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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

FORÇA CRIATIVA AOS SESSENTA E TRÊS ANOS

“Saiba que aquilo que se manifesta mais tarde tem sua origem nos primeiros anos da vida”


LI RECENTEMENTE algo com o que me identifiquei bastante. Foi na obra  “Amadurecer luminoso”, escrita pelo médico Norbert Glas, que realizou pesquisa no campo da terapia antroposófica do câncer. Ele cresceu em uma família judaica de Viena. Segundo Glas, a biografia de Rudolf Steiner (fundador da antroposofia, da Pedagogia Waldorf e da medicina antroposófica) nos dá a impressão de ele talvez nunca ter tido antes tanta força criativa como a partir do sexagésimo terceiro ano de vida.

Eu, Tom Simões, também me sinto um pouco assim aos 64 anos. Ativo, criativo, confiante e mais tolerante. Daí eu reunir agora alguns escritos para não fugir do hábito de compartilhar textos que podem fazer diferença na vida do leitor.

Então, veja só: segundo Norbert Glas, Victor Hugo (1802-1885) teve um comportamento muito característico no curso dos seus 63 anos. Glas conta que, no outono de 1865, surge um livro de sua autoria, “Canções das ruas e dos bosques”. Seu biógrafo, o inglês F.T. Marzials, escreve: “(...) mas, se bem que o ‘Canções...’ não constitua obra de um homem jovem, esta é, pelo tipo de personagens e maneira de tratá-los, a obra mais juvenil que Victor Hugo escreveu após a sua adolescência.” O próprio poeta escreveu no prefácio: “Existe um certo instante da vida, no qual (...) o desejo de olhar retrospectivamente se torna irresistível. Nossa juventude, apesar de ausente em sua beleza física, se manifesta novamente e preenche constantemente nossos pensamentos.”

Para Glas, a melhor maneira de se preparar para o que se segue após os 63 anos seria dizer a si próprio: “Você entrará num período em que ocorrerão muitas coisas singulares. Pode ser que você sinta que tudo em sua vida agora chegou ao fim. E pelo fato de sua vida presente não mais lhe proporcionar satisfação, você irá querer reavivar seu passado. Você se apegará às numerosas imagens que o impressionaram no passado e elas vão até mesmo ressurgir por vezes com grande força. Muitas ocorrências destes tempos passados se apresentarão como que envoltas por uma dourada aura. Contudo, você não deve se deixar deprimir pela emoção que vai querer dominá-lo, trazer-lhe uma pena de si mesmo por aquilo que perdeu e não mais existe. Isto não lhe valerá de nada e apenas o impedirá de chegar a uma maturidade realmente valorosa. É claro que você pode repassar atentamente seu passado; faça-o, mas somente com o intuito de compreender a razão verdadeira dos acontecimentos. Não se deixe perder em considerações sentimentais, tampouco num lamento pelo que você perdeu; você não ganhará nada com isso. Somente a absoluta verdade perante você mesmo poderá ajudá-lo.”


Devemos reaprender a encarar o fato de amadurecer de uma maneira diferente de como a vemos, não como uma coisa indesejável, deprimente ou inaceitável, narra o autor. “Preenchidos pelo novo espírito dos tempos é preciso saber valorizar o amadurecer em toda a sua condição ao invés de simplesmente tolerar este fato. Na Grécia antiga, ainda existia este respeito pela velhice, em que se sabia que só se podia adquirir determinada maturidade de espírito com idade mais avançada”.

Glas explica ainda que, em nossa época, em que toda a sabedoria instintiva deve dar lugar a uma compreensão racional, não basta que se queira instituir leis sobre o respeito obrigatório aos idosos. “Nada deve ser imposto. Cabe a eles próprios mostrar seu próprio valor”, conclui.

OUTRA LEITURA INTERESSANTE


Julian Barnes, um dos mais elogiados escritores ingleses em atividade, é autor de “O sentido de um fim”, vencedor do Prêmio Man Booker Prize 2011, que li em julho de 2012. É nele que também me inspiro neste artigo.

“E a vida é isso, não é? Algumas realizações e algumas decepções.  A mim parece interessante, embora não reclame ou me espante se outros não concordam muito com isso. Mas eu não perderia a minha vida por nada, entenda bem”, escreve Barnes.

Diz o autor que, quando somos jovens, todo mundo acima dos trinta parece estar na meia-idade, todo mundo acima dos cinquenta, na velhice. “E o tempo, à medida que vai passando, confirma que não estávamos tão errados assim. Aquelas pequenas diferenças de idade, tão cruciais e tão graves quando somos jovens, se desfazem. Nós acabamos todos pertencendo à mesma categoria, a dos não jovens. Eu mesmo nunca liguei muito para isso”, argumenta.

