Todos os
relacionamentos são de amor e ódio. Nenhuma relação é de puro amor, e nenhuma
relação é de puro ódio.
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LEIO “O BARCO VAZIO - Reflexões sobre as
Histórias de Chuang Tzu”, de autoria de Osho, filósofo indiano. Conhecido por
sua revolucionária contribuição à ciência da transformação interior, Osho
explica com detalhes as mensagens taoístas de autorrealização contidas nas
histórias do místico chinês Chuang Tzu. Basicamente, segundo a filosofia taoísta,
o ser humano deve buscar o desprendimento do mundo
material, não devendo desejar nada. De acordo com o taoísmo, quando um desejo é
satisfeito, outro aparece em seu lugar.
O
tao significa o caminho, algo que só pode ser apreendido por intuição. Conforme
www.tao.org.br,
o taoísmo clássico tradicional define um caminho específico para que os praticantes
possam alcançar o bem-estar físico mental e a iluminação clara e
inequívoca.
Devo confessar que, certamente, essa obra revira
minha mente. E ainda estou em seu início. Ganhei de presente neste Natal. Há conceitos interessantes sobre a
complexidade da vida humana com os quais nos identificamos; alguns, porém, que não
temos coragem de comentar na vida a dois. É bom quando evoluímos com o conhecimento
e vamos aprendendo a compreender e a silenciar, experimentando a tão sonhada
paz interior. Nas palavras do próprio Osho:
“Ande por este vasto mundo como um barco vazio e todas as bençãos da vida,
todas as bençãos que são possíveis na existência, serão suas”.
Na obra “Amadurecer Luminoso”, Norbert
Glas, médico, revela: “No correr da vida, passamos a reconhecer os pensamentos
que nos chegam; vamos treinando nossa agilidade para percebê-los e, assim,
amadurecer. Na verdade, nosso desenvolvimento deveria ser tal que nos
tornássemos cada vez mais hábeis em perceber o que pensar. Como isto se dá?
Através de determinada atitude interior, devemos fazer silêncio dentro da alma.
Isto abre a possibilidade de as ideias ‘virem’ até nós”.
Mistura de amor e apego
“A maioria das relações humanas se baseia
numa mistura de amor e apego. Isso não é amor puro, porque surge do interesse
pela nossa própria felicidade; valorizamos a outra pessoa porque ela nos faz
sentir bem. O amor puro não está misturado com apego e surge inteiramente de
uma preocupação com a felicidade dos outros”, escreve o monge budista Geshe
Kelsang Gyatso na obra “Transforme sua Vida”.
Conforme ensina o monge, o amor puro nunca dá origem a problemas, mas só à paz e felicidade, tanto para nós como para os outros. “Precisamos remover o apego da nossa mente, mas isso não significa que temos de abandonar nossos relacionamentos. O que devemos fazer é aprender a distinguir o apego do amor e, aos poucos, remover qualquer traço de apego dos nossos relacionamentos e aperfeiçoar nosso amor até que ele se torne puro.”
Conforme ensina o monge, o amor puro nunca dá origem a problemas, mas só à paz e felicidade, tanto para nós como para os outros. “Precisamos remover o apego da nossa mente, mas isso não significa que temos de abandonar nossos relacionamentos. O que devemos fazer é aprender a distinguir o apego do amor e, aos poucos, remover qualquer traço de apego dos nossos relacionamentos e aperfeiçoar nosso amor até que ele se torne puro.”
Porque, diz Gyatso, enquanto nosso amor
pelos outros estiver condicionado ao modo como nos tratam, ele será fraco e
instável, e não seremos capazes de transformá-lo em amor universal. “É inevitável
que, em algum momento, as pessoas respondam à nossa bondade de modo ingrato e
negativo; logo, é essencial que encontremos um meio de transformar essa
experiência em caminho espiritual. Enquanto não abandonarmos a ignorância do
autoagarramento, não teremos verdadeira felicidade, pois o autoagarramento
destrói nossa paz interior, ou paz mental.
