos e rotinas de trabalho têm impactos enormes na nossa saúde,
produtividade, segurança financeira e felicidade. Um artigo publicado por um
pesquisador da Duke University em 2006 descobriu que mais de 40% das ações que
as pessoas realizavam todos os dias não eram decisões de fato, mas sim hábitos.”
Segundo Duhigg,
William James – assim como inúmeros outros, de Aristóteles a Oprah Winfrey –
passou boa parte de sua vida tentando entender por que os hábitos existem.
Porém só nas últimas duas décadas os neurologistas, psicólogos, sociólogos e
marqueteiros realmente começaram a entender como os hábitos funcionam – e, mais
importante, como eles mudam.
“Qualquer
pessoa pode usar essa fórmula básica para criar seus próprios hábitos: Quer
fazer mais exercícios? Escolha uma DEIXA, como ir para a academia assim que
acorda, e uma RECOMPENSA para depois de cada sessão. Então pense na injeção de
endorfina que você vai sentir. Permita-se desfrutar antecipamente da
recompensa. Por fim, esse anseio vai acabar fazendo com que seja mais fácil
entrar na academia todo dia. Os anseios por essa recompensa suplantam a tentação
de largar o exercício”, complementa o escritor americano.
As referências
aqui a “O Poder do Hábito” dão apenas uma pequena ideia da riqueza dessa obra,
que apresenta tantas outras motivações para quem deseja experimentar mudanças
em sua vida. Lembrando o próprio autor, “Não compartilhar uma oportunidade de
aprender é um pecado capital”.
E então,
professores e funcionários de academias esportivas e nós, assíduos
frequentadores, devemos estar conscientes da importância de nos aproximar das
pessoas que estão ingressando no esporte, acolhendo-as gentilmente e
incentivando-as para o exercício. Devemos estar conscientes que o desejo de
desistir da prática esportiva é mais difícil quando o praticante já se sente
familiarizado com o ambiente como um todo. Portanto, “Sejam muito bem-vindos
todos os novos esportistas do mundo”.
______________
Revisão do
texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com
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