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UM PEQUENO DESAFIO: conseguir finalizar a leitura de uma obra dele, Sigmund Freud (1856-1939): “O mal-estar na civilização”, com tradução de Isabel Castro Silva. Muito difícil, confesso. Difícil mesmo conseguir compartilhar didaticamente algo dela com os amigos.
Portanto, deleitem-se com Freud, o grande pensador:
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*** “Não conseguimos evitar a impressão de que por toda a parte os homens se regem por falsos padrões, que procuram para si próprios e admiram nos outros o poder, o êxito e a riqueza, ao passo que subestimam os verdadeiros valores da vida.
A pergunta pelo sentido da vida já foi colocada inúmeras vezes; ainda não obteve, e talvez nem sequer admita, uma resposta satisfatória. Alguns daqueles que fizeram a si esta pergunta acrescentaram: a vida perderia todo o valor caso se viesse a descobrir que não tem sentido.
[...] , mas nos tempos que vivemos parece que os povos obedecem muito mais às suas paixões do que aos seus interesses. Quando muito, os seus interesses servem para racionalizar as suas paixões, são invocados apenas para justificar a satisfação das paixões.
*** O sofrimento ameaça-nos a partir de três frentes: o próprio corpo, destinado à decadência e à dissolução, que não pode sequer dispensar a dor e o medo enquanto sinais de aviso; o mundo exterior, que nos pode acometer com forças imensas, implacáveis, indestrutíveis; e por fim a relação com os outros. O sofrimento resultante desta última causa é-nos talvez mais doloroso do que os restantes; estamos inclinados a vê-lo como um ‘acrescento escusado’, ainda que na verdade seja tão fatalmente inevitável como o sofrimento com outras origens.
Nunca nos encontramos mais desprotegidos contra o sofrimento do que quando amamos, nunca nos sentimos mais desesperadamente infelizes do que quando perdemos o objecto amado ou o seu amor. Mas com isto não concluímos a discussão quanto à técnica de vida fundada no valor do amor para a vida feliz, há ainda muito que dizer sobre ela.
*** Quanto mais virtuoso é um homem, mais severo e desconfiado se torna em relação a si próprio, de tal modo que quem mais se aproxima da santidade mais se acusa dos piores pecados.
*** [...] mesmo os sonhos mais absurdos e confusos, sabemos também que cada vez que adormecemos atiramos a nossa moralidade, a tanto custo conquistada, para um canto, como uma peça de roupa que amanhã voltamos a vestir. Despir a moral nestas circunstâncias está longe de ser perigoso, é claro, já que o sono nos condena à paralisia, à inatividade.
*** De fato, a nossa morte é inconcebível, e por mais que tentemos imaginá-la, notamos sempre que nos mantemos à distância, como espectadores. A escola psicanalítica pôde assim arriscar a seguinte suposição: no fundo, ninguém acredita na sua própria morte ou, o que vai dar ao mesmo, no nosso inconsciente todos nós estamos convencidos da nossa imortalidade.
Assumimos uma conduta peculiar em relação a um morto, como se o admirássemos por um feito extraordinariamente difícil. Abstemo-nos de o criticar, ignoramos as suas eventuais más ações... A consideração pelo morto, que afinal já não precisa dela, está acima da verdade, aliás, para muitos de nós, sobreleva mesmo a consideração pelos vivos.”
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Revisão do texto: navarro98@gmail.com
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