Sobre uma possível paixão
Há quem poderá se surpreender com tudo isto
que ora descubro em “O Barco Vazio”: “Quando ama alguém, você simplesmente
esquece que tem raiva, que tem ódio, que tem ciúme. Você simplesmente os
descarta como se nunca tivessem existido. Mas como pode descartá-los? Você só
pode escondê-los no inconsciente. Você pode se tornar amoroso apenas na
superfície; bem no fundo, fica escondido o tumulto. Mais cedo ou mais tarde,
quando você ficar farto, quando o se amado se tornar familiar – e dizem que é
da familiaridade que nasce o desprezo... não é que a familiaridade gere o
desprezo -, a familiaridade deixa você entediado, o desprezo sempre esteve lá,
escondido. Ele vem à tona, estava esperando o momento certo, a semente estava lá”,
analisa Osho.
Mas como discordar do taoísmo neste
sentido? “Todos os relacionamentos são de amor e ódio. Nenhuma relação é de
puro amor, e nenhuma relação é de puro ódio. É tanto de amor quanto de ódio. Se
for sincero, você estará em
dificuldade. Se você disser a uma garota: “Meu relacionamento
com você é de amor e ódio; eu te amo como nunca amei ninguém e te odeio como
nunca odiei ninguém”, será difícil que se casem, a menos que você encontre uma
garota meditativa que possa compreender a realidade; a menos que você encontre
um amigo que possa compreender a complexidade da mente.
Outro ponto interessante para Osho é que a
mente não é um mecanismo simples, é muito complexo; e, por meio da mente, você
nunca poderá se tornar simples, porque a mente continua criando enganos. “Ser
meditativo significa estar ciente do fato de que a mente está escondendo algo
de você; você está fechando os olhos para alguns fatos que o perturbam. Então,
mais cedo ou mais tarde, esses fatos perturbadores vão entrar em erupção,
dominá-lo, e você irá para o oposto. E o contrário não está lá num lugar
distante, lá longe, em alguma estrela; o oposto está escondido atrás de você,
em você, em sua mente, no próprio funcionamento da mente”, explica o filósofo
indiano.
De acordo com o taoísmo, se você está
dividido – e você está sempre dividido: metade se movendo, metade se contendo,
metade dizendo sim, metade dizendo não, metade apaixonado, metade com ódio,
você é um reino dividido – há um constante conflito em você. Você diz algo,
mas nunca quer dizer aquilo, porque o contrário está ali, impedindo, criando um
obstáculo.
O que é a felicidade?
Imagem: www.oshobuddhaquotes.com
Para o autor de “O Barco Vazio”, a felicidade
é o sentimento que surge em você quando o observador se torna o observado. “A
felicidade é o sentimento que surge em você quando você está em harmonia, não
fragmentado; quando você é um, não está desintegrado, não está dividido, é
indiviso, um. O sentimento não é algo que vem de fora. É a melodia que brota da
sua harmonia interior.”
Diz Chuang Tzu: “O homem do Tao age sem
impedimento, pois ele não está dividido, então quem vai impedir? O que existe
para servir de impedimento? Ele está sozinho, ele se move com o todo. Esse
movimento na totalidade é a maior beleza que pode acontecer, isso é possível.
Às vezes você tem vislumbres disso. Às vezes, quando de repente você está
inteiro, quando a mente não está funcionando, isso acontece”.
Mas, complementa Tzu, você está ocupado com
muitas atividades apenas para fugir de si mesmo. Você não consegue tolerar a si
mesmo, não consegue tolerar a sua própria companhia. Você vive à procura de
alguém como um modo de fugir, vive à procura de alguma ocupação com a qual
possa se esquecer de si mesmo, com a qual possa se envolver. Você está
entediado com você mesmo.
Um homem do Tao - prossegue o místico
chinês -, um homem que atingiu a natureza interior, um homem que é realmente
religioso, não é um homem de muita atividade. “Somente o necessário irá
acontecer. O desnecessário é completamente descartado, porque ele consegue
ficar à vontade sem nenhuma atividade, ele consegue ficar em casa sem fazer
nada, consegue relaxar, consegue fazer companhia a si mesmo, consegue ficar com
seu eu.”
E então Osho fortalece essa ideia: “Um
homem do Tao não é um homem de muita atividade. Suas ações são as mais
essenciais – aquelas que não podem ser evitadas. O que pode ser evitado, ele
evita. Ele está tão feliz consigo mesmo que não há necessidade de empreender
ações. Sua atividade é como a inatividade; ele faz sem que haja alguém fazendo.
Ele é um barco vazio, navegando no mar, indo a lugar nenhum”.
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Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com
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