Para Julian Barnes, quanto menos tempo de vida lhe resta, menos você quer desperdiçá-lo. Isso é lógico, não é? “Embora como empregar as horas economizadas..., bem, essa é outra coisa que você provavelmente não teria previsto quando jovem. Por exemplo, eu passava um bocado de tempo arrumando coisas – e eu nem sou uma pessoa bagunceira. Mas esta é uma das modestas satisfações da idade. Eu gosto das coisas arrumadas; eu reciclo; eu limpo e decoro o meu apartamento para conservar o seu valor”, diz.

Há na obra de Barnes algo que diz: “E como o poeta ressaltou, existe uma diferença entre adicionar e multiplicar. A minha vida tinha se multiplicado ou meramente se acumulado? Houve soma – e subtração – em minha vida, mas quanto de multiplicação? E isso me deixou com uma sensação de desassossego, inquietude.”

Para Barnes, outro ponto interessante é que, quando somos jovens e sensíveis, também somos mais agressivos; mas quando o sangue começa a correr mais lento, quando os sentimentos ficam menos aguçados, quando criamos uma armadura e aprendemos a suportar o sofrimento, nós pisamos com mais cuidado.

Eu creio que muita gente pode se identificar com esta abordagem de Julian Barnes: “Quando você começa a esquecer as coisas – não estou falando de Alzheimer, só da consequência previsível do envelhecimento – há maneiras diferentes de reagir. Você pode parar tudo e ficar tentando forçar sua memória a fornecer o nome daquele conhecido, flor, estação de trem, astronauta... Ou você admite o fracasso e toma medidas práticas, como consultar uma enciclopédia e a internet. Ou você simplesmente deixa pra lá – esquecer de lembrar – e então às vezes você percebe que o fato esquecido volta à superfície uma hora ou um dia depois, normalmente durante aquelas longas noites em claro que a idade impõe. Bem, nós todos aprendemos isso, aqueles de nós que esquecem coisas.”

“AMADURECER LUMINOSO”

“Para determinar a época da terceira idade, pode-se experimentar colocando o ser humano dentro do ciclo de vida do universo, como nos mostrou Rudolf Steiner. Para ele, era evidente que o ser humano está ligado à totalidade do universo. Certas influências, por exemplo, de certo modo afluem dos planetas (os sete planetas estudados na filosofia medieval) e outras, das constelações do zodíaco. Estas forças não influenciam somente a formação do aspecto exterior e dos órgãos do homem, porém exercem também uma influência sobre a totalidade da vida, variável segundo os diferentes períodos da biografia”, escreve Norbert Glas em “Amadurecer luminoso.”

Glas explica que cada um dos sete planetas atua sobre determinadas épocas da vida segundo a atividade que lhe é própria. Nos sete primeiros anos, por exemplo, é a influência da Lua que mais se faz valer.

O autor conta que, no curso das sete fases planetárias, a personalidade humana se desabrocha plenamente indo até os 63 anos de idade. “Certas projeções de anos passados se refletem sobre os últimos períodos da vida. Porém, todos estes anos passados não se fizeram sentir de um modo equitativo em seus efeitos sobre este último período. Frequentemente é todo clima que envolve a pequena criança que reaparecerá de uma maneira ou de outra no fim da vida. Esta manifestação pode ser boa ou negativa. Se, por exemplo, antes de seus sete anos, uma criança está inteiramente sendo trabalhada pelas suas forças do crescimento (época de intensas influências lunares) e vem a ser brutalmente subtraída destas forças, isto poderá se manifestar sob forma de enfermidades na idade mais adulta. Ou se a criança é forçada a aprender a andar mais cedo do que o normal, ela será prejudicada por ter sido ‘retirada’ das atuações da esfera lunar dentro da qual está protegida”, observa Norbert Glas.

Glas diz ser muito importante que se medite sobre estes fatos, porque eles nos ensinam que a vida do ser humano não é meramente a de um indivíduo com uma sequência de anos físicos. “É igualmente preciso compreendê-lo como um todo coordenado em si nos variados aspectos temporais, terrestres e cósmicos da vida. Aquilo que se manifesta mais tarde tem sua origem nos primeiros anos.”

E mais: “Após o seu sexagésimo terceiro ano, quando a pessoa obteve uma certa harmonia no sentido indicado, um maravilhoso sentimento de libertação poderá desabrochar. Ela poderá se sentir enfim liberta no espírito. Realmente é toda a vida passada que ressoa como um eco na maturidade. Porém, devemos supor que na idade mais avançada não existe mais o determinismo planetário direto, como no caso daqueles dos ciclos dos setênios, que marcaram os primeiros 63 anos da vida”, conclui o escritor.

Eu recomendo a leitura dos livros citados de Norbert Glas e Julian Barnes, bastante educativos, inclusive para presentear alguém que goste de ler.

Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

Um comentário:

  1. Obrigado, amigos, por cederem a foto do filho. Trata-se de um gesto natural dessa criança.
    E não de uma pose programada!